A escolha de Ferreira Fernandes para director do Diário de Notícias é uma surpresa na história recente do título (pelo menos) e, quiçá, para a própria imprensa escrita portuguesa. Tal deve-se ao seu perfil de cronista, cuja marca distintiva se encontra na exaltação humanista dos temas tratados, invariavelmente servidos por um estilo de escrita cuja elegância delicada e eficácia literária não conhece rival na actualidade. Qual será a influência dessa sensibilidade, e dessa ética, nas decisões de carácter editorial que ficarão à sua responsabilidade?
Tenho a vantagem de não saber nada de nadinha de nada acerca da saída de Paulo Baldaia e da escolha do FF pela administração do jornal. Assim, ignoro se a sua posição será apenas decorativa ou se se espera que ele desenhe decisivamente o futuro imediato e de médio prazo de um órgão em graves apuros financeiros e de popularidade. O que sei remete para a minha experiência de leitor distraído e avulso. Consigo definir o tempo de João Marcelino como intriguista e sectário, tendo sido um aliado da subida de Passos ao poder no PSD e nas eleições de 2011. É ver quem eram os jornalistas e comentadores que faziam parte da “brigada laranja” do Marcelino e o que lhes aconteceu depois, isto se não se quiser perder tempo a analisar a forma ostensiva como assumiam editorialmente a sua agenda política. Consigo descrever o tempo de André Macedo como convencional e inconsequente, um falhanço estratégico nascido da errada formulação do problema: a concorrência não era o “Público”; era, e é, o esgoto a céu aberto. E consigo dizer que o tempo do Baldaia começou bem, com o chuto dado ao odiento Alberto Gonçalves, mas que depois patinou na indecisão estratégica de fundo (como agora se soube) e numa decadência opinativa onde a paixão política e sensacionalista, embrulhada na funesta soberba dos árbitros de bancada, tomou conta dos editoriais e quejandos a propósito dos incêndios, de Tancos e de Marcelo. Não faço a menor ideia do que se vai seguir com a dupla FF e Catarina Carvalho, podendo a encomenda ser mesmo a de fazerem a transição de diário para semanário em papel, a tal que o Baldaia não conseguiu (ou quis) realizar por razões que ignoro.
Os jornais em papel foram, até ao aparecimento da Internet, a melhor forma de consumir informação e reflexão quotidianas. A promessa, então cumprida, era a de acrescentar inteligência geral e especializada à inteligência empírica e individual de cada leitor. Até agora, que tenha notado, a crise resultante da ubiquidade e gratuitidade das fontes de informação digitais ainda não foi resolvida por ninguém na imprensa tradicional e profissional. Como em qualquer outra mudança de paradigma, vem o terramoto e suas inúmeras derrocadas e causalidades. Mas depois vem a fase da reconstrução. No campo dos conteúdos televisivos de entretenimento, a fórmula Netxflix aí está a mostrar como novas tecnologias geram novas formas de consumo adentro da mesma necessidade de fruição. Continuamos a querer ver televisão, a mergulhar na ficção, a definir a nossa identidade de acordo com os mundos paralelos da criatividade mediatizada. Para os jornais, a configuração do problema é análoga: continuamos a querer ser mais inteligentes, continuamos à procura de exemplos de liberdade e coragem para escolher e moldarmos o nosso destino.
Que belo, exaltante, desafio.
Vamos lá a ver se, depois de alguns anos em que deixei de ser comprador e leitor de jornais, com esta novidade, virei a ter o prazer de voltar a comprar e ler um jornal decente.
Como leitor assíduo do FF desde há muito anos, faço minhas as palavras contidas no comentário do anónimo das 18,51.
Tenho simpatia por uma certa originalidade dos textos de FF e considero que nalgumas vezes são eficazes. Mas de “elegância delicada” isso não. As mais das vezes são um chocalhar de palavras que, chocalhando-nos a nós, atingem a eficácia. Fora daquele contexto creio-o condenado ao malogro, caber-lhe-á talvez pregar o último prego.
um jornal é ser vida com amor: é querermos continuar, escolhendo a melhor torradeira, a degustar pãozinho torrado. :-)
Decididamente comprarei este jornal.
Para ler se é mesmo jornal.
Saudades de fim de semana com notícias bem escritas sem odor a propaganda paga.
ora , um jornal é um papel que serve para embrulhar castanhas ( em inglaterra para embrulhar batatas fritas e peixe frito) , para limpar vidros , acender lareiras e , em tempos de crise , dá para substituir papel higiénico.
Valupi, qual é exactamente o essencial desta notícia?
(tu que passas a vida a conteplemplar o panorama mediático português, ou tens presumivelmente a fama porque te gabas sobre isso)
Dou-te uma ajuda, o que escreves a seguir está errado (propositadamente?, por razões imediatas facilmente descortináveis?, ansiosamente à espera de Godot?, mais um impulso por causa do José Proença, quem sabe?)… mas está errado mesmo.
«A escolha de Ferreira Fernandes para director do Diário de Notícias é uma surpresa na história recente do título (pelo menos) e, quiçá, para a própria imprensa escrita portuguesa.», …?
Adenda, em tempo.
… contemplar etc., livra que aquilo até parecia o chinamarquês do Corvo Negro!
Um anónimo, às 18.51 definiu o que penso.
Com sua licença faço minhas as suas palavras. mas com uma ressalva:
aguardo para ver porque tenho tido grandes desilusões com as pessoas.
Valupi, não sabes o que está em causa com o DN?
(ou não te importas que se soltem no Aspirina B frases como «virei a ter o prazer de voltar a comprar e ler um jornal decente», ou «Decididamente comprarei este jornal.», e outras parvoeiras semelhantes)
FF viemos de lá…FF também não se aguentou à bronca!
R-e-t-o-r-n-o-u!
Vá, não precisam de agradecer, mas dêem graças aos anjinhos por ainda terem amigos na terra como eu.
Aqui: http://leitor.expresso.pt/#library/expressodiario/12-01-2018/caderno-1/temas-principais/global-media-estuda-passagem-do-dn-a-semanario .