Nunca falha. Ontem, de novo me sucedeu. Mas nunca aprendo. E, pior, nunca me conformo. Que se passou? Produzi aqui um elogio, coisa de nada, a certa figura pública. E imediatamente se destaparam os poços do azedume. Tudo indica que só a afirmação da mais irremediável inanidade do visado teria mantido o ambiente sereno, conversável.
Como sempre, nunca chegamos – eu nunca chego – a saber a razão. Ou ela pertence a uma ciência infusa que me foi negada, ou é parte já democratizada da opinião pública. Não dispondo de uma nem de outra, não tenho meios de relativizar, de compreender sequer, mais essa nacional catástrofe. Se não é o fim do mundo, estamos perto. Concretizemos.
Disse eu que Miguel Sousa Tavares escreveu umas coisas com piada. Tive o cuidado de passar por cima dos romances, indo directo ao cronista e ao contista. Baldado esforço. É que, segundo a quase totalidade dos comentadores, nada se aproveita no senhor. Eu perceberia se isto fosse o Pipi. Mas não é. É um blogue lido por gente da classe média alta (que também lia o Pipi, mas não dominava na paisagem) e até fez uns estudos.
Não sei que fama tem o autor por aí. Nunca falei sobre ele com ninguém, nunca lhe falei a ele, e apenas o vi de passagem, se meia hora de TV se chama ver. E, contudo, eu sei que ele é (quando quer, mas ele quer muitas vezes) um dos fulanos que melhor dominam este amado idioma. E que escreve umas coisas com tino, e com piada, que às vezes me irritam, mas respeitam o meu discernimento. Isto me basta. Disto já estou grato. Mas sou um caso raro, estranhíssimo, se calhar suspeito.
Vou deixar de elogiar os meus contemporâneos. Não chateio e andaremos sempre todos em paz, estupidamente em paz. E felizes, sim pá. Estúpidos de felizes.
Ora, por mim, eu vou dizer o que me aborrece nesse indivíduo que escreve crónicas e debita palpites na tv.
Aborrece-me sobremaneira a atitude.
COmo não o conheço pessoalmente, o que me dá a vantagem de poder escrever com distância, posso também colocar a crítica num ponto de rebuçado, ou seja, no ponto em que a fervura é máxima sem temer estragar qualquer relação de amiguismo directo ou indirecto.
Para exemplificar aquilo que execro no cronista MST ,nada melhor do que um texto já antigo, mas com referências suficientes para se perceber onde param as minhas razões.
Mesmo assim, admito que escreva razoáveis livros de crónicas. Mas há tantos livros que eu gostaria de ler que…não quero ler os do MST!
“Sexta-feira, Janeiro 23, 2004
Miguel Sousa Tavares, conhecido opinionista e romancista nas horas vagas, costuma dar palpites sobre tudo e todos, no Público, às sextas-feiras.
Hoje escreve para vituperar o comportamento dos magistrados do tribunal de Guimarães (um juiz e delegado(?) do MP – não sabe o opinionista que a “categoria” deixou de existir há anos, mas não admira porque o mesmo o diz que não costuma frequentar tribunais há muito tempo…), escreve sobre uma “tratação” proposta pelo MP que o juiz aceitou.
Nas palavras do próprio…
“Um delegado do Ministério Público do Tribunal de Guimarães entendeu propor que o processo relativo à epidemia de falsas baixas de alunos do 12º ano daquela cidade, que faltaram em massa ao respectivo exame nacional, declarando-se doentes (uma história falada há ano e meio atrás), terminasse sem julgamento nem condenações, desde que os arguidos a acusar aceitem pagar umas simples multas. Por sua vez, o meritíssimo juiz de comarca aceitou a tratação proposta pelo Ministério Público, limitando-se a ampliar o montante das multas sugeridas, fixando-as entre 200 e 500 euros – menos, certamente, do que aquilo que o Estado gastou em despesas e horas de trabalho de investigadores, escrivães e magistrados. “
Qual o problema de MST com os magistrados de Guimarães? Ora! A ética na aplicação das leis! Ora leiam se fazem o favor …
“De um ponto de vista estritamente jurídico, podemos aceitar a solução proposta (afinal de contas, fazer batota nos exames não é assim um crime tão grave…). Mas de um ponto de vista ético, de uma perspectiva de regras de vida em sociedade, daquilo que reflecte os valores correntes de uma colectividade, esta decisão judicial é gravíssima!”
Tal e qual!
Pouco importa a MST saber qual o fundamento legal exacto para a aplicação de tal medida e até o aceita pacificamente, pois obviamente quem não sabe distinguir um delegado de um procurador, há muito que anda arredado do mundo das leis!
Pelo menos, há tempo suficiente para reflectir que lhe seria muito mais prudente falar do FCP ou da guerra da Techechénia…
Por isso, o que MST não aceita é o entorse ético que tal representa! Isso, não!
E dá um exemplo de ética:
“Quando era advogado, tive uma vez um processo em que uma pequena empresa que eu representava se defendia de um despedimento com justa causa de um trabalhador que passava a maior parte do tempo de baixa e que assim mantinha ocupado um posto de trabalho que fazia realmente falta preencher à empresa.
As suas faltas estavam todas justificadas por atestados, sucessivamente renovados, de um mesmo médico. No limite, chegava ele a dar-lhe baixas por motivos “psiquiátricos” e, para o precaver de uma súbita visita de inspecção médica ao domicílio, chegou ao ponto de escrever no atestado que a recuperação clínica do “doente” recomendava a sua frequente ausência de casa – embora não para ir trabalhar.
Aparentemente, a acção estava perdida, porque nada há que possa fazer prova contra a verdade clínica atestada por um médico. Porém, uma penosa e difícil investigação dos atestados do médico, todos feitos e datados em papel do Centro de Saúde competente, permitiu-nos obter prova documental de que, em várias datas constantes dos atestados, o médico não se encontrava ao serviço do Centro. Munido desses documentos, apresentei-me no julgamento e comecei a requerer a sua junção ao processo, de forma a provar que os atestados eram falsos.
Aí, o juiz interrompeu a sessão, chamou os advogados de parte e explicou ao meu opositor que, face àqueles documentos, a acção estava obviamente perdida para ele.
Mas que, se eu insistisse em juntar os documentos, ele, juiz, era obrigado a extrair uma certidão dos autos e enviá-la ao Ministério Público para ser aberto um processo contra o médico, por crime de falsas declarações.
Atendendo à gravidade da coisa, propunha que o meu colega desistisse da acção e eu desistiria de juntar a prova dos falsos atestados. Ele aceitou, porque nada mais de útil poderia fazer, e eu aceitei porque o meu cliente, tendo obtido vencimento, já não desejava incomodar-se com mais nada.
Mas a mim custou-me muito engolir aquele acordo, porque ainda acreditava que há coisas que não devem passar impunes e é para isso que existe a justiça e os tribunais”
Pois é… melhor seria que tivesse ficado calado ou arranjasse outro exemplo para falar de ética, na posse de elementos de prova de um crime público que guardou, após os mostrar, para obviamente chantagear (que outra palavra usar?) à outra parte, o valente advogado MST decidiu … o quê?! Participar o facto?! Mostrar a sua indignação cívica?
Que nenni! Isso é para o artigo de sexta-feira, no Público e para malhar em magistrados, mesmo sem saber exactamente o quê e o porquê.
E que não restem dúvidas da ética do opinionista, sobre o assunto! orque logo a seguir vem atestada:
“Os médicos não fazem a mínima ideia dos danos que os seus falsos atestados causam à produtividade das empresas e à saúde das relações laborais. Por alguma razão somos o país europeu com mais baixas por doença anualmente. Mas não são apenas os danos económicos que estão em causa, é também e muito o padrão de comportamento cívico e profissional: quando um professor falta às aulas, declarando-se falsamente doente, sabendo que com isso prejudica 30 crianças por turma, que se deslocaram à escola para ter aulas, ele demonstra que não tem categoria para ensinar. E quando um médico lhe apara o jogo, jurando falso, demonstra que mente e que é irresponsável, mas também que acha normal e de apoiar o que deveria achar insustentável. Em Guimarães, como sempre, estes médicos vão todos ficar impunes. “
Tal qual o médico de Centro de Saúde lá do sítio…
Há dias em que é melhor não escrever nada.”
Ó Fernando Venâncio. Fez aqui um belo exercício de português. Mas não disse rigorosamente nada. Explique-se!
ele escreve bem, sem dúvida alguma, nunca esteve isso em causa!
Tem razão Fernando. voçê é um caso raro.Diria mesmo, que é o único,o verdadeiro crítico literário português. Os outros são cronistas,contistas e divulgadores.
Olhe que não Sofocleto:
Num post só o Fernando Venâncio quebrou todas as leis do Abrupto para a blogsofera, isto é obra!
José: Eu não afirmei que MST fosse coerente. Demais, repare no seu conflito íntimo. Confessado publicamente, não é? E depois: como ‘sabe’ você que ele guardou as provas ‘para’ fazer chantagem? Isso não é um tanto «chargé» da sua parte?
Sofocleto: Você foi, aqui, vítima, ou usufruidor (escolha!), da ilusão que a crónica melhor sabe criar: a da sua inexistência. Por isso os cronistas são os tipos mais lidos e os menos levados a sério. Consegui explicar-me?
Cristina e Rita Barros: Caluda, pô! Há gajos a ouvir!
Luís: Isso soa a elogio. Li as leis na altura, achei-as bacanas, mas conseguir quebrá-las a todas parece-me de génio. Tire-me deste desassossego.
Pois é, meu caro FV, a blofosfera é ácida por natureza. E há outros ácidos, para além do acetilsalicílico… E com este poste «carrega-lhe» nos tons. Dizer do MST que é «um dos fulanos que melhor dominam este amado idioma». Convenhamos, ó FV, é excessivo. Não?! Põe-se a jeito, e depois admira-se! Além disso, o MST tem muitos anti-corpos, pelas posições públicas que assume, por exemplo em relação à caça, ao tabaco, ao FCP (cito de memória)… Os comentários são o resultado de tudo isso. Mas concordo genericamente com o conteúdo do seu poste, já não falo da forma que é sempre excelente…
Tb gostei do «classe média alta», senti-me logo melhor ao fazer parte disso! ;-) Mas será que isso existe?!
Fernando:
Até um gajo como eu tem dias em que acorda de bom humor, nesses dias eu só tenho é medo que me tirem a nacionalidade. Aliás é esse o problema dps bloggers de esquerda; apanham um governo de esquerda, perdão que se diz de esquerda, no poder e não sabem para onde se virar. Se perguntassem à bloga o que é que queria todos iriam responder em simultâneo: liberdade de expressão e instabilidade política. O PREC já outra vez.
Ha, e já me esquecia uma central nuclear no lugar do Alqueva. Já. Idiotas!
Não é só isso, ó Venâncio! ( assim como o Oh Teófilo!)
O que irrita mais no tal cronista é a atitude de quem domina por artes de sabedoria infusa, conceitos solidificados sobre justiça, ambiente, arquitectura,estratégia guerreira,educação,saúde pública,jornalismo, viagens,política criminal,obras públicas,urbanismo,literatura,poesia,linguística,botãnica…etc etc etc.
Para além disso que já não é pouco, o modo de dizer é com a absoluta segurança dos néscios:o disparate sai sem fazer mossa na ponderação exigível e que aliás, é inexistente.
O grave é que o levem a sério e continuem a querer ouvir e ler.
É esse o problema e é só por isso que perco tempo com tal personagem de banda desenhada, no que às croniquetas se refere.
Será por isso o equivalente ao Oliveira da Figueira em figura de dandy. Detestável, indeed.
Quanto ao prosador de ficção, não me pronuncio. Quem quiser que leia. Pas moi.
FV: partilho inteiramente o modo como retratou MST e tudo o resto!
No caso dos atestados, como leu, critica o tribunal de Guimarães, dizendo que a suspensão provisória dos processos não era medida suciciente para as barbaridades dos médicos que passaram atestados presumivelmente falsos.
Em que país é que o gajo vive?!
Não saberá como era nessa altura(e agora?), no professorado, nos tribunais, nas escolas etc etc, em qualquer lugar onde seja necessário justificar uma falta?!
Acharia por bem um julgamento sem grande certezas e perante um fenómeno massificado de atestados como esses?!
Para quê? Acharia porventura que os médicos iriam ser condenados em penas de prisão?!
Por outro lado, apresenta um exemplo pessoal em que infelizmente, deixa tudo a desejar quanto à ética que exige a outros: perante a prova indiciária de um atestado falso, em vez de denunciar o caso às instância competentes, remeteu-se à conveniência da ameaça do seu uso…para obtenção de efeitos óbvios em prol do cliente.
E depois vem com exigências éticas a médicos e magistrados!!!
Repara no texto:
” Ele aceitou, porque nada mais de útil poderia fazer, e eu aceitei porque o meu cliente, tendo obtido vencimento, já não desejava incomodar-se com mais nada.
Mas a mim custou-me muito engolir aquele acordo, porque ainda acreditava que há coisas que não devem passar impunes e é para isso que existe a justiça e os tribunais”.
José: Então não acha que é de a nossa jutiça corar de vergonha o episódio que contou MST, nesse seu artigo de colecção? Com o sr. delegado ou com sr. procurador, – que não interessa ao caso – é um escândalo o que o tribunal combinou abafar. Como bem sabe o José, sempre entendido em mi(ni)stério público, o advogado não está obrigado a ser delator, pois não? Mas a um magistrado, qualquer que seja, compete denunciar às autoridades os crimes de que tenha conhecimento. Ou não é?!
Será que o José nunca viu ou não conhece nenhum médico aque tenha passado atestados falsos??!! Nesse caso, porque não os denunciou? Ora, ora.
O advogado delatou ao juiz…e serviu-se dessa delacção! Mas depois, abafou-a.
O tribunal nada abafou com a suspensão provisória dos processos, por uma razão:
Isso é um dos institutos processuais que permitem que um processo fique suspenso, durante o tempo necessário para que se cumpra uma função essencial do mesmo: obter justiça para o caso concreto.
No caso, mediante uma injunção que poderá ser o pagamento de uma quantia ou a prestação de um serviço à comunidade ou outra medida legalmente prevista.
Tem que haver acordo do arguido e do Juiz de Instrução.
Onde está o abafamento?!!
O que eu coloquei em equação foi apenas a falta de coerência do cronista em exigir ética a uns e a apresentar o exemplo da falta dela- nele próprio…
quanto a mim, acabei de escrever que vivo em Portugal e sei o que a casa gasta…
Há por aqui gente que até fez uns estudos, sem dúvida, mas “classe média alta”? isto é um país de pindéricos, Fernando. Não lhe vou perguntar onde vive, já sei que é a 2.500 Km.
José: o caso que o MST relatou, no seu artigo de colecção, era um processo laboral e não criminal, portando não é nada disso que está a dizer e mesmo que fosse, tratava-se do conhecimento de notícia dum crime de terceiro, estranho ao processo, portanto os juízes tinham obrigação LEGAL de o denunciar às autoridades policiais. E o que o tribunal combinou, abafando sim, foi que se desistuisse do processo, o que é muito diferente.
Já que insiste:
O processo laboral, para o caso, tanto faz. MST levou consigo uns documentos que supostamente demonstravam a falsidade:
“Aparentemente, a acção estava perdida, porque nada há que possa fazer prova contra a verdade clínica atestada por um médico. Porém, uma penosa e difícil investigação dos atestados do médico, todos feitos e datados em papel do Centro de Saúde competente, permitiu-nos obter prova documental de que, em várias datas constantes dos atestados, o médico não se encontrava ao serviço do Centro. Munido desses documentos, apresentei-me no julgamento e comecei a requerer a sua junção ao processo, de forma a provar que os atestados eram falsos.”
Quer dizer, seja no processo laboral, seja no criminal, seja num admninistrativo, o caso é que MST levava com ele provas que supostamente provariam que os atestados médicos existentes no processo eram falsos!
E depois de mostrar algumas provas, lá conseguiu o acordo…
O juiz do processo laboral não sabia se a prova seria no sentido indicado ou não. Apenas transmitiu a ideia de que se fossem juntos os documentos aos autos, teria que participar o facto…ao MP.
Apesar disso MST, abafou os documentos que já lhe tinham servido para o que pretendia.
É essa a questão. Ética , acima de tudo.
Quanto ao processo penal em que se suspenderam os Inquéritos de Guimarães, também não tem razão:
A suspensão provisória do processo é um instituto que se deve aplicar em algumas ocasiões. E não serve para abafar processos. Vejo que não leu bem…
Sr. Dr. José,
Acho que estás (competentemente acirrado pelo Sr. Dr. Ricardo) a analisar o caso com alguma justeza.
Mas há um pormenor (tem que ser, para ti, um pormenor) que continua a escapar-te, e a que volto: o caso acabou denunciado por um dos intervenientes, e isso não numa inócua conversa de café, mas num jornal de grande circulação.
E, coisa estranha, o teu desdém pelo jornalista visado é audível em demasia. Isto, num jurista que, julgávamos nós, paisanos, deveria policiar-se.
Oh Teófilo! Deixa-me rir…
O caso foi apenas objecto de uma crónica do pobre desdenhado, não foi uma denúnica publicamente assumida. Foi-o, sim, numa croniqueta, em que o desdenhoso apontava hipocritamente os canhões da escrita aos famigerados delegados e outros profissionais do foro.
FOi só por isso que me desunhei na desdenhice, por ler a flagrante injustiça que existe sempre que um desdenhador profissional se atamanca e atropela na própria desdenhadela e dá um estenderete de hipocrisia.
Quanto à importância que dou ao desdenhador profissional:
Já disse e redigo que me atiro ao que escreve sobre determinados assuntos e fico por aí. Não comento a arte menor da fuga para a escrita de livritos com pretextos em um qualquer David Crockett ( um título interessante, aliás, e que remete para a infância dos quadradinhos dos cobóis).
Não comento o comentário de VPV ao romance que vendeu milhares e rendeu milhões. Neste respeito, que lhe façam bom proveito.
Só comento o estilo de intervenção pública, como qualquer um pode comentar o meu.
Mas faço-o com argumentos rebatíveis. Ninguém os rebateu de modo a cruvar-me perante a excelência da argumentação.
Assim, fico na minha.
A minha tese é: as gajas acham o MST “giro” (e se calhar alguns gajos também); depois, o gajo é bem nascido, tem pedigree literário pelo lado da mãe e um anti-fascismo vago e inconsequente por parte do pai; eu acho-o porreiro na TV: tem presença, é articulado, não é parvo; mas acho que quando escreve é lamentável: do pai herdou o vício péssimo do moralismo e a mania de escrever sobre tudo o que mexe; da mãe ter-lhe-á ficado um certo lirismo, que dá aos leitores por vezes a sensação de estarem a ser tratados como atrasados mentais. Para o homem, o meu conselho era: mais imagem e menos verbo, escrita mais curta e monotemática, e enterro definitivo das pretensões literárias. Mas se a bosta do Equador tira quase 100.000 exemplares, porque há-de o homem mudar?
Mas outra questão mais importante se alevante, nesta pífia polémica:
Um jurista deve “policializar-se”, porquê?!
Tem que reservar o direito à expressão do que pensa?!
Tem que recatar a palavra escrita sobre motivos de indignação?
Tem que resguardar críticas aos críticos?!
Ora, ora.
Vejo que também por cá, o reaccionarismo e preconceitos sobre determinadas profissões pode assentar arraiais…
Ou seja:
O desdenhador profissional pode livremente exprimir o que lhe vai na bílis, sobre determinadas instituições, pessoas e actuações.
Fá-lo sem fundamentar minimamente as críticas e asneirando por vezes de modo soez, ofendendo pessoas com cargos públicos, sem que alguém lhe diga e aponte a escarreta dependurada.Sente-se porventura um herói, tipo Pacheco Pereira, outro que tal.
Pode dizer à vontade o que pensa do sistema jurídico constitucional de organização do poder judicial ( por exemplo e no caso concreto em que assentam as minhas críticas) e afirmar ribombâncias sobre a violação do segredo de justiça que não tem dúvidas de quem seja culpado; ou sobre a autonomia do MP que também não tem dúvidas que anda em roda livre e merece arreata.
Vem depois um anónimo apontar-lhe as incongruências hipocrisias e enormidades e cai o Carmo que não o pode fazer!!!
Caro José,
Não queira fazer-nos de ingénuos. Foi da cabeça do juiz que saiu a ideia e a sugestão à parte contrária de que desistisse do processo, porque isso traria “chatices” para o médico.
É evidente que o MST não tinha o propósito de denunciar o médico, tão só porque era indispensável à defesa do seu cliente. Se os advogados fossem denunciar todos os crimes de que tivessem notícia não fariam outra coisa e não me parece que seja essa a suua função. Como entra pelos olhos a dentro de qualquer um que perceba, ou que queira perceber, como deve funcionar a advocacia, cabia ao cliente do MST e não a este tomar a LIVRE decisão de denunciar ou não o médico. Já ao juiz outro dever LEGAL se lhe impunha …
A “escarreta dependurada” é que o traíu: o José e o Euroliberal são uma e a mesma pessoa – o que não adianta nada ao conhecimento geral senão o facto (não dispiciendo) de que na nossa magistratura há malucos assim.
FV: ilucide-me sff a onde é que vê justeza na análise do José? É que eu só vejo o contrário. E não estou a acirrá-lo, apenas me indigno com tanta imparcialidade, ou mesmo atavismo, na análise ético-legal deste assunto.
Escrevo às 11.00 AM
Unreconstructed: Pois é, o que o homem mostra, ou sugere (e a televisão é uma máquina de sugestões), algum efeito terá. E há, depois (e só dele falei) o efeito verbal, mostrando, ou sugerindo (o papel é outra, ainda mais subtil, máquina de sugestões), uma grande arrumação de ideias. Ora aí cita você dois fulanos, o MST e o VPV, com as ideias arrumadas. Podem dizer enormidades, e dizem. Mas enquanto as dizem, estonteiam-no, a você, e a outra boa gente. Aliás, considere-se, Unreconstructed, nesse grupo dos que, com alguma loucura, nos dão essa sensação de haver ordem no mundo.
José: Eu escrevi «policiar-se», não, vade retro, «policializar-se». Julguei eu que, por mais que detestes alguém, deverias, como homem de leis, poder não mostrá-lo tão marcadamente. De resto, só por tu entrares nela como fazes, esta polémica já não é «pífia».
” a escarreta dependurada” é um tropo…ma non troppo.
Si non capisca, capisce.
E o euroliberal que responda por si que por mim, vai já resposta:
pode ir bugiar. Talvez esteja tempo para isso…
Ricardo,
O que me pareceu bater certo no seu contendor foi o identificar de uma incoerência no procedimento inicial de MST (de que ele, dê por onde der, se distancia em público) e uma apreciação posterior de matéria semelhante. A «análise ético-legal» deixo-a para vocês. E deixe-me dizer que você se desunha nisto com galhardia. É um espectáculo.
Tens razão, no policiar, e reparei logo que remeti o comment, mas já tinha saído da mão.
Mas já agora que a polémica se encetou e ninguém reclama a não ser para lançar o insulto fácil, achas que exagero no trato da linguagem escrita ao criticar como o faço?!
Deveria então mostrar mais recato na escrita crítica?
Dizes que sou homem de leis. Que nenni!
Sou escriba de blogs e nem quero disso passar!
Escrever em blogs como o faço aqui é mais um exercício exhilarating, de retoma de ar fresco nos neurónios que nunca o sentem, mas aproveitam.
Pode, por vezes, ser uma sublimação de recalcamentos críticos e talvez algumas palavras aceradas provenham daí.
Admito que os visados sintam o ataque como pessoal- e que nem é.
Mas retomemos a tese exposta:
dizes que um homem de leis deve ser mais recatado.
Não me parece que assim seja, só por se ser das leis.
O recato deve ater-se aos assuntos profissionais.
Se porventura deparasse com o desdenhador mor de quem falamos, numa circunstância qualquer da vida profissional, teria o maior respeito pela circunstância e nada de nada poderia fazer intervir na eventual análise, aquilo de que discordo e que me motivam a criticar.
Talvez seja difícil para alguns entender isto- mas é assim.
E para prova do que digo posso acrescentar que não consigo odiar ninguém, nem mesmo quem me fode o juizo…mas reconheço que é uma prova difícil de aceitar.
Para além disso e já em metalinguagem:
Apesar de o teu nome me soar a alguém já lido, a verdade é que não sabia que eras este indivíduo
Então, permite que te diga o seguinte, sem intenção de desprimorar:
O problema com nomes feitos na praça e dados a conhecimentos do milieu, seja das letras, seja das artes, é que essa circunstância limita a apreciação crítica daquilo que supostamente têm de criticar.
O facto que originou esta mini polémica também se subsidia nesta circunstância.
Dizes que por obrigação lês do que não gostas para escrever o que precisas?!
Mau sinal, se assim for.
Preferes punhos de renda nas críticas literárias e apoquenta-te o estilo do tal JPGeorge?!
Já leste o pequeno ensaio do Tom Wolfe sobre os Three Stooges?
Portugal, sendo um país pequenito, poderia permitir um isolamento maior de quem tem por função falar de outros que fazem coisas,nas artes e letras.
Não há volta a dar-lhe: quando conhecemos o sujeito da nossa atenção profissional tendemos a condescender na apreciação e amolecer, no sentido de que Chico Buarque falava na canção:
” Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas o meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa…”
Como somos de brandos costumes, fico entristecido um pouco, por ler por exemplo, no último suplemento do DNA da passada Sexta, uma crítica a um livro de um tal Rui Tavares que é uma compilação de croniquetas de blog (olha, olha!), feita por…PEdro Mexia (olha outra vez!).
A crítica é de uma condescendência atroz.
Gosto de ler o que Pedro Mexia escreve em croniquetas.
Acho até que será dos poucos talentos a surgir após o MEC.
Mas essa recensão…tss, tss.
PS. Só agora descobri quem és, por consulta ao Google. A sério.
E assim já fico mais informado…e percebo a contenção verbal e a reverência à moderação.
Mas também posso dizer que ao pé da Falperra fica a Tamanca, meu caro. E esta conheço eu bem…e tudo o que essa educação pode implicar de atavismos de conveniências e respeitos.
Por isso é que acho os blogs o veículo ideal para desopilar, embora nem todos tenham essa liberdade.
Por mim, temo perdê-la e por isso é que escrevo a reivindicá-la e acabei por vir aqui escrever sobre isso e a ideia de alguma dose libertária.
Se assim não for, as pessoas sufocam e tem que ir ao futebol chamar nomes aos árbitros ou então discutir em cafés.
Os blogs são, por isso, uma espécie de clubes de discussão livre.
É assim que eu os gosto de ver
Ó Arrebenta!
Tira lá o nome de josé, porque não escrevo com outro nome. Nos blogs, nunca escrevi.
Mas segundo leio, até não me parece muito mal, o que o Euroliberal escreve.
No entanto, o seu a seu dono.
Tira lá a menção porque não é verdadeira. Se o fosse, di-lo-ia.
Como antevejo a retirada do comentário do Dr. João, podem estar á vontade e mondar estes também, embora defenda que não deveriam ser retirados.
Gostaria, apenas de lembrar, a quem estiver interessado, que a usurpação da indetidade alhei é uma practica muito questionável. É que que convem, de facto, obedecer a um conjunto mínimo de regras, ou então isto transforma-se na selva, se não o for já.
[Eu por acaso também já cometi, por engano, esse entre muitos pecados]
Andas a ler muito o MST. Falas falas falas falas…. Para escrever claro seria melhor recuar 20 anos e ler a Grande Reportagem.
Fernando Venâncio:
O que mais me surpreende é o facto de V. dizer que MST escreve bem.
Caramba, V. leu o Equador e não pelos frequentes erros de sintaxe?
Utente: EUROLIBERAL (ou José)
Nome de Registo: Rafeiro
Local de Trabalho
comentador menor no http://www.aspirinab.weblog.com.pt
De um estudo feito há dois anos atrás sobre este indivíduo (análise em grupo) concluiu-se que sofria de Distúrbios Comportamentais Complexos.
Os textos analisados dizem respeito a comentários publicados nas últimas duas semanas.
Revela Falta de Convicções que o levam a ser um indivíduo sem escrúpulos, tentando impôr a sua vontade de qualquer forma, normalmente através do insulto, o que nos leva a concluir que apresenta graves danos na personalidade, ao nível das Emoções Secundárias.
Revela uma falta de criatividade que leva a uma flutuação das convicções, sinal de perturbação na personalidade, através de danos na coerência.
As contradicções nos textos são assinaláveis, revelando isto Pouca Maturidade Emocional e Intelectual. O discurso inverte-se ao sabor das emoções.
Tratamento: Zipyran Plus 4 comprimidos de 3 em 3 meses.
Análise Existêncial
Utilizámos as Tabelas de observação da Personalidade de Harris (At23UE2005)
Relatório
Adora ver-se ao espelho, a sua imagem é o seu bezerro de ouro e fá-lo por uma questão de sobrevivência. É desprezado, mas ele sabe que faz rir de gozo a maioria dos comentaristas. Está cansado, satisfaz-se com pouco. Mas há dias em que se olha ao espelho e não ri: confessa-se! Encontra no gesto uma gravidade inesperada, a voz é delambida e choraminga. Abre o monitor e vinga-se no mundo, deixando-se enredar por esquemas mentais megalómanos, previsíveis volte-faces e tiradas morais compradas na loja dos 300, que levam a um tom confuso durante situações de subjectividade.
Este indivíduo é um ser radical cínico sem crença alguma, um sibarita pedófilo, pateta e ordinário, que tem nojo de si próprio, abomina a sua condição, é o que chamamos na gíria “um fumador antitabagista”. Deseja ardentemente um “estímulo” para que possa rapidamente abandonar as suas desconfortáveis posições de degenerescência física e moral. O irracionalismo vai-o destruindo.
José: Isso precisa de resposta detida. Vai-se ver se não demora.
Sizandro: Exacto. Já na Grande Reportagem o jornalista brilhava.
Carlos: Alguns grandes cronistas são menos bons ficcionistas. É a vida. E MST nem é um caso escandaloso.
“classe média alta com alguns estudos”… hehe he he ehe isso foi a marktest que lhe disse?
Não, Gabriela. Foi a caixa de comentários.
Ó Fernando! Que Princípios presidem a esse maniqueismo que definem um bom cronista, ou um mau ficcionista? Não lhe parece abusivo e pouco sério tratar assim um escritor?
Alex brito,
Aí está uma grande pergunta, a merecer um post. Eu só andava à espera de um bom pretexto. Obrigado.
Enquanto aguarda, vá lendo, no «Actual» do EXPRESSO de hoje, uma coisinha sobre o Saramago. Já tem aí alguma coisa para ir percebendo como se trata um escritor… Depois diga se foi, ou não, bem tratado.
Só um aviso: NÃO é (embora pudesse parecê-lo) uma brincadeira de 1 de Abril.
«De um estudo feito há dois anos atrás»
Sr. Dr. João da Quinta nota-se que é leitor de Miguel Sousa Tavares. Interiorizou uma das construções frásicas mais utilizadas pelo cronista (reservemos a palavra escritor para os escritores).
«Há dois anos» “per si” remete, inequivocamente, para o passado, para quê, então, acrescentar atrás?
Sobre o pseudo romance histórico: Equador, já exprimi a minha opinião aqui:
http://santamargarida.blogspot.com/2006/02/193-equador-remanso.html
Será que, no fundo, uma grande parte da animosidade em relação a MST não se deve ao facto do mesmo ser adepto ferrenho do FCP?
Gosto de Miguel Sousa Tavares. Com a excepção do seu portismo cego e faccioso, nada me leva a pensar o contrário daquilo que é: alguém que é muito inteligente, escreve bem, vive muito, diz o que pensa e mostra o que é. Irritam-me bem mais as irritaçõezinhas de quem não “vai á cara com o homem”.
Gosto do MST. Gosto da escrita e do modo desassombrado como fala. Talvez o fanatismo ‘pró-tabaco’ seja um bocado incómodo mas ninguém é perfeito.
Já agora, a maior parte dos comentadores acima, o que faz na vida? Faz crítica literária? Já produziu alguma coisa que se visse…?
Ora, ora! Criticar e destruir é mais fácil do que fazer alguma coisa. Já dizia a Senhora minha avó!
nota de rodapé: até há para aí um que resolveu reduzir as leitoras a ‘gajas’…
Certamente não teve mãe. Nasceu das ervas!
Caro FV: Permita-me a intrusão, agora que lhe descobri o rasto. Adapte p.f. alguns dados, que o texto já não é de hoje. E deixe-me assinar o ponto!
O novel romance de MST, Equador, abriu o activo com 30 mil exemplares, ocupou de imediato o top de vendas e vai na 5ª ou 6ª edição. Porém, se literariamente é um equívoco, em termos de mercado é um logro. Já que o seu editor não vem propor-nos 500 páginas de literatura, mas a imagem de marca do autor jornalista.
Qualquer um reconhecerá em MST o cronista exemplar das fealdades paisagísticas, a que uma corja de patos-bravos, e os indígenas em geral, vêm sujeitando o país todos os dias. Ou o cronista que nos ajuda a distinguir a América da liberdade original e dos direitos fundadores, da perigosa América actual, levada pela mão de fanáticos medíocres. Ou o autor de reportagens e relatos de viagem como os que nos deixou em Sul. MST tem a ousadia, a lucidez e o desassombro que ao jornalista competem. O que ele não tem é o sentido estético do ficcionista. E não manifesta saber, em Equador, que o trajecto da ficção narrativa é multifacetado, mas segue um caminho tão estreito como o fio duma navalha. Onde o artista se estatela, ao mais ligeiro escorregão do pé.
Tendo presente quanto há de pessoal e subjectivo na apreciação duma obra, dir-se-á que Equador não passa do sofrível. Tem uma história a contar e muito para dizer, já isso não é pouco, se anda este nosso mundo pejado de figuritas imberbes a dar-se por escritores. Mas é um trabalho desequilibrado e prolixo, a espraiar-se em secundárias peripécias longuíssimas, que apenas lhe roubam vigor e o empobrecem. O todo ganharia com outra economia.
Há nele situações mal cosidas, em que o pesponto se vê. E figuras de recorte duvidoso, quando não inverosímil. Mas o grande senão é o modo de contar, que nada de novo nos propõe. Não se conta hoje uma história com as técnicas narrativas, o tipo de linguagem, os mesmos exercícios e recursos dos finais do séc.19. Ainda por cima sem a artilharia requintada que alguns deles sabiam usar. A técnica primaríssima de que MST faz uso, se é apropriada e eficaz num trabalho jornalístico, resulta de todo inadequada, e gasta, e anacrónica, em literatura. Por isso o seu efeito estético é nulo, já que também o jogo sonoro da frase, a harmonia e o ritmo do discurso utilizado são ausências. Ora nada disto a literatura pode dispensar, por infindável que seja a discussão sobre o que ela é.
Lá onde MST brilha, é quando se conserva no seu campo. É quando analisa, quando aponta, quando denuncia, quando levanta o véu da nudez dum império a fingir.
O seu Equador venderá muito, com mais proveitos para o editor que para a literatura. No entretanto, e para nosso bem, insistirá a literatura em andar por aí, acoitada em pequenas editoras que resistem, à maré vaza do mercado e ao incenso malsão das capelinhas. Mas isso, que o não dirão os críticos, terá que ser o leitor a descobri-lo. À sua custa, que remédio, porque é nisto que estamos!
E eu que estava convicta que os séculos se escreviam sempre em numeração romana…!
Maria:
Os séculos não se escrevem, limitam-se a passar uns atrás dos outros.
E nós podemos apenas observar-lhes o jogo de cintura, ou o meneio das ancas.
Se estivermos atentos.