Até sempre, Luiz

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Era um homem que não conhecia o medo. Por isso metia respeito.

«O nosso primeiro e único contacto foi há bem vinte anos, e seria excessivo presumir que você hoje o recordasse. No Largo de São Roque, em tarde ensolarada, trocámos uma dedicatória e uma nota de banco. ‘Levas, mas dás vinte paus.’ Eu fiquei para sempre a ganhar.»

fvm, Maquinações e Bons Sentimentos 

(O meu livro é de 2002, o texto citado de 1995. O livrinho de LP era Comunidade, um relato sublime. Desde então, visitei LP por várias vezes. Em 1975, com vinte escudos fazia-se – calculo por alto – o que hoje se faz com dez euros. O procedimento, disseram-me, era habitual, e o preço bastante estipulado).

14 thoughts on “Até sempre, Luiz”

  1. “Othelo”, William Shakespeare, Londres, Oxford Press
    Um rei otário, onanista obsessivo, tem um amigo filho da puta, que só pensa aproveitar-se das fraquezas dele. Porque o rei não lhe arranja um cargo no governo, resolve vingar-se, convencendo-o que a rainha anda a pôr-lhe os cornos. O idiota acredita e mata-a. Depois descobre a mentira e a verdade ao mesmo tempo, que não é corno mas é burro, e manda prender o amigo. Vai para um canto chorar sózinho.

  2. O Pacheco era distituido de pensamento autónomo e insistia em sublinhar a irrelevância dos que pensam por si.

  3. Na hora da morte fica bem só fazer encómios. Já toda a gente se esqueceu que o escritor era um rematado pedófilo.

  4. Zeca Diabo,

    Sim, ele juntou-se a uma miúda de 15 anos e teve dela vários filhos, entre eles o primogénito. E pagou por isso com prisão.

    A esse apanharam-no. Agora, os grandes pulhas. Concorda?

  5. Faz falta um desbocado como este. As histórias que ouvi dele, como pessoa, não o recomendavam. As que ele contava dos outros também eram a condizer. Provocador, marginal, causando por vezes dó, outras vezes repulsa, construíu, mesmo assim, um lugar singular na literatura portuguesa do seu século, que outros, muito compostinhos e penteadinhos jamais conseguiram.
    A única recordação ao vivo que tenho dele é a de um encontro casual na Feira do Livro, há vinte e muitos anos. Vestia um impermeável cinzento escuro, usava um cabelo muito próximo da escovinha e trazia um maço de folhetos debaixo do braço. Eu ia de olhos no chão e só dei por ele quando me parou com um braço e me estendeu um exemplar. Era O Caso do Sonâmbulo Chupista, da sua lavra, uma coisa de quatro páginas a denunciar o inacreditável plágio de frases e períodos inteiros da Aparição, de Vergílio Ferreira, por Fernando Namora, no Domingo à Tarde. Um escândalo.
    Só reconheci o Pacheco quando li o seu nome no impresso, mas já ele debandara de gabardine ao vento. Não me pediu um tostão, prevendo certamente a minha tesura. É esta imagem generosa e libertária que guardarei do homem que publicava “literatura comestível”.

  6. fmv:
    Concordo que os grandes pulhas sempre se fizeram os pilares da Sociedade. Na Igreja, no Estado, na Justiça, no desporto, na Academia, no Conservatório, na Sociedade Portuguesa de Autores. Como apanhá-los se os que se afirmam seus maiores críticos na hora aprazada correm ao beija-mão?

    Do Pacheco deve saber que quando começou a fartar-se da catraia de 15 anos não esperou muito para comer-lhe a irmã mais nova. Ele era assim, gostava delas novinhas, nada a fazer. Ao tempo, apesar do rigor da Lei que meramente o obrigou a casar, nenhum dos seus amigos olhou para ele como um pedófilo. E se fosse hoje? Até que ponto é hipócrita a Sociedade que construímos?

    jcf:
    Estrelinha que te guie…

  7. Assim caímos sempre na mais vulgar das inutilidades, que constitui a eterna confusão entre a ” Obra Prima do Mestre” e a “Prima do Mestre de obras”!
    Quem escreve deve ser lido e não vitima de psicanálise. Nunca, por razão alguma, confundi o artista com a obra de arte, nem sequer o oposto!
    E já agora, analisar atitudes e/ou comportamentos de ontem, à luz da “consciência” de hoje, é no mínimo: falacioso e fruto da “moralzinha” dos conformados.
    Remato, apenas dizendo que nem uma boa atitude na vida não faz uma vida virtuosa nem uma atitude má faz uma vida…se quiserem, pecaminosa!
    Defeitos todos temos. Quem for “puro” e escreva como ele escreveu, sentindo e transmitindo o sentimento, como ele o fazia, quem se lhe compare que atire então a primeira pedra!
    Um abraço ao anfitrião do blog e a promessa de ir, voltando! A todos também um abraço
    Rui V.

  8. é isso, rui. ninguém se lembra de deitar abaixo o picasso porque ele era mau pai, ou de demitir o que rilke escreveu sobre o amor porque ele as enganava a todas.

    de resto, sem menorizar a questão, lembro que na época não havia o crime de pedofilia.

  9. Diacho de gente! Tecem loas ao maior provocador do século passado e não aguentam uma provocaçãozinha. Que diria de vós o Pacheco? Eu sei, mas não vos digo.

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