Observando o Daniel Oliveira

No final do Eixo do Mal, Daniel Oliveira exibiu a sua indignação por Sócrates ter equiparado o seu caso ao de Luaty Beirão. Foi uma declaração de segundos que nem sequer permitiu perceber qual era o argumento ou esboço de raciocínio. Acto contínuo, o bronco à sua frente deu aquela que talvez seja a interpretação autêntica do que está na origem da atitude do Daniel, ao largar uma estupidez qualquer em relação a ter sentido vómitos aquando da mesma passagem no discurso de Sócrates e, por isso, tendo deixado nesse momento de assistir ao resto.

Porque é que esta cena sem importância alguma me parece importante? Em primeiro lugar, por causa do bronco. Ele representa o eleitorado típico dos pafiosos, onde o culto do ódio a Sócrates é o mais potente afrodisíaco para se juntarem lúbricos e “fazerem política”. Este ódio, por sua vez, já pede investigação académica há anos e anos, pois é muito mais um fenómeno antropológico do que político ou moral – embora na sua explicação mais simples não passe de cagufa e pavor. Ora, o que o bronco espelhou na perfeição foi a simetria de uma paixão comum: também o Daniel Oliveira só se encontra consigo próprio na relação pública com Sócrates quando o pode odiar. Foi o que fez militantemente até 2011, ao alinhar nos assassinatos de carácter oriundos da direita decadente. Depois, devagar e sem pressa, teve de se render à evidência de ter sido mais um imbecil útil.

Em segundo lugar, a cena remete para a dimensão em que o Daniel Oliveira é, até agora, um político fracassado. Por “político fracassado” refiro-me a políticos que nunca tiveram a oportunidade de aplicarem as políticas que defendem numa função legislativa ou governativa. Onde tem alcançado sucesso é na dimensão da política-espectáculo, quiçá também na do jornalismo, tendo recentemente anunciado que interrompia a actividade política para se dedicar ao jornalismo. A julgar pelo episódio que comento, porém, nada há de jornalístico na opinião que assumiu a respeito das tais declarações de Sócrates, seja quanto à forma ou ao conteúdo do que vociferou. Tratou-se de puro espectáculo ao serviço do formato mediático em causa.

Com sorte, o Daniel irá escrever no Expresso um texto fogoso onde irá demonstrar que a razão, se calhar bastando o coração, lhe assiste e que Sócrates foi mesmo um crápula em ter ousado referir-se ao martirizado, e nosso compatriota, Luaty. É esperar. Até lá, constate-se como aqueles que não quiseram comentar uma qualquer das muitas declarações importantes e graves que Sócrates proferiu neste sábado se agarraram à invenção de que teria sido cometido um sacrilégio no estabelecimento de uma conexão entre a sua prisão e a de Luaty. Foi exactamente esta a artimanha do mano Costa, nada tendo a dizer sobre as violações do segredo de justiça, dos verdadeiros atentados contra o Estado de direito e do desprezo pela Constituição que oprimem e conspurcam o País, mas não perdoando que se fizesse um paralelo entre as reacções em Portugal acerca da prisão preventiva de três portugueses em três partes do mundo.

O Daniel, no início do programa, disse que não lia nem o Avante nem o Observador. Pelo menos quanto ao último, está agora claro porquê no que a Sócrates diga respeito: não precisa, basta-lhe pensar no assunto.

20 thoughts on “Observando o Daniel Oliveira”

  1. No Eixo do Mal não quiseram falar de Sócrates. A verdade é que para tal precisariam de um programa inteiro, e já que o Golpe de Estado visível do homem de Boliqueime tinha prioridade não havia tempo. No entanto um dia saberemos que os dois assuntos até eram um só e faziam parte do mesmo golpe de estado.

  2. Diz Daniel Oliveira que «Sócrates veio ajudar Cavaco ao meter-se neste assunto» (cito de memória e penso que o assunto a que se referia era a formção de um próximo governo). Ou seja: Cavaco sente-se à vontade para afirmar que há um milhão de portugueses cujos representantes parlamentares nada têm a dizer sobre a formação do governo do país, e, na sua esteira, vem agora o cavaquito Daniel contrapor que, embora seja impensável excluir um milhão de portugueses de uma só vez, se for um a um já se pode. Sobretudo se se começar pelo cidadão José Sócrates. Que não tem nada que se meter na discussão, principalmente a que decorre entre os comentadores devidamente pagos (o grau mais elevado de cidadania e o único verdadeiramente certificado).
    Acresce que Sócrates não se comparou a Luaty: comparou a lei processual portuguesa com as leis processuais angolana e timorense, e o processo em que foi envolvido com os processos em que foram envolvidos Luaty Beirão e Tiago Guerra, em Angola e Timor, respetivamente.
    E, é verdade, também comparou a posição corajosa de cidadãos como Francisco Louçã ou Marinho Pinto com o farisaísmo de «famosos» como Daniel Oliveira. Aposto que foi isto que doeu ao cavaquito Daniel.

  3. por aquilo que eu ouvi o que Sócrates disse foi que também ele, tal como Beirão, foi um preso político – logo a comparação faz todo o sentido sem fazer sentido algum: é que o activista está preso por uma causa de amor à pátria; Sócrates foi preso por uma causa pessoal de indícios criminosos para proveito próprio. há aqui muita presunção nesta comparação descabida.

  4. Val, mixed feelings.

    Como já disse algures, e fi-lo na segunda-feira passada quando houve a primeira tentativa de confundir dramas individuais como se eles fossem comparáveis sem que carecessem de um exercício de público contorcionismo (dos sinceros apoiantes do ex-PM, e sublinho os sinceros), o José Sócrates ou os seus advogados ou o seu assessor de imprensa bem poderia/m fazer chegar uma mensagem de solidariedade aos familiares e amigos do Luaty Beirão e/ou dos outros detidos. Em nome de quê? Em resposta ao inusitado MNE angolano primeiro, demarcando-se claramente de Rui Machete, Martins da Cruz e do seu ex-ministro Luís Amado que agora anda a manjar no Banif com guita do Obiang, etc. E que se daria conta desse facto de homem livre, decerto.

    Seria esta uma forma possível de entrar no assunto, ou outra se encontraria desde que as personagens políticas portuguesas o fizessem transparentemente (linko a posição do PS, aliás, porque se trata de um excelente exemplo do papel activo que deve assumir um PM português de esquerda nas suas relações com Angola). Se queres que te diga parece-me desnecessário que gastes o teu latim com o que os nervos de Daniel Oliveira e as náuseas de Luís Pedro Nunes disseram ontem sobre o *aproveitamento* feito pelo José Sócrates, ou sobre a estranha imagem devolvida pelo seu espelho de bolso, porque essa é uma causa perdida e objectivamente esquece o essencial e o que interessa.

    Liberdade Já, impressionante página do FB.
    http://liberdade-ja.com/pt/

    Twitter, hashtags #LuatyBeirao e #LiberdadeJa
    https://twitter.com/

    António Costa envia carta ao MPLA (no Expresso online, há dias)
    http://expresso.sapo.pt/dossies/diario/2015-10-22-Antonio-Costa-envia-carta-ao-MPLA

  5. o sócras estragou o comício do marcelo e os direitolos ficaram fodidos, é comparar as reportagens do expresso à voz do operário e à velha de rodão e a confusão que deu nos directos das televisões. enquanto marcelo desce à terra para unificar os operários a votarem nele e nos valores da família, caridade, coiso & tal, o jacobino do sócras vai à velha espalhar a confusão com cenas de liberdade, igualdade e fraternidade, merdas que já não se usam, nem em angola.

  6. O Luaty veio à baila, como outro preso preventivo de Timor, não pelos indivíduos mas por decisões judiciais que não são próprias de Estados de Direito. Dito isto talvez se tenha posto a jeito ou talvez não. Eu, pessoalmente até acho que que se o Luaty não fosse um filho do regime ninguém ouvia falar dele em Portugal. Como já aconteceu aliás a vários angolanos pretos. Já o Daniel Oliveira é outro caso de estudo. Um apoiante convicto do actual presidente do Sporting. Basicamente, um aldrabão de primeira c/ um currículo idêntico ao aldrabão em pessoa. Com muita pena minha, que também sou sportinguista. E hoje claro que espero ganhar ao Benfica. Um bom fim-de-semana para todos.

  7. P,
    apesar da tua rusticidade que arrepiará provavelmente alguns cidadãos da polis, duas coisas: Luaty tem hoje uma enorme rede de amigos em Portugal, o que é ao mesmo tempo novo e antigo porque alguns dos + criativos habitantes deste rectângulo seguem há muito os seus passos; e não, não é verdade o que dizes sobre a distinção da epiderme e sobre o jargão simplório de que ele é um filho do regime do MPLA e da troupe do JES : basta ler-se o Público e o Expresso deste FDS para se complexificarem as coisas na tua cabeça e compreenderes que assim não é.

    Os filhos do musseque que se juntaram ao filho do regime em Angola – PÚBLICO
    http://www.publico.pt/mundo/noticia/os-filhos-do-musseque-juntaramse-ao-filho-do-regime-em-angola-1712176

    A BAÍA DAS SOMBRAS e QUEM SÃO ELES (o blogue Cadernos da Libânia publica uma excelente reportagem de Gustavo Costa do Expresso, que está em Luanda)
    http://cadernosdalibania.blogspot.pt/2015/10/a-baia-das-sombras.html

  8. Como gostaria de ter escrito este texto .
    Obs. o d.o.
    É um facto, esta gente está toda encarregue de obter efeitos.
    Não analisa não comenta :
    – faz frete ao patrão.

    O d.o. que sai e entra em partidos (?) em desfazamento total com a evolução dos mesmos e julga-se importante e interessante. Larga butades que ficam no ar sem réplica para cumprir o acordo de trabalhinho.

    O que o apoiou nem sabe articular frases.
    Se houvesse mais tempo seriam todos.

    Só Luis Delgado escapou ao mote da agenda comentadeira sic oriented.
    Só ele mostrou saber avaliar uma importante peça de comunicação sem inveja. O do lado meteu dó.

    Nada que não tenha que ver com o defender o pãozinho com manteiga e, de quando em vez um filet mignonzito fingido.

    José Sócrates :
    – político, pensador, orador inteligente e genial homem de comunicação está em plena ascensão de todos as suas qualidades.

    Só estupidez pura, uma correio da manhanzince vergonhosa para os que não ganham o pão no mãnhas, poderia usar a referência (usada como exemplo da violência de prisão preventiva) para subverter o sentido que a referência teve.

    Entendi, sendo talvez mais treinada que comentadores “controlados com pipas de massa” para amplificar his master’s voice que, o desapontamento de José Sócrates vem de :
    – no seu país, salvo raras exceções (gostei de ouvir a referência leal a Marinho e Pinto) ninguém ter tido a coragem de sair dum bacoco à j….j….à p…p.
    Até o Presidente do p.s. só queria falar de futebol.

    Se José Sócrates não referisse essa “moleza” dos políticos, pasquins e jornalada, seria uma desilusão para os que ele saudou por estarem a seu lado.

    Depois de o ouvir e ver , ainda mais brilhante que recordava sobre este vergonhoso trabalho duma justiça com alardes de prepotência/exibicionista é triste que gente como d.o. use uma manhozice nos preciosos segundos dum pack-shot maldosamente intencional .

    O outro, coitado, nada sabe dizer ou pensar sendo o seu vómito retribuído por quem o não consegue ver/ouvir.
    Felizmente há zap.

    Gosto muito deste blog.

  9. Numa noite em que Daniel Oliveira até disse várias coisas acertadas, tinha de se despedir com uma boca que justifica o que recebe do Balsemão. Para atenuar junto do patrão o efeito do que disse antes.

  10. O que morde todos estes comentadeiros avençados na comunicação
    social (ricardito, d. oliveira, o sósia do Kadhafi, tavares, etc. etc.) é a
    inveja que sentem pela facilidade que José Sócrates expõe as suas
    ideias e o modo certeiro de abordar os temas por isso, agarram-se
    ao diz que disse, o que se passou não foi o que d. oliveira bolsou …
    não houve qualquer comparação pessoal, em causa a prisão preven-
    tiva com ou sem acusação e, até disse não devia o activista angolano
    ter sido preso por delito de opinião como deve acontecer nos estados
    que se querem apresentar como de direito!
    Como já foi dito, o bocas oliveira só pretendeu engraxar o patrão ao
    ter tentado denegrir José Sócrates e, este ter tido melhor audiência do
    que o prof. Martelo na sua homilia!!!

  11. ehehheheheh, o gajo agora quer ser igual ao Luaty Beirão…lol. Cada uma.

    Um gajo que está cheio de suspeitas FORTÍSSIMAS, que não se vai safar de condenação, vem agora equiparar-se a um indivíduo que luta com e por motivos diferentes. E, claro, informando que tem « os direitos políticos intatos»….Bolas, o homem é alucinado. Alucinado. O gajo até já se equiparou a Nelson Mandela…caramba. E há quem coma o que o gajo verte…

  12. “Já o Daniel Oliveira é outro caso de estudo. Um apoiante convicto do actual presidente do Sporting. Basicamente, um aldrabão de primeira c/ um currículo idêntico ao aldrabão em pessoa. Com muita pena minha, que também sou sportinguista. E hoje claro que espero ganhar ao Benfica. Um bom fim-de-semana para todos.”

    Falando em presidentes do Sporting com grandes currículos e para matar saudades dos bons tempos de sua direcção:

    O Record revela este sábado alguns dados sobre a auditoria realiza pela Mazars à gestão imobiliário do Sporting. Os primeiros dados permitem concluir que os proveitos de 174,401 milhões conseguidos entre 1993 e 2013, relativos a operações no imobiliário, em nada serviram para reduzir o passivo bancário do Grupo nem para o financiamento do estádio ou da Academia.

    O primeiro dado que causa apreensão é o facto de o clube de Alvalade em menos de uma década passar de dívdas de 564 mil euros para 283 milhões. Neste processo há um rosto que se destaca: Godinho Lopes, antecessor de Bruno de Carvalho.

    Segundo o relatório, a derrapagem de custos verificada sob o mandato do engenheiro, ainda como vice ‘verde-e-branco’ é de perto de 80 milhões, contabilizando-se os custos com o novo estádio e a Academia.

    Mas há outras conclusões que impressionam pela dimensão dos números envolvidos, desde logo pela “tendência crescente e vertiginosa” no que respeita a financiamentos. A dívida que era de 564 mil euros em dezembro de 1994 transformou-se em 283,038 milhões em junho de 2013. E há um rosto que emerge da súmula feita pelo auditor: Godinho Lopes.

    Por exemplo, no caso da escola ‘leonina’, refere-se no documento que Godinho projetara gastos de 5 milhões de euros. Porém, o custo final foi de 18,58 milhões. A diferença total, nas duas obras – estádio e Academia – é de 91,853 milhões de euros.

    Esta é apenas a ponta de um ‘iceberg’ que promete gelar amanhã, domingo, quando forem apresentados os resultados finais das averiguações, os adeptos do ‘leão’.

    http://www.noticiasaominuto.com/desporto/412369/contas-do-sporting-derraparam-80-milhoes-so-com-godinho

    Mas ainda hão-de argumentar contra a auditoria como se não fosse verdade a dívida e o passivo brutal com que o croquettismo dos bons currículos deixou o Sporting.

  13. Sócrates quanto mais fala, mais se parece um caso com final ao de Carlos Cruz, que também não se calava.

  14. Ccruz não se calava e DIZ-SE INOCENTE. Bem, de nada sei ou soube, mas NUNCA me convencerão que indivíduos assim, com acesso ao Direito e DEFESA, estejam inocentes…

    Sócrates enfileira pela defesa na praça pública…pois sabe que no tribunal há regras e momentos processuais…

  15. Caro João,

    Lamento informar mas nunca tive qualquer intenção de vir para aqui discutir futebol e nomeadamente o Sporting. Até porque sobre o tema o Valupi já disse quase tudo: https://aspirinab.com/valupi/bronco-de-carvalho/

    De qualquer forma julguei que fosse muito claro para todos o que o que muitos bancos, para não dizer o mundo da finança em geral andou a fazer nos últimos anos. E o futebol actual é uma actividade económica como outra qualquer. No Sporting, Benfica e Porto. Sendo que os dois últimos ainda tiveram grandes ajudas públicas suplementares. Centrais e Camarárias. Os bancos e nomeadamente alguns banqueiros. Os que sabiam tudo como o Salgado e os que não sabiam nada como o Ricciardi e o Sobrinho. Espero não estar a trocar a ordem porque parece que também é importante para o tacho do Bronco de Carvalho. Outra vez a gastar milhões.

    Já agora o meu interesse aqui no Aspirina passa mais pela forma escolhida pelo Governo da Nação para lidar com a crise. Onde não chegavam as directrizes alemãs e parece que em Portugal também somos grandes fãs de imputar aos portugueses em geral o que só alguns andaram a gozar.

  16. Concordo inteiramente que mais do que qualquer razão ideológica preconcebida a principal razão da maior asfixia democrática da história da Democracia Portuguesa foi a crise em primeira instância. Liberdade e barriga vazia… E quando se deviam discutir temas importantes como a destruição do valor trabalho nos últimos anos, discute-se normalmente merda. Mas daí a achar que o DO está a fazer um frete ao patrão… Sinceramente não acredito. Não sei se é pior ou melhor mas o DO é isto. Que só envergonha a memória do pai, antes de mais.

  17. Eu, cá por mim, adorava ver os refugiados políticos por delito de «negação do Holocausto» que Portugal deporta para a Alemanha nas camisolas do BE, nas intervenções do Daniel Oliveira, e até nos motivos de escândalo deste blogue, para já nem falar da Amnistia Intenacional que aprova, aldraba e aplaude. Mas enfim, isso sou eu. Há que compreender o estado de desenvolvimento do planeta que nos calha na rifa.

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