Felizmente, ainda há João Araújo e o Marinho

A direita decadente não tem ideias nem talento mas tem Sócrates. Preferem afundar-se em mais uma legislatura na oposição a largarem esse troféu de caça. São como macaquinhos apanhados na armadilha do amendoim (ou da banana, há para todos os gostos), onde a pulsão para conservar o alimento impede que a mão fechada saia do receptáculo por onde entrou aberta. Ao mesmo tempo, a frustração por estarem na bancada a ver passar a procissão do poder governativo, juntamente com a consciência silenciada de serem canalhas por vocação e vício, leva-os a esticar a corda da violência política até ao máximo que for possível sem ter de usar armas. Eis porque nada mais conseguem fazer do que gastar os dias a berrar e patear, emporcalhando o regime sem qualquer pudor nem limite imaginável.

A tese de que Joana Marques Vidal “acabou com a impunidade” no Ministério Público é extraordinária de estupidez, mas ainda mais extraordinário é ver a complacência, nalguns casos aberta cumplicidade, com que as instituições visadas na sua responsabilidade lidam com essa calúnia. Tiremos o corolário para uma experiência mental. Em que consistiu a impunidade anterior a JMV? Foi só obra de Pinto Monteiro ou de outros PGR? Aceitemos Pinto Monteiro como o único bandido. Que é que ele fez de ilegal? Não há ninguém, sequer no esgoto a céu aberto, que consiga nomear a metade da metade de um acto do anterior PGR que possa ser considerado ilegal. Passemos para o último recurso: que é que Pinto Monteiro não fez que devia ter feito para acabar com a impunidade? A única resposta que os decadentes dão é esta: “Devia ter prendido Sócrates, como a Joana conseguiu fazer.” Ora, seria possível que Pinto Monteiro conseguisse tal façanha de proteger socialistas corruptos apanhados com provas válidas tendo contra si os procuradores valentes que capturaram as presas e a corporação dos magistrados do Ministério Público na figura do seu sindicato, a que ainda se junta a autoridade do Conselho Superior do Ministério Público e toda a direita partidária, mediática e presidencial? Se sim, por que razão não tivemos então, nem temos agora, acesso a essa demonstração? Por que razão Cavaco Silva, Passos Coelho e Joana Marques Vidal, logo a partir de 2012, já com o hiper-ultra-mega-vilão afastado, não expuseram à Nação as ignóbeis e históricas violações da Lei, da Constituição e/ou da moral que Pinto Monteiro protagonizou na era da impunidade? Por que razão Pinto Monteiro acabou por ser condecorado por Cavaco graças ao seu mandato como procurador-geral da República? Cavaco também promovia a impunidade?

Esta direita decadente cuja decência é medida pela forma e conteúdo do Correio da Manhã, e cuja defesa do Estado de direito e da liberdade é medida pelo fanatismo e rancor do Observador, trata as suas audiências como broncos a quem basta atirar um osso para os ter com os dentes de fora a ladrar e a babarem-se raivosos. Razões de sobra para ver o último Expresso da Meia Noite – o qual ainda oferece o supino prazer de ouvir o João Araújo (mesmo que pareça um pouco fragilizado por questões de saúde).

3 thoughts on “Felizmente, ainda há João Araújo e o Marinho”

  1. “Ora, seria possível que Pinto Monteiro conseguisse tal façanha de proteger socialistas corruptos apanhados com provas válidas tendo contra si ….”
    Bastava, através de uma intervenção direta e unipessoal, legal mas impossível de escrutinar, “arquivar oito certidões extraídas do processo Face Oculta com conversas entre Armando Vara e o primeiro-ministro José Sócrates … Ao contrário do juiz de instrução criminal de Aveiro e do procurador titular do inquérito, João Marques Vidal, que entendiam haver indícios de um crime de atentado contra o Estado de Direito”(https://www.publico.pt/2009/11/21/sociedade/noticia/pinto-monteiro-arquiva-escutas-a-jose-socrates-1410822).
    Quero no entanto deixar claro o seguinte:
    – Pinto Monteiro limitou-se a cumprir a sua função, totalmente dentro do quadro legal
    – Não tenho qualquer juízo sobre o conteúdo das escutas, porque não as conheço. E mesmo que conhecesse, a minha opinião tanto poderia coincidir com a de Pinto Monteiro como com a do juiz de instrução criminal de Aveiro e do procurador titular do inquérito. Não é raro juízes (juristas), perante a mesma prova, discordarem da sua apreciação (na mesma instância como em diferentes instâncias).

    Dito isto, é um facto que a decisão de Pinto Monteiro mostra que foi possível a um Procurador-Geral da República influenciar de forma direta o desfecho de um processo.

  2. Anonimo, alegas desconhecer o conteúdo das escutas que tanto Pinto Monteiro como Noronha do Nascimento consideraram não constituir prova ou indício de “atentado contra o Estado de direito” tal como argumentado em Aveiro.

    Ora, explica lá: por que razão não conheces esse conteúdo?

  3. Caro anónimo não nos faça rir novamente tal como fez rir a Pinto Monteiro e até ao sisudo cara de pau do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça pois que ambos ouviram e viram nas tais escutas apenas uma dose grande de imaginação vidaleira para fazer justiça com variações subjectivas à volta de conversas de café.
    Também ainda ninguém esclareceu quais as motivações e que finalidades pretendia obter o PM, que já detinha o poder de maioria absoluta, que o levasse a querer cometer, nada mais nada menos que um “atentado contra o Estado de Direiro”.
    Que medidas governamentais ilegítimas ou legítimas tomou o PM que configurassem um plano concertado de “atentado”? Com a maioria absoluta, caso fosse essa uma sua intenção, teria certamente tomado medidas nesse sentido e haveria denúncias da oposição, não?
    Lembra-se de algum caso desses ou apenas de que foi a partir da própria justiça e não da oposição política que tal “atentado” e outros nasceram?
    Mas, e um “atentado” prepara-se por meio de conversas telefónicas a granel e no meio de conversas de galhofa e piadas políticas acerca dos políticos mais visíveis e intervenientes no momento?
    O PM, depois de ser investigado sobre todos os passos que dava acerca de obras ou factos políticos do governo pela justiciaria dos magistrados, entregava-se à estupidez de planear um “atentado” nas barbas das escutas à la carte que os vidaleiros tinham e tem montados de forma pidesca: aqui, mais uma vez, o PM era o idiota que era o oposto do ilusionista diabólico que enganava, sozinho, todos.
    Que outras “provas” tinha o Vidal d’Aveiro que confirmassem a sua versão de “atentado”? Ouviu falar delas?
    Caro, o verdadeirro plano de atentado contra o Estado de Direito foi o cometido pela justiça nessa absurda tentativa de derrubar um PM legitimamente eleito.
    Foi esse caso e outros, esses sim foram everdadeiros atentados contra o Estado de Direiro, como o das “escutas” a Belém protagonizado pelos coirões JMFernabdes e Cavaco, entre outra gente miúda e lacaia.
    Ainda hoje a miríade de ligações inventadas para parecer sustentar uma acusação a Sócrates são uma verdadeira anedota para a gente racional rir da rasca imaginação dos magistrados e dos seus agentes no “cm”.

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