Dominguice

A inclusão do “breaking” como disciplina olímpica fez-me imaginar a realização dos Jogos Olímpicos em Portugal com o Comité Olímpico Internacional a aceitar como novas modalidades o Jogo do Pau, a Pega de Toiros e o Fado à Desgarrada. Haveria fatal polémica por causa dos bovinos, e os espanhóis veriam como provocação as lembranças de terem sido corridos a varapau nos idos de Aljubarrota, mas tudo acabaria por ser esquecido na inundação de bronzes, pratas e ouros que ficariam em solo pátrio.

Se a ideia for a de aumentar o rácio de medalhas nas próximas edições, não vejo melhor plano do que este.

11 thoughts on “Dominguice”

  1. São, no mínimo, duas coisas, da forma como Post é posto

    Uma coisa, como muito é aqui escrito no Post, são as ‘Modalidades’ pelas quais o Desporto se expressa, outra coisa diferente, é o ‘Desporto’ (enquanto coisa, fenómeno e facto).

    Outra coisa, é discutir sobre a necessidade ou não de «aumentar o rácio de medalhas».

    Tudo tem a ver, em ambos os casos, com uma decisão política.

    Por exemplo, se o País, para o qual falamos (neste caso, Portugal) a exigir as duas coisas, decidir:
    — Que não é pela modalidade que mostra a si próprio que sabe fazer Desporto ao nível dos melhores;
    — Que, não está disponível para custear recursos e infra-estruturas que permitiriam «aumentar o rácio de medalhas», pois o custo/benefício seria de tal maneira desproporcionado em termos do custo e das possibilidades do país, que não valeria a pena (quer para a projecção do País vinda desse aumento de medalhas, pois haveria outras formas de projectar a marca do país mais eficazes do que usar as medalhas para comparar e exibir a supremacia dos países; quer para o desenvolvimento do Desporto no país, pois havia outras formas de o promover com custos muito menores);

    Então, perante estas duas decisões do País, em que argumentos nos baseamos para fazer uma crítica?

    DOIS OUTROS ASPECTOS não podem fugir ao nosso escrutínio crítico:

    — O primeiro aspecto, tem a ver com o uso político que estes Jogos Olímpicos fazem do Desporto (não são necessários JO’s para se praticar Desporto). Basta analisar quanto custa a realização de uns Jogos Olímpicos, e ver qual é o rácio entre o PIB dos países e esse custo, para se perceber que as medalhas olímpicas (e o Desporto nesses JO’s) são usadas para uma disputa entre as grandes potências económicas sobre a supremacia.

    — O segundo aspecto, que está a montante destas questões, é compreender «O QUE É O DESPORTO?». Pois, sem termos consciência de qual é opinião sobre ele que usamos, jamais conseguiremos discutir com objectividade as questões que aqui são colocadas.

    Para que o ser-humano e a sociedade necessitam do ‘Desporto’?

    Pois, para haver motricidade biomecânica, actividade física, ou jogo; ou divertimento, aleatoriedade, ludicidade, agonicidade, competição, vertigem; ou espectáculo, negócio, exibição de supremacia, etc. — que já existiam muito antes — não era preciso ter sido inventado o ‘Desporto’. Portanto, qual é a razão para o Desporto, e para a sua origem?

    No dia 12 de Julho de 1998, no “VI.º Congresso de Educação Física e Ciências do Desporto” realizado na Corunha, um professor catedrático de uma das Faculdades de Educação Física e Desporto existentes em Portugal, e ex-Presidente do Conselho Superior do Desporto, escreveu:
    — “Tenho procurado uma razão científica para a existência do desporto, quer na sua forma actual, quer em formas anteriores, e não a encontro. Nem vejo que o acto desportivo seja necessário à existência do homem e da humanidade.” (Jorge Olímpio Bento, 1998:121)

    Nós, preferimos uma perspectiva menos filosófica e menos introspectiva. Preferimos lembrar-nos de quando Gaston Bachelard, em “La Formation de l’Esprit Scientifique”, introduziu a tese de que “todo o conhecimento consiste numa resposta a um problema”; e mais tarde Michel Focault produziu a célebre resposta ao Círculo Epistemológico sobre o conceito de ‘descontinuidade’. Pois, a partir desse momento, o modo de fazer História sofreria uma mudança. A historiografia contemporânea, sobretudo a partir da “École des Annales”, passaria a não aceitar uma ‘História’ explicada pelo recurso a causas mitológicas com origens em lendas. Nem uma ‘História’ explicada pelo acaso. E muito menos, uma ‘História’ feita a partir de uma sucessão cronológica de factos-feitos-resultados-datas (“événementielle”).

    A partir desse contributo, a ‘História’ passou a obrigar que se escrutinasse nos factos quais os problemas sociais que esses factos foram chamados a ser uma solução, ou dito de outro modo, qual o uso social e político que lhes foi dado. Ora, o ‘Desporto’, quanto à sua origem e razão de ter sido inventado, não me parece que possa fugir também a este escrutínio.

  2. É por ser uma modalidade diferente, que é mais ou melhor Desporto?

    Nos Jogos Olímpicos de 776 a.C. (e em muitos que se lhe seguiram) só havia uma ‘modalidade’ (corrida).

  3. Muito gosta a carneirada de taças e medalhas. Um velho conhecido contava-me uma história de quando era miúdo, salvo erro na África do Sul: a escola atribuía uma estrela aos melhores alunos da turma; ele lembrava-se de ir a correr, muito feliz e orgulhoso, colar a estrelinha dele no quadro.

    Décadas depois, recordar este orgulho pueril ainda o enchia de ar. Somos criaturas de paradoxos: por um lado ansiosas por pertença e aceitação no grupo, por outro desesperadas por distinguir-nos dele; sempre à procura do reconhecimento que nos enche a vaidade e nos confere individualidade.

    Quando as taças e medalhas são ganhas por outros – atletas e jogadores que nada têm a ver connosco – a coisa deixa de ser paradoxal e pueril e torna-se simplesmente pacóvia. É preciso ser muito otário para ver no sucesso duma judoca ou dum futeboleiro algum triunfo nacional; e duplamente otário para celebrá-lo como se fosse também seu. É este o pior lado do desporto: carneirismo e alienação.

  4. POR TRÁS DA CORTINA

    O Impronuncialismo, há muito mais tempo a falar disto, de «o que há-de vir». Mas agora, a desencadear-se de forma rápida e exponencial, tal como me parece ser neste ‘Post’ a pretexto do Desporto.

    Refiro-me à crescente preocupação com o presente e futuro de Portugal.

    Os últimos dois episódios, que provocaram um sério rebuliço, foram os livros de [Luciano Amaral, 2024, “Alfredo da Silva: O futuro como tradição. O impacto do Grupo CUF na economia portuguesa em 1973”, ed. Principia, prefácio de Vítor Bento]; e de [Nuno Palma, 2023, “As Causas do Atraso Português: repensar o passado para reinventar o presente”, novembro 2023, pub. Dom Quixote].

    Este ‘Post’ não será acerca de Portugal, no presente e no futuro, … mais do que sobre Jogos Olímpicos e Desporto?

  5. O «desejo de medalhas» é genético, ou é aprendido socialmente pela educação?

    É fácil constactar que, com quase tudo, os seres da espécie humana conseguem fazer uma «COMPETIÇÃO DESPORTIVA».
    — Isto é: «ganhar/perder dentro de regras consensualizadas a priori, que permitam reiniciar as competições com os competidores na mesma situação de paridade inicial, independentemente dos resultados alcançadas nas competições anteriores».

    Por exemplo, nas prisões, numa situação extrema de existência e confinamento, de facto, é impressionante constactar a diversidade de ‘competições desportivas’ que ocorrem, feitas com os objectos e situações as mais inverosímeis de imaginar. Os estudos e relatos sobre elas são simplesmente impressionantes.

    Muito antes do aparecimento dos seres da espécie humana, já desde os primeiros organismos multicelulares (há cerca de 2100 milhões de anos), constactamos que os seres vivos têm a propensão de se juntarem em comunidades e grupos, aquilo a que poderíamos chamar «A PARTE SOCIAL DO INDIVIDUAL».

    A mesma propensão é tão forte antes, como agora nos actuais seres da espécie humana. Os humanos agrupam-se em comunidades, clubes, etnias, nações, países, etc. E, por mais que neguem, o facto é que sentem a vitória ou derrota desse ‘colectivo em que se agrupam’ como parte da sua realização individual. Acompanham a vida desse ‘social’ como parte da vida do seu ‘individual’. Quando esses seus ‘colectivos’ (clubes, comunidades, nações, países, etc.) perdem ou ganham, são eles a nível individual que também perdem ou ganham.

    Essa irresistibilidade, de a «parte social fazer parte individual», é genética e epigenética? Ou, é aprendida socialmente apenas pelo sistema de educação, e transmitida culturalmente pelas sucessivas gerações?

    Como responder ao «DESEJO DE MEDALHAS» sem responder a esta questão? A alienação vem da genética, ou vem da cultura?

  6. animem-se , nos próximos a dança no varão , feminina , masculina e queer , é desporto olímpico- -:) -:)

  7. O que significa Portugal, nestes Jogos Olímpicos ‘Paris 2024’, ficar em 50.º lugar em número de medalhas, no total de 204 países?
    Significa que Portugal é melhor do que 154 e pior do que 49?
    Os sete primeiros países em número de medalhas, deixaram quantas o resto dos outros ganhar? O Mundo actual é assim, como nas medalhas?

  8. Senhor José Neves,
    Coloco-lhe a seguinte questão, não pretendendo iniciar debate sobre o assunto. Só para meu esclarecimento, se estiver para aí virado.

    Foram duas vezes, mas já mais uma ou duas o fez, que utilizou a expressão “marxismo-leninismo”, PRONUNCIANDO-O; isolou maoismo e não individualizou marxismo.

    Quando PRONUNCIA o “marxismo-leninismo” está a IMPRONUNCIAR o Marxismo?

    (Os termos em maiúsculas têm aqui desajustada significação penal. Sei que sabe onde quero chegar.)

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