Vai ser o melhor 2017 de sempre

A primeira democracia foi também a primeira cultura a homenagear os soldados mortos em batalha cujos corpos não foram recuperados. Incluíam uma urna vazia nas cerimónias fúnebres para representar a sua presença. Tucídides legou-nos um paradigmático discurso de Péricles onde a ocasião serviu para falar do essencial da morte guerreira para um ateniense, a morte sofrida e a infligida: defender a liberdade de todos os que querem ser livres.

Neste último dia de um 2016 que gerou uma obsessão colectiva com a finitude dos famosos, quero recordar todos aqueles que desapareceram deste convívio minúsculo, falso e infantilóide que ocorre nas caixas de comentários/conversas deste e doutros espaços digitais. Como tenho a memória do que se passou desde o começo, sei que não há comparação possível entre o que foi o ambiente dos anos iniciais com o que é o ambiente dos últimos anos. Inútil repetir o diagnóstico para essas alterações, de tão evidentes e simples de explicar. Falo nessas diferenças, principalmente, para recordar aqueles que já terão morrido, ou enlouquecido, ou ficaram incapacitados de pensar e comunicar, ou estão deprimidos, ou caíram na pobreza e na miséria, ou partiram para longe, ou simplesmente se fartaram e passaram a não perder o seu precioso tempo por aqui, e sobre os quais nada nos foi dito, a nós que fizemos com a sua presença infantilóide, falsa e minúscula uma alegria que encheu dias, semanas, meses e anos.

A alegria de irmos para a batalha juntos. Uns nas muralhas, outros fora da cidade. E também com os perdidos, os medrosos, os feridos. Juntos ao Sol, juntos na fogueira.

Abraços para todos os que nunca vi, com quem nem um olá foi trocado, e de quem nunca conhecerei sequer metade da última letra do apelido

12 thoughts on “Vai ser o melhor 2017 de sempre”

  1. lembrar aqueles dias em que napoleão, ao entrar em moscovo, depara-se com uma cidade abandonada, totalmente devastada e a arder. num golpe brutal e que devastou moralmente o pançudo e as suas tropas, os russos definem-se como mestres da guerra assinétrica. depois hitler e agora obama, esse maior filho da puta da modernidade.

  2. Tenho saudades do Z , era um um amor.
    o meu email é sempre igual e é mesmo o meu nome..

    e este ano foi trágico em mortandade : o que aconteceu a nível público , ac onteceu também em privado. no meu círculo , penso não estar a exagerar , desapareceram umas 30 pessoas , de todas as idades , uma delas muito , muito próxima. ainda anteontem morreu mais um amigo relativamente novo. tenho a sensação estranha que isto é para continuar : elas moem e matam.

    Tudo de bom , abreijos :)

  3. Abraço Valupi. Bom ano e tudo e mais alguma com sinceridade.
    E se não conheceu as letras do meu apelido, foi porque não quis. O endereço com que comento no Aspirina é o da minha conta facebook.
    Se bem que não faça diferença saber um apelido ou uma cara a menos que se entre no mundo dela.

    E é assim, longa vida ao Valupi, longa vida ao Aspirinab.

  4. “Como tenho a memória do que se passou desde o começo, sei que não há comparação possível entre o que foi o ambiente dos anos iniciais com o que é o ambiente dos últimos anos.”

    conversa da treta e nostalgia da primeira vez. em vez de recorreres a coisas traiçoeiras, que podem inquinar a lucidez, compara mazé os arquivos da época com os actuais, projecta para o futuro e descobrirás o que é evolução, boa ou má, dependerá sempre da interpretação pessoal. não é grave, são só palavras, se fossem bombas era muito pior.

  5. É. Não sei como era no começo. Do que é agora gosto e acho muito necessário. Que não vos doam as mãos em 2017.

  6. Bom ano para a troupe do Aspirina B, em especial para a formidável companhia dos artistas de variedades Valupi e Penélope e Valupi e Penélope e Valupi e Penépole e e e e… do Valupi e Penélope.

    Joe Strummer
    1 DE JANEIRO DE 2017 ÀS 2:39
    O melhor post de 2016 !
    Es lindo Valupi, fonix!

    Joe Strummer, tem juízinho em 2018: tem cuidado com o teor alcoólico depois das festas LGBT para que o teu coming out aqui à frente de toda a gente não se transforme, rapidamente, num coming soon e passes a nickares-te como Madona.

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