Trump, um talibã na Casa Branca

Valupi, porque não perguntar que legitimidade tem o presidente de um país, mesmo do mais poderoso do mundo, de, por sua vontade e iniciativa, mandar matar quem quer que seja, do seu ou de outro país? Julgo que nenhuma. Mas aconteceu este mês, e todos os dirigentes políticos de todos os países, que eu saiba, perante tal acto, ou fizeram declarações de circunstância, ou assobiaram para o ar, ou encolheram os ombros. Nenhum o classificou de assassinato. E foi um assassinato confesso, transmitido nas redes sociais. O que era ou quem era vítima não justifica a prepotência do acto. O que é e quem é o autor do acto explica o medo dos responsáveis políticos.


Manojas

*_*

Concordo com o nosso amigo Manojas e recomendo o consumo de How To Avoid Swallowing War Propaganda + Soleimani attack: What does international law say?

Porém, contudo e todavia, muito acima dessa absolutamente legítima e altamente relevante problemática dos assassinatos por ordem estatal (de que Obama usufruiu, por exemplo, ao arrepio do Estado de direito ou nas suas zonas cinzentas e esconsas) coloco as declarações de Trump, via Twitter, onde ameaça destruir monumentos e locais de valor cultural no Irão.

Começando pelo que vem primeiro: destruir a cultura, qualquer cultura, qualquer manifestação de cultura, é destruir parte da civilização, tentar destruir a humanidade. Foi esse sentimento de horror que, recentemente em termos históricos, sentimos quando os talibãs destruíram os Budas de Bamiyan no Afeganistão, em 2001, e quando o “Estado Islâmico” destruiu não se sabe quantos objectos de valor histórico no Iraque e na Síria, entre 2006 e 2017 (e voltará a destruir e saquear em qualquer oportunidade futura que se apresente aos que continuarem a usar essa bandeira).

É o mesmo sentimento de horror que se pode sentir ao descobrir como o cristianismo e a cristandade causaram a destruição e desaparecimento de inúmeros objectos, incontáveis memórias e saberes, que foram sendo criados e desenvolvidos ao longo de milhares de anos em vários continentes. O mesmo desespero, quase raiva num outrora agora, que se abate sobre quem ainda sonha com os tesouros da Biblioteca de Alexandria devorados pelo fogo.

E passando logo para o que fica a marcar o século, a presidência de Trump não tem paralelo com nenhuma outra anterior até onde a memória e o estudo alcançam. A sua eleição estabeleceu um novo paradigma eleitoral em que os critérios analíticos até então vigentes na ciência política e no comentário jornalístico implodiram ou foram terraplanados. Para a minha ignorância e para muito boa gente com reputação internacional como especialista nas cenas, ter assistido à sua achincalhação de John McCain, um herói de guerra norte-americano consensual e símbolo máximo dos valores republicanos tradicionais enquanto Trump fugiu do serviço militar por ser rico e por ser cobarde, levou-me a ter a crença inabalável de que o ataque ad hominem, só por isso entre o tanto que parecia eleitoralmente suicida, chegaria para o impedir de ganhar sequer a nomeação pelo Partido Republicano, quanto mais a nação americana. Tanto para aprender sobre a natureza humana, portanto.

Uma das mais sólidas democracias planetárias está sob uma inaudita ameaça. Se os generais norte-americanos cumprirem uma ordem presidencial para a destruição intencional de um objecto ou local com valor cultural isso será equivalente, no plano da lógica, ao Holocausto. Não temos outro comparativo. Corresponderia à falência dos EUA como país defensor desse povo inscrito na abertura da sua Constituição. E, a ocorrer, tal não significaria que o problema estava na ideia de democracia e respectivos ideais democráticos perfilhados desde 1789, o problema voltaria a ser constitucional. Seria necessário introduzir mais uma emenda, desta vez a exigir um exame étnico a todos os candidatos presidenciais de forma a impedir que se volte a ter um talibã na Casa Branca.

18 thoughts on “Trump, um talibã na Casa Branca”

  1. Trump tem sido o menos beligerante e intervencionista dos últimos Presidentes dos EUA. E foi o candidato que levou essa política a eleições. Ainda assim, não foi o suficiente. Não é fácil desmamar a indústria de guerra americana e os falcões que dela dependem.

  2. Embora encapotados, nunca pensei que o Trump tivesse tantos admiradores, mas pelos vistos e não vistos… Até onde ele irá? Até onde o deixarão ir?

  3. Valupi

    Concordo inteiramente .
    Para compreender aquilo que está em jogo, recordo aquilo que o senador McCain – um cavalheiro e um patriota – que barrou a presença de Trump no seu funeral, mandou afixar e colocar perto do seu caixão, no Senado :

    For we wrestle not against flesh and blood, but against principalities, against powers, against the rulers of the darkness of this world, against spiritual wickedness in high places.

    Isto acima, compaginado com outros textos, nomeadamente o Livro do Apocalipse, ajuda a compreender a colocação em altos lugares, de gente do calibre de Trump, Bolsonaro, e por aí adiante .

    O “ Vale das Sombras “, por assim dizer designado aquilo que muitas religiões designam como o “mal” vem trabalhando afincadamente desde à muito tempo para colocar em lugares chave, pessoas, sejam politicos, cientistas, intelectuais teóricos universitário e outras pessoas de influência de massas . Também, almejavam a clonagem humana, e o derreter do gelo nas regiões polares, o que efectivamente está em curso.
    A mudança climática, é já, uma realidade inquestionável.

    Significa que o Apocalipse já cá está.

    Quem não acredita pode gozar à vontade . Quem quiser pode continuar a ler .

    Essa parte do mundo espiritual, designada por mal, perdeu a conexão com o divino .
    Têm o conhecimento, mas não têm o amor .
    Por exemplo, aquilo que na Igreja Católica se designa por anjos caído, são “ atrasados “ – por assim dizer, uma espécie de alunos que chumbaram e se atrasaram – da classe dos anjos .

    Em vários textos, – e até em textos maçónicos, ver a lenda de Hiram, Abiff, o arquitecto do Templo de Salomão – se refere a tais seres, como se tendo recusado a trabalharam com Deus, no trabalho da criação, por terem afinidade com o fogo .

    Ora o que sucede, é que não tinham afinidade com a água – significando, não eram humildes .

    Para compreender o valor simbólico da humildade, da água, basta ler o texto de Augusto Gil, Gente de Palmo e Meio :

    “ Deus fez com a água a epopeia da humildade .
    Encha com ela uma taça de oiro, e tomará a forma da taça .
    Deite-a depois num vaso tosco de barro humilde e vê-la-á humildemente aconchegar-se às linhas rudes desse vaso ingénuo “.

    Assim como alguns seres da classe dos anjos se atrasaram, também outros seres da hierarquia espiritual acima deles, arcanjos etc. foram alvo do mesmo . Alguns trabalham agora, entre nós, como, digamos assim, “ alunos mais que repetentes “ para alcançarem a sua salvação e evolução espiritual . Mas todos aqueles que perderam irremediavelmente a ligação com o Cosmos, – o Divino – são os manobradores dos detrás dos bastidores, a que se refere o texto da Epístola aos Efésios, muito do agrado do senador McCain, e que estava colocada em cima do seu caixão, no Senado .

    Peço desculpa, por este blogue não ser o lugar mais apropriado para este meu texto .

  4. … Tendo-me eu esquecido de referir precisamente o valor de bens culturais, dos Persas, ancestrais dos actuais Iranianos, tais como elementos do pensamento proto-cristão, o Mazdaismo e o maniqueismo, que aborda precisamente o problema do bem e do mal, afirmando que para o fim dos tempos, os bons serão absolutamente bons, e os maus serão absolutamente maus .
    Constituindo isso um problema, por não se saber como haverão os bons de lidar com os maus.
    Postula-se que o mal não pode ser combatido com o mal, pois que para derrotar o mal, será necessário um mal maior, e então, vença quem vencer, é sempre o mal que vence, o que, se efectuado pelo bem, faria o bem cair de padrão, descendo ao mal ( quem não se recorda do, dito terreno, para vilão, vilão-e-meio ).
    Assim, o mal tem que ser combatido com o bem . O mal nada constrói, nada edifica, apenas destrói. A luta pelo poder, entre o mal é constante, e os piores vão sendo e saindo os vencedores das contendas . Por assim, os maus, se vão mutuamente destruindo. Isto, no mundo espiritual . Onde a luz brilha nas trevas, e as trevas não brilham na luz .
    No mundo físico, aquele em que vivemos, as coisas por vezes, são bem difíceis para os bons .
    Mas é tudo temporário, passageiro .

  5. e se o Apocalipse já cá está convém relembrar os versículos do Livro do Apocalipse a partir de 2:9 …. lá vem quem manda no trumpetas.
    no 2:20 também é interessante , do ponto de vista cientifico… como a ciência , a maça da árvore do conhecimento , deu cabo do planeta tentando superar a Obra.

  6. Escreve o Lucas Galuxo:

    “Trump tem sido o menos beligerante e intervencionista dos últimos Presidentes dos EUA. E foi o candidato que levou essa política a eleições. Ainda assim, não foi o suficiente.”

    É um erro. É verdade que Trump FOI ELEITO com o programa “menos beligerante e intervencionista dos últimos Presidentes dos EUA”. E, assim, “foi o candidato que levou essa política a eleições”. Mas, como idiota fanfarrão que é, tem consentido uma política externa que é o exacto oposto da que prometeu e que levou muitos americanos a votar nele. O idiota desbocado tem-se deixado comer, dia após dia, pelos mestres titereiros que verdadeiramente controlam a política externa da Amérdica, e que fazem o que lhes dá na gana com objectivos, tácticos e estratégicos, que levam a cabo de modo absolutamente implacável, sofra quem sofrer, morra quem morrer, não interessa se amigos ou inimigos. Os “amigos”, para eles, são tão descartáveis como papel higiénico e para isso servem: para limpar o cu. E tudo indica que eles gostam.

    Assim, é errado dizer que “Trump TEM SIDO o menos beligerante e intervencionista dos últimos Presidentes dos EUA”. A verdade, verdadinha, é que o parvalhão não manda a ponta de um corno e, para o esconder, assina por baixo de toda a merda obscenamente intervencionista que o deep state, incansavelmente, lhe dá na gana levar a cabo. Ocasionalmente, acrescenta-lhe alguma merda original, autêntica, que lhe sai da mona, como a transferência da embaixada para Jerusalém, o “reconhecimento” da soberania nazionista sobre os montes Golã e mais umas merdecas, mas o tempo fica-lhe curto para acompanhar a Fox News e tuitar umas fanfarronices infantilóides, para gáudio da claque e indignação plastificada de uma “oposição” de faz de conta.

    Quem verdadeiramente manda na política externa actual da Amérdica é uma aliança obscena entre fabricantes de armamento; empresas petrolíferas; fundamentalistas cristãos evangélicos ejaculando bem-aventuranças pela segunda vinda do Messias, que regressará em breve de pára-quedas à Terra (alegadamente) Santa; seus aliados de circunstância nazionistas, entusiasticamente dedicados (e pelos fundamentalistas evangélicos entusiasticamente apoiados e financiados) à honrosa e estimulante tarefa de limpar etnicamente a santa e bendita terra daquela horrorosa gente maioritariamente castanha que teve o sacrílego descaramento de lá nascer (nazionistas que, após a segunda vinda, ou vêem a luz e se convertem ou sofrem a sorte do Bin Laden, por mais “amigos” que agora sejam); uma indústria de telecomunicações (e não só) a sentir-se inexoravelmente ultrapassada pela China e que lançou às urtigas o antigamente sacrossanto princípio capitalista da livre concorrência; um Partido Democrático que não sabe o que fazer para fingir que discorda das tropelias externas do infantilóide; uma indústria merdiática mercenária, sem espinha nem vergonha na cara, afanosamente ocupada a distrair a América com aldrabices e minudências e virando a cara para o lado perante as barbaridades a sério que o cavalão leva a cabo em prol da Amérdica; eu sei lá, merda, naquela terra, é coisa que não falta para juntar ao pacote.

  7. Quanto à entusiástica classificação do senador John McCain como “um cavalheiro e um patriota (…), um herói de guerra norte-americano consensual e símbolo máximo dos valores republicanos tradicionais”, bueno, vou ali e já venho. E vou ali fazer o quê? Vou investigar se despejar hectolitros de napalm em cima de aldeias infestadas de criaturas amareladas, teimosamente ciosas do direito de decidir o seu próprio destino e o da sua terra, adultas umas, acreditando ingenuamente que um dia também o serão outras, vou investigar, repito, se isso qualifica alguém como um cavalheiro ou um patriota.

    Vou investigar se fritar em bolas de fogo gigantescas sub-humanos amarelados, lá do alto da impunidade de um cockpit bué da top gun, qualifica alguém como herói consensual.

    Quero saber se despejar milhões de litros de químicos desfolhantes sobre milhares de quilómetros quadrados de floresta, para a converter em campo aberto e negar aos sub-humanos amarelados a mais pequena hipótese de se esconderem para fugir à cavalheiresca e patriótica fritura, quero saber, digo, se tal medalha é penduricalho digno de enfeitar a peitaça seja de quem for como símbolo máximo dos valores republicanos tradicionais.

    Finalmente, tenho curiosidade em saber se foi o azar de a patriótica, cavalheiresca e consensual actividade ter sido interrompida pela pontaria dos sub-humanos amarelados, ingratamente desejosos de fugir à fritura, se foi isso que promoveu o ressabiado caramelo a símbolo máximo dos valores republicanos tradicionais.

    E já agora, quase me esquecia, vou também investigar se dar palmadinhas nas costas e fazer-se fotografar, na Síria, ao lado de um heróico jihadista que, alguns dias antes, postara no Facebook uma orgulhosa foto em que trincava, LITERALMENTE, o fígado que extraíra de um soldado que acabara de matar, se isso, alternativamente, também pode qualificar alguém como cavalheiro, patriota ou outra gloriosa merda qualquer.

    Olá! Já fui ali e já vim! Imagino que não seja necessário comunicar às queridas massas populares o resultado da investigação. Salut!

  8. Joaquim,
    Concordo com o que dizes. Sem problema.
    Tudo indica que nenhum candidato eleito conseguirá mover a política externa americana um milímetro, ao lado daquilo que a falcoaria quiser. Está aí uma grande chatice para a democracia. Só nos resta fazer a distinção entre povo americano e a meia dúzia de artistas que nas sombras mexe os cordelinhos de marionetas.

  9. Ó snr. Camacho, referi-me a cavalheiro e patriota, em termos de actividade política, por exemplo, durante a campanha eleitoral para as presidências, ganha por Obama, enfrentou durante um comício, uma apoiante sua, que se referia a Obama como islâmico e não nascido nos EUA, dizendo, de forma firme, honesta, e elegante, “ não, minha senhora, o senador Obama nasceu na América e é uma pessoa honesta e decente “ .

    Quanto a militares cavalheiros e patriotas, encontra-os às toneladas entre os seus próceres russos, por exemplo, o general Ivan Konev, que gabava-se em público, perante outros generais e políticos, de utilizar formações massivas de infantaria russa, para “ limpar campos de minas “, fazendo tal infantaria soviética avançar antes dos esquadrões de tanques, para “ limpar o caminho “ .

    Vá ver a RTR, para se informar pior .

  10. Extremamente interessante, a ler com muita atenção e na íntegra! Tem dados que iluminam com a luz de um batalhão de holofotes o que levou ao assassínio de Qassem Soleimani, deixando qualquer um arrepiado de medo. Para cúmulo das desgraças, esta “nossa” Europa castrada está cheia de imitações ridículas de chamberlainzinhos de opereta, que acreditam burramente conseguir apaziguar a Amérdica lambendo-lhe o cu, como o sipaio de saia e casaco Ursula von der Leyen ou o idiota do nosso ministro dos Negócios Estrangeiros.

    https://www.strategic-culture.org/news/2020/01/08/the-deeper-story-behind-the-assassination-of-soleimani/

  11. Errei! O ‘freedom fighter’ com quem John McCain confraternizou e se fez fotografar na Síria não trincou o fígado do tipo que acabara de matar. Afinal mastigou-lhe o coração.

    https://youtu.be/95XuvgpCkLU

    A honourable officer and a fine gentleman! Fuck him!

  12. deviam era por um católico , já que até hoje só houve um , de presidente do usa. talvez fizesse manguitos a israel. que é que achas , fantasma do Kennedy?

  13. Bons links, Joaquim

    Tulsi Gabbard, neste momento, é a única que me faz ter esperança no último parágrafo da crónica de MST desta semana:

    “Mas a espécie humana já resistiu a
    tanta coisa que até a estes imbecis
    há-de resistir. É certo que os anos
    passam, vai-se fazendo tarde. Mas
    não somos a primeira geração a pensar
    assim. Os bons hão-de regressar,
    e a história continuará”

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