Quem sabe faz, quem não sabe ensina

Cenas verdadeiramente cómicas, mas estranhas num mundo sem fronteiras comunicacionais.

Vi ontem, numa peça do Telejornal, o Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, a dar uma palestra no Trinity College de Dublin em que explicava por meio de gráficos projetados em Power Point os desafios com que estava confrontado para corrigir o orçamento português de 2013 após o chumbo de algumas das suas normas pelo TC e também a pronunciar-se sobre a nossa taxa de desemprego e outras contrariedades numéricas que, na sua linguagem, devem ser acomodadas num orçamento retificativo. Tenho dificuldades em classificar o ar com que a nossa situação estava a ser apresentada e modelizada. Vejam vocês mesmos. Qualquer coisa entre o puro gozo académico de uma minhoca de gabinete, o auto-convencimento, o deleite em utilizar a língua inglesa e a esquizofrenia de quem não faz a mais pequena ideia de onde trabalha e do desastre que já causou.

Pois a minha palestra é esta:
Sabendo nós o que sabemos e sabendo a comunidade internacional o que o Eurostat sabe e publica sobre a aplicação prática a todo um país das teorias deste homem, aquele exercício é de um descaramento, de um alheamento e ao mesmo tempo de um ridículo sem medida. É certo que a audiência não era numerosa, mas será que alguém apresentou previamente o orador, mencionando o cargo que ocupa, eventualmente uma referência à evolução/deterioração dos nossos indicadores desde que o orador assumiu funções? É deveras lamentável, mas sintomático, que não tenha havido período de perguntas. Ou será que quem lá estava foi pago para assistir?
O Ministro Gaspar far-nos-ia a todos mais felizes se fosse ensinar.

16 thoughts on “Quem sabe faz, quem não sabe ensina”

  1. os putos foram ao engodo do bono e não sabiam a letra da grandola-vila morena

    http://www.tcd.ie/iiis/

    tinha interesse em saber quanto é que o país paga para estas autopromoções do gaspar sem ser apupado. aparentemente aquela porra é financiada pela comunidade, mas não se percebe bem donde vem o guito, quem paga o quê e quem suporta as despesas de deslocação.

  2. NA MORTE DA AMIGA DE PINOCHET

    por ALFREDO BARROSO

    Morreu Margaret Thatcher, uma das principais responsáveis pela contra-revolução neoliberal que há mais de 30 anos vem devastando os regimes democráticos ocidentais, deformando a economia, tornando as sociedades democráticas cada vez mais desiguais, destruindo a coesão social, impondo o «casino da especulação monetária» e a ditadura dos mercados financeiros globais que hoje mandam em nós.

    Morreu, além disso, a amiga de Pinochet, um dos ditadores mais sanguinários e corruptos da América Latina, que permitiu que o Chile se tornasse banco de ensaio das políticas ultraliberais preconizadas pela famigerada «escola de Chicago» e levadas a cabo pelos «Chicago boys», apadrinhados por Milton Friedman e Friederich von Hayek, figuras tutelares do pensamento de Margaret Thatcher, além da mercearia do pai.

    Não faço esta acusação de ânimo leve. São factos conhecidos, designadamente a sua acendrada admiração por Augusto Pinochet, como se projectasse nele aquilo que ela desejaria impor, mas nunca conseguiria, na velha democracia inglesa. Há muitas fotos em que aparecem ambos sorridentes, lado a lado, quer quando o ditador estava no poder, quer quando o detiveram em Londres na sequência do pedido de extradição efectuado pelo juiz espanhol Baltazar Garzon, que o acusou de ser responsável, durante a ditadura, pelo assassínio e desaparecimento de vários cidadãos espanhóis.

    Esta mulher a quem chamaram «dama de ferro», como poderiam ter chamado «de zinco» ou «de chumbo», nutria um profundo desprezo pelos grandes intelectuais ingleses do seu tempo, designadamente Aldous Huxley, John Maynard Keynes, Bertrand Russell, Virgínia Woolf e T. S. Eliot, conhecidos como o «círculo de Bloomsbury» (do nome do famoso bairro londrino de editores e livreiros e de boémia intelectual). A frustração dela perante o talento e a inteligência que irradiavam deles, e que ela não conseguia captar, levaram-na a considerá-los «intelectuais estouvados, que conduziram o Reino (Unido) pelos caminhos nada recomendáveis da segunda metade do século XX». Ao diabo as «literatices» da «clique de Bloomsbury», dizia ela. «O meu Bloomsbury foi Grantham» (onde o pai tinha a famosa mercearia) (?) Para compreender a economia de mercado, não há melhor escola do que a mercearia da esquina». Deve ser por isso que as mercearias estão a falir?

    Thatcher considerava «a distância entre ricos e pobres perfeitamente legítima» e proclamava «as virtudes da desigualdade social» como motor da economia. A verdade dos números é, no entanto, bastante diferente. Como salienta John Gray, um dos mais importantes pensadores contemporâneos, na Grã-Bretanha da chamada «dama de ferro» os níveis dos impostos e das despesas públicas eram tão ou mais altos, ao fim de 18 anos de governos conservadores, do que quando os trabalhistas deixaram o poder, em 1979. Ao mesmo tempo, nos EUA de Ronald Reagan, co-autor da «contra-revolução neoliberal», o mercado livre e desregulado destruiu a civilização de capitalismo liberal baseada no New Deal de Roosevelt, em que assentou a prosperidade do pós-guerra.

    Convém dizer que John Gray, autor de vários livros editados em português, entre os quais Falso Amanhecer (False Dawn), chegou a ser uma das figuras dominantes do pensamento da chamada «Nova Direita», que teve uma grande influência nas políticas que Thatcher pôs em prática. Mas ficou desiludido e alarmado com as terríveis consequências dessas políticas e tornou-se um dos críticos mais lúcidos e implacáveis dos «mercados livres globais», cuja desregulação tem causado os efeitos mais perversos nas sociedades contemporâneas, provocando a desintegração social e o colapso de muitas economias. O capitalismo global parece funcionar, segundo Gray, de acordo com as regras da selecção natural, destruindo e eliminando os que não conseguem adaptar-se e recompensando, quase sempre de maneira desproporcionada, os que se adaptam com sucesso. Estas são, logicamente, as inevitáveis consequências do pensamento de Thatcher, ao pôr em prática «as virtudes da desigualdade social» como motor da economia.

    A pesada herança de Margaret Thatcher, tal como a de Ronald Reagan – adoptadas não apenas pela direita ultraliberal, mas também por uma certa esquerda neoliberal (Tony Blair, Gerhard Schröder e alguns discípulos da Europa do Sul, designadamente lusitanos) – é esta crise brutal em que a UE e os EUA estão mergulhados há já cinco anos. E o mais terrível é que é o pensamento dos principais responsáveis por esta crise que continua e prevalecer na maioria dos governos que prometem acabar com ela à custa da austeridade, do empobrecimento dos cidadãos e do confisco dos seus direitos sociais.

  3. Lê mais e passa menos aos outros

    Este Alfredo Barroso é um tangas. Agora a Dama de Ferro e o Reagan é que são culpados da situação atual.
    Quando foi criada a OMC já estes dois atores políticos estavam arredados do poder. Ninguém fala do Bill Clinton que foi o maior defensor da entrada da China na OMC. Os resultados estão à vista.
    Quanto ao facto da Thatcher se dar com o Pinochet, isso ficou a dever-se ao apoio logístico que o Chile deu à Inglaterra durante a guerra das Malvinas. Só mostra que a mulher não era ingrata.
    Depois este Barroso que nunca fez nada na vida, tal como o seu tio, vem falar da Economia Chilena. Até parece que os chilenos se deram mal, com as politicas liberais implementadas pelo Governo do General Pinochet e que sofreram muito, com a crise mundial de 2008. Desculpa que o Sócrates dá, para justificar o falhanço da sua governação. Isto é que o Alfredo Barroso não consegue explicar.
    Como foi possível o Chile, com as politicas neoliberais implementadas, na década de 80, pelos Chicago boys, ter tido sucesso, permitindo passar por entre os pingos da chuva em 2008 e nós, com o sultão ao leme do barco, termos naufragado?
    Este Alfredo Barroso ganhava mais em ficar calado. Em vez de fazer uma homenagem à Maggie e ao ” velho cowboy”, por terem sido os principais protagonistas do fim da guerra fria, vem responsabiliza-los pelos erros da geração política seguinte (Bill Clinton/Tory Blair).

  4. Quem não sabe fazer também deveria estar proibido de ensinar , pois não se pode passar bom conhecimento de algo que não se percebe.
    Gaspar não têm valor para nada mais do que fazer e apresentar gráfios em power points. E isso não chega para ensinar como deve ser, mas aparentemente chegou para o ensinarem a ele.
    Foi claramente mal formado mas alguém o convenceu que era um mago dos números.
    E o pior que pode acontecer a um país é ter ao seu leme alguém que nunca teve um espelho em casa, nem faz a minima ideia do que isso seja.
    Enfim, a parede cada vez mais perto e nós a mil á hora…Siga o baile.

  5. barroso disse tantas verdades,a unica que foi “desmentida” foi que ela era amiga de pinochet,por causa do apoio logistico, que ele deu na guerra das malvinas. é irrelevante, mas confesso que não me recordo de todo desse apoio logistico.

  6. Professor extremamente eficaz era o Milton Friedman; foi com essas qualidades que, para nossa desgraça, conseguiu uma legião de admiradores. Vejam como ele enfrentava uma audiência hostil:

    http://www.youtube.com/watch?v=0Q6S1LjU92Y

    No comentário mais votado lê-se:

    “Onde é que ele está a falar? A audiência está cheia de idiotas”

    Isto é precisamente a atitude de um seguidor ungido pelos óleos friedmanitas (como Gaspar) quando é confrontado por opositores. Contudo, como podem ver no vídeo, Friedman adorava confrontar audiências difíceis; ele achava-se uma espécie de apóstolo com a obrigação de levar a “boa nova” aos “infiéis”. Logo aí o espécime neoliberal lusitano trai o seu adorado profeta…

  7. joaopft

    Muita paciência teve o Friedman para aturar aqueles agitadores. Eu gostava de ver qual era a tua atitude, se tivesses a fazer uma conferência e aparecessem uns bacanos só para provocar?

  8. francisco, eu não diria que eram agitadores; seriam militantes da esquerda radical dos anos 1960 e 1970, que reflectiam uma forma de pensar comum aos jovens desse tempo. Veja-se os exemplos de Durão Barroso, Nuno Crato ou Zita Seabra.

    Friedman fazia uso, como ninguém, de uma insuficiência do campo oposto: a questão do indivíduo, o facto de a consciência e a razão despertar em cada indivíduo e de que esse despertar deve preceder a sua inserção no meio social. As teses “colectivistas” de que a consciência e a razão da cada qual são o produto de interacções sociais não são socialmente produtivas, se se quer uma sociedade onde cada pessoa dê o seu melhor e o consiga fazer de forma o mais autónoma possível. As concepções do neoliberalismo também não funcionam; o que se observa, na prática, é que arredam 99% das pessoas de qualquer tipo de existência condigna. Ora uma pessoa que vive sem dignidade tem mentalidade de escravo; dificilmente poderá pensar e agir de forma autónoma. No que diz respeito ao homem, quando o ambiente social força a essência a preceder a existência, o resultado é uma existência humana penosa e mediocre.

    Jean-Paul Sartre respondeu a estas questões de forma consistente e, em minha opinião, fornece a única forma coerente de criticar as teses de Milton Friedman. Retirei alguns excertos de

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Paul_Sartre

    Existência do espírito humano precede a sua essência

    “A sua filosofia dizia que no caso humano (e só no caso humano) a existência precede a essência, pois o homem existe em primeiro lugar, e só depois se define, enquanto todas as outras coisas são o que são, sem se definir, e por isso sem ter uma essência posterior à existência.”

    Sobre a escolha

    “As nossas escolhas cabem somente a nós mesmos, não havendo, assim, factor externo que justifique nossas acções. O responsável final pelas acções do homem é o próprio homem. […] Cada escolha carrega consigo a obrigação de responder pelos próprios actos, um encargo que torna o homem o único responsável pelas consequências de suas decisões. E cada uma dessas escolhas provoca mudanças que não podem ser desfeitas” pois modelam o mundo de acordo com um projecto pessoal. “Assim, posto perante suas escolhas, o homem não apenas se torna responsável por si, mas também por toda a humanidade.”

    A angústia da escolha, a responsabilidade social do indivíduo e a má-fé.

    A angústia do indivíduo colocado perante uma escolha “decorre da consciência do homem de que são as suas escolhas que definirão a sua essência, e mais, de que essas escolhas podem afectar, de forma irreversível, o próprio mundo. A angústia, portanto, vem da própria consciência da liberdade e da responsabilidade em usá-la de forma adequada.”

    “A má-fé é uma defesa contra a angústia criada pela consciência da liberdade, mas é uma defesa equivocada, pois através dela nos afastamos de nosso projecto pessoal, e caímos no erro de atribuir nossas escolhas a factores externos, como Deus, os astros, o destino, ou outro.” [No nosso caso, o défice].

    “Podemos dizer, então, que para os existencialistas a má-fé compreendia a mentira para si próprio, sendo imprescindível para o homem abandonar a má-fé, passando então a condição de ser consciente e responsável pelas suas escolhas. Ao fazer isso, o homem passa, invariavelmente, a viver num estado de angústia, pois deixa de se enganar, mas, em compensação, reconquista a sua liberdade no sentido mais pleno.”

    http://escritorluiznazario.files.wordpress.com/2011/06/jean-paul-sartre-foto-gisc3a8le-freund1.jpg

  9. joão pft,

    para além de achar que estás a gastar a tua cultura com o rodrigues, saliento o que disseste :” As concepções do neoliberalismo também não funcionam; o que se observa, na prática, é que arredam 99% das pessoas de qualquer tipo de existência condigna. Ora uma pessoa que vive sem dignidade tem mentalidade de escravo; dificilmente poderá pensar e agir de forma autónoma.”. Mas claro que funcionam, chegar a esse ponto que descreves é um sucesso: sociedades escravas? É o sonho! Conseguindo isso, consegue-se aplicar a teoria sem dificuldades. O problema são as sociedades com vontade e dignidade. Anulando isso, a teoria, um dia, funciona. Mais uma vez, depende de nós. E nós também temos mostrado (muito me custa dizê-lo) falta de força anímica para dar luta a estes escroques que assaltaram o país.

  10. Edie

    O problema são as sociedades com vontade e dignidade.

    Que tipo de sociedades são estas? podes-me explicar!

  11. não sabes o que seja? Condiz. Queres exemplos? terão de ser comparativos. Compara os EUA com Portugal. Compara Irlanda com Portugal. Compara Espanha com Portugal. E se não conseguires, poupa-me. Um parolo que não acredita nas sociedades dos homens, que não acredita nas sociedades como pilar – digno- da governação, não só é iliterato histórico e sociológico, como trai o seu desejo de iliiteracia polítca de que elas se extingam de uma vez por todas. “Mas ainda há? Onde estão? Ai que eu vou-me a elas”. Descansa, aqui no tugal a coisa está controlada. Qualquer dia, com uma refeição por dia e direito ao curandeiro sem comparticipação, toda a gente se dará por feliz.E um contentor será melhor que estar sem casa. Ainda não atingimos, provavelmente, o empobrecimento total que o teu amigo pedro (palhaço maior que todos os primeiros ministros de que há memória) defende. Aí sim, estarás livre das sociedades com vontade e dignidade. Ainda há pouco mais de trinta anos tiveste uma que te caiu mal, pelo que aqui dizes em defesa do regime do Salazar e sucessores. Comparando: uma sociedade digna é o contrário do que nesse tempo tínhamos. Mas devias estar contente, porque os esforços de regresso ao rebanho medroso e apático estão quase, quase a dar resultado. Mas pode é não durar muito tempo este teu sonho quase realizado. Epa, tanta coisa que debitei a um facho ranhoso. Dá para os próximos seis meses.

  12. Edie

    O joaopft estava a referir-se a uma sociedade defendida pelos existencialistas ( Sartre, Camus, etc), não aquela que estás para aí a divagar. O joao limitou-se a descrever os princípios básicos da corrente existencialista, muito na moda no pós-guerra. Por isso perguntei-te, onde havia essa sociedade. Mas como tu és ” muito poucochinho” como dizem no Alentejo de ignorantes como tu, respondeste desta maneira.
    Pelos vistos, o joaopft anda a gastar a cultura é contigo! eheheheh
    Conclusão: A parola e ignorante aqui és tu.

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