Segundo a famosa revista Der Spiegel, o pressuposto de que os funcionários das instituições europeias esquecem as suas identidades nacionais e só trabalham para o interesse geral e a unidade da Europa não passa de um mito. Mas atenção, segundo se deduz desta leitura, são só representantes do sul que transformam esse princípio num mito. O artigo dá como exemplo um português e um italiano e fica-se por aí.
O “deslize” de Barroso sobre os limites da austeridade terá sido, segundo o articulista, um grito de alma de um homem que, quer se tenha dado por ela quer não, tem uma nacionalidade. Neste caso, portuguesa. E Portugal não está bem. Teria sido levado àquele desabafo por pressão das perguntas de uma jornalista da Dow Jones e do Wall Street Journal, por sua vez uma mulher de nacionalidade … grega. Paternalismo do autor do artigo, gente? Não sei que mais lhe chame. Mas dispensava-se esta compreensão.
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Aproveita o articulista para lembrar que também Mario Draghi se teve de esforçar para provar aos nórdicos que não estava ali para defender os interesses da Itália ou restaurar velhos hábitos do país, como o da inflação elevada (“estamos de olho m ti, ó Draghi!”).
Mas o que é extraordinário neste tipo de artigos é que nunca por nunca ser se aponta o dedo a alemães que, em lugares de topo em instituições financeiras (o Bundesbank) ou políticas alemãs e europeias, ou através de manobras de bastidores e interpostas pessoas (Monti, Gaspar, Barroso e outros), nada mais fazem senão defender os interesses atuais da Alemanha, a sua pátria.
A Europa toda está submetida às ordens germânicas, incluindo o BCE, e estes idiotas ainda temem que alguém ouse pô-las em causa em favor de qualquer outro país, por mais tímida, murmurada e desmentida que seja a maneira como o faz. E depois vêm com paternalismos desculpá-los.
Neste momento, ai de quem contrarie ou irrite a Alemanha, mas são os alemães, que orientam toda a ação das instituições europeias neste crise, os campeões da neutralidade. Extraordinário.
Viva o 25 de Abril!
Temo que esta falta de pachorra, sua, minha e de tantos outros “sulistas”, venha a descambar num anti-germanismo inteiramente justificado. Ponho-me a pensar que os alemães não são todos iguais, que nem todos olham para os países do sul de cima para baixo, mas a verdade é que as coisas começam a complicar-se. Já vimos este filme. As consequências podem ser trágicas.
E a dupla Governo/Cavaco só piora as coisas. Em vez de firmeza, subserviência, colaboracionismo. Como seria se tivessem a coragem de erguer a cabeça?