«folclore íntimo » de valter hugo mãe
«Entre solidão e perplexidade» – poderia ser este o título desta recolha poética de valter hugo mãe (n. 1971) que engloba 13 anos de labor poético. Um ponto de partida possível é o Eu: «és um rapaz estranho, aí metido num amor nenhum que te magoa e espera ter lugar no mundo». A solidão desse Eu é atravessada pelas memórias de África («as mulheres excisadas alinharam-se perante eles e exigiram a morte») e da Europa: «o meu irmão dizia que havia fantasmas no sótão. eu via-os de encontro às paredes».
Perante a perplexidade do Mundo e da Morte («os homens mortos ficam a comer erva pela raiz. vi num sonho») só o Amor surge como resposta: «já reparaste na maneira engraçada como nos deixaram sozinhos. foi propositado. sabem enfim que gosto de ti e que poderemos casar, um dia, quando formos mais velhos». Apesar dos desencontros: «somos cruéis / tão imaturos no amor / que ele acaba por ir-se embora / talvez para nunca mais voltar / perdoa-me helena».
A vida («estou no enredo irrevogável da minha vida») não se esgota no quotidiano; há respostas nas artes e nas letras como no dia da morte de Mário Cesariny: «vamos levar-te para o panteão mas não sem antes surrealizar aos gritos os chatos que lá estão / traz mais dinheiro o que tenho hoje não chega para ser feliz / amanhã vendo algo e pago-te».
Entre a ameaça da Morte e o precário do Amor, a felicidade é possível: «quem deixou sobre o coração / um feixe de luz / não cega nunca».
(Editora: COSMORAMA, Capa: José Rui Teixeira sobre imagens de Nelson d´Aires e Isabel Lhano, Foto: Nélio Paulo)
folclore é comigo – diz ele. :-)
Desculpa Sinhã mas estás demasiado concisa para o meu gosto. Não podes ser mais concreta e explícita na tua leitura desta nota de leitura???
não o faço para te agradar.:-)
gostei muito da tua nota. mesmo.:-)
(assim como gosto de folclore e como ele gosta de me dizer que gosto por não gostar.)