O incêndio em Pedrógão Grande, inevitavelmente pela sua dimensão, iria ser explorado politicamente. Mesmo que não houvesse mortos e feridos. Se o PS estivesse na oposição e o PSD no Governo, seria igual. As causas de tal dinâmica são óbvias e variegadas. Explorar implica aqui tentar obter potenciais ganhos partidários e/ou individuais que gerem vantagens eleitorais. Porém, o conceito de “exploração política” ilumina, concomitantemente, a cultura das entidades, colectivas ou individuais, que o utilizam e promovem. Por cultura, entenda-se aqui a moralidade, o civismo, a decência e a ética de cada um.
(psssst, ó malta: é possível formar e desenvolver princípios, práticas e ideais no campo da moralidade, do civismo, da decência e da ética, mas, sine qua non, é preciso querer quando não se recebeu tal graça desde o berço)
Temos duas fontes de exploração política de qualquer acontecimento: a própria classe política e aqueles que conseguem ter voz na comunicação social profissional e influente, sejam ou não jornalistas. Desta estrutura social veio nestas quase duas semanas de rescaldo um crescendo de violência nas declarações de uns e de outros, à direita do espectro político, que culminaram num extraordinário momento em que um ex-primeiro-ministro, e actual líder da oposição, usa uma mentira sórdida e demente para tentar obter um ganho político. Em abono da verdade, não foi a primeira vez que o fez. As mentiras de Passos Coelho antecipam Trump em vários anos, quanto ao desplante, e não têm paralelo conhecido na democracia portuguesa – ou seja, Passos é, de longe, o político mais mentiroso a ter chegado à chefia de um Governo. Pode até construir-se um argumento onde se compare a gravidade das suas mentiras e se conclua não ter sido a mais grave esta relativa aos suicídios, pois há outras que directamente enganaram o eleitorado e tiveram influência num acto eleitoral e suas consequências devastadores para milhares, centenas de milhares e mesmo milhões de cidadãos. Contudo, esta é especialmente escabrosa por causa da problemática de saúde mental, dor para as famílias e alarme social inerentes. Quem faz o que Passos acabou de fazer, fará mais do mesmo ou já o fez e não fomos informados. Desta vez, estamos informados e ficamos avisados.
Que fez Passos? Como alguns comentadores anotaram, mas não desenvolveram, este senhor pediu desculpa por ter utilizado uma informação falsa a respeito de suicídios. Com tal arrependimento, limitado à factualidade das suas declarações, mostrou que continua a achar legítimo usar suicídios reais para efeitos de exploração política. Neste caso, como as suas palavras atestam sem margem para dúvidas, deu-se tão-só o azar de, afinal, olha a chatice, não existirem suicídios para explorar. Por isso, ele pediu desculpas. Por isso e só por isso, por se ter enganado. Corolário: merecia que a cada futuro suicídio em território nacional lhe aparecesse à frente um jornalista a tentar obter a sua opinião sobre a responsabilidade do Estado, do Governo socialista (calhando haver um), do PS ou de socialistas avulsos nessa ocorrência.
A importância do que fez remete directamente para a importância do que é um suicídio, qualquer suicídio. Como bem sabe quem já foi vítima das suas consequências indirectas – os familiares, amigos, colegas, até vizinhos de quem se suicida – espalha-se um indomável sentimento de culpa por uma perda que parece absolutamente absurda e dilacerantemente evitável. Evitável pelos próximos na relação directa com a proximidade vivencial e afectiva estabelecida, eis a funesta associação que essa morte causa por cima da violência que acaba com uma vida deixando um vazio de sentido que de imediato se enche de confusão e desespero. Quando passamos para o contexto científico e clínico, não existe neste planeta qualquer autoridade que reduza a uma singular causa identificável a origem da situação e acto mental – inacessíveis para terceiros – que resulta num suicídio.
Esta a realidade que Passos não só tentou explorar como considera apropriado que se explore se for em seu benefício e do seu partido. Ao atribuir à “falta de apoio psicológico” um qualquer suicídio que, felizmente, não aconteceu, esta miséria ambulante – de iure – tentou provocar uma sequência de acontecimentos que atingiria todas as eventuais vítimas colaterais da eventual ocorrência. Por um lado, tornavam-se alvos mediáticos que suscitariam invasões da privacidade na procura de informações e “provas” a favor ou contra a tese. Por outro lado, e tragicamente, aumentariam os seus danos psicológicos com o aceno de um bode expiatório na figura de trabalhadores do Estado e de governantes, podendo ainda levar a outras violências imprevistas nascidas da irracionalidade atiçada. Estabelecer um nexo entre suicídios e políticos e políticas, ao nível a que se encontra Passos Coelho, é estar cônscia e intencionalmente a espalhar apelos ao ódio à custa de mortos e de quem os sofre.
O que fez ao abrir uma crise política que afundou Portugal no resgate de emergência é da mesma natureza, a natureza de quem colocou no seu altar interior o culto do poder pelo poder.
Valupi, larga o vinho (e vai bulir).
http://geracaobenfica.blogspot.pt/2017/06/fora-de-campo-o-tempo-da-falta-de.html
“Estabelecer um nexo entre suicídios e políticos e políticas … é estar cônscia e intencionalmente a espalhar apelos ao ódio à custa de mortos e de quem os sofre.” Valupi (29/06/2017)
“Crise aumenta número de suicídios em Portugal
A degradação das condições de vida da população, resultante das medidas de austeridade impostas pela troika e pelo governo português, contribui, tal como aconteceu na Grécia, para o aumento do número de suicídios.” (http://www.esquerda.net/artigo/crise-aumenta-n%C3%BAmero-de-suic%C3%ADdios-em-portugal/24307)
Esquerda.net (17/08/2012)
mandem-lhe com uma granada , parece que há muitas aí pelas ruas segundo disse um esgroviado dp exército. mas já não há segredos de estado ?
Há suicídios pouco evitáveis mas há políticas que os favorecem. Estou convencido que muita gente idosa vai perder o interesse em viver se continuar a ser tratada como criminosa, lhe exigirem trabalhos forçados e, ao mesmo tempo, proibirem a única cultura rentável na floresta do Centro-Norte. Só para dar o troco à extrema-esquerda suburbana ignorante que amparou o governo. Com José Sócrates nada disto aconteceria.
Sempre a considerar a opinião de Lucas Galuxo.
No pós 25 de Abril moderno só José Sócrates soube ser Primeiro Ministro.
Oposição política não existe desde que a Aliança Negra agora branqueda deixou o país à mercê dum resgate desnecessário como Espanha provou cumprindo o que já estava combinado com Merkle e BCE para a Ibéria.
Tiros no pé não chegam para carrascos do país.
Mudança e dignificação da política :
– URGENTE.
se fosse possível determinar a sequência suicida através de um ishikawa já ninguém se suicidava, como é óbvio, já que há, na morte escolhida, uma espécie de arrependimento que antecede a vontade.
(um político com uma cultura deste calibre tem de ficar irremediavelmente ligado à laranja sem ser na política – à apanha da laranja.)
GANDA PORCO…
Valupi, larga o vinho (até dói ler as parvoíces do Lucas Galuxo e as bacoradas do teu amante).
É mesmo para te doer, canalha IGNARO.