Desagravo a Ricardo Leão

Primeiro estranha-se, depois desentranha-se. As declarações de Pedro Nuno Santos foram chocantes para uma parte do PS, que lhe respondeu sem rebuço. Essas críticas são inatacáveis pois apresentam factos e argumentos indesmentíveis. Tanto, que nem tiveram qualquer resposta do próprio. Ou melhor, tiveram, mas na forma de uma imbecil fuga para a frente: Pedro Nuno deixa aviso aos costistas: análise crítica é para continuar “sem hesitação”

A direita adorou a conversão de PNS a publicista da retórica das “portas abertas” por culpa de Costa. O Montenegro xerife, que mandou a polícia encostar imigrantes africanos e asiáticos à parede, ficava não só normalizado pelo líder do PS como até podia reclamar ter antecipado num mês a “coragem” que a entrevista ao Expresso ofereceu à sociedade carente de quem ponha os indostânicos violadores das nossas filhas, mães e avós na prisão ou a caminho da terra deles. Marcelo, com o altruísta projecto de ultrapassar Cavaco por baixo, aproveitou o reforço de peso para os “moderados” e anunciou que o Chega vai ter o Conselho de Estado que encomendou.

Só há duas maneiras de racionalizar o que se lembrou de fazer o socialista-mor. Ou estamos perante um tipo que acabou de ser eleito secretário-geral da Juventude Socialista e, no dia seguinte, manhã muito cedo, aparece para uma entrevista ainda completamente bêbado. Ou então, como única alternativa, temos de aceitar que o homem quis dizer exactamente aquilo que disse. E o que disse é um discurso que Ventura não se importaria de assinar. Porque é uma procissão de tropos dos nacionalismos fascistas e autoritários. É que nem dá para fingir que ele teve um descuido de linguagem, que tropeçou em ambiguidades, que no entusiasmo do assunto se deixou ir um pouco longe de mais. Porque se fosse o caso teria corrigido na própria entrevista. Ou depois.

Ricardo Leão, o tal dos despejos em Loures “sem dó nem piedade”, apressou-se a vir manifestar o seu êxtase com as declarações do líder. O líder tinha demorado um bocadinho nessa operação de resgate do autarca implacável, mas líder é líder. Finalmente apareceu, desagravou o Leão tão maltratado pelos extremistas defensores do Estado de direito e da decência, e anunciou que a nossa cultura é muito linda. Muito mais linda do que a Constituição!

8 thoughts on “Desagravo a Ricardo Leão”

  1. —Marcelo, com o altruísta projecto de ultrapassar Cavaco por baixo, aproveitou o reforço de peso para os “moderados” e anunciou que o Chega vai ter o Conselho de Estado que encomendou.—

    Esta frase é lapidar, mas a fazer fé no que se vai vendo ouvindo e lendo, quem vai ultrapassar todos por baixo
    e para mal do país e nosso -da maioria pelo menos- vai ser um trapaceiro traiçoeiro que teve vários processos por colegas a quem difamou, segundo disse á dias JADias.
    É caso para dizer preparem-se, ANIBAL II AD PORTAS.

  2. Resumindo: começou piano piano para acabar em explosão. Acabar com Pedro Nuno Santos. Acho que vão conseguir. O rapaz é mais manso que o esperado. O final é que duvido que seja a contento. Quer dizer, vai ser um pouco como em França. Vão matar-se uns aos outros e no final não sobra nada ou sobra pouco. Mas aí é como tudo, os irredutíveis juntam-se às franjas da esquerda e os patriotas juntam os farrapos com a IL ou PSD. Seja como for, e com o Chega por aí, o PS acabou. Pode voltar ao governo, mas como contrapeso.

  3. «Seja como for, e com o Chega por aí, o PS acabou.»

    Admiro o seu optimismo, mas o PS é uma máfia resistente: está em todo o país e enche o bolso a muito chulo e muito trafulha, tanto directamente em tachos públicos como através de cunhas e tachos privados, subsídios, concursos, contratos, adjudicações, tudo o que dá acesso ao pote.

    É como um PSD ainda mais mafioso e corrupto, o que não é fácil, e moralmente ainda mais debochado, pois o PSD é direita e é suposto a direita mamar e encher mamões; o PS diz ser ‘esquerda’ e é ainda pior. Por comparação o Chega é até mais transparente: pura trampa à cata de tacho.

  4. https://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/a-cultura-portuguesa-17836751

    No geral concordo com o texto, mas não sou tão fã do estilo como a yo: parece-me algo ‘smug’. Bem sei que na net somos todos campeões e sabemos tudo (eu incluído), mas o tal jpt, por esta amostra, deve ser um bocadinho mais do que a sua provável idade (60? 70?) e evidente inteligência recomendam. Conhecia o blog de nome, mas acho que nunca lá andei… é de direita?

  5. Alguns blogs de direita podem ser mais divertidos que os de esquerda, por razões fáceis de adivinhar – menos sermões, etc. – mas cansam-me pelo motivo também habitual: é raro, muito raro o direitista que consegue ter a noção e ver além do seu privilégio pessoal.

    Sim, alguns até estudaram e trabalharam e esforçaram-se para obter o conforto material e a cultura que lhes permite olhar de cima para isto tudo. E então? Como v. disse algures, a inteligência é genética; e se fazem parte duma minoria intelectual e material que exclui 95% das pessoas, num mundo tão merdoso, e não vêem isto como inaceitável, de que serve tanta cultura?

    Depois tendem a juntar-se num ‘circle jerk’ que junta desprezo e autocomiseração. Podemos chamar-lhe o ‘efeito portadaloja’: ó pra nós tão cultos e confortáveis a ver os pobrezinhos nas suas vidinhas inúteis, e os ingénuos / invejosos esquerdistas a querer evitar o inevitável. É sempre smug. Talvez este Delito de Opinião seja melhor que a média, pelo que já vi pode ser.

  6. Grok 2

    Que pressupostos permitem definir um conjunto de pessoas como um “povo”?
    Para definir um conjunto de pessoas como um “povo”, geralmente são considerados os seguintes pressupostos:

    Identidade Comum:
    Cultura: Compartilham tradições, costumes, festividades, folclore ou práticas culturais que os distinguem de outros grupos.
    Língua: Podem ter uma língua ou dialeto próprio que serve como um marcador de identidade.
    História Compartilhada: Experiências históricas comuns, como migrações, guerras, ou períodos de dominação e resistência.
    Território:
    Geografia: Um território específico com o qual se identificam, mesmo que não possuam um Estado soberano. Este pode ser um país, uma região ou até mesmo uma área transnacional.
    Sentimento de Pertencimento: Um senso de “terra natal” ou “terra ancestral” que une o grupo.
    Consciência de Grupo:
    Autoidentificação: Os membros do grupo se reconhecem como parte de um povo distinto.
    Reconhecimento Externo: Outros grupos ou entidades externas também reconhecem essa distinção.
    Instituições e Estruturas Sociais:
    Liderança e Organização: Podem existir lideranças tradicionais, conselhos ou outras formas de organização que mantêm a coesão do grupo.
    Leis e Normas: Normas sociais, leis consuetudinárias ou sistemas legais que regulam a vida do grupo.
    Aspirações Políticas ou Sociais:
    Autonomia ou Soberania: Desejo de algum grau de auto-governo ou reconhecimento político, que pode variar desde autonomia cultural até a independência nacional.

    É importante notar que esses pressupostos podem variar em importância dependendo do contexto específico do grupo em questão. Alguns povos podem enfatizar mais um aspecto sobre outro, e grupos sem Estado podem definir-se mais por cultura e história do que por território, por exemplo. Além disso, o conceito de “povo” é dinâmico e pode evoluir ao longo do tempo, influenciado por mudanças sociais,

    CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA
    Preâmbulo
    A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista.

    Artigo 1.º
    (República Portuguesa)
    Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.

    Artigo 2.º
    (Estado de direito democrático)
    A República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de efectivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes, visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa.

    Artigo 3.º
    (Soberania e legalidade)
    1. A soberania, una e indivisível, reside no povo, que a exerce segundo as formas previstas na Constituição.

    A Constituição, não surge de um vácuo.

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