Embora eu seja republicano, penso que em materia de ortographia nunca deveriamos ter abandonado a do tempo da Monarchia, egual á que estou usando agora. Fernando Pessoa deu o exemplo, mantendo-se fiel a ella até á morte e recusando-se a acceitar a reforma de 1911. Bem haja elle, como eu o comprehendo agora… Continuou a escrever abysmo, mysterio, mystico, epocha, psychologia, cahir, sahir, fallar, comprehender, affirmar, applicar-se-ha, admittir-se-hia, intellectual, egreja, catholico, attitude, immoral, sciencia, portuguez, inglez, trez, nullo, theoria, theorico, commum, communista, sociaes, taes, anarchista, addição, espirito, phenomeno, Catharina, Alvaro, Sylvia, Ruy, Russia, Italia, etc.
Os inglezes, esses atrazados, mantiveram até hoje as mesmas regras de transliteração da etymologia grecco-latina e dão-se bem com ellas. O mundo inteiro as usa hoje e, apparentemente, gosta de usal-as.
Para “simplificar”, a reforma republicana de 1911 cortou umas tantas consoantes, mas criou montes de accentos. Qual a vantagem d’isso? E alguem teve difficuldade em entender o que aqui vae?
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Oferta do nosso amigo Júlio
até podemos voltar ao martelo & escopro e já agora escrever em caixa alta ou as minúsculas não foram uma resposta à cursiva? eu prefiro martelar no teclado em caixa baixa e acho que a acentuação dá bués de trabalho.
A língua inglesa mantem-se mas muita gente que escreve inglês está-se positivamente marimbando para os ingleses e a sua língua.
Se os povos que falam e escrevem em inglês resolvessem que a língua fosse única também teriam feito muitas alterações. Porquê, por exemplo, escrever night quando a gente está mesmo a ver que aquilo é antes nite. São os americanos que também têm vindo a modificar o inglês. Assim podemos dizer que cada povo tem o seu inglês. Isto é melhor do que tentar unificar a língua?
É discutível.
Seria bom acabar com a maioria dos accentos, que para nada servem e incommodam immenso. A ortographia pre-1911 tinha muito poucos.
Os inglezes, americanos e francezes escrevem science, os italianos scienza. Os portuguezes escreviam lindamente sciencia, agora escreve essa coisa absurda: ciência. Conseguimos fazer peor que os espanhoes, que escrevem ciencia. Para nos distinguirmos delles, tinhamos que addicionar aquelle imbecil accento circunflexo, que estraga tambem as palavras inglês, francês e português.
Podem escrever na ortografia que entenderem: este Acordo não tem Futuro!
O mais que lhe pode acontecer é coexistir pacíficamente com a(s) ortografia(s) anterior(es) e as posteriores…
Bem verdade, palavra linda: sciencia.
Para não fallar do absurdo da actual forma da palavra “consciência” (latim: conscientia, prefixo con e scientia). A reforma impoz nella o circunflexo inutil, mas manteve, incoherentemente, a raiz sciencia. A mesma incoherencia na palavra “presciência”. E manteve-se sciente em consciente e presciente. Tanta inconsciencia!
Ah Júlio, parabéns pá, e obrigado pela deriva. E portanto Bahia, a brisa da Bahia, a chapada, o recôncavo, sempre a Bahia,
inconsciência ou inconsistência? Mas também a ditadura da perfeição agrilhoava-nos, não?