Ventura, aprendiz de feiticeiro

"Nós calculámos e estimámos e eu posso garantir-vos: Não será necessário em Portugal cortar mais salários nem despedir gente para poder cumprir um programa de saneamento financeiro", afirmou Pedro Passos Coelho, no encerramento do fórum de discussão "Mais Sociedade", no Centro de Congressos de Lisboa.

"O PEC IV chumbou porque não servia e não respondia a nenhum dos problemas importantes que Portugal tem à sua frente. Se ele tivesse sido aprovado no Parlamento, hoje a sua certidão de óbito já tinha sido passada por um PEC V e já íamos a caminho de um PEC VI", sustentou. Para Passos Coelho, a solução é "austeridade para o Estado" e quem lidera deve dar o exemplo, "porque isso tem um efeito multiplicador muito importante em toda a sociedade", o que só pode ser feito "mudando a liderança em Portugal".

"E os que estão abaixo desses, nos institutos públicos, nas fundações públicas, nos serviços do Estado perceberão que se o que está em cima na hierarquia é mais frugal, percebe que não pode andar a gastar o dinheiro do sacrifício dos cidadãos sem ter um assomo de consciência, nesse dia esses também vão gastar menos, vão poupar mais e vão fazer melhor com menos. E é isso que vale na nossa sociedade. Esse é o poder do exemplo", reforçou.

O presidente do PSD afirmou ainda que recusa ser "primeiro-ministro a qualquer preço" e aconselhou quem quiser "TGV, mais autoestradas, mais amiguismo e mais batota" a votar no PS de José Sócrates.


30_Abril_2011

O deputado do Chega, André Ventura, manifestou-se esta terça-feira "preocupado" e "desiludido" com a atuação do Governo face à crise do país, dizendo que o desemprego pode atingir 10% e que o Estado tem de cortar "despesa supérflua".

Num contexto de "enorme redução da receita fiscal, com aumento da despesa social", o deputado do Chega defendeu depois um caminho de "apoio robusto à economia e de corte nas despesas necessárias". "Temos de evitar mergulhar numa crise financeira", declarou, antes de avisar que não aceitará que o investimento público que o Governo se prepara para fazer "acabe nas malhas da burocracia e da corrupção".

Questionado sobre que despesas o Governo deve cortar na máquina do Estado, André Ventura destacou o futuro observatório contra a discriminação e contra o racismo "na área da ministra Mariana Vieira da Silva". Para André Ventura, "em Portugal, nesta altura, esse observatório não se justifica".

"Nas regiões autónomas, já identificámos vários organismos que podem ser extintos. O mesmo em relação a institutos públicos que têm uma atividade completamente dependente do Governo. Estamos a ter uma despesa muito grande com fundações, observatórios e institutos", acrescentou.


26_Maio_2020

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O Chega nasceu no PSD. Não se trata de insulto, ainda menos difamação, mas de um facto. Ainda Ventura era militante laranja, e a estrela mediática que o partido tinha ido buscar ao esgoto a céu aberto para atacar os esquerdalhos em Loures, quando surgiu a intenção, o manifesto e a marca. O contexto era o da contestação celerada e acelerada a Rui Rio na tentativa de colocar no seu lugar um clone ou discípulo de Passos. E era também o da criação do Aliança por Santana Lopes; outra vedeta mediática, mas essa com história no partido e no Estado, que apostava na implosão do PSD procurando ficar com um dos restos.

Ventura tinha visto como era canja ter um ex-primeiro-ministro a promover e defender a sua retórica populista, racista, xenófoba. Do alto do poderio da Cofina, sentiu que canja seria capturar uma fatia da sua vastíssima audiência com uma receita que esta já conhecia de ginjeira, e que papava de manhã à noite: reduzir a actividade cognitiva à lógica sensacionalista; desumanizar bodes expiatórios ao sabor das crises e episódios sociais; diabolizar os políticos em geral, e os socialistas em especial, e os “socráticos” com fúria e êxtase; imitar Passos Coelho na irracionalidade fanática e demagógica das soluções agitadas. Assim fez e entrou no Parlamento à primeira, passando a ser temido pela direita decadente que o vê a imitar as suas fórmulas com muito maior eficácia manipuladora e violência moral.

Nada em Ventura é estranho ao rumo que a direita partidária tem seguido desde que deu um chuto nos cueiros a Luís Filipe Menezes em meados de 2008. Ferreira Leite sugeriu ter o telemóvel sob escuta em campanha para as legislativas de 2009 e manifestou conhecer o conteúdo da espionagem feita a Sócrates nesse mesmo ano. Cavaco lançou (ou não impediu, ou dela se fez cúmplice) uma conspiração com o mesmo argumento das escutas pelo Governo, para o mesmo efeito de manipulação eleitoral, a partir da Casa Civil. Passos defendeu que se poderiam prender políticos por razões estritamente políticas. É escusado dar mais exemplos dos milhentos espalhados pelos seus tenentes e arraia-miúda. Aquilo que o regime e a sociedade têm aceitado à direita partidária e governativa, consistindo no emporcalhamento e profanação do Estado de direito democrático, é exactamente o mesmo que Ventura faz. Este apenas aumentou a temperatura ao vulcão.

Alguns taralhoucos viram no despedimento de Ventura pela Cofina uma troca, ou cedência, pelo dinheiro que o Governo socialista vai meter em órgãos de comunicação social. Como se ao PS fosse doloroso ver um traste daquele calibre a fragmentar uma direita decadente e a radicalizá-la ainda mais, dessa forma tornando facílimo manter e consolidar nas próximas legislaturas a governação no centro-esquerda. A explicação para o fenómeno já parece encontrar grão para moer se olharmos para Belém. A exploração política dos incêndios e respectivos mortos e destruição em 2017, a oferta do 10 de Junho a um caluniador profissional, e a irresponsabilidade e pusilanimidade reveladas no início da epidemia do coronavírus em Portugal, tudo isto e o resto expõe Marcelo como um Presidente da República onde a soberba ególatra é mais forte do que o sentido de Estado. A sua fragilidade deixou a oligarquia em pânico na rábula em que se embrulhou com Costa numa cena triste onde revelaram ambos a sua real mediocridade, na tal recente e inesquecível visita à Autoeuropa. De repente, Ventura aparecia às inteligências dos impérios mediáticos direitolas como sendo capaz não só de extinguir o CDS como inclusive de comer eleitorado significativo ao Marcelo, saindo das presidenciais com a perspectiva de competir com o PSD nas próximas legislativas.

A Cofina lançou e usou o Ventura até ao ponto em que o próprio se convenceu que já sabia mais do que os mestres. Os ataques chungosos a Marcelo e a sua demente colagem a Fátima, para além de exibirem um talento estratégico daninho, deixaram-no com o alvo marcado na testa – era o sinal que mostrava estar o seu oportunismo debochado em avançada metamorfose para se tornar imprestável, tóxico. A oligarquia começou a tratar do assunto.

10 thoughts on “Ventura, aprendiz de feiticeiro”

  1. Essa questão das alegadas – levantadas já não me recordo, se, pelo chefe da casa civil, se pelo próprio cavaco – foi mais tarde objecto de rectificação por parte do próprio Cavaco, que uns dias antes das eleições, comunicou ao País pela TV, que, não tinham qualquer fundamento tais alegadas escutas.
    Se isso foi para beneficiar Ferreira Leite, então não sei o que poderia dizer cavaco para a prejudicar.
    Socrates ganhou as subsequentes eleições e Ferreira Leite manteve-se silenciosa e conformada.
    Eu vi isso, na TV, e na primeira pessoa, não li em nenhum jornal, ( que você diz serem todos uma bosta, excepção feita aos jornalistas Fernanda Cancio e ao careca do emblema sagrado ).

    Cavaco, é pessoa que detesto, mas impunha-se essa correção.
    Ventura, um perigoso demagogo .

  2. Faustino, não te podes recordar do que não existiu – a não ser na tua imaginação. Cavaco, na última semana de campanha em Setembro de 2009, disse que as suspeitas eram justificadas e que ele iria investigar a questão até ao fundo. Repara: estas declarações foram proferidas depois de o DN ter revelado a golpada com os “emails” em causa e os nomes dos executantes. Após as eleições, Cavaco fez uma comunicação ao País, sem direito a perguntas dos jornalistas, onde deixou no ar ter mesmo existido uma espionagem do Governo.

    Se precisares de ajuda para te recordares do que realmente se passou, não te inibas e pede ajuda.

  3. O Faustidioso não precisa de ajuda para recordar a ponta de um corno. Ele recordar até recorda, mas, como não passa de aldrabão, finge que não. Pobre chico-esperto, estúpido da quinta casa, ele que vá mamar na quinta perna do boi.

  4. O resultado da pesquisa que fiz na Net, não confirma aquilo que referí no meu comentário.
    Os arquivos que encontrei, dizem que :

    JORNAL I
    “ Depois disso, o Presidente da República manteve-se em silêncio até ao fim das eleições. No dia a seguir ao sufrágio, fez uma comunicação ao país, às oito da noite, sem direito a perguntas, onde confirmou a desconfiança de que podia estar a ser vigiado. “Será possível alguém do exterior entrar no meu computador e conhecer os meus emails? Estará a informação confidencial contida nos computadores da presidência suficientemente protegida?”, questionava o chefe de Estado.”
    LINK
    https://ionline.sapo.pt/artigo/621993/2009-o-estranho-caso-das-escutas-a-belem?seccao=Portugal

    Também aqui, na TVI 24, não encontro nada que cronologicamente sustente o afirmado por mim
    TVI 24
    Link
    https://tvi24.iol.pt/politica/cavaco/presidente-geriu-bem-o-caso-das-escutas
    Nota : a declaração ao País já não está disponível.

    Mais sobre o tema na TVI 24, designadamente, “o provedor não está esclarecido”, e mais reações de vários quadrantes sobre o tema .

    https://tvi24.iol.pt/politica/cavaco/escutas-provedor-nao-esta-esclarecido

    E o jornal O observador, no caso, também não abona a favor de cavaco.
    Link
    https://observador.pt/factchecks/cavaco-nao-deixou-duvidas-sobre-quem-montou-a-intriga-do-verao-de-2009/

    Assim sendo, e não tendo encontrado nada sobre uma comunicação de cavaco ao País, antes das eleições, e que era pratica normal dos PR’s, que sustente o que escreví, só posso admitir que me enganei, – mesmo que nessa provável alocução ele tenha dito algo que tenha de alguma forma prejudicado a candidata que viria a ser derrotada – o essencial é que não foi, com relação às alegadas escutas, como eu, mencionei no comentário.

    Por conseguinte, impõe-se um pedido de desculpas, e, “I stand corrected” .

    Agora, já o mesmo não posso referir quanto ao malcriado, ordinário, e desiquilibrado comentador, que escreveu a seguir ao seu comentário . Sendo certo que não me ofende quem quer, não posso deixar de lamentar que permita que comentários com linguaguem grosseiríssima, possam ser aqui colocados, sem que quem de direito, lhe modere os ímpetos, porque não é pelo exagero linguístico, nem pelo sensacionalismo, nem pelo insulto bombástico, que se impõe seja o que fôr. É sim, pelo discurso persuasivo .
    E já agora, educado.

  5. O malcriado, com linguagem grosseiríssima, tendo ainda bem presente na cachola toda a inventona cavacuosa das escutas e grande dificuldade em acreditar que sobre o assunto alguém decidisse pronunciar-se com tanta falta de rigor, reagia ao que tomou como consciente e grosseiríssima aldrabice. Não tendo, aparentemente, sido esse o caso, dada a respeitável preocupação do autor em confirmar ou infirmar o que antes dissera e atendendo à ainda mais respeitável assunção do erro, o grosseiríssimo malcriado não tem problema nenhum em reconhecer que foi injusto e retirar o que disse. Paz na Terra aos homens, e mulheres, e cães e gatos de boa vontade. Beijinhos.

  6. Como penitência, vou eu próprio autopunir-me com cinco minutos de serviço cívico na quinta perna do boi. Rezai por mim!

  7. «”Nas regiões autónomas, já identificámos vários organismos que podem ser extintos. O mesmo em relação a institutos públicos que têm uma atividade completamente dependente do Governo. Estamos a ter uma despesa muito grande com fundações, observatórios e institutos”, acrescentou.»

    Este mimetismo tirado do célebre “corte nas gorduras” do Passos parece indiciar a pouca imaginação para inovar ou mesmo falta de ideias do aluno Ventura.
    Voltar a bater na tecla que basta o corte nas gorduras para salvar o país tal e qual a fórmula de que o Passos se serviu para enganar o Zé é uma coisa ainda muito viva e de má recordação ainda hoje presente na cabeça dos portugueses.
    Vamos ver mas parece que o aluno de passos & ideias ainda não conseguiu impor nenhum assunto que suscitasse algum fogo ou mesmo ânimo nas suas hostes; do seu estilo dueto futebolístico arruaceiro que tentou levar para a AdR não o tem conseguido impor. Pese embora o CDS se tenha aproximado do método todo o resto da AdR se tem esquivado a entrar no jogo. A sua saída da Cofina, o ninho onde se abrigava punha todos os ovos no choco, atirou-o do ninho abaixo; algo de inconveniente foi detectado pelos batidos Dâmasos que lhe retiraram o cabide.
    O actual estado de pandemia surgiu e retirou-lhe a oportunidade das ameaças de cargas estratégicas organizadas por polícias musculados nos ginásios.
    Também os partidos e políticos já sentiram que irem no seu jogo de provocações só o beneficiam com o efeito sonoro de altifalante que pretende.
    De modo que, se nada de muito mau surgir na governação que possa ser explorado demagogicamente (fogos, justiça, forte crise económico-financeira), dado alguma perda de microfone, dado a má saída acerca dos ciganos e agora, segundo parece, também falta de ideias-onda-choque para cavalgar e explorar talvez a sua candidatura a Belém fique bem aquém do que ele e muita gente chegou a pensar.
    São desejos? Claro são os meus desejos.
    Os próximos tempos vão dizer-nos se o homem é mesmo inteligente e culto como disse um político da nossa praça e por isso mais perigoso que Trump ou Bolsonaro ou se é mais ou menos do mesmo ou, então, é o mesmo necessariamente por força dos mesmos tiques, argumentos e ideias sempre repetidas e usadas, já vistas e gastas.

  8. Sobre o episódio das escutas:
    Pacheco Pereira comentou então, numa TV, que Cavaco Silva saberia muito mais, que logo após as legislativas daria as explicações sobre a “inventona de Belém”, e que nada adiantara nessa comunicação espúria, para não interferir no processo eleitoral; face à gravidade do que foi divulgado pelo DN, deveria a PGR levantar um processo de averiguações; Cavaco nunca mais deu uma explicação, e Fernando Lima mudou de pelouro na PR….O Pacheco nunca mais exigiu as explicações pormenorizadas….uma tristeza a direita!

  9. Tive os primeiros distantes contactos com Pacheco Pereira em … 1969 !!!
    Era o que faltava, ainda desconhecer a personalidade!
    As minhas felicitações a quem tais minudências cavacais e passistas guarda . Faustino,Camacho,Neves são exemplo. Pessoa prevenida vale por duas. Por mim,dessas situações, só guardo a lembrança do asco e da tristeza pelo que via acontecer.

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