Infinitamente pior

Tirando a sua pessoa e a dos seus advogados, Sócrates não tem ninguém na praça pública que reclame a sua inocência perante as suspeitas em investigação no Ministério Público. O máximo a que se tem chegado é a manifestações de solidariedade nas visitas à prisão, em almoços, em palestras e no lançamento de livros. Essa solidariedade, por parte de alguns companheiros de partido, alguns ex-colegas de governação e de alguns populares, é algo muito diferente de uma assunção da sua defesa face aos indícios de crime. Porque para tal teriam de falar dos mesmos e conseguir relacioná-los com a pretensão de inocência, coisa que ainda nem o próprio Sócrates nem os seus advogados fizeram – seja por estratégia perante um Ministério Público criminoso e de má-fé, por estratégia tendo em vista a alta probabilidade de se ir para tribunal, ou por impossibilidade de fornecer uma explicação que seja verosímil e capaz de anular as suspeitas. Este isolamento é razoável, dado o tremendo e inaudito problema que está em causa e a gravidade do que já foi publicamente admitido pelo próprio Sócrates e pelos seus advogados. Os poucos que aparecem a denunciar os abusos no processo e as violações do Estado de direito não o fazem necessariamente, nem aparentemente, por qualquer deferência ou estima para com o arguido, antes pelos estritos valores que moldam a sua consciência e animam a sua coragem.

Contudo, Sócrates está constantemente, obsessivamente, sistematicamente a ser usado em parangonas, notícias, opiniões, bocas despejadas na comunicação profissional desde 2004 até hoje, e assim continuará enquanto estiver nas mãos da Justiça. A unir esta mole, este caudal orgíaco, encontra-se uma pulsão rejubilosa pelo estado de desgraça em que se encontra um adversário político formidável à mistura com a satisfação pelos extensos e corrosivos danos que atingem o PS e a sua actual elite directiva de cada vez que se lança mais uma “notícia” ou “opinião” a pintar Sócrates como criminoso. Mesmo que não apareçam mais nomes socialistas envoltos em suspeitas de corrupção ou de qualquer ilícito, a contaminação pela proximidade passada com um Sócrates que eventualmente seja condenado em tribunal poderá acabar com várias carreiras políticas e abalar de forma imprevisível o partido. Por isso, o que se passa com o Sócrates-arguido tem dimensão histórica para além da novidade de termos um ex-primeiro-ministro nesta escabrosa situação, acabando por revelar o estertor de uma direita decadente que não tem outro projecto para além da calúnia, da baixa política e das golpadas. Não o largam porque nada mais têm a que se agarrar, como se vê na inépcia total para lidar com Costa e com uma esquerda que está a aprender a abandonar – com sorte, a abominar – o sectarismo.

Entretanto, os materiais que o Ministério Público captou relativos à privacidade dos suspeitos e de terceiros das suas relações, apanhados em escutas ou noutras formas de obter essas informações, têm sido utilizados na luta política e no sensacionalismo comercial. Nunca tal aconteceu com políticos de direita, mas está a acontecer à descarada desde 2009 com políticos do PS, num crescendo de violência que expõe uma falência absoluta do Estado de direito e da decência sem a qual não faz sentido dizer que vivemos em comunidade. As suspeitas acerca dos ilícitos de Sócrates são gravíssimas e, a serem provadas, têm consequências no regime e no sistema partidário neste momento inimagináveis. Mas que não haja a mínima hesitação, seres livres do meu país: este deboche imparável e inimputável em que os poderes policiais e judiciais do Estado são utilizados para assassinatos de carácter e para ataques políticos é infinitamente pior do que os supostos crimes em investigação na Operação Marquês.

60 thoughts on “Infinitamente pior”

  1. Absolutamente ! A corrupção do Estado de Direito transformou-se num assunto a evitar. Talvez porque ninguém consegue imaginar como iriam os seus agentes fazer justiça em causa própria.

  2. “extensos e corrosivos danos que atingem o PS e a sua actual elite directiva”
    A julgar pelas sondagens os eleitores já não associam Sócrates ao PS. A estratégia de quarentena de Costa está a resultar.

  3. Bem, assim de repente recordo-me de já ter ouvido o Ministro do Ambiente da época explicar na TV porque é que as alegações relativas à alegada influencia de JS na alteração do Protal-Algarve eram imbecis…

    Recordo tb ter ouvido declarações do Presidente da CGD à época dizendo que não recebera quaisquer indicações para votar contra a OPA da Sonae…

    Recordo ainda declarações do então responsável pela Parque escolar esclarecer que o governo nunca tivera qq influencia nos concursos públicos que promoveu.

    Portanto, não me parece que o homem esteja assim tão isolado como referes. Além disso, convirás que não é fácil rebater acusações cujo exacto contorno continua sem ser conhecido, não é ?

  4. Valupi,

    Subscrevo as tuas conclusões. Mas o teu texto parece-me poder ser interpretado como assente numa premissa errada, e como tal pode ser mal interpretado. Convinha que esclarecesses que, no tal Estado de Direito que formalmente ainda somos, cabe a quem acusa provar a culpa; não é o arguido que tem de provar a sua inocência. E isso faz uma enorme diferença.

  5. MRocha, isso foi feito por algumas pessoas como explicação de certos processo executivos relacionados com os Governos de Sócrates, mas tal não equivale a explicar por que razão Sócrates se financiava secretamente, mesmo que sob a forma de “empréstimos”, com alguém cujo dinheiro também tinha origem em negócios com o Estado. É isto que leva à suspeita de corrupção e dá azo à devassa que estamos a ver.

    Sobre este ponto, nem sequer Sócrates ainda disse algo que permita perceber os critérios do seu comportamento. Apenas se justificou remetendo para a longa relação de amizade com Santos Silva – só que não é isso que importa saber, se eram muito ou pouco amigos, antes a necessidade de se ter enfiado de cabeça dentro desta óbvia situação suspeita.
    __

    JRodrigues, não se trata de a sua inocência estar anulada, sequer diminuída, para mim. Não o está, precisamente porque essa é a essência do Estado de direito, cada cidadão ter direito a um julgamento justo havendo uma acusação legítima. Do que se trata é da questão moral, e moralmente política, de termos um primeiro-ministro que achou que podia ter um comportamento de risco – no mínimo, e assumindo que seja só isso – cujas consequências não só são devastadoras para si e para a sua família e amigos como igualmente afectam o PS e o regime dada a gravidade das suspeitas e do que elas podem provocar calhando serem provadas.

  6. Claro, Valupi, a direita não larga o “osso Sócrates” desde antes da sua primeira eleição….!
    O seu texto explica tudo isso muito bem….. Mas a frase final resume o “desastre” em que Portugal está metido, i.e., a principal instituição democrática de um Estado de direito – a Justiça, na sua dimensão acusatória, M.P. e na sua dimensão julgadora – está dominada por uma MÁFIA que ninguém sabe como intervir para lhe devolver o seu ideal!…. E todos sabemos que a causa dessa perversidade e abuso é a “corporação justiça” ter passado” intocada” desde o 25 de Abril!

  7. Afundam-se no lodo da ignomínia ao pretenderem agora convencer os acéfalos e os incautos que o homem “era consumidor de coca”. Depois da pretensa homosexualidade (entretanto desmentida pelos próprios caluniadores que agora o reclamam de perigoso sedutor de senhoras), agora pasme-se ao nível a que isto chega … é um drogado !
    O Ministério Público está transformado num bordel.
    Sócrates é caluniado por gentinha do nível da que frequenta as tabernas.
    Por isso já tem garantida a imortalidade, e nunca vai estar só.

  8. Nesta altura da corrida, só resta esperar mais 2 ou 3 meses para se saber qual
    a acusação que, o M. Público após tantos anos de investigações, e se a mesma
    é acompanhada das provas reais que a sustentem … só convicções ou julgamen-
    tos morais não abonarão a PGR! Como fica o caso do juíz que se serviu do dinheiro
    de um procurador amigo com origens duvidosas de Angola??? Onde está a ética???

  9. Jasmim, como de costume pior era impossível.

    _____

    Valupi, de quem falas? «Os poucos que aparecem a denunciar os abusos no processo e as violações do Estado de direito não o fazem necessariamente, nem aparentemente, por qualquer deferência ou estima para com o arguido, antes pelos estritos valores que moldam a sua consciência e animam a sua coragem.», pois eu só me lembro assim de repente de uma série de advogados (gente dos negócios com formação em direito, se quiseres) que tu idolatras às vezes e que têm bastante que ver com o passado e presente do ex-PM; idem, deputadas/os mais ou menos frenéticos que viram a luz do sol durante o curto período em que o ex-PM dirigiu o PS; ibidem, uns cromos anónimos (tu, ele e ela e o que sobra dos mais alucinados da troupe do Aspirina B), autarcas e ex-autarcas mais ou menos recomendáveis, chefes de gabinete, adjuntos e assessores durante os governos PS (que como eu tenho dito parece que andam pelo Twitter a agradecer o primeiro emprego, eternamente). E e e e… quem sobra, afinal?

    Nota, com um desenho à borla. Sobra quase ninguém: para além de outras razões a estupefacção tomou conta dos restantes, é uma resposta possível.

  10. um bocado forçado , essa história da coca. escandalizar à toa. não gostei nada , diga-se.

    quanto ao resto , espero que consiga dar cabo da carreira do galamba , sim . fogo , o gajo/a é um chato/a , uma benzoca histérica , com a mania que é gira/o ( gire?) . nem sei que faz no ps , o be assenta-lhe que nem uma luva.

  11. Parece que o Valupi ainda não compreendeu que o processo contra Sócrates é uma peça decisiva para a tomada e consolidação do poder por António Costa no PS. Com Sócrates acossado pelo MP, por Carlos Alexandre, pela Cofina, por J. Miguel Tavares (sim, esse mesmo de cujos filhos o PM se prestou a ser ama no Palácio de São Bento), pela direita em geral e por algumas franjas do próprio PS, António Costa exibe tranquilamente a sua majestade no salões do reino sem ninguém dentro (e fora) do PS que o possa ameaçar ou sequer incomodar.
    Por isso (também) o processo contra Sócrates dura há tanto tempo e há de durar ainda mais. Todos os seus promotores e alimentadores sabem que têm as costas quentes.

  12. As suspeitas só tem sentido se se engolir com chumbada e tudo a tese da acusação. De resto a unica cousa que interessa num estado de direito e garantir um processo justo e decente, o moralismo e outras cena so servem para desculpar a vergonhosa demissão de Costa e do PS mais a pidesca perseguição do MP. O PS não precisa de se envolver mas tem que defender o estado de direito e um processo justo seja para Socrates seja para qualquer outro cidadão. A paranoia em nome da moral é a inversão das garantias do estado de direito.

  13. «Do que se trata é da questão moral, e moralmente política, de termos um primeiro-ministro que achou que podia ter um comportamento de risco – no mínimo, e assumindo que seja só isso – cujas consequências não só são devastadoras para si e para a sua família e amigos como igualmente afectam o PS e o regime dada a gravidade das suspeitas e do que elas podem provocar calhando serem provadas.»

    Porquê para Sócrates pedir dinheiro a um amigo é ter um comportamento de risco cujas consequências são devastadoras para si e para sua família e não só pois são também para PS e o regime? E para o juiz Alexandre, como lembra J. Madeira, que pediu dinheiro emprestado a um amigo de ocasião oportunisticamente, para mais, de quem já desconfiava dada a fartura ostensiva que ostentava e, para tal juiz, não tem qualquer consequência quer para si quer para a justiça nem tampouco para o MP?
    E pior, nem sequer uma suspeita, uma insinuaçãozinha de suspeita, face ao facto do mesmo “meretíssimo” juiz ser o mesmo, ele próprio, o dito cujo que aprovou ao amigo de ocasião o fecho do processo contra o corruptor e que depois se verificou, constatou e provou a verdade de tal amigo ter sido corrompido, que o dinheiro emprestado era fruto de corrupção e da leviandade de um juiz ordenar encerrar um processo por sentimento e sem investigação séria.
    Pois é nesta diferença de tratamento desigual praticado por quem tem o dever de aplicar as leis e a justiça de igual modo para casos de modo igual que se pode dizer que Sócrates teve um “comportamento de risco” onde à partida não há nem devia haver qualquer risco e, a moral e os costumes não são lei nem condenam num Estado de Direito.
    Este caso paralelo mas de consequências diferentes para além da prisão sob “fortes provas”, “indícios irrefutáveis” ou “provas evidentes” de corrupção em quase todas as partes do mundo e que por fim parece terem ido parar à casa do “amigo” Salgado, amizade que se desconhecia enquanto Salgado foi ddt e, como era sabido, especialmente ddt de cavaco, barroso e tuti quanti gente grada do laranjal, estes e outro casos-truques que se foram desfazendo e refazendo à medida do tempo e por medida do “processo” é que são prova provada da perseguição vingativa de um MP manobrado pela velha justiça do botas.
    O resto são o negócio sujo dos jornais e dos jornalistas vendidos aos interesses dos media.

  14. Valupi, está lúcida a tua análise, sistematização (quase) impecável, como (quase) sempre, vais de A a Z (quase) sem esquecer o resto do abecedário. Mas o abecedário tem vinte e muitas letras, caro amigo, e a porra está nas duas ou três em que por vezes encalhas. Chamo-lhe ‘porra’ sem intenção de abastardar a linguagem, mas apenas porque evito o conceito de Diabo (pai de todos os pormenores), desvirtuado que foi pelo pai de todos os aldrabões, o desgraçadamente célebre pavão de Massamá.

    E que letrinhas são essas? Basicamente, as consoantes ‘J’, ‘C’ e ‘M’. Eu ospilico, para contestar algumas (aparentes) crenças tuas que já aqui vi plasmadas várias vezes, cujas serão, mais à frente, convenientemente copypastadas:

    ‘J’ de justiça
    ‘C’ de cobardia
    ‘M’ de merda e de máfia

    São consoantezinhas que andam há demasiado tempo lamentavelmente amancebadas, diria mesmo bacanalizadas, e para tão infausto bacanal não vislumbro fim a breve prazo. Mas dizes tu:

    “cada cidadão ter direito a um julgamento justo havendo uma acusação legítima” [em resposta ao JRodrigues]
    — A possibilidade de José Sócrates ter um julgamento justo é igual à de alguma vez eu vir a acreditar que a Virgem de Fátima inventou o parapente em 1917 e se entretinha a fazer rapadas a oliveiras raquíticas, para maravilhação de pastorinhos e susto de borreguinhos.
    — O benefício da dúvida sobre a possibilidade de uma “acusação legítima” é igualmente do domínio da fé, o que mais uma vez nos remete para a criatura esvoaçante de Fátima.
    — O chamado ‘Caso Casa Pia’ (prefiro chamar-lhe ‘coisa da pia’) deveria chegar para te tirar todas as ilusões sobre julgamentos justos, mas receio que não seja esse o caso. Excepto o pederasta cobardola que via uma coutada nas crianças que lhe competia proteger e protagonizou a treta da pia desde o início, ninguém conseguiu ainda desconvencer-me de que quase todos os condenados o foram apenas em função da cobardia de um tribunal borrado de medo com a elevadíssima probabilidade de um futuro de perseguições pessoais, calúnias e desgraças várias, se os seus ilustres membros tivessem a coragem de optar pela conclusão de que aquela merda não tinha ponta por onde se lhe pegasse e dessem como não provadas as acusações a quase todos os réus. Eles sabiam bem que o correio da manha e afins nunca mais os deixariam em paz e não tiveram tomates nem ovários para arriscar futuro tão desconfortável, com atribulações a perder de vista e um quase certo fim antecipado de carreira.

    “a gravidade do que já foi publicamente admitido pelo próprio Sócrates e pelos seus advogados”
    — Que porra de gravidade é essa? Se o homem tinha arranjado um emprego que perspectivava gordos e belíssimos rendimentos futuros, ainda por cima legítimos e legais, que lhe possibilitariam, folgadamente, deliciosos confortos e extravagâncias, qual o problema de antecipar um pouco tais garantidas delícias com adiantamentos de um amigo a quem tal ‘generosidade’, e disponibilidade, não prejudicava peva? É que, ao contrário de ti, nem sequer vejo aí qualquer problema moral. Quando muito, haverá doses porventura ingénuas de voluntarismo e optimismo. Será isso imoral? Se o próprio Sócrates afirmou em entrevista televisiva, referindo-se à sua vida em Paris, que “não sabia que havia vidas tão boas”, onde tu pareces ver imoralidade eu não consigo ver mais do que ingenuidade… e demasiada fé na boa-fé de terceiros, que espumaram fel por todos os poros com a verificação de que o alvo de todos os seus ódios não só teimava em continuar vivo como, ainda por cima, confessava ter uma “vida boa”.

    No princípio dos anos 70 do século passado, o maluco do Joaquim Camacho e alguns dos seus amigos e amigas (tão ou mais malucos do que ele) pretendiam aproveitar as férias de Verão para passear pela Europa. Uns iam de avião ou comboio, outros à boleia (eu e mais uma), havia quem tivesse como destino o Reino Unido, quem preferisse França e Itália, quem pretendesse cavalgar a Europa toda e chegar à Suécia de dedo esticado, como foi o meu caso. Ora acontecia que a vontade de passear era para todos igual, mas a disponibilidade financeira sofria de diversidade desconfortável. Lembro-me de dois irmãos que tinham um pouco mais de sete contos cada, eu tinha à volta de cinco, outros tinham ainda menos e havia pelo menos um que não tinha nada. O que fizeram esses amigos, já que de amigos se tratava? Juntaram o pecúlio de todos no mesmo saco, dividiram pelo número de amigos e cada um saiu do país exactamente com a mesma verba, incluindo o que à partida não tinha um tostão furado. Lembro-me de que a média foi à volta de quatro contos cada, o que significa que eu fiquei com menos um, mas houve dois que ficaram com pouco mais de metade do que tinham inicialmente, já que baixaram de sete para quatro.

    Claro que, para “as regras da experiência comum e a normalidade do acontecer” de autoproclamados saloios ridiculamente gongóricos, a existência de tal género de amigos é uma impossibilidade ‘científica’, qual manada de unicórnios, mas todos sabemos o que valiam as certezas de iluminados que punham a Terra no centro do Universo e grelhavam sem dúvidas nem hesitações quem se atrevia a pensar e dizer o contrário.

    Sem o conforto da fé e com a barriga cheia de dúvidas e perplexidades científicas, uma certeza, unicórnio entre unicórnios, tenho: quero que tais saloios se fodam.

  15. é estranho e desconfortável, muito, pensar nessa espécie de terrorismo ideológico, intelectual e psicológico no – e ao – estado de direito. um assédio moral à escala colectiva assusta.

  16. Filotemis, no que à originalidade diz respeito estás algures entre a argumentação básica da Jasmim e o complexo caminho do tilt que atingiu em cheio a moleirinha do Joaquim Camacho (vi de raspão que consegue elogiar na entrada a lucidez do Valupi, o que perante tanta perturbação literária é apesar de tudo de registar). Sobre os restantes não li (José Neves, certo?), confesso que por falta de paciência.

  17. «Porque para tal teriam de falar dos mesmos e conseguir relacioná-los com a pretensão de inocência, coisa que ainda nem o próprio Sócrates nem os seus advogados fizeram – seja por estratégia perante um Ministério Público criminoso e de má-fé, por estratégia tendo em vista a alta probabilidade de se ir para tribunal, ou por impossibilidade de fornecer uma explicação que seja verosímil e capaz de anular as suspeitas.», ontem ainda pensei comentar este naco de prosa Valupi. Constituindo um avanço (como diz a gramática do PCP) a admissão dessa «impossibilidade» na primeira pessoa, de facto, interessar-me-ia também que tivesses analisado em tempo oportuno a errónea estratégia dos defensores do arguido José Sócrates. Assim se o fazes agora, a posteriori, surge aqui uma distorção grave sobre o papel activo dos advogados ao não incluíres o facto mensurável de se contarem em mais de meia-centena (perdi-lhes a conta, confesso…) os recursos apresentados pela firma Araújo, Delille & Companhia que, na sua totalidade!*, foram recusados nos tribunais superiores. Ora, pelo menos para mim, essa imperícia digamos assim vai exactamente no sentido contrário da… razoabilidade.

    * Nota: a excepção é um famoso Acórdão Rangeliano que pelo menos em parte abriu o processo aos advogados de defesa (e à devassa jornalística), nomeadamente.

  18. Valupi, pessoalmente não sinto qualquer necessidade de conhecer os precisos contornos da relação pecuniária entre JS e SS. Basta-me saber se há nela prova de corrupção ou não. E, não havendo, o meu estado de espírito relativamente à conduta de JS é um assunto que reservo para a privacidade da mesa de voto se um dia ele voltar a candidatar-se a alguma coisa.
    Na verdade, todos nós fazemos coisas das quais não nos orgulhamos especialmente, não querendo com isso dizer que sejam comportamentos que se possam tipificar como criminosos. Se eu ontem fui para a cama com a mulher do meu melhor amigo, é natural que não me convenha tornar público o que andei a fazer ontem à noite. Mas isso é um assunto que me diz respeito a mim, ao meu amigo e à mulher dele.
    No caso concreto, não me é difícil imaginar que se eu tivesse um amigo com a carteira de contactos de JS, a minha”generosidade” iria sentir-se “estimulada”. E também não me é difícil imaginar que, no lugar de JS, poderia sentir que tal “generosidade” não era favor nenhum. Tudo isto supondo que ao tempo dos factos JS não exercesse funções públicas, bem entendido. No lugar de JS estaria confortável para tornar publica esta situação? Possivelmente não . Mas por que raios teria de o fazer ??

  19. Totalmente de acordo como Valupi em relação à gravidade das devassas no Estado de Direito Democrático. E em relação a Sócrates, mais em particular, eu diria que até considero saudável que nenhum dirigente do país se tente imiscuir no processo judicial. Total independência. Já em relação às múltiplas arbitrariedades do mesmo processo só me ocorre uma palavra: Covardes!

  20. pois olhem ,no subtexto do Joaquim Camacho o que sobresai é o chico espertismo . eu se fosse ao zézito dispensava defensores assim.

  21. yo: mesmo nos tempos da grandiloquência Valupiana se notava essa alucinação quase colectiva no Aspirina B, ou no CC e noutros lugares do estilo (que passaram a ser alimentadas pelas idiossincrasias do João Araújo depois, e até à debandada quase geral) pelo que isso que caracterizas como o «espertismo» e algumas tiradas “filosóficas” saídas do bolso onde se esconde a navalha são, na verdade, parte substancial e um sinal dos tempos dos restos de colecção (e que bastante mal fizeram e que continuam a fazer à causa do ex-PM, em minha opinião).

  22. «Do que se trata é da questão moral, e moralmente política, de termos um primeiro-ministro que achou que podia ter um comportamento de risco – no mínimo, e assumindo que seja só isso – …»

    Valupi,

    Mas então o homem ainda era PM quando os tais “comportamentos de risco” foram assinalados ?! Não sabia que isso já estava determinado., e pensava que toda essa “matéria” reportava a período posterior. Não queres fazer o favor de me dar detalhes ? Obrigado.

  23. O burro que passa os dias a pavonear a miserável peida num antro de gente cujas opiniões detesta quer fazer crer que para tais opiniões não olha sequer, por falta de tempo e paciência. Foda-se, que ainda não conheci um burro que não acreditasse piamente na sua excelsa luminarice e na irredimível burrice do resto do planeta! Aspirinodependente de merda, ora chuta lá mais esta prà veia, com sorte (nossa) ainda apanhas uma overdose e borras-te todo em peido final!

  24. Continuamos, 3 anos depois, a repetir as mesma conversas. Sinal de que o processo, apesar da devassa sistemática, continua num ponto de fragilidade (só aparente?) quanto à constituição da prova. O que existe, e isso tendo sido reconhecido por Sócrates e pelos seus advogados, é um padrão de comportamento que torna legítima a investigação judicial.

    A questão da inocência de Sócrates, no plano judicial, é algo que poderá ficar definido não havendo acusação e sendo arquivado o processo. Ou, havendo acusação, através das decisões nos tribunais onde tal seja julgada. Questão arrumada, temos de esperar.

    Já a questão moral, essa é independente do desfecho da questão judicial. Porque não estamos a falar de um cidadão comum a ser suspeito de ilícitos comuns. Este caso é excepcional, inaudito, e gravíssimo, por envolver um ex-primeiro-ministro, ex-secretário-geral do PS, ex-ministro de Guterres, e por se suspeitar de corrupção. Logo, e como se vê diariamente, as consequências políticas e sociais de termos uma pessoa nessas circunstâncias a dar azo a que seja constituída arguida são avassaladoras.

    Marcelo, enquanto fazia a sua campanha eleitoral nos sermões dominicais, disse várias vezes que Sócrates tinha perdido a maioria absoluta em 2009 por causa do Freeport. Ora, o Freeport é uma brincadeira de meninos quando comparado com o que tem acontecido na comunicação social desde que foi detido e preso. Começa logo com a encenação mediática da sua detenção e da entrega aos jornais amigos de material para logo no dia seguinte o dar como criminoso sem possibilidade de escapatória. Nesta lógica, podemos igualmente considerar que o PSD de Passos não teria ficado à frente do PS em 2015 não fora, exactamente um ano antes, se ter metido Sócrates na gaiola. Mas a extensão dos danos é tremenda pois se andou a espiar todos os contactos de Sócrates durante não se sabe ao certo quanto tempo, pelo que uma parte substancial e crucial do PS terá sido apanhada em conversas disto e daquilo. A exposição dessa privacidade faz parte da campanha negra que tenta abater, no mínimo condicionar e enfraquecer, alguns dos melhores recursos humanos do PS.

    Sócrates, dados os cargos que exerceu na República, ficou para todo o sempre com o seu nome associado ao prestígio que outorgamos às instituições da nossa democracia. Mesmo no caso em que não haja nenhum ilícito na origem do dinheiro usado por Sócrates a partir de contas de Santos Silva, os ditos empréstimos ou que fossem ofertas, ainda assim a sua conduta seria moralmente censurável porque ele não podia ignorar quais seriam as consequências dos seus actos. E mais: Sócrates não podia ignorar que era inevitável vir a ser apanhado posto que ele estava cercado de inimigos, inimigos que já o tinham espiado no Face Oculta.

    Sócrates foi o terror da direita por causa do seu talento governativo e do seu carisma. Sem a crise internacional em 2008, sem a campanha negra do Freeport, sem a reacção corporativa dos professores e o apoio que deu a Lurdes Rodrigues para enfrentar essa cambada de incompetentes, a maioria de 2009 não só estaria garantida como talvez até fosse maior. Era esse o terror da direita perante alguém que tinha conseguido a 1ª maioria absoluta para o PS, algo que nem Soares nem Guterres tinham conseguido, vindo praticamente do nada (era apenas um socialista aguerrido, e até algo antipático por causa da energia que libertava dos debates). Sócrates poderia ter continuado com uma carreira na política e chegar a Presidente da República, mas para tal não poderia meter-se numa história, por agora, muito mal contada acerca de dinheiros de um amigo e de não confiar em bancos. Isto não é de estadista, por um lado, e isto é uma deslealdade para tantos que deram o corpo às balas durante anos na defesa do seu nome e honra, por outro.

  25. Jasmim, Valupi, José Neves, Filotemis e yo entre os presentes, de memória. Ó Joaquim Camacho, repetindo-me: a tua sombra surgiu-me numa resposta ao Filotemis naquilo que me parecia ser um «complexo caminho do tilt que atingiu em cheio a moleirinha do Joaquim Camacho» e que esse facto, por si só, me parecia ter sido capaz de produzir em ti uma evidente «perturbação literária». Não te li e de passagem disse-o (agora ficou a saber-se que, perante tanta sinceridade, pode ser ingrata para uma cabecinha mais frágil como a tua mas não stresses… é porque não gosto de perder tempo!) e, apesar disso dizia, tenho agora a certeza e deverias agradecer-me porque não me enganei perante alguns sinais patológicos de desamor, solidão e ira entretanto evidenciados pela tua última incontinência.

    Nota, uma pergunta. E essas tais de opiniões vindas de ti, é para a malta rir?

  26. «… e isto é uma deslealdade para tantos que deram o corpo às balas durante anos na defesa do seu nome e honra…»

    Valupi,

    Entendo e subscrevo o teu desapontamento. Já fui encornado as vezes bastantes para saber o que isso custa. Mas tb sei que nesses processos são raras as vezes em que não há uma apreciável quota parte de culpas próprias no processo, nomeadamente quando se transferem para o outro expectativas de santidade, honestidade ou heroismo claramente exageradas. Ora é bem possível que este seja mais um desses casos. Já aqui manifestei a minha perplexidade perante o paradoxo de pessoas que se sabem imperfeitas exigirem dos outros a perfeição. Não penso se que deva desistir do propósito. Mas ele só faz sentido enquanto utopia. Entretanto, penso que insistir no absurdo que essa utopia já é possivel, é uma receita certa para estilhaçar a democracia, pois de cada vez que se constactar o óbvio , iremos reagir como o faz qualquer corno que se preze: nunca mais quer saber dela.

  27. JRodrigues, tens manifesta dificuldade em colocar a questão no seu âmbito – o político, e não o pessoal. Daí nada conseguires argumentar e partires para o vazio.

    Quem, a não ser tu e outros como tu, está a falar da perfeição? Qual perfeição, a que raio isso se refere? Do que se fala é de um ex-primeiro-ministro que, por razões lícitas e óbvias, foi constituído arguido. Isto é, caso ainda não tenhas percebido: pela primeira vez em Portugal, um ex-primeiro-ministro é suspeito de corrupção por razões que o próprio já confirmou corresponderem à realidade. Qual realidade? A da suspeita, o facto de a suspeita se justificar.

    Imaginemos que Sócrates, ao ser constituído arguido, tinha ficado sujeito apenas ao termo de identidade e residência como medida de coação; portanto, não tendo sido preso. Imaginemos que na comunicação social não apareciam quaisquer referências ao processo e à sua situação; portanto, que a investigação decorria num sigilo exemplar. Mesmo nesse caso, ele tinha sido desleal pois, pela sua exclusiva responsabilidade, tinha-se posto numa situação onde era obrigatório vir a ser investigado. E esse é o dano moral, o facto de Sócrates não ter evitado que algo como isto lhe acontecesse.

    Se Sócrates é alguém que adora o luxo, como o retrato calunioso que lhe fizeram assegura, isso é para mim completamente indiferente. Tal como seria a sua religião ou falta dela, a sua orientação sexual, a sua moral privada fosse lá qual fosse o assunto do seu foro privado. Mas esta situação em que ele considerou vantajoso usar dinheiro que poderia suscitar suspeitas de crime, e com isso despertar a furiosa avalanche de calúnias e devassas contra si, contra o PS e contra terceiros, isso não revela um líder preocupado com a cidade. Isso, no plano em que a moral é política, é uma deslealdade para tantos que esperavam dele exemplaridade cívica.

  28. Parece que Valupi está a querer dar elevada nota de moral e ética ao M.Público!
    Quanto muito, José Sócrates não devia ter acreditado no adágio popular”de
    quem não deve não teme” pois, estava avisado pelos pasquins e não só, que tinha
    grandes e poderosos inimigos desde que avançou para a liderança do PS!
    Como se pode apreciar juízes e procuradores estão feitos uns com os outros e,
    muitos limitaram-se a assinar de cruz sobre tão graves e fortes indícios que, le-
    varam para a prisão um ex Primeiro Ministro por razões de corporativismo e não
    menos importante ambição de subir na vida … fazendo de Pilatos!!!

  29. «…é uma deslealdade para tantos que esperavam dele exemplaridade cívica.»

    Oh Valupi,

    Deste uma volta do caralho para ir bater no mesmo ponto: para ti um politico não tem de ser apenas um bom gestor da coisa publica; tu achas mesmo que os políticos têm de ser “exemplares”. O que é isso, exactamente ? Ora, como está visto, pode ser imensas coisas, dependendo do ponto de vista de “achante”: pode ser não se deixar “chupar” pela Mónica, não pedir empréstimos a amigos, não investir em acções da SLN, não levar no cu, não ir ver a bola à boleia da GALP, não fumar charros, não encornar a Diana, não receber ofertas de robalos , não ir trabalhar para a Motta-Engil, para a Lone-Star, ou o cacete!!!

    No teu caso, tu partes duma concepção idilica da politica para chegar a um perfil ideal do politico que permitiria realizar a tua utopia. Bem, quando se tem dezoito anos é normal que se pense assim; mas qd se chega aos cinquenta a pensar da mesma forma, isso devia fazer soar umas quantas campainhas de alarme.

    O que está a acontecer a Sócrates só é “original” pq o MP cá da paróquia assim decidiu, e eles lá saberão pq! Tivessem apontado a outro alvo qualquer e não faltariam milhares de escutas e de calhamaços de suposições em cascata para engrossar um processo tão “ressonante” que o alvo fica sempre fodido, seja qual for o desfecho “legal” do processo. Ora, quando se chega a este estado de coisas, seria importante tentar perceber se o problema está nos politicos ou em que os elege esperando deles o que manifestamente não têm ( nem têm de ter ) para dar.

  30. JRodrigues, o tal “mesmo ponto” corresponde a dois pontos, o teu e o meu. Não são o mesmo.

    O teu é a tal mistela de “santidade, honestidade ou heroismo” que foste buscar porque não queres discutir a situação em que Sócrates se encontra. Por isso, partes para uma ilha onde há um outro “Valupi” com quem queres discutir. Esse tal da ilha, quiçá, pode ter sugerido algo onde a tua crítica faça sentido. Nesta caixa, correspondendo ao texto acima ou outro qualquer que tenha publicado, apenas consegues mostrar que pretendes alucinar e despachar teorias da conspiração.

    Perguntas o que é a exemplaridade cívica. Ora aí está uma bela conversa, inclusive para ter nas escolas logo a partir do ensino básico. Pois ela corresponde à prudência, à integridade e à justiça no plano da representação do Estado. Tu mostras não conseguir pensar no que seja isso de haver um estatuto diferente para os cidadãos que representem o Estado, e tão mais rigoroso quão mais alta for a posição na hierarquia do regime. Mas a lógica que nos faz escolher representantes políticos para usufruírem do poder soberano não é outra senão a da exemplaridade. Precisamente porque o que está em causa nessas funções não é a procura do proveito próprio mas a trato do que é público, o interesse de todos.

    Como é óbvio, calhando ser um tipo qualquer da direita a estar na mesma situação de Sócrates, tu não perderias a ocasião de malhar nesse infeliz sem dó nem piedade. É assim, é o tribalismo.

  31. Pelo comentário acima e por outras anteriores intervenções do género, quer-me cá parecer que o yo tem um “fraquinho”, assim como que a abanar o rabo, pelo Galamba. Declare-se homem, não seja tímido, saia do armário!

  32. «Como é óbvio, calhando ser um tipo qualquer da direita a estar na mesma situação de Sócrates, tu não perderias a ocasião de malhar nesse infeliz sem dó nem piedade. É assim, é o tribalismo.»

    Não sei como saltaste para essa conclusão, Valupi, se até meti no rol da “exemplaridade
    civica” exemplos que abarcam todo o espectro politico.

    «Tu mostras não conseguir pensar no que seja isso de haver um estatuto diferente para os cidadãos que representem o Estado, e tão mais rigoroso quão mais alta for a posição na hierarquia do regime»

    Certo ! Não consigo exigir a quem me governa aquilo que não consigo cumprir. Nem exijo a quem “governo” o que não alcanço. Será um defeito, mas é assim.

    «Mas a lógica que nos faz escolher representantes políticos para usufruírem do poder soberano não é outra senão a da exemplaridade.»

    Assim será ! E daí ter questionado se não estará nessa manifesta hipocrisia crónica boa parte do problema. Claro que podemos sempre recusar essa discussão, procurar refúgio em ideais oníricos e continuar a bater com os cornos nas fragas até que que as galinhas criem dentes.

    Abraço, boa continuação, e que nunca te doam as teclas !

  33. cruz , credo , amaricados ? se fosse gay gostava de homens género masculino , que são já os que eu gosto :) assim tipo sean 007 , também marchava o volverine Hugh Jackman , o novo Peck . jasus , ou aquele da candice renoir , o Stéphane Blancafort .

  34. Queriam ser governados por um SANTO ! certamente para o poderem pregar na cruz.
    Assim, como o homem não é santo …pregam-no na mesma !
    Pra pqp a falsa moral de um país de corruptos, difamadores, medíocres e invejosos.
    Sejam governados por sapos reles e ordinários, óptimos a chapinhar no pântano, e sintam-se muito felizes !
    O homem vai ser imortal. Foram vocês que o fizeram assim querendo o exacto contrário.

    E tu, Eric, … Argumentação básica é o raio que te acerta mesmo no meio da caixa dos pirolitos onde julgas que tens um neurônio.

  35. Sr. Valupi: Será que o sr. já sabe que José Sócrates vai ser condenado e ,de um modo muito camarada e muito socialista, vai conduzindo o homem para o lugar exacto do Cordeiro Pascal ? Não chegue à demasia bíblica de o negar três vezes! Note que ninguém esperava de si o comportamento de um Alcibíades.

  36. O Eric lá em cima tem uma certa razão. Sobram poucos. Sobram poucos para se escandalizar com esfrangalhamento do Estado de Direito no caso Sócrates. Sobram poucos com os olhos abertos para a captura da justiça e da política brasileira pelo messianismo evangélico-fascista. Sobram poucos para gritar o desastre da campanha russófoba,e suas filhotas organizações terroristas, com que o Ocidente vive desde a queda do muro de Berlim. Sobram poucos para se incomodar com a grotesca manipulação com que diariamente as CNNs e NYTs tentam conspurcar os resultados da democracia. Por exemplo. Sim, vivemos tempos sombrios. Não fosse encontrar de vez em quando malhas como as do Camacho, do Neves, do Rodrigues e do Valupi (apagando aquele parágrafo púdico que ele teima em repetir), corriamos o risco de ver a esperança apagar-se de todo.

  37. “… os ditos empréstimos ou que fossem ofertas, ainda assim a sua conduta seria moralmente censurável porque ele não podia ignorar quais seriam as consequências dos seus actos.”

    “Mas esta situação em que ele considerou vantajoso usar dinheiro que poderia suscitar suspeitas de crime, e com isso despertar a furiosa avalanche de calúnias e devassas contra si, …”

    As citações acima como a maior parte da retórica moral ou acerca da falta de prudência integridade e justiça no plano da representação do Estado não são mais do que o assumir a tese do Adão, da Clara, do Pacheco, do Daniel dos Tavares e todos os fedorentos deste país resumida no célebre pensamento acusador do “ele pôs-se a jeito” com que fundamentam a culpa provada de Sócrates.
    Mas a questão é qual o mistério porque Passos (Tecnoforma, fuga pagamento segurança social), Cavaco (BPN, intentona escutas, casa da coelha), Barroso e Portas (Portucale, submarinos) , sendo casos flagrantes de estados do pôr-se a jeito de corrupção nunca, nem comentarista, jornalista, politólogo ou opinador dos media se agarrou a tal fundamento como justificação de devassa moral ou política nem, nenhum magistrado ou mesmo o MP foram farejar o quer que fosse para recolher provas de acusação mesmo perante tão forte visibilidade da razão de se terem posto a jeito?
    Porque este tratamento específico a Sócrates e só a Sócrates é que revela que o problema não está em este “ter-se posto a jeito” mas sim que existe um complot de interesses a quem convém que Sócrates seja o bode expiatório de um conjunto vasto de saques corruptos milionários. O caso de finalmente, após vasculharem o mundo todo onde Sócrates pôs pé, tentarem agora a todo o custo fazer a ligação com Salgado, o ddt que certamente corrompeu neste país mais agentes políticos, empreendedores, donos de grupos de media, jornalistas, comentadores e até associações de magistrados e sendo estes, precisamente, aqueles que mais ferozmente querem ver Sócrates calado atrás das grades só prova que o “pôr-se a jeito” foi o argumento instrumental que nada argumenta além de uma subtil insinuação.
    Sócrates é de outra natureza que não a do calculista que se preocupa com a sua imagem face ao do lado, nem do merdoso que só pensa na carreira e por tal enverga a máscara conveniente à circunstância. Sócrates nem como actor é capaz de usar máscara porque lhe descaracterizaria o carácter forte de uma persona. Basta reparar no caso da mentira de Passos (e Cavaco) que horas depois de ter estado reunido com Sócrates durante quatro horas ocultou ao país tal reunião para, em conluio com Cavavo, tirarem os mais escroques dividendos políticos que já houveram na democracia portuguesa. E o que fez Sócrates: não veio a público acusar Passos e muito menos fazer queixinhas da pulhice, pelo contrário esperou que a pulhice fosse descoberta pela realidade dos acontecimentos; passou por cima.
    Um político assim não vive, e muito menos quando já fora da política activa, sob o medo da sombra do que foi ou calculisticamente a pensar na luz que ainda poderá ser. E também só um um indivíduo assim tem e cultiva amizade pronta a ajudar no que for preciso apenas sob palavra e confiança total nas qualidades que reconhece no amigo desde sempre.
    Os pequenos e medíocres, esses sim, sem qualidades tornam-se acusadores e servem-se desse instrumento como método político de destruição dos adversários que gostavam de ser e invejam.

  38. Mais uma vez, mais do que tentar interferir ou até inferir alguma coisa do processo judicial, que até ver só diz respeito à Justiça e ao CM, devíamos estar todos preocupados em defender o Estado de Direito Democrático e no caso todo o género de arbitrariedades contra um qualquer cidadão nacional. Infelizmente vejo muitos poucos bravos preocupados com tal.

    Em relação ao ex-PM foi sempre muito claro o “crime” que despoletou a fúria toda. O regresso ao comentário político com o objectivo claro de destruir Cavaco. Que por sua vez só podia deduzir que Sócrates estava a lançar a sua candidatura a PR. E abateu-se a fúria toda que se viu. Ao ponto de irem às chegadas do aeroporto com câmaras de televisão em horário nobre deter um ex-PM para interrogatório. Alegando inclusive o perigo de fuga sobre alguém acabadinho de entrar no país!? À distância de um clique no telefone. Depois deste show off todo quem ainda precisou dos últimos três anos para perceber que afinal não houve flagrante delito nenhum naquela fatídica noite do aeroporto… Mas só porque se esqueceram de revistar as malas cheias de cocaína.

  39. Nem de propósito!
    Depois da troca de comentários de ontem em redor da magna questão da moral na politica, eis que hoje abro o Público on- line e fico a saber que o director de turismo de Portugal é sócio minoritário num empreendimento de um alojamento local. A noticia ( só por o ser ) dá ao caso contornos de escândalo. Ora aqui está onde nos conduz a cruzada que pretende fazer da politica em geral e da administração pública em particular uma espécie de sacerdócio vinculado a valores transcendentes. Suspeito que o próximo “caso” desta saga promovida pelos ” moral entrepreneurs” da nossa praça possa ser a descoberta de que a Ministra do Mar é utente da praia da Cracavelos, ou que o responsável pelos transportes é passageiro frequente da careira 77.

  40. Lucas Galuxo, estou como a cavalaria do Cavaco Silva:

    – Principalmente no Aspirina B, onde encontraram asilo agumas malhas (puídas?) como as do Camacho, do Neves, do Rodrigues e, espaço!, do Valupi que durante anos a fio alimentou o teu alcoolismo e dos pouquinhos alucinados que referes, ia dizer, ainda está para nascer o primeiro que me dê virtuosas lições ou públicas reprimendas sobre o papel que me cabe enquanto cidadão mais ou menos empenhado e gozando despreocupadamente de todos os direitos mas cumprindo anarquicamente alguns dos deveres disponíveis num Estado de Direito (a começar pelo respeito sem bufaria e/ou pela denúncia também sem bufaria sobre o que a cada momento a separação de poderes, back to basics). Podes tu dizer o mesmo (e já agora o José Sócrates, ele mesmo), mesmo-mesmo a sério?

    _____

    Jasmim: esse ô não existe, ‘stá? Excesso de telenovelas, aposto.

  41. Jerónimo, o coiso é uma espécie de ceguinho enxertado de analfa das vogais. Calhando, amancebaram-se… perdão, juntaram os trapinhos em harmoniosa união de facto. Ainda parem para aí uma ninhada de ratas cegas a mijar de cima da burra por turnos, teimando em comunicar connosco em mandarim, phoda-se! Estamo estrafegado!

  42. Eric, um Estado de Direito existe para que todos se presumam inocentes até que uma instancia superior de justiça decida que as alegações do contraditório são incapazes de fazer frente à acusação da prática de determinado crime. O teu está para nascer o primeiro é igual ao do Cavaco. Uma treta.

  43. Portugal – indice medio de exemplaridade moral

    Presidente ex- criador de fake…perdão, factos politicos, que vendia mentiras aos media e marca a agenda através da pagina de necrologia dos media prestando assim a devida dupla homenagem, ao povo que sofre e a quem o elegeu.

    Pm que tem um amigo que negociava informalmente assuntos de estado que depois passou a recibos verdes e agora arranjou pouso num conselho de administração ou na assembleia ou lá o que é …de uma empresa onde negociou.

    Deputados, autarcas e secretarios de estado que aceitam toda e qualquer viagem ou cupao de desconto. A vida é bela.

    Juizes da Relação que dão jeitinhos e outros que aceitam empréstimos de…amigos para evitar as bichas em pirilau das instituições financeiras.

    Ex pm e pr que negociava em acçoes com banco falido mas devidamente pago pelo estado.

    Ex pm que vendeu o pais o mais barato que pode sem pagar a segurança social.
    (Os compradores foram chineses também muito apreciados pelo actual pm cujo amigo também é muito amigo dos chineses)

    Colunistas com 3 ou mais avenças e que debitam moral e análises futebolísticas em conjunto ou em separado e se possível ao fim de semana para não prejudicar os empregos em empresas do estado ou na iniciativa privada.

    Perante este alto nível de exemplaridade como pode aquele gajo fazer o que fez, sim como?

  44. 1. Lucas Galuxo, é por isso mesmo que eu pacientemente recordei ali em cima a cena da enxurrada de recursos (este pormenor é um dos pontos que caracterizam um Estado de Direito digno desse nome, sublinhado). Ou seja, a possibilidade atribuída a um indiciado que se considere injustiçado por um acto qualquer praticado por um juiz que assuma o estatuto como antes sucedia num juízo (central!) de investigação criminal do Tribunal da Boa Hora de recorrer com cabecinha e, é claro, com a perícia jurídica que deve ser reclamada dos seus defensores. E, tomada uma decisão, de ele próprio por sua própria vontade que não me ocorre que tenha sido enviado a ferros numa galé, que tenha estado sujeito a trabalhos forçados na Sibéria e que não tenha sido degredado numa das antigas colónias, livremente, ele ou os seus advogados seguir/em para a segunda instância e… pegando nas palavras do Palma vintage, ir/em por aí enquanto houver estrada para andar. Percebes a diferença, ou é preciso que te façam mais um desenho?

    Aqui: http://img.obsnocookie.com/s=w800,pd1/o=80/http://s3cdn.observador.pt/wp-content/uploads/2017/08/23173957/atividade-2_770x433_acf_cropped.jpg (segue pela esquerda democrática, caso subsistam em ti algumas dificuldades).

    2. Ora, em vez de ficar pasmado como um burro a olhar para um palácio procurei dar-lhe um sentido, e incluir cada momento dessa estratégica enxurrada numa óbvia estratégia de defesa. Não sei se reparaste mas foi na caixa de comentários do Aspirina B que se começou a especular sobre quantos recursos os advogados de José Sócrates tinham apresentado, e perdido!, e falhei por quatro-4-quatro o alvo se bem me lembro (cerca de meia-centena disse eu, e 52 ou 54 contaram os jornais que se dedicam de há muito a cozinhar em lume quente o escalpe e a perdição do ex-PM). Mais: depois dessa enxurrada e de o facto ter sido racionalizado numa série de artigos de opinião (a que os tipos normais não ficaram indiferentes antes ficaram estupefactos, garanto-te!), aparentemente, essa enxurrada de recursos acabou. Qual o sentido disto, para além de chegados aqui teres os tipos do ex-PM na garagem uma cabazada de derrotas em toda a linha?

    3. Concluindo, que assim chega. A personagem política do ex-PM, depois dos dias da enxurrada se quiseres dar-te ao trabalho de saber que ela existiu e da tanga dos livros de filosofia (!) com as hilariantes tournées evangélicas que foram sendo goradas a que se soma agora, por fim, o seu recente papel como um qualquer Youtuber de calções chegará aos dias de julgamento em que estado? E os seus defensores agirão em tribunal como se nada tenha passado, como iguais entre iguais, na dialéctica que necessariamente manterão com as outras defesas, com o MP e com o colectivo de juízes?

    [Think about it, que é aqui que estamos!]

  45. jose neves, creio que na seguinte citação está a origem da tua dificuldade cognitiva nesta questão:

    “As citações acima como a maior parte da retórica moral ou acerca da falta de prudência integridade e justiça no plano da representação do Estado não são mais do que o assumir a tese do Adão, da Clara, do Pacheco, do Daniel dos Tavares e todos os fedorentos deste país resumida no célebre pensamento acusador do “ele pôs-se a jeito” com que fundamentam a culpa provada de Sócrates.”

    Essas pessoas, à excepção do Pacheco e do Tavares e quejandos, não falam em “culpa provada de Sócrates” no que diga respeito às suspeitas de crime. Do que falam é de uma conduta que consideram moralmente inadmissível numa pessoa com as responsabilidades políticas e cívicas de Sócrates. A questão legal deixam-na para os tribunais, como deve ser num Estado de direito. É completamente diferente. Acaso não consegues entender, ou sequer perceber, a diferença? Pelos vistos, tendo em conta a repetição desta mesmíssima conversa ao longo dos anos, não consegues.

    Daí não só o mau gosto como, principalmente, a fraqueza moral que revelas ao ires buscar casos de outros comportamentos suspeitos com indivíduos de outras áreas políticas para justificar o comportamento imoral de Sócrates. Com isso pareces igualmente ignorar a história de Portugal nos últimos 15 anos, aquilo que aconteceu desde que Sócrates foi eleito secretário-geral do PS e depois o que fez na governação. Esqueces qual foi o impacto da sua chegada ao poder no tecido profundo da oligarquia e de como Sócrates, pela sua coragem, se tornou um alvo a abater por todos os meios. Daí a perseguição que lhe fizeram desde o início e que envolveu, e envolve, magistrados e espionagem ilegal a um primeiro-ministro, mais a tentativa de judicializar por completo um processo eleitoral e ainda a golpada com origem em Belém. Ao apagares isto tudo, apagas também a evidência de que Sócrates tinha de evitar – caso se quisesse responsabilizar pelo PS, pelos eleitores que votaram nele, pelo regime e pela comunidade – vir a ser envolvido numa situação onde tinha de ser necessariamente constituído arguido à luz do Estado de direito. Porque ao ter tido um comportamento factualmente suspeito, como é o caso, validou as perseguições que lhe foram feitas e mostrou uma personalidade que, mesmo que saia absolvida deste processo, não colocou no topo da sua hierarquia existencial o seu futuro político – isto é, a representação dos que lhe deram a possibilidade de chegar aos cargos públicos e também daqueles que saíram a terreiro na denúncia dos ataques à sua honra.

    Isto é simples, mas só para quem não estiver em modo fanático.

  46. Hum! Deixa lá ver se entendo o Valupi…
    Portanto o que o Valupi nos está a tentar explicar é mais ou menos isto. Nestas férias, como habitualmente, levei o meu pessoal a banhos para Armação de Pera. Como certa noite me devo ter esquecido de fechar a Vanette à chave e na manhã seguinte só là estava o sitio, tivemos de regressar a casa de autocarro e vai fazer duas semanas que só andamos a pé. E a culpa, claro, é minha. Valupi, amigo, tu a minha senhora deviam dar-se muito bem !

  47. Eric,
    “não me ocorre que tenha sido enviado a ferros numa galé”
    A mim não me ocorre que alguém tenha sido tratado, na praça pública, desta maneira nos últimos 40 anos. E acho que ninguém pode ser tratado assim num Estado decente. Nem tu.

  48. Sigo a posição que Mário. Soares tomou, dm relação a Sócrates.
    O velho democrata tinha a sabedoria dos justos.

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