Exactissimamente

O governador revisita o PEC IV

Nota

O Nicolau, com a pressa, até se esqueceu da reunião entre Sócrates e Passos, numa quinta-feira à noite, um dia depois da tomada de posse de Cavaco e do comício na Assembleia a pedir a queda do Governo pela rua, e na véspera da apresentação das principais medidas do PEC. Dessa reunião entre o primeiro-ministro e o líder da oposição resultou, no dia seguinte, um estado de silêncio expectante por parte do PSD, sinalizando que a aprovação do PEC IV era uma forte possibilidade. Durante o fim-de-semana outra decisão foi tomada e a direita partidária, acirrada pela direita presidencial, partiu para o afundanço do País. As mentiras que se contaram nos dias seguintes deviam ser estudadas na escola pública logo a partir do Ensino Básico.

Já à timidez devemos atribuir as dúvidas, por mínimas que sejam, manifestadas no texto acerca do putativo conhecimento de Cavaco e Passos a respeito do acordo que tinha sido alcançado entre Portugal e a Europa de forma a evitar o resgate, consubstanciado no PEC IV. Embora lembre que Durão Barroso estava à frente da Comissão Europeia (e que fosse outro qualquer), tal processo jamais poderia ser escondido das principais autoridades portuguesas, Belém e PSD incluídos. Resultou de variadas reuniões entre o Governo e responsáveis técnicos europeus ao longo de Janeiro e Fevereiro, e era do interesse da própria Alemanha que levasse a uma aprovação no Parlamento português – logo, o clima era precisamente o contrário ao da afronta pelo secretismo. Por outro lado, Cavaco passou o mês de Fevereiro em reuniões a ouvir toda a sociedade civil e responsáveis políticos, parte dos quais, senão todos, igualmente sabiam que algo estava a ser preparado para evitar a situação ocorrida na Grécia e na Irlanda. Prova disto mesmo foi a manchete do Expresso, logo no início de Fevereiro, onde se lia “FMI já não vem”. As reacções da direita decadente e traidora a essa notícia, num festival de ressabiamento e ódio, igualmente merecem estudo escolar para se aprender logo de tenra idade a conviver com pulhas.

Finalmente, o Nicolau, imitando toda a gente desde 2011, não faz qualquer referência a uma declaração de Durão Barroso onde ele recorda um diálogo mantido com Passos no período que antecedeu a votação do PEC IV, período esse de intensa pressão europeia para a sua aprovação. Conta Barroso que Passos lhe disse que ia chumbar o PEC – apesar de Barroso o ter tentado convencer dizendo que mesmo assim o resgate seria inevitável pelo que com o PEC aprovado seria melhor para Portugal quando substituísse Sócrates – porque havia o risco de o Governo socialista, com o PEC IV aprovado, conseguir mesmo evitar ter de pedir um empréstimo de emergência. Basta este episódio, entretanto apagado da Internet, para contar a história toda às crianças.

8 thoughts on “Exactissimamente”

  1. Vamos lá a ver, o que se passou toda a gente sabe, da esquerda à direita.
    Do que se trata é do domínio de narrativas no espaço público, a sua inscrição e gestão, e a incapacidade da verdade triunfar por falta de vontade, incapacidade ou tacticismo de quem a pode defender. E não se pense na História como reveladora de uma verdade póstuma, pelo contrário, a História está cheia de mentiras e inverdades. Isso é cobardia de quem não quer assumir as suas responsabilidades no presente.

  2. foi bonito, ver o nicolau santos recordar o assalto levado a cabo em 2011 ao “comboio do poder”. trocar medidas de austeridade,por um resgate a um pais,foi golpe, que nem o alcapone tinha tomates para levar a cabo.cuspir na cara destes canalhas, era o que deviamos fazer.

  3. Cavaco traiu Portugal (de acordo com a sua consciência!), e vai ser condecorado com a Ordem da Liberdade. Uma condecoraçâo que, a partir de Marcelo, pode ser atribuía a qualquer um…

  4. É importante o que escreveu.
    Fica perdido nesta encenação grotesca que foi a sociedade portuguesa entre 2011 e 2015.
    Mas alguém há-de respigar estes pedacinhos, aqui e noutros sítios.

  5. Pouco a pouco a verdade vai surgindo, o mentirosos ficam a descoberto mas,
    sem mossa visível pois não agarram na mochila e vão á procura de outro modo
    de vida excepto, o ensaio agora dado pela marilú dos tóxicos!
    Por outro lado, dado os danos causados ao País, é natural que o Pilatos de Belém
    apareça a afirmar que sempre se guiou pela sua consciência? e no superior interesse
    nacional … não é fácil passar uma esponja sobre os últimos 4 anos !!!

  6. estou ansiosa pelos futuros livros de história sobre a nossa história. (o que irá prevalecer – os factos ou os nicolaus?)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *