Good food for good thought

Embora seja hoje em dia relativamente consensual encarar a difusão de conteúdos nas plataformas digitais como um processo sociotecnológico (isto é, como um processo social dos seus utilizadores dependente das características tecnológicas do medium), as concepções dominantes da difusão na Web continuam paradoxalmente subjugadas a duas metáforas eminentemente biológicas utilizadas não apenas pelas indústrias da publicidade, do marketing e dos media como por uma parte considerável da comunidade científica e dos utilizadores: a dos conteúdos mediáticos virais e dos memes.

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Ironia das ironias, o que não raras vezes esta voluntariosa concepção viral da difusão de conteúdos pelas plataformas digitais camufla é precisamente um tipo de discurso ideológico que, originalmente, a metáfora pretendia desmascarar: a de que os utilizadores são alienáveis. O perigo das concepções em que se baseia o marketing viral é precisamente este: o de potencialmente criar a ilusão de que os profissionais competentes possuem mecanismos para propagar ou vender seja o que for aos utilizadores independentemente da sua vontade, o que como é óbvio é música para os ouvidos de potenciais clientes sedentos de disseminar a sua marca ou de escoar os seus produtos no mercado. No entanto, como não se cansa de repetir Henry Jenkins, os consumidores não são meros “pacientes” ou “transportadores” de ideias alheias, mas sim disseminadores de materiais aos quais reconhecem, individual ou socialmente, um determinado valor. A oferta pode ser imensa, mas os utilizadores filtram os conteúdos que têm pouca relevância para si ou para as diversas comunidades de que fazem parte e tendem a propagar os que consideram relevantes nos diversos contextos em que interagem.

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João Pedro da Costa – É Viral, Ninguém Leva a Mal

One thought on “Good food for good thought”

  1. é um texto muito interessante, já o disse ontem ao autor. fiquei, no entanto, a pensar na questão que ele lança no final e lanço outra: se o número de visualizações utilizado para rastreio pode ser postiço, será a partilha efectiva o indicador para o controlo do descontrolo – só não sei bem como se consegue aferir a partilha efectiva em comboio de contágio.

    outra questão, entretanto, me surge: só partilhamos pelo prazer que a partilha nos dá – também pelo prazer que estamos a dar a fruir aos outros ou, muito antes disso, partilhamos porque nos interessamos pelo autor e pelo objecto por si criado? há aqui no meio duas coisas intangíveis e que nada têm de viral: o interesse pelo indivíduo, e respectivas criações, e a confiança implícita que sentimos nele e no seu trabalho quando decidimos dá-lo a conhecer pela partilha. estas variáveis é que não possuem mesmo indicadores para aferir se há doença.

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