Menos de 1% de portugueses saberá do que trata o Tratado de Lisboa. Estarei a ser optimista, pois a verdade será a de que menos de 0,1% de portugueses tem razoável noção do que está em causa neste acordo. E serão 0,01% de portugueses aqueles que poderiam discutir o texto com algum proveito intelectual para os espectadores. Finalmente, talvez apenas 0,001% de portugueses tenha conhecimento suficiente de todo o processo para dele ter uma visão completa. Sim, estou a falar de 100 pessoas.
Seria de esperar que a situação permitisse aos partidos e aos publicistas alguma promoção da cidadania. Seria de esperar se ainda esperássemos alguma coisa inteligente dos caquécticos que ocupam o espaço público. Mas eles não falham, e até há quem se esteja a queixar de não ter sido gasto vinho do Porto na celebração. A bebedeira da imbecilidade não vai conseguir entornar o facto: a presidência portuguesa esteve à altura do desafio, ou terá superado as expectativas, mostrando capacidades técnica e política irrepreensíveis. Os mesmos das mesmas inanidades seriam os mesmos de outras insanidades caso tivesse fracassado o encontro. Viriam dizer que tal insucesso provava a incapacidade de Sócrates para chefiar o Governo de Portugal, e que tudo se devia à arrogância e autoritarismo tirano do fascista do jogging.
Quando se troca o amor à bandeira pelo amor à camisola, a camisola fica a cheirar muito mal.
Demolidor, mas provavelmente verdadeiro. A olhar para dentro de mim, vejo-me nesses 99,99%, ou talvez mais. Com este tratado, estou tramado.
Se mencionas a presidência portuguesa, só podes estar a falar du grand cirque des putes bruxelloises en convention, não nos outros dois com a Espanha. E 100 é gente a mais, menino. Nesta aprovação pela porta do cavalo du fromage au chulé que os franceses deitaram pela pia abaixo, duvido que haja um número de mestres de obra de catedrais lusas do grau 32 que se aproxime de 100. Bendito Giscard que é tão habilidoso.
Daqui a uns anos o bigodinho à Hitler vai ser um autêntico blittzkrieg da moda do pintelho supralabial sem fronteiras.
Ah, e o teu adorado Sócrates! Quel garçon!
Cáustico, politicamente incorrecto mas,em termos percentuais penso,pensamos, que infelizmente não deve estar longe da verdade. Para confirmar a inoperacionalidade
dos media portugueses, eis a diferença:
http://news.bbc.co.uk/hi/spanish/international/newsid_7052000/7052255.stm
Agry
Cá na parvónia, a coisa já se chama
HET VERDRAG VAN LISSABON.
Não é por nada, mas vai ouvir-se falar muito da branca aldeia junto ao Tejo.
Pois.
A notícia de abertura é que foi aprovado o tratado de Lisboa. E que o tratado de Lisboa é histórico para a U.E.
O corpo da notícia revela as horas a que foi aprovado o histórico tratado de Lisboa assim como os pormenores de toda a logística que permitiu obter o tratado de Lisboa, o tal que é histórico.
“Porreiro pá!”
SARAU VAMPÍRICO (ou “Lá vai Lisboa…”)
A Morte,
Que não fora convidada,
Entra
Sem ser vista.
Por tal razão,
É de esperar
Que Ninguem corra
A beijar-lhe a mão
Benquista.
A Vida,
Espiando de canto escuro
Bem longe dos
Mortiços castiçais,
Quando a vê entrar,
Solta dois suspiros,
Ais de medo.
Cobarde, vai-se,
Sem alarde
E sem demoras:
Só lá ficam
Bacantes sedutoras
A lamberem
Glandes entumescidas
De vampiros ancestrais
Doutras vidas
Aos poucos,
A festa consome
Aperitivos loucos
Que vertem
De baços cristais,
E dá vivas ao pecado
De eternas existências,
Subterrâneas, nocturnais.
Sobre a mesa,
Derrramadas alegorias,
Liquefeitos nadas,
Lembram demências
De sangues bentos
Em taças vazias,
Tombadas,
Com marcas dos dedos
Cinzentos
Que assinaram nadas.
Apoteóticos sons
De explosões de rolhas
Precedem versões
De champanhes
Mornos,
Sem bolhas.
Segue a ceia,
E os vampiros
Da conspiração
Histórica do poder
Insepulto
Lá reparam, por fim,
Na Morte, no Vulto
Morto,
Que se abstem de beber
E de comer
Porque não houve porto.
Trémulos,
Exageram o medo
Da ensaiada peça,
E no enredo,
Atropelo e pressa,
Vêem, com terror,
No palito do pastel de bacalhau
A estaca,
O pau
Que transformará
Mefistófeles
Em usta Puracaca,
Princesa Maia
Do sarau.
(Senhor Pires)
Belo, Pires. Como não diz o outro, A Morte Inspira-nos.
senhor da chávena,
muito, mas muito melhor que o crocodilo do cloacário..
citando Sócrates (o nosso, claro):
porreiro, pá!
rvn
Há muito tempo que não lia uma punch line tão literal na tradução do conceito.
É mesmo uma questão de prioridades, isto das bandeiras, e eu concordo com as tuas (implícitas neste como noutros escritos).
Estiveste bem. Outra vez.