Como resolver o problema da esquerda

Numa altura em que a direita usufrui do poder absoluto com os seus melhores – Cavaco, Passos e Portas, três figuras que já conquistaram um lugar dourado na História graças à sua competência, decência e magnificência – a esquerda dá por si num vazio de liderança que não tem paralelo conhecido no passado.

O PCP mantém-se igual a si próprio e é esse o seu único projecto político. Por isso nada explicam a respeito do que fariam caso fossem poder, limitam-se a martelar palavras de ordem e vacuidades. Se tivessem de conquistar votos racionais, precisariam de obedecer ao princípio de realidade e discursarem para uma audiência interessada em propostas concretas, objectivas e mensuráveis. Mas não precisam. Os votos de que dependem não são racionais, antes tribais, identitários, sectários. É uma das mais conservadoras organizações portuguesas de todo o sempre. E orgulham-se disso.

O BE tem vindo a evaporar-se desde que Louçã nos garantiu que o chumbo do PEC IV seria “o princípio da saída da crise”. Depois dessa profecia só ao alcance de um predestinado, os bloquistas continuaram a dar sinais de não pertencerem a este mundo. Vai daí, substituíram o génio da esquerda grande e da esquerda toda com todos e todas por um casal adâmico. Será a promessa do regresso ao paraíso e a um tempo em que a esquerda não tinha umbigo. Será. Mas, enquanto não é, aquilo não se parece com nada. Talvez por nada ser. Nem sequer motiva o piadismo nacional.

O PS entregou-se nas mãos que aplaudiram Cavaco no comício da tomada de posse. Essas mãos vinham com uma cabeça. Dessa cabeça saiu uma estratégia. Consistia ela em validar pelo silêncio as difamações e calúnias com que a direita continuou a encher o espaço público enquanto ia afundando o País numa experiência de empobrecimento desmiolada. O belo resultado está à vista. A direita continua a sujar e a estragar, e o PS continua a patinar sem conseguir sequer convencer o seu eleitorado tradicional. Pior era impossível.

A esquerda não tem liderança. Por isso assistiu a uma inacreditável dupla implosão do Governo e não foi capaz de a aproveitar para forçar eleições. Que nos resta? Enquanto no PS se prepara a chegada de António Costa, e com ele vindo para a linha da frente os melhores talentos do partido actualmente ostracizados ou em pousio, o cidadão apaixonado pela cidade tem um muito bom remédio: ser líder de si próprio.

22 thoughts on “Como resolver o problema da esquerda”

  1. Como o blogue aliás, o verdadeiro título deste post é “como acho que se resolvia o problema do meu clube e o fazia regressar às vitórias e ao poder”.

  2. Pensar que no PS se espera por António Costa, nao é a mesma coisa que dizer que António Costa está a espera do PS. O mais provável é, no PS, ninguém estar interessado em Costa, da mesma forma que este nao parece estar interessado no PS, mas apenas em si próprio…

  3. o seguro deveria estar a esfregar esta notícia nas fuças da marilú e a exigir a sua demissão por causa desta trapalhada dos swaps que tinha por objectivo freemporcar o governo anterior, mas não, acho que vamos ter mais uma sessão de modas & bordados, popelines das melhores proveniências, punhetas tiffany, broches de gravata cartier e outros acessórios da democracia participativa com esmererada educação de brillantmont.
    http://www.jornaldenegocios.pt/empresas/swaps/detalhe/marco_antonio_costa_tem_co_responsabilidade_porque_autorizou_swaps_no_metro_do_porto.html

  4. O Valupi tem um grave problema com a verdade.

    Quem não quis eleições antecipadas, e serviu de bengala á direita, foi a direcção do PS, e se não fosse Mário Soares , até teria assinado acordos com o PSD e o CDS.

    Por isso deixe de tentar meter TODOS no mesmo saco, o seu a seu dono

  5. Corvo, estão todos no mesmo saco: a oposição, que é de esquerda, não conseguiu ir para eleições nem mesmo com o Governo a autodestruir-se. É o que resulta de não existir ninguém à esquerda que lidere.

  6. O líder virou comentador, e o partido continua “envergonhado” da sua governação. Foi assim tão má?…

  7. Foda-se, mais lamurias escatologico-socraticas ?

    Falta de lider ?

    Eu digo-te qual é o problema da esquerda portuguesa : ela ja so acredita no seu passado !

    E tu serias um caso emblematico, não se desse a circunstância de, apesar destes teus apelos retorico-patéticos, nunca teres aceite, que eu visse, reclamar-te claramente da esquerda (porque isto agora ja não tem sentido, porque apenas ha os politicos integros e honestos e os corruptos vilões, porque distingui-los é uma questão meramente técnica, etc. e tal)…

    O que me espanta é o teu espanto. Não devias antes pular de contente com o fim das tentações demagogicas e com o advento do império sacro-santo dos resultados contabilisticos que permitem desmascarar os malandros ?

    Boas

  8. corvo,os comunistas em portugal,se pudessem queriam eleiçoes todas as semanas,para ver se lá chegavam neste seculo! já no poder,metiam o travão às quatro rodas e suspendiam a democracia. corvo pias bem mas não nos alegras!

  9. O quê ? Ainda não foi desta vez que consegui comentar o post ?!? Eu não tenho emenda…

    Vamos então tentar mais uma vez :

    Bravo Valupi ! O que tu dizes faz todo o sentido. Ainda bem que estas ca tu para mostrar à malta de esquerda qual é o caminho. Socrates à cabeça do PS ja ! E também à cabeça de uma coligação de forças de esquerda que deixe apenas de fora os 27 sectarios do bloco e do PC (ou seriam 34? Ja não me lembro). Proponho uma subscrição para angariar fundos com vista à organização de um congresso extraordinario do PS… Vão ver que depois disso tudo se resolve num apice.

    Boas

  10. joão viegas, tens gosto em repetir que os meus textos defendem o regresso de Sócrates ao PS, ou que se limitam a remoer esse saudosismo. Ora, repetes tantas vezes essa ideia que até eu já começo a aceitar que tu acreditas nela.

    Pois bem. Agora só te está a faltar conseguires ligar essa brilhante ideia com alguma frase, palavra ou vírgula que se encontre nos textos que generosamente comentas. Força nisso, compadre, que é para ver se conseguimos discutir um assunto qualquer.

  11. OK, Valupi,

    Admito ter exagerado e concedo que são rarissimos, se não mesmo nenhuns, os teus posts que expressam simpatia por Socrates, ou mesmo que deixam transparecer uma ligeira propensão para aprovares baixinho o que ele fez (e que ainda poderia fazer) enquanto 1° ministro.

    Adiante.

    O que eu queria dizer é que o “problema da esquerda” não é, ou pelo menos não é principalmente, um problema de “liderança”. Esse problema de liderança, que pelos vistos te preocupa, é uma mera consequência das dificuldades que menciono no meu comentario…

    A esquerda “realista” (e repara que toda a esquerda se reclama do realismo, por definição) deixou de acreditar nela propria. Isso não é so verdade do PC e do BE. Isso é verdade também da esquerda moderada e reformista de que tu te reclamas…

    Ah, é verdade, tu não te reclamas de nada, ja me esquecia…

    Eu não aprendo…

    Boas

  12. A esquerda não tem liderança porque não tem tomates. Porque se enterrou no Estado e alimenta hoje toda a corja de corporações mamonas que vive à sombra dele. Prescindiu da agenda solidária da integridade e equidade geral para se tornar arauto dos funcionário públicos e similares. É por isso que a esquerda vive na defesa dos interesses dos que estão mais ou menos, esquecendo o todo, e principalmente os que estão mesmo na merda…
    Precisamos uma esquerda – e um PS – que não seja refém de ninguém; que não se encoste na defesa dos “direitos adquiridos” mas antes lute por novos direitos, e tenha ganas para defender um Estado eficiente, eficaz, ágil, e economicamente viável… É na gestão do Estado que está a “chave”. É também esse o ponto fraco da direita: ao não ter vontade, ou não saber gerir a coisa pública, passa o “negócio” para o privado… Ao invés a esquerda, ou não gere o “bicho” porque está presa no gargalo dos interesses instalados, ou pura e simplesmente tem uma visão alucinada e disforme do que deve ser o Estado numa sociedade capitalista, que é a que temos e teremos.
    Nesta arena, o PS, sendo a única esperança duma esquerda lúcida e pragmática faz muita falta ao País. E é por isso que me chateia e desconsola ver o estado em que está… A questão da liderança é um pormenor… E os pormenores é que fazem a diferença.

  13. joão viegas, tropeças em três equívocos:

    – Aprovar o passado de um qualquer político derrotado, no todo ou em parte, não equivale necessariamente a pretender que volte à competição.

    – O problema da esquerda é sempre, sempre e sempre o da liderança. E o da direita, igual. E o do centro, idem. A política é a arte da liderança. Como sempre foi. Como sempre será.

    – Não conheço nenhuma força política, partido ou figura, que não se identifique com o realismo. Se conheces, faz esse grande favor de me libertares da ignorância.

  14. OK, a desconversar, és absolutamente imbativel…

    Esta certo,” liderança” pode também significar, ou alias deve significar acima de tudo, identificação de um rumo. Eis o que falta manifestamente à esquerda, hoje. Um problema de orientação, que acaba por ser também um problema de consistência…

    Chama-lhe problema de liderança se quiseres, desde que esteja claro que não se trata apenas de um problema de protagonismo, ou de escolher entre Fulano, Sicrano e Domsebastiano….

    Boas

  15. joão viegas, dizes que desconverso e, ao mesmo tempo, dás-me razão e repetes a tua cassete. Diria que tens aí trabalho de casa para fazer.

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