Vivemos o melhor tempo de sempre para cumprir o ideal democrático. Habitamos num Estado de direito, rodeados de países onde igualmente vigora o Estado de direito e a democracia está nestes regimes consolidada através de inúmeras associações de representação e defesa dos direitos de grupos, minorias e indivíduos. Existimos numa era e numa cultura onde a tecnologia permite a comunicação livre, múltipla e instantânea entre a enorme maioria dos cidadãos. Somos protegidos por sofisticados, complexos, robustos e ubíquos sistemas de alimentação, trânsito, saúde, higiene, educação, comunicação social, bombeiros, polícia e forças armadas.
Então, donde vem a pulsão contra os políticos e os partidos, a qual é concomitantemente uma pulsão contra a democracia? Virá da gravidade da crise económica, claro, mas também de duas decadências: a da direita portuguesa, que não tem passado de um clã de interesses oligárquicos e que cavalgou o populismo por não ter outro projecto eleitoral; a da esquerda portuguesa, a qual é sectária, inclusive dentro de parte do PS, preferindo substituir quem ousa governar ao centro até pela direita mais violenta com medo que se exponha a completa irrelevância e alucinação da sua superior ideologia. A unir estas duas decadências o mesmo conservadorismo, o mesmo provincianismo, a mesma irresponsabilidade.
A democracia não consiste em governarmos todos, nem em votarmos todas as leis. A democracia muito menos consistirá em estarmos de acordo a respeito do destino comum. Trata-se de outra coisa. Algo congénere às monarquias ou tiranias – usar o poder. Esse, num sentido antropológico, é o único problema político com que nos deparamos. Quem deve liderar? Nas democracias, experiência recentíssima no devir histórico, escolhemos esse chefe comunitariamente. Ora, a democracia será tão mais forte quão mais iguais ao líder forem aqueles que escolham entregar-lhe o poder. É por isso que estes são os melhores tempos para realizarmos o ideal democrático – que o mesmo é dizer, para nos realizarmos como seres voluntariamente políticos: reis do nosso destino, súbditos da nossa liberdade.
parabens pelo post e pela oportunidade.nem mais.esta democracia embora imperfeita,sujeita todos às mesmas regras com a excepçao da regra do mercado,onde poucos saõ mais iguais do que os outros.a “democracia dos “suspeitos do costume” nem chega a ser um simulacro e por isso os seus povos as baniram por muitos e muitos e bons anos,se as urgentes correçoes forem levadas a cabo .quando os que votarem estiverem num patamar mais proximo dos que elegemos,não há mais louças nem jeronimos ao lado da direita trauliteira, a por pauzinhos na engrenagem!
excelente.