Era no fundo do quintal que afinávamos
as cores para evitar confusões. Embora
eu fosse azul e o meu pai amarelo,
a verdade é que a luz nos ourava até
ao imo da pupila e não era assim fácil
esquecer que habitávamos um mesmo nome.
Como os melros, recuperávamos o silêncio
sob os castanheiros, porque era apenas
lá, naquela sombra delicada, que as coisas
se vingavam de opacidade. Sobra-me
ainda hoje um pouco desta claridade na
memória e, embora a minha mãe me jure o
contrário, acredito que se um dia me conseguir
subtrair à relva, quem sabe, o meu pai.
Quem terá metido na cabeça do João Pedro Costa que era um poeta!? Se escrever poemas só com palavras ordinárias, talvez seja possível…Agora com “Verdes na Pupila”…Eu mudava-lhe o título para “Cor de Burro quando Foge”!
Muito bom poema e para além das cores, há semas relativos às cores noutras palavras (quintal, melros, castanheiros, sombra, relva, opacidade / claridade).
JP,
Tens a informação de que não és poeta. Tens uma abordagem estruturalista. Que mais se poderia desejar – se não for dizerem-te que se gostou, e muito?
Olha, já ficou dito.
Na senda da claudia e do fv, a subtracção do autor (azul) à relva (verde) dá o pai (amarelo). E também gostei. Mas a opinião é suspeita: não é, JP? :)
Subtracção? É adição do azul com o amarelo. azul + amarelo = verde.
este poema é sempre.
subtracção, sim, pois esta relação de cores só é possível na síntese subtractiva.
Não foste um menino tão feliz quanto poderias ter sido ou pensado teres o direito de ter sido. Disso tenho eu a certeza, sem ajuda das ideias escorregadias e apaneleiradas do homo-Freud. Quanto a poeta, para mim, come-se bem, comesmos-te bem. Põe aqui mais desse material e despe a camisola que esconde esse peito cabeludo de vergonhas que escondes com tanto jeito. Um beijo à mamã-centro-do-mundo e não ligues às marílias que te criticam.
Susana, disso eu sei, mas o que me ocorreu ao ler o poema foi o contrário, a adição. Leituras…
Subtrair à relva = viver. Se conseguir viver, quem sabe, um dia poderei ser o meu pai. E tudo isto com as correspondências cromáticas que os anteriores comentários tão bem dissecaram. Muito bom, caralho. Quem é que precisa da vaca da TVI?
Cheira-me aqui a peixe podre de Sesimbra…Porque
será???
Bem, no que me fui meter.
Em primeiro lugar, gostaria de dizer que escrevi este texto num manifesto estado de embriaguez, o que anula de imediato qualquer veleidade sobre as intenções do mesmo.
Apolo: sabes uma coisa triste? Nem sequem me despertas a vontade de te brindar com uma eloquente demonstração da minha arte do manejo do palavrão. Mas não desistas, estou certo que um dia vais chegar lá.
Fernando: não posso, de facto, desejar mais.
Mário: a tua opinião é mais do que suspeita. Só tenho pena da mesma não ser mais costumeira (vais logo à Praça?)
Germano Filipe (nome catita o teu, né): não vou, como é óbvio, falar aqui da minha infância (tava a brincar, claro que vou, da minha infância e dos meus hábitos sexuais). Penso que o dizes sobre a minha infância pode-se aplicar à da grande maioria das pessoas. Não tenho é o peito cabeludo. E, como é óbvio, qualquer filho com sorte (como eu) elege a sua mãe como centro do seu mundo.
Preia-mar: já li mais do que uma vez essa referência ao peixe podre de Sesimbra e confesso que gostava de saber o que isso quer dizer. Sinto que toda a gente se diverte menos eu.
JPC, talvez não seja má ideia perguntar ao Anonymous…
bonito
JPC: não se trata de troca amável de comentários. Já tinha intenção de me pronunciar sobre o seu poema. Também não sendo o meu género (tal como o meu não faz o seu!), a verdade é que gostei. É um bom poema. Está lá a infância (ou a adolescência, creio), alguma saudade, alguma mágoa, os sentimentos…Estão as recordações que tecem a nossa vida, que nos fazem crescer e amar – mesmo sem contrapartidas – os que nos são queridos. Mas há que saber lê-lo, palavra a palavra, com as pausas e o ritmo que lhe quis dar. Só assim o poema se torna voz e testemunho. Só assim se enriquece…Repita!