«Como se pode perceber, o furor arrasante que soprou na primeira página do Expresso na semana passada (Relatório das secretas sobre Tancos arrasa ministro e militares) é um cliché do idioma jornalístico e nem se percebe como é que a metáfora congelada pelo uso gregário consegue provocar tanto ruído. Todos os que julgam poder dizer alguma coisa nesta língua morta deviam obedecer à injunção de um famoso crítico da “fraseologia” dos jornais: “Dêem um passo em frente e calem-se” (Karl Kraus). Tratemos então o verbo “arrasar”, nas suas declinações jornalísticas, como um facto linguístico. Ele não contém nenhuma informação, não descreve nada, mas realiza – ou pretende realizar — uma acção, isto é, tem uma intenção performativa. Sempre que num jornal se escreve “X arrasou Y” é o próprio jornal que pretende “arrasar” Y. Porque o uso de tal metáfora não indica uma constatação, implica uma tomada de posição de quem a profere e uma vontade de realizar a acção. Dizer “arrasou” não é o mesmo que dizer “criticou violentamente”. Enquanto que a segunda forma pode ser dita sem comprometer a neutralidade de quem a diz, a primeira faz o jogo da diminuição e da ridicularização do “arrasado”, diz que está a proferir sobre ele um juízo definitivo e nada nem ninguém o pode salvar. Ninguém é “arrasado” num dia e reaparece intacto no dia seguinte. Toda a crítica pode ser refutada; mas todo o “arraso” é irreversível. Há um gáudio indiscreto na sentença “X arrasa Y”. Não quer dizer que quem experimenta esse gáudio não sinta exactamente o mesmo se a situação se inverter de modo a poder dizer que “Y arrasa X”. Mais do que as determinações ideológicas ou políticas destes enunciados, é preciso ver neles a miséria da linguagem jornalística e uma ingenuidade semelhante àquela dos escritores que, como alguém disse, julgam que basta escrever “merda” para que os leitores sintam o mau cheiro.»
“Passos Coelho arrasou Sócrates”
Foi com esta a frase inicial que MST iniciou o seu comentário acerca do célebre debate entre Sócrates e Passos Coelho nas eleições de 2011.
Foi demolidor para Sócrates e desde então a imprensa, como muito bem sublinha o articulista, não mais parou de usar a palavra para atacar um adversário sugerindo que é um fulano outro qualquer que deseja arrasar.
Tal como nesse momento eleitoral, a palavra passou a usar-se em força porque encobre facilmente a mentira que se quer fazer passar e que normalmente, a qual, introduzida sob e desse modo faz passar despercebida e subrepticiamente a mensagem pretendida.
Actualmente está-se usando e abusando da palavra em qualquer cenário mesmo o não político pelo que, como tudo que é demais, deixa de ter o sentido inicial, desvaloriza-se e banaliza-se e não passa de “um modo de dizer” sem carga significativa.
lá tive que votar no lacaio da ciganada pese embora ser, de longe, o melhor, e não o menos mau, candidato – o testa de melão, medina.
até na bola o uso do verbo “arrasar” se disseminou !
Mas há outras palavras que os jornaleiros e comentadeiros usam erradamente : “desertificação”, por exemplo , quando se querem referir a falta de pessoas. Na realidade deveriam dizer “despovoamento ” (só há uma jornalista da TVI que faz a devida distinção ).
Também me irrita o (ab)uso da palavra “garante” em vez de “disse” ou “declarou” ou “afirmou” por exemplo.
essa frase do Miguel sousa tavares,foi de um oportunismo incrível.convinha-lhe a mudança politica por já não ter assunto para o jornal expresso e também para agradar politicamente ao dr. Balsemão! para mim a partir dessa altura passou a ser um grande canalha!