Ao cuidado dos borregos

«Os movimentos de protesto que rejeitam os partidos políticos têm uma consequência não intencional, segundo uma nova pesquisa da Universidade de Notre Dame: eles dão poder a políticos astutos que conseguem instrumentalizar esses movimentos para abalar o status quo.

Ann Mische, professora associada de sociologia e estudos de paz na Escola de Assuntos Globais Keough de Notre Dame, e Tomás Gold, candidato a doutoramento em Notre Dame e investigador doutorando no Instituto Kellogg de Estudos Internacionais da Escola Keough, co-autoraram o estudo, publicado no American Journal of Sociology.

“Apesar da forte rejeição dos partidos por parte dos manifestantes, os partidos políticos não ignoraram os manifestantes”, disse Mische. “De facto, muitos actores partidários encontraram formas de usar essa hostilidade a seu favor, perturbando a ‘política como de costume’ e contribuindo para reconfigurações políticas que surpreenderam tanto actores como espectadores.”

Eles descobriram que, em resposta a protestos massivos anti-partidários, esses países geralmente experimentaram um de quatro resultados: desafios internos de facções dentro de partidos altamente estabelecidos (por exemplo, o líder trabalhista Jeremy Corbyn no Reino Unido); o surgimento de novos partidos ou a renovação de partidos (Podemos, ou “Nós Podemos”, um partido espanhol anti-austeridade); a formação de novas coligações de partidos anti-incumbentes (as coligações Frente Ampla UNEN e Cambiemos na Argentina); e a ascensão de líderes populistas extremos (como Jair Bolsonaro no Brasil).

“Focámo-nos em como as elites políticas podem aproveitar o facto de serem rejeitadas pelos manifestantes”, disse Gold. “Esse paradoxo está no cerne deste artigo.”

“Por vezes, é necessário que os movimentos sociais desafiem sistemas entrincheirados e respondam às necessidades e aspirações das pessoas”, disse Mische, acrescentando que pesquisas adicionais poderiam ajudar a explorar as dinâmicas de coligações de insiders e outsiders para implementar reformas.

“Mas se rejeitares trabalhar com o Estado, não poderás influenciar o desenvolvimento de políticas que são importantes para as coisas com que te preocupas. Podes, em vez disso, tornar mais fortes autocratas que não partilham os teus valores, mas são hábeis em usar a desconfiança institucional como arma. Compreender esta dinâmica é importante para trabalhar por mudanças e fortalecer a democracia global numa altura em que as instituições estão cada vez mais sob ataque.”»


Political elites take advantage of anti-partisan protests to disrupt politics

8 thoughts on “Ao cuidado dos borregos”

  1. a atenção dos borregos _
    desde sempre que o poder tem uns “cientistas” ao seu serviço que trabalham em prol do status quo.

    analistas politico só há um , maquiavel e mais nenhum.

  2. Valupi, chegaram aqui a redacao TeleRedil algumas perguntas do aprisco para tua apreciacao e emissao de parecer:

    – Onde se encaixa o Macron nesse titanico opusculo?
    – Que diria a douta professora do Soares no sec XX antes do advento de 1974?
    – Quem promove a despolitizacao do povo?
    – Qual sera a opiniao da douta professora (e a tua, ja agora, se nao e foi macada) sobre o pulular de instituicoes, obviamente politicas como por exemplo os bancos centrais, desligadas do escrutinio democratico para alegadamente apolitizar decisoes politicas – como por exemplo as decisoes sobre politica economica que os bancos centrais agoram tomam?

    Saudacoes ovinas

  3. e assim, da miséria dos borregos, nasceu – e se mantém – o Chega com a devida permissão dos pseudo-constitucionalistas.

  4. Lowlander, essas questões que trazes são cruciais, sãos as interrogações a fazer, realmente. E só para as formular é necessário ter uma admirável coragem.

    Entrei de imediato em contacto com a tal douta professora e ela ficou estarrecida, afónica. Nada que te surpreenda, aposto, habituado como estás a confrontar os serventuários do imperialismo capitalista.

    Muito obrigado pela tua luta, os amanhãs que cantam estão cada vez mais melodiosos e audíveis graças a bravos como tu.

  5. exame de consciência …
    como é que se pode , sendo boa pessoa , querendo o mais possível para todos , estar do lado dos ogres?
    como é que , sendo adepto da lógica , não questionar como é que o “governo do povo , pelo povo e para o povo” , definição teórica e aceite de democracia , conduziu os países , na prática , à categoria de reféns de corporações ?
    como é que , sendo uma pessoa Pessoa , se pode contribuir para o aprimoramento da situação anterior ?
    como é que sendo justo se pode postar merdas a estigmatizar legítimos pontapés ao calhas no sistema predatório de quem já não tem álvaros nem mários nem robespierres para os conduzir ?
    como é que , não sendo da tribo dos abutres , se pode fingir que vivemos em democracia ?

    paz podre é coisa de podres , lá está.

  6. como é que se pode ser comunista e apoiar o capitalismo selvagem das oligarquias russa e chinesa?

    como que se pode ser pela liberdade apoiando quem invade a ucrânia?

    como é que se pode ser pela paz sendo a favor do terrorismo islâmico apoiado patrocinado pelos russos?

    como é que se pode ser progressista defendendo ideais conservadores, retrógrados e bacocos?

    como que se pode estar do lado dos pobres e desprotegidos defendendo os interesses dos ricos e opressores?

    a resposta esta no vento de extrema-direita que sopra do leste até que os tempos voltem a mudar.

    https://www.youtube.com/watch?v=90WD_ats6eE
    https://www.youtube.com/watch?v=uc5lyJDiyEI

  7. Valupi,
    Primeiro disparas do coldre contra os malandros dos borregos agora disparas do coldres contra os malandros comunas dos amanhas que cantam.
    Ve se escolhes uma, e uma so, metafora. Nao te disperses. Senao pareces um bebado a disparar em todas as direcoes. Ninguem te atura assim.

    Entretanto nao te esquecas de notificar a redacao do TeleRedil* quando e se:
    – a douta professora se recompuser e conseguir alinhar um par de linhas de resposta;
    – ou quando esta magnifico opusculo lhe grangear reconhecimento cientifico;
    – ou, e, nao te esquecas mesmo neste caso, presta bem atencao: se calhar te deparares com uma edicao deste portentoso artigo impresso em papel suave.

    *TeleRedil: informacao de confianca, redacao editorialmente neutra, excepto no que toca a controversa tematica dos pediluvios profilaticos onde a qualidade nao tem preco.

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