A prestação do Ministro da Administração Interna, nesta terça-feira no Parlamento, foi insuficiente. Para além da abertura do inquérito, que é o mínimo dos mínimos, a sua mudez – 48 horas passadas e muitas declarações feitas pelos responsáveis dos serviços em causa depois – acrescenta descredibilização governamental ao episódio.
Estamos perante uma situação onde não é possível invocar factores desresponsabilizadores, apesar de alguns poderem ser legítimos (como a incúria cívica de quem não tratou de saber qual era o seu número de eleitor antes da eleição). Do que se percebe vendo de fora, há duas falhas inadmissíveis: (i) um sistema informático desadequado ao fluxo que seria previsível num cenário de picos de pedidos e (ii) a ausência de um aviso individual com a informação respectiva ou uma campanha pública que tivesse alertado para a necessidade de acautelar a aquisição do novo número para aqueles que tinham mudado para o Cartão de Cidadão.
Não é só a oposição que tem toda a razão em malhar nos responsáveis governamentais, é a comunidade inteira. Podia ter acontecido uma catástrofe eleitoral, caso a segunda volta tivesse sido alcançada ou evitada por uma pequena margem. Provavelmente, as eleições teriam de ser impugnadas, e tudo o que se seguisse seria imprevisível e desgraçado.
Esta questão é de tal ordem fundamental para o funcionamento das instituições do Estado que até o visionamento deste bandalho – que vai para a televisão largar com perfídia uma insinuação conspirativa contra o Governo, sendo ele conselheiro de Estado – tem de ser suportado sem um vagido de protesto.
Falta referir as declarações inacreditáveis dos responsáveis do Ministério da Administração Interna. O ministro é políticamente responsável, mas a operacionalidade dos meios técnicos destinados a assegurar a informação sobre o numero de eleitor cabe aos altos funcionários designados para o efeito.
Uma nota para referir que continua a ser inexplicável porque razão o cartão de cidadão, que supostamente reune todas as funcionalidades dos anteriores cartões de eleitor e BI implica a consulta de uma qualquer base de dados para se saber o numero de eleitor e onde se vai votar. Onde esta a anunciada simplificação?
desculpem a interrupção,
ah!, já agora perguntem ao conselheiro de estado.
Val, como mudei de freguesia, fui ao site Portal do Eleitor consultar o meu novo nº de eleitor. Sabia que, como é óbvio, tinha de ter um novo nº. Por azar (ou incúria), não o apontei na altura. No domingo fui lá para o apontar e não consegui obtê-lo. Dava como eleitor não registado… Consegui no site do MAI. Tentei ver o da minha mulher, apenas por descarga de consciência (não tendo ela mudado de freguesia, supomos que se tinha mantido o nº), mas também não consegui. Ela levou o cartão de eleitor (antigo) e, no local da votação (uma das três escolas onde se vota aqui – aquela onde ela sempre votou e correspondente ao seu nº), disseram que o nº tinha sido alterado e que, com o nº, votava – tal como eu – numa outra escola. O acesso à internet no pc do senhor que estava lá para o efeito por acaso funcionava bem… Lá voltámos para o carro – ela está grávida e quase já não consegue andar – e fomos votar. Levámos, nisto tudo, cerca de 30 mins (por sorte estava pouca gente para votar às 17 hrs).
Por muitas desculpas que possam dar, acho inadmissível alterarem o nº de eleitor sem avisar as pessoas. Li num blogue – salvo erro no Cam. Corporativa – que tinham enviado carta, mas nós não recebemos nada. Nem e-mail, nem sms, nem telefonema, nada! Se connosco, que até acabámos por ter sorte, foi assim, nem queo imaginar com os idosos* com problemas de mobilidade que se viram “à nora” com esta invenção do Ministério. Digo invenção, porque não se percebe porque alteraram os nºs. Se ainda fosse para “limparem” os cadernos eleitorais, mas nem para isso foi…
Abraço.
*Com os meus avós foi o mesmo, foram surpreendidos com a alteração do nº. A sorte deles é que, mesmo com a alteração, votam no mesmo local (onde eles votam, todas as mesas são na mesma escola) e ainda se mexem relativamente vem.
Apoiado. Não será possível utilizar os cartões no sistema multibanco para aceder à informação guardada no chip? Era mais simples.
Sabes o que me valeu? Foi ser alemã, antes de ser portuguesa, e, previdentemente, ter posto o cartão de eleitor antigo no bolso quando fui votar. Quando o famigerado cartão de cidadão falhou, saquei do outro: uma coisa horrorosa de velha e esburacada e foi essa coisa amarelecida que me permitiu botar a cruz do meu dever e direito a esta cidadania.
A sério, a sério gostava que se impugnassem as eleições. Mas, lá está, este é um país de muito brandos costumes no qual tudo se engole.
Blondewithaphd: esse estratagema não funcionou para mim. O meu número de eleitor mudou com o pedido do cartão do cidadão e, quando mostrei o antigo cartão de eleitor, ainda decente porque o plastifiquei, fui convidada a ir «informar-me» para a bicha da sala da Junta de Freguesia, onde estive cerca de 20 minutos. Ia grande confusão no hall de entrada do pavilhão. É de lamentar não ter havido uma campanha de informação mais intensa, pelo menos uma semana antes.
O meu antigo cartão acabou os seus dias no caixote do lixo da escola do Lumiar.
Blondewithaphd, a minha mulher também levou o cartão de eleitor antigo, mas, como tinha sido alterado o nº de eleitor, não serviu de nada. Gostaria de saber como conseguiu votar com o nº antigo, se todos os nºs de quem tem cartão de cidadão foram alterados…
Cumprimentos.
Eu tenho cartão de cidadão, mantive intacto o meu cartão de eleitor, que fiz acompanhar do cartão de cidadão na mesa de voto. O número de eleitor era e é exactamente o mesmo que sempre constou no cartão de eleitor, e votei com toda a normalidade. Mas onde eu vi mais vexame foi nas mesas de voto onde votam as pessoas mais velhas, com números de eleitor mais baixos. Ví muitas pessoas a irem para casa iradas sem votarem. E não me venham dizer que essas pessoas seriam capazes de consultar o seu novo número de eleitor em sites da net ou por sms’s. Eu estou convencido que a dimensão da falha foi bastante maior do que se quer fazer crer ao cidadão comum. Algumas pessoas das mesas de voto arece não estarem lá a fazer grande serviço, a não ser o de fiscalizar. Pena é que não tenham sido apurados valores aproximados das pessoas impossibilitadas de votar devido à situação. O sistema falhou e toda aquela corja devia ser corrida e o ministro demitir-se ou ser demitido. como querem (se é que querem!!) que o cidadão não se abstenha se lhe pregam partidas destas. Isto é de uma incompetência atroz. Sabem onde está a diferencia entre uma falha destas no serviço público e no serviço privado, onde também acontecem falhas? Está nas consequências.
Precisamente! Alguém não está a perceber, nem nunca percebeu, a relevância do assunto.
A displicência com que foi criado um problema, segundada pela displicência com que se tentou remediar o problema, sublinhada pela leveza com que se pretende justificar as dificuldades dos cidadãos não auguram nada de positivo. No SIMPLEX funciona tudo assim?
Relativamente à tese “tese conspirativa”, Antonio Capucho disse precisamente o contrario do que insinua o autor do poste.
Antonio Capucho disse que, embora houvesse quem falasse nessa tese, ele proprio não acredita nela e acha antes que foi negligencia e incompetencia das autoridades responsaveis (incluindo o governo, naturalmente).
“(i) um sistema informático desadequado ao fluxo que seria previsível num cenário de picos de pedidos e”
Meu caro,
Isto é um falso argumento. Nenhum técnico competente dimensiona sistemas para situações de pico. As situações de pico tornam os sistemas insuportavelmente caros. Só uma pessoa irresponsavelmente gastadora defenderá tal solução, porque é o contribuinte que paga e por isso eu nem interessa o valor da factura.
“a ausência de um aviso individual com a informação respectiva ou uma campanha pública que tivesse alertado para a necessidade de acautelar a aquisição do novo número para aqueles que tinham adquirido o Cartão de Cidadão.”
Aqui sim, está a resposta. Este é o verdadeiro argumento para a solução das situações de pico.
A solução correcta é dimensionar o sistema para uma utilização de fluxo normal e evitar todas as situações que possam inevitavelmente provocar situações de pico. Claro que houve emissão de muitos milhares de cartões do cidadão que originaram a alteração do número de eleitor, logo deveria ter havido uma campanha de sensibilização nos media para as pessoas se deslocarem às juntas a tempo e horas afim de saberem do seu novo número de eleitor. Antes do simplex era assim que fazíamos. Quando mudávamos de residência ou um filho atingia a maioridade o que é que fazíamos? Para além disso, teria com certeza sido bem menos custoso enviar uns milhares de cartas para os cidadãos que mudaram o seu número de cidadão com o seu novo número.
O que mais me custou foi ver um dr. qualquer, supostamente o director do serviço que falhou a esfarrapar-se em justificações absolutamente lamentáveis. Provavelmente, este senhor acabará por ser afastado das funções com uma belíssima indemnização que deve constar numa qualquer clausula do seu chorudo contrato e será premiado pela sua incompetência, com uma nova colocação noutro serviço público onde continuará a ser incompetente.
Porque este senhor nunca vai aprender a lição: nós só melhoramos o nosso desempenho quando assumimos os nossos erros e as falhas, que foi exactamente o contrário do que se passou com ele.
Lamentável.
Suspeito que o Vitor não é técnico e espero que não seja um decisor.
Todo o técnico competente dimensiona sistemas para situações de pico. Nenhum sistema pode ser excepção.
Ricardo Sardo,
não sou a blonde, mas posso esclarecer-te que nem todos foram alterados. O meu, por exemplo. Mas a questão de fundo é, de facto, a ausência de informação prévia ao eleitorado. Tudo o resto – congestionamento dos sistemas informáticos, falta de eficiência/competência dos funcionários – é secundário, e, em parte, consequência.
Comentario um pouco lateral sobre uma coisa acertada que ouvi do Capucho antes de desligar (que a minha vida não é isto).
Diz ele que a publicidade institucional à volta destas eleições por parte da administração foi zero. Em Portugal não sei, mas no estrangeiro, ou pelo menos no pais onde resido, foi exactamente como diz o Capucho.
Estou registado no consulado de Paris. Não recebi uma misera carta que fosse a dizer-me que ia haver eleições. Soube porque leio blogues. Adiante.
No sabado de manhã quis saber quais eram os horarios de abertura, o que era preciso levar, etc. Site do consulado de Paris : zero ; site da embaixada : zero. Telefonei para o consulado, atendeu-me uma voz gravada a lembrar-me as horas de expediente. Sobre as eleições nada.
La resolvi a questão de outra forma e desloquei-me ao consulado (no domingo).
Chegando à minha mesa de voto não deram logo pelo meu nome. Começaram imediatamente a explicar-me que isto agora com o cartão não sei quê, havia muitos erros e que o mais provavel era que eu não pudesse votar. Com a minha forma positiva de encarar os problemas pensei : bom, pelo menos não me enganei de consulado, estes aqui são portugas. Com calma, mas com firmeza, observei que não tinha cartão xpto não sei quê, que alias nem sabia que podia ter um, e que tinha o meu velho e ranhoso cartão de eleitor de ha anos, juntamente com um bi (mesmo em forma de bi). Estava nisso quando a simpatica senhora da mesa eurequizou : João blablabla Viegas, esta aqui, é o numero tantos do tal. Deram me um impresso, fui preencher. Ainda tive tempo de explicar à minha filha mais velha que o boletim continha os nomes dos candidatos e que, em nome de uma coisa muito interessante inventada na Grécia e que se chama “democracia”, eu ia colocar uma cruz, não ao lado do que julgava ser o melhor candidato (como numa democracia normal), mas no que achava ainda assim menos mau.
Votei.
Não serviu para grande coisa para além de desinquietar a minha consciência civica.
Depois pensei melhor. Que asno fui eu em ter falado em “democracia” à minha filha, o que so a vai baralhar. Em Portugal, o voto não é um direito, é um milagre. Não deve nada ao Solon, deve tudo a Nossa Senhora de Fatima. Isto é que devia ter explicado à Joana. Ficava sem saber o que é democracia, mas ficava a saber muito sobre Portugal.
O Sócrates já o deveria ter demitido.
Fernando S, Capucho falou na tese da conspiração para a espalhar, não para a refutar. É uma pulhice ancestral, um dos truques mais velhos da retórica: trazer uma calúnia, mas não assumir que se concorda com ela, antes simular uma distância. Entretanto, o veneno foi despejado na multidão.
Gostava que alguem me explicasse porque é que alguem que tira o cartão de cidadão e não muda de residencia não fica com o mesmo numero.
Val,
Não é o que se ouve na entrevista.
O que Capucho diz é clarissimo.
O que vc faz é um mero processo de intenções.
Também poderia dizer que é “uma calunia”, “uma pulhice ancestral”. Mas não o faço.
Acho apenas que vc é preconceituoso e sectario : como não é do mesmo politico e não gosta do homem, ele é sempre culpado. Diga o que disser.
“Preso por ter cão, preso por não ter.”
Fernando S, faz o que te der na gana. O que não podes fazer é ignorar o facto: Capucho optou por dar publicidade à calúnia, e fê-lo com perfídia, pois não havia justificação para tal a não ser o interesse em a espalhar. Como estamos a falar de um conselheiro de Estado e não de uma figura partidária qualquer (e não ouvimos isso ainda a nenhuma, atenção…), a gravidade do que fez é muito maior.
Edie e Vítor, pelo que leio houve quem não visse o seu nº de eleitor alterado. Desconhecia este facto, pois as pessoas com que falei com cartão de cidadão e que não mudaram de freguesia viram o nº ser alterado. Sendo assim, temos uma agravante: não se compreende, de todo, como alteram alguns nºs e não todos…
Cumprimentos.
Val,
Desculpa, mas eu não faço “o que me da na gana”. Faço o que me parece justo e adequado. Detesto preconceitos e sectarismos e procuro não cair nesse tipo de praticas.
Capucho não deu publicidade à “teoria da conspiração”. Desde o proprio dia do voto que muita gente tem falado nela. Toda a gente que ve emissões de televisão como aquela em que Capucho foi entrevistado ja a conhece.
Capucho referiu-se a ela apenas para dizer que não concorda : “Ha quem pense que … Eu não penso assim, acho que foi por mera negligencia”. O que é que querias que o homem dissesse de mais claro ?
Não vejo por que é que Capucho não devia ter dito o que disse pelo facto de ser Conselheiro de Estado. Antes pelo contrario. Seria bem mais discutivel se, nessa qualidade, tivesse dito concordar ou ter duvidas sobre uma “teoria” do género sem provas evidentes.
O facto de outras figuras partidarias não terem falado nesta “teoria” ?… Não sei se alguém falou ou não … Não me parece relevante. O que é relevante é que aparentemente nenhuma figura partidaria concordou com esta teoria.
O que é espantoso é que em vez de assinalares de modo ainda mais claro que, relativamente a este assunto, e apesar de achares que se trata de um “bandalho” (acho que serias mais elegante dizendo que não é do teu campo politico … mas tu é que sabes !…), até partilhas as perplexidades de Capucho, acabaste por lhe fazer um processo de intenções lateral e perfeitamente despropositado.
Quanto ao fundo da questão, parece que estamos todos de acordo que se tratou de uma grande trapalhada que poderia ter tido consequencias bem mais graves !
“Suspeito que o Vitor não é técnico e espero que não seja um decisor.
Todo o técnico competente dimensiona sistemas para situações de pico. Nenhum sistema pode ser excepção.”
Sim, sou técnico. Sou engenheiro. E isso aprende-se em engenharia. Tudo é dimensionado para patamares de utilização mais ou menos intensivos. E os coeficientes correspondentes aos níveis mais elevados de solicitação correspondem normalmente a situações que se relacionam com a segurança de pessoas. Esta nem sequer é uma das situações mais importantes desse ponto de vista. Nunca para situações de pico, principalmente quando o custo a isso associado implica utilização de recursos em situações que a análise de valor nos indica serem conta-indicadas. Além disso quando vamos subindo no coeficiente de segurança de um dimensionamento, o valor despendido dispara quase exponencialmente. E nós sabemos que não podemos dimensionar tudo a qualquer custo. Isso é uma postura de funcionalismo público, normalmente de quem tem a noção de que a riqueza nasce pendurada nas árvores qual fruto inesgotável.
Com técnicos (engenheiros!) assim, não admira que todo e qualquer site governamental seja uma bela bosta.
Qualquer sistema informático (não é uma porra duma ponte) é arquitectado para situações de pico. As soluções raramente passam pelo “add more hardware”, isso é só estúpido (e, normalmente, sinal que a coisa está mal feita de raiz).
Ricardo Sardo,
Exactamente, entreguei os cartões ao presidente da mesa, ele leu em voz alta o número de eleitor e o meu nome, confirmou a minha identificação do cartão de leitor com a do cartão de cidadão e o secretário com a lista dos eleitores confirmou e registou a minha presença nos cadernos eleitorais. Tal e Qual! por isso, nem sei bem o que se passou com essa estória da alteração dos números de eleitor por esse pais fora.
Fernando S, faz o que te der na gana, incluindo pintares de “justo” e “adequado” o que te dá na gana dizer. E, de caminho, aproveita para reter o que Capucho disse e o que escreves. Capucho chegou ao ponto de detalhar o argumentário da teoria da conspiração, referindo que não tinha visto uma campanha de apelo ao voto, coisa que se lembra de ver em eleições passadas, e apontando para o facto de que a abstenção iria prejudicar Cavaco, pelo que levar ao seu aumento estaria a contribuir para uma diminuição da percentagem de Cavaco.
Por fim, se achas relevante nenhuma figura partidária ter ainda falado dessa teoria, mais razão verás na indignação perante o que Capucho fez, esse bandalho (quanto à definição de bandalho, é consultares um bom dicionário).
Caro Marco,
Quando uma pessoa sabe, demonstra que sabe. Abanar uma bandeira a dizer que se sabe, sem o demonstrar só denota ignorância.
“Quando uma pessoa sabe, demonstra que sabe. Abanar uma bandeira a dizer que se sabe, sem o demonstrar só denota ignorância.”
Vítor, concisamente exposto. Foi o que fizeste, ainda por cima falhando redondamente no bitaite, o que só veio exponenciar a demonstração de ignorância.
Se quiseres que te demonstre como este problema poderia ter sido resolvido atempadamente, diz-me, que eu envio-te um orçamento para formação.
Caro Vitor,
concordo perfeitamente consigo quando diz “não podemos dimensionar tudo a qualquer custo”. Sendo engenheiro, e mesmo pela explicação que detalhou, acredito que é perfeitamente capaz de perceber o que eu disse e que mantenho.
No seu primeiro comentário fica a impressão (muito directa) que os sistemas não devem ser dimensionados para as situações de pico. Parece-me que a alternativa lógica para não-técnicos é que devem ser dimensionados para a média ou a moda – isso é errado. Todo o técnico competente dimensiona sistemas para situações de pico. Nenhum sistema pode ser excepção.
Se quiser passe lá pelo meu pardieiro e procure coisas sobre a ponte de entre-os-rios ou sobre o desastre na Madeira, vai ver que se calhar concordamos mais vezes que discordamos.
Val,
Vejo que toleras mal o simples contraditório …
Mas tudo bem, vamos aos argumentos !
Dizes que Capucho “chegou ao ponto de detalhar o argumentário da teoria da conspiração, referindo que não tinha visto uma campanha de apelo ao voto, coisa que se lembra de ver em eleições passadas, e apontando para o facto de que a abstenção iria prejudicar Cavaco,…”.
Em primeiro lugar “detalhar o argumentário da teoria da conspiração” não significa necessáriamente estar de acordo com a teoria.
A única coisa que ele menciona é que esta teoria tem nas suas premissas uma “evidência”, a de que “a abstenção iria prejudicar Cavaco”. De facto, sem esta premissa a tal teoria não faria muito sentido. Mas, mais uma vez, admitir como verdadeira uma premissa de uma teoria não significa concordar com a teoria e com as conclusões. Não sei se é uma “evidência” que uma menor abstenção teria benificiado Cavaco Silva. Por definição, não conhecemos o hipotético sentido de voto dos abstencionistas. Mas é muito provável que sim. Admitindo por hipótese uma repartição das preferências dos abstencionistas idêntica à dos votantes, então é certamente uma evidência aritmética que um “aumento [da abstenção] estaria a contribuir para uma diminuição da percentagem de Cavaco [relativamente ao total de eleitores]”. Ainda mais evidente é o facto de o aumento da abstenção para além dos 50%, sem por em causa a respectiva legitimidade, poder enfraquecer o significado político da vitória do candidato mais votado.
De qualquer modo, independentemente da “teoria da conspiração”, admitindo estas premissas, é perfeitamente razoável considerar que a trapalhada que se verificou, para além de prejudicar o exercício do direito de voto de muitos eleitores, pode ter prejudicado também a candidatura de Cavaco Silva.
Quando Capucho fala da ausência de “uma campanha de apelo ao voto” já não está a fazer referência à dita “teoria da conspiração”, nem sequer à abstenção que resultou da trapalhada do número de eleitor. Fala de outra coisa. Que, de resto, parece ser outra “evidência”. No mínimo, trata-se de uma lamentável demissão das autoridades de tutela em termos de uma adequada preparação de um acto eleitoral como este.
Quanto à definição de “bandalho” … não é preciso consultar nenhum dicionário … toda a gente sabe que é uma expressão normalmente insultuosa….
Maneiras de ver e de estar !!
Fernando S, não sei a que te referes ao dizer que tolero mal o simples contraditório, mas gostava de saber porque sou curioso por vocação (e provocação, às vezes). Quanto a “bandalho” ser insultuoso, não é o que os bons dicionários dizem numa das acepções, mas confirmo que é essa a intenção do seu uso por mim. É que eu não pretendo apenas ser insultado pelos concidadãos que têm muito mais poder político e social do que eu, como o bandalho do Capucho, também pretendo responder com insultos aos insultos recebidos. Só que é como uma fisga contra um tanque, espero que te apercebas da assimetria.
Quanto ao que dizes do argumentário, já não adianta apresentar mais análises porque te recusas a avaliar a decisão – gratuita – de trazer para a televisão uma ideia com a qual – alegadamente – não se concorda, mas a qual – detalhadamente – se transmite ao público.
Bom, lá o que se passou com o meu número desconheço. Imagino que não tivesse sido alterado porque o meu nome constava dos cadernos através do cartão antigo e, aliás, foi o presidente da mesa que me perguntou se, por acaso, eu não tinha o cartão velho. Como eu até tinha, votei sem mais incidentes. Mas não gostei de usar o cartão antigo quando, supostamente, há um novo todo xpto que o substitui.
Vítor, Francisco e Marco,
também sou Engenheiro (e já cá ando nisto ainda Bolonha saltitava do esquerdo para o direito, lá detrás do escroto do seu papázinho), mais precisamente Civil e, presentemente, também Funcionário Público (mas já fui Quadro de Firmas privadas), por isso lamento algumas coisas que todos vocês disseram, uns (Marco) mais do que outros (Vítor).
Nenhum Técnico competente dimensiona “porra” nenhuma (ou só as pontes é que são “porreiras”?) sempre para o pico máximo! TUDO é dimensionado, em primeiro lugar, de acordo com as opções do Decisor (ou do Cliente), atentas as relações de custo/benefício que os Técnicos competentes lhe apresentarem. Se isto não é assim na Informática (do que duvido), então não se deveria sequer considerá-la uma das Engenharias, mas mais uma espécie de “ciência” do oculto… Se calhar por isso é que estão sempre a ocorrer “erros informáticos” (acho é que a Informática tem as costas muito largas…)!
É claro que um sistema mais potente terá sempre custos mais elevados, pois não se fazem omeletes sem ovos. Mal de nós se, por exemplo, as ruas e as estradas estivessem todas dimensionadas para os “picos máximos” de tráfego – não caberia mais nada à volta!
Em Hidráulica, por exemplo, usa-se a “cheia centenária”, o que não quer dizer que não possa haver, passado esse período de tempo, uma pior, e por aí adiante.
No caso em apreço, não estou certo de que o problema esteja na arquitectura do sistema informático (não sou especialista), mas talvez mais na Comunicação. Essa é que não estava de todo “dimensionada” para níveis adequados de probabilidade do que poderia acontecer. Já para não falar do modelo conceoptual de toda a mecânica da atribuição do número de Eleitor, como também já alguém focou. É muita areia para alguma camionete, e essa sim, deveria ser substituída por outra mais bem dimensionada…
(…) “conceptual”, claro.
Já quanto ao Ant.º Capucho, parece-me óbvio que, se o que ele insinua tivesse sido pensado mesmo assim como ele diz (que não acredita, mas diz e isso é que fica – mas quem é que hoje está interessado nas crenças de um Capucho?…), tal seria de uma gravidade monstruosa, que certamente não poderia ficar impune. Espero é, contudo, que tudo isto não seja antes a manifestação, sub-consciente, de uma pérfida capacidade de imaginar possível dar um dia um tal passo, caso se dispusesse de poder para tanto, por parte do pessoal cavaquista, de certa forma revertendo o sentido de um célebre aforismo popular (“Quem mal não cuida, mal não sente”), para algo como “quem o mal congemina, nos outros o pressente” (e se quiserem roubem-mo e registem-no, que eu sou magnânimo…)!
Disse-me um amigo ex-jornalista que muitas vezes, para se “criar” o facto, se perguntava, lá no pasquim, a um qualquer responsável (político ou outro) se confirmava a informação de que …(espaço a preencher pela invenção que mais conviesse no momento). Bastava o outro dizer que não sabia de nada disso para se obter a notícia: “Fulano de tal nega que…”.
A partir daqui, o facto está criado. A alusão pela negativa implica que há um pressuposto, ou realidade, contrário. Et voilá, a manha é velha e o Capucho não a desconhece.
Eu não sou engenheiro nem quero meter-me no debate que, de resto, dá a entender que nem um assunto de índole técnica consegue ser minimamente consensual (o que preocupa um nadinha qualquer leigo na matéria).
Contudo, quando leio que pelo menos para alguns técnicos porra nenhuma é dimensionada para o tal Pico ocorre-me logo a arrepiante ideia de eventualmente esse ser o critério dos engenheiros, por exemplo, da Boeing ou da Otis…
Olha, Edie, tivemos o nosso primeiro simultâneo!
Foi tão bom para ti como foi para mim?
:)
Marco Alberto Alves, em sistemas informáticos, toda a arquitectura deve ser sempre dimensionada para o pico máximo – não é o acontecimento máximo possível, que isso é no infinito; é o equivalente à vossa “cheia centenária”. Como é lógico, em arquitectura de sistemas novos, não existe historial de utilização, pelo que é preciso extrapolar e prever – o que não foi feito neste caso. A palavra de ordem aqui é escalabilidade.
Duma forma ou de outra, qualquer site da treta devia aguentar 70 a 80 pedidos por segundo – bolas, o meu site pessoal aguenta mais do triplo disso antes de “desistir” – que deve ter sido a carga máxima nesse dia, estimativas por cima*.
Pode crer que não me apanha por aí a tecer considerações sobre a qualidade do cimento nas grandes obras públicas; quando não sei do assunto, mantenho a matraca fechada, e agradeço o mesmo comportamento da parte dos outros. Tudo o resto é disseminação de vacuidades e disparates, que não ajudam a que as pessoas tenham confiança na tecnologia, em geral, e nas ciências da computação, em particular.
* assumindo 10M de eleitores, que 10% tenham recorrido ao site – 1M – num período de 4 horas (12-17), e assumindo uma distribuição normal: 1M / 4 / 60 / 60 = 69.4(4).
Depois do silêncio da ordem dos engenheiros no caso da ponte de entre-os-rios e a “maior cheia de 40 anos” pensava que os engenheiros civis se tinham dedicado à reclusão para sempre.
Bom, depois da provocação da praxe na Internet… e visto (digo eu) que isto é um caso de semântica (coisa que os engenheiros não são pródigos) voltemos às bases:
Se uma coisa qualquer não é dimensionada para situações de pico então é dimensionada para quê?
…penso que não digo nenhum disparate ao afirmar que o governo, certamente, adjudicou esta “arquitectura” informática a uma empresa privada. por isso não consigo compreender esta guerra de engenheiros: estarão a querer convencer-me que foi o continuo do ministério o autor do projecto? ou que o engenheiro era um boy do ps? ou que os engenheiros que trabalham para o governo são uns incompetentes? ou que não sabem fazer contas? ou fazer uma site, como o do marco? ou acreditam no dogma da infalibilidade?
que o ministro se demita, concordo. mas sejamos francos: o ministro é o responsável, não o incompetente: mas espero pelo resultado do inquérito.
A chave do euromilhões foi: 3, 11, 13, 18 e 21 + 4 e 5; esta era mesmo fácil.
Guerra de engenheiros? naaa
Não acho que o ministro se deva demitir.
Foi cometido um erro ao desenhar o sistema que substitui os números de eleitor. O que é mau. O ministério como cliente tem responsabilidades. (como digo lá na minha casota o erro é maior que isso e tem a ver com o uso indevido e irresponsável dos códigos postais, porque além da confusão das eleições há outros sintomas)
Foram também cometidos erros na forma de remediar o erro original. Mais uma vez o ministério tem culpas. Mas ainda não acho que o ministro se deva demitir. Mas já há aqui um padrão de erros sucessivos.
Os erros sucederam-se até mancharem uma eleição para presidente da república.
Agora, depois de um acontecimento de grande gravidade cujas consequências até foram pequenas dentro das possibilidades, ou o Ministro é capaz. Capaz de mostrar que o erro não volta a repetir-se, que não é sistemático e que não está presente no resto do ministério – processo onde a identificação de responsáveis costuma ser um sinal positivo – embora por vezes enganador. Ou, se não é capaz, como é óbvio, deve sair.
Pois foi, shark, tivemos um simultâneo e só agora acordei para o facto…Há simultâneos que duram…
It all in the mind…
:)
it’s…
Por falta de tempo não li todos os comentários. Não sei se alguém abordou este assunto desta maneira.
Fui presidente duma mesa e o que estranho no meio disto tudo, é que este problema não teve impacto quase nenhum na minha mesa, porque se era verdade que os serviços centrais estavam muito lentos e quase bloqueados tudo isto se resolveu de maneira muito simples, porque a junta de Freguesia(como todas as outras) possuía os Cadernos Eleitorais informatizados e em poucos minutos, através dos nomes das pessoas, eles passavam um cartão com o seus números de eleitores, que os podiam guardar para serem utilizados futuramente. Foram algumas dezenas que esgotaram os tais cartões que foram substituídos por fotocópias dos mesmos. Eram três mesas e nunca houve qualquer aglomeração.
deves estar mesmo zangado…ninguém pegou nisto para fazer mossa ao teu querido, pese a tua precipitaçºao de defesa sem ataques.
o teu papel é de paladino e nada mais , é isso ? só reages , não actuas. um zero à esquerda , digamos.
comigo igual: cartão antigo comigo, mudança de número, mudança de escola. já agora, ainda não percebi para que serve o CC. alguém sabe?
jv,
tal e qualzinho como lá na minha junta de freguesia…
Val,
Pareceu-me estares irritado pela maneira como respondeste : “…faz o que te der na gana, incluindo pintares de “justo” e “adequado” o que te dá na gana dizer. E, de caminho, aproveita para …”.
Mas se não é o caso, apenas uma questão de “estilo”, ainda bem, não tenho problema nenhum em retirar o que disse e em te pedir as devidas desculpas.
Quanto à questão do insulto, não vi nada de insultuoso na intervenção de Antonio Capucho. Ele até é um personagem político com uma linguagem bastante contida. Podes não estar de acordo com o que ele diz, podes até achar (a meu ver erradamente) que ele fez maquiavélicamente publicidade à “teoria da conspiração”. São opiniões, percebeu-se que diferentes das tuas. Mas defender uma opinião diferente ou discutível não é insultar. Algo que tu fazes deliberadamente e assumidamente utilizando a expressão que utilizaste. Do meu ponto de vista colocas-te ao nivel daqueles comentadores que, por exemplo, quando se referem a José Socrates juntam o mimo “palhaço”. Tudo isto é gratuito e baixa o nível da discussão de ideias e do confronto político democrático.
Quanto ao argumentário sobre a questão de fundo, efectivamente as nossas respectivas posições já foram suficientemente explicadas.
Digamos que a ”recusa” a que te referes é naturalmente … recíproca !
Em termos de consideração geral, acrescentarei apenas que esta tua leitura das declarações de António Capucho é para mim mais um exemplo de como fácilmente se fazem processos de intenções que poluem negativamente a discussão política.
Lamento porque é um factor de radicalização artificial do legítimo e necessário confronto político.
Val,
Já agora – sem querer relançar a discussão, porque as nossas respectivas posições já foram largamente expostas -, repara nesta afirmação do Carlos Alberto Alves num comentario aqui em cima ? :
“Espero é, contudo, que tudo isto não seja antes a manifestação, sub-consciente, de uma pérfida capacidade de imaginar possível dar um dia um tal passo, caso se dispusesse de poder para tanto, por parte do pessoal cavaquista,…”
Todos sabemos que foi sob a responsabilidade politica de um governo socialista que muitos eleitores não puderam exercer o respectivo direito de voto nestas ultimas eleições.
Todos sabemos que nunca tal aconteceu com governos “cavaquistas”.
Insinuar que um futuro governo “cavaquista” (?!) poderia conspirar para manipular actos eleitorais, mesmo sabendo que nunca tal aconteceu quando “o pessoal cavaquista” dispos do “poder para tanto” (e foram muitos e muitos anos),… seria normal !….
Em contrapartida, lembrar que há quem admita que o que aconteceu agora possa ter sido algo de intencional para prejudicar a candidatura de Cavaco Silva, mesmo precisando claramente não estar de acordo com esta “teoria da conspiração”, … ja seria indigno, maquiavélica intenção de dar publicidade a essa “teoria”, e até anunciador de uma “pérfida capacidade” para o fazer no futuro !!…
Fernando S, a expressão “faz o que te der na gana”, que quer dizer “faz o que quiseres, pois és livre para tal”, foi uma resposta ao que escreveste:
“Também poderia dizer que é “uma calunia”, “uma pulhice ancestral”. Mas não o faço.”
Neste exemplo, usaste a artimanha do Capucho, dizendo o que te apetecia dizer, mas sem assumir qualquer responsabilidade.
Também dizes que a palavra “bandalho” configura um insulto, e eu gostava de saber porquê. Sei o que entendo como insulto neste contexto, não sei já a que te referes pois tu afirmas não detectar qualquer insulto nas palavras do Capucho, esse bandalho. Desconfio que temos definições muito diferentes a respeito do mesmo conceito.
Finalmente, ao citares um outro comentador, estás a mostrar que até percebes o que está em causa nesta indignação que exprimi – só que preferes continuar a enfiar o Capucho.
Val,
O problema é que abusas das leituras em 2° grau !…
Não usei “artimanha” nenhuma, do Capucho ou de quem quer que seja.
Disse o que pensava e assumo total responsabilidade por isso.
O que disse é que, se usasse os mesmos critérios e a mesma linguagem que tu, também poderia então dizer que, ao fazeres um processo de intenções a Antonio Capucho, praticas “uma calunia”, “uma pulhice ancestral”.
Mas não uso os mesmos critérios, e nem sequer a mesma linguagem, como já pudeste perceber. Antes pelo contrário, lamento e condeno.
Nunca “me apeteceu dizer” ou quiz dizer o que me atribuis. Quiz dizer exactamente o contrário.
Os franceses teem um ditado muito interessante que se aplica a uma pessoa que, como tu, procura a todo o custo desvirtuar o sentido das palavras dos outros : “Procurar as 12 horas no sítio das 14 horas !…”.
Quanto à palavra “bandalho”, não percebo agora onde queres chegar. Julgo que todos reconhecemos que esta palavra é normalmente utilizada como um insulto. No contexto em que a utilizaste (e continuas a utilizar) é claramente um insulto. De resto, tu próprio confirmaste esta evidência : “Quanto a “bandalho” ser insultuoso … confirmo que é essa a intenção do seu uso por mim.”
Quanto à tua afirmação de que insultas Capucho porque (cito) “pretendo responder com insultos aos insultos recebidos”, continuo a não vêr em que é que o António Capucho te insultou como concidadão. Como já referi, ele limitou-se a fazer uma análise e a exprimir uma opinião que tu não partilhas e até condenas. Não vejo qualquer justificação para utilizar o insulto gratuito para responder e criticar a posição e as afirmações de António Capucho.
Também não vejo em que é que a citação de um outro comentador e o comentário que fiz mostra que percebo “o que está em causa [na] indignação que exprimi[ste]”.
Antes pelo contrário, tenho dito e repetido que acho que essa “indignação” não tem fundamento nem se justifica.
A citação e o comentário que fiz procura mostrar a duplicidade de critérios : “dois pesos, duas medidas” !
O teu trocadilho com a palavra “Capucho” até pode ter piada mas não vejo qual é a relação com a nossa discussão. Uma coisa é não concordares com a minha leitura, outra é insinuares que, no fim de contas, diga eu o que disser, eu até acabo por reconhecer a validade da tua leitura….
Pela minha parte, já disse que me considerava esclarecido quanto à tua posição embora não concorde com ela. Tão simples como isto.
Podemos sempre continuar a trocar argumentos.
Mas parece-me que seria mais interessante que deixasses de fazer leituras de 2° grau quanto ao que penso verdadeiramente por detras das palavras que digo. Como se eu dissesse uma coisa e pensasse outra. Decididamente é uma tua obcessão permanente. Fazes-me pensar na atitude do jogador de futebol que em vez de ir directamente à bola se preocupa mais com o corpo do adversário.
Mas claro que, como tu dirias, “faz o que te der na gana” !
Dito tudo isto, e tendo nós chegado a este ponto adiantado da nossa conversa, quero sinceramente (não há 2° grau !….) agradecer as tuas réplicas e, sobretudo, a circunstância de, apesar da manifesta diferença de pontos de vista, não teres cedido à tentação de passar ao insulto fácil e gratuito (relativamente a mim, entenda-se).
É algo que merece sempre ser assinalado porque infelizmente não é muitas vezes o caso na blogosfera.
Francisco: «Se uma coisa qualquer não é dimensionada para situações de pico, então é dimensionada para quê?»
As coisas são sempre dimensionadas para o patamar de solicitação pretendido. Geralmente, face aos custos e, nos casos aplicáveis, também aos riscos de segurança (sempre probabilísticos, como sabe). O melhor exemplo é o dos automóveis: os sistemas de segurança, por exemplo, são dimensionados em função da classe do veículo, porque quanto mais eficazes forem, mais elevado será o seu preço. No caso dos edifícios é idêntico, a regulamentação anti-sísmica obriga a estruturas mais caras, mas nada que se compare, por exemplo, à da Ponte Vasco da Gama, que é a construção mais segura de Lisboa se houver um abalo muito violento. Ficaria muito caro construir “bunkers” anti-atómicos em cada edifício de apartamentos ou vivenda geminada… No caso de rodovias, por exemplo, usa-se o Tráfego Médio Diário – ou pensava que a Segunda Curcular ou a Nacional 125 estavam dimensionadas para os seus picos máximos de utilização? Ou a praça de portagem de Carcavelos (essa, se o estivesse, ia até à Praia, disse-me um dia um Colega da «Brisa»…)? Os Engenheiros apenas elaboram soluções, técnica e regulamentarmente viáveis, para os níveis de serviço e qualidade pretendidos por quem decide.
Shark, isto também é válido na «Boeing», na «Otis», na «Tupolev» e até na «Rolls Royce» (como nos concessionários das infra-estruturas subterrâneas de gás, electricidade, etc.)…
Marco, agradeço a amabilidade dos seus esclarecimentos. Repito o que já lhe disse, não sou Informático nem quero vir a ser e, por isso, não boto faladura técnica sobre este assunto em concreto (e até afirmei que me parece que a Informática tem mas é as costas muito largas, sempre que me vêm com essa treta dos “erros informáticos”…). Porém, desfazer esse mito urbano do “consenso técnico” não contribui em nada para “minar” a confiança das pessoas na Técnica e nas Ciências em geral. Onde há dois Técnicos competentes, pode haver duas opiniões diferentes (entre muitas outras concordantes, como é óbvio), mas não se pode é exigir essa quimera do “consenso técnico” como alibi para desculpar a incompetência decisional. As decisões não devem ser tomadas pelos Técnicos, mas por quem “paga”. A generalidade das pessoas sabe isso muito bem, por isso é que, nas coisas decisivas (como por exemplo a sua Saúde), gosta sempre de pedir uma “segunda opinião” técnica. Ou até uma terceira. E não a um “endireita”, mas precisamente a outro Médico.
Fernando S,
já que citou um comentário meu, tendo embora errado o meu nome (acontece aos melhores), lamento que não tenha percebido a minha evidente ironia.
Repare no que eu disse, claramente, «Espero é (…) que tudo isto não seja antes a manifestação, sub-consciente, de uma pérfida capacidade de imaginar possível dar um dia um tal passo, caso se dispusesse de poder para tanto, por parte do pessoal cavaquista», ou seja, dando a entender que nem sequer ponho essa hipótese, acabo por provocar em si a reacção natural de concluir que o que eu penso, afinal, é o que depois escreveu, isto é, exactamente o oposto! Como vê, uma irónica réplica do que fez o educadinho Ant.º Capucho. E você conseguiu ler isso tudo apenas algumas palavras depois de eu ter dito, frontalmente, que se o ocorrido tivesse mesmo sido propositado, tal seria de uma monstruosa gravidade e teria que ter consequências (que mesmo assim já teve)!
E se as boas maneiras são de facto muito importantes para o diálogo civilizado, não se esqueça de que, como diz a canção do Casimiro, “ser honesto não é só ser bem-falante”!…
Fernando S, estás demasiado preocupado com os insultos para os reconheceres quando te aparecem à frente. E acabas a considerar insultuoso o que é a inócua resposta a um grave insulto feito de forma manhosa por alguém que ocupa, e tem ocupado, os mais alto cargos no Estado.
Azarinho.
O Marco Alberto Alves deixou-me um exemplo curioso com o projecto de estradas para o “Tráfego Médio Diário”. Não sou engenheiro civil e do que recordo sinto-me muito tentado em dizer que não – quase aposto que acaba por usar um factor de segurança aplicado sobre o tráfego médio diário. A minha memória (que também falha) diz-me que qualquer via, tubo ou estrada onde passem fluxos variáveis não pode ser dimensionada para os valores médios de fluxo porque isso dá origem a um sistema instável – instável no sentido em que o engarrafamento não seria resolvido num dia. Como disse, é um exemplo curioso – ainda me vai fazer desenterrar o meu manual de investigação operacional.
Concordo bastante com as asserções que faz acerca de patamares de segurança e níveis de risco e a relação que faz com o custo e com a escolha de quem paga o sistema. E isso faz-me regressar ao assunto original.
Na minha realidade “situações de pico” há muitas.
Na argumentação do Vitor fica-se com a impressão que “situações de pico” são só aquelas que ficam em patamares não controláveis pelo desenhador, os tais que são muito caros.
No caso do post, é, vá lá… ingrato, dizer que não era razoável ter dimensionado o sistema-de-informação-do-numero-de-eleitor-e-local-de-voto de forma a não haver lugar a ruptura. Como o Marco-eu-não-estou-para-ensinar-ninguém bem explicou.
Por outro lado, a publicidade e informação dos eleitores com CC, apontada pelo Vitor como recomendável, podia ter feito parte do sistema-de-informação-do-numero-de-eleitor-e-local-de-voto desde o projecto; falar disso agora tem a mesma relevância que discutir qual a marca ou a capacidade do equipamento usado no sistema – é só uma distracção.
Com o dimensionamento pretende-se obter uma solução viável, idealmente maximizando ou minimizando um, ou vários, critérios ou factores, cumprindo uma série de restrições relevantes. Usei aqui a palavra “restrições”, podia ter usado “limites”, “condições”, “casos fronteira” ou “situações de pico”.
Francisco,
claro que podem ser usados mais parâmetros, como a “percentagem de pesados”, ou até, no caso das intersecções (entroncamentos, cruzamentos…), o mais vulgar é mesmo o “volume da hora de ponta” (o tal “pico dos picos”…). Desculpará, mas hoje não há tempo para irmos mais além, que vou ter de enfrentar o tráfego até aos Infantários dos putos…
Hum…o Capucho suspende o mandato como presidente da Câmara de Cascais. Que terá na manga?
Marco Alberto Alves,
Antes de mais, as minhas desculpas pelo erro no seu nome e por o ter citado sem me ter dirigido directamente a si.
Pode até ser o caso de não ter percebido bem a sua ironia. Não seria nem a primeira nem a última vez e estou sempre pronto a dar a mão à palmatória.
Esforcei-me, lendo e relendo o seu comentário e o meu comentário, mas a verdade ainda não percebi em quê.
Também tenho de admitir a possibilidade de eu não ter sido suficientemente claro no meu comentário e de o Marco não o ter compreendido bem o que quiz dizer.
Salvo erro, quando diz que “espera que não seja antes” isto ou aquilo, está formalmente a admitir pelo menos duas possibilidades : a de que “não seja” e a de que “seja”.
Ou seja, também “põe[a] hipótese” de que “seja”.
“Espera” é um desejo, não é probabilidade, ainda menos uma certeza. De outro modo deveria ter dito algo do género : “estou convencido ou estou certo de que não é”.
Assim sendo, não percebo o que é que o leva agora a dizer que “nem sequer põe[] essa hipótese”.
Eu não me adianto sequer sobre a interpretação de qual é a hipótese que subrepticiamente apareceria como sendo a mais forte.
Repare (não sei se reparou) que o resto do seu comentário, ao invocar “um célebre aforismo popular” pode levar à ideia de que, no fundo, se inclinaria mais para o “seja”.
Mas eu não fui nem vou por aí. O que escreveu não me pareceu suficiente para ter certezas quanto ao fundo do seu pensamento.
Este é um género de exercício que eu tendo a afastar e a criticar.
E que o Marco (tal como o Val, com quem tenho estado a discutir), parece mais propenso a aceitar quando começa por dar crédito à leitura das afirmações de António Capucho como sendo a de que ele publicita e concorda com a “teoria da conspiração” apesar de ele ter dito explícitamente o contrário.
Também aqui não percebo o que é que o leva a dizer que eu “conclui[] que o que [o Marco] pensa[], afinal, é o que depois escrevi[], isto é, exactamente o oposto!” (entenda-se, que eu teria escrito que o Marco pensa que o pessoal cavaquista manipularia as eleições se tivesse poder para tal).
Na verdade, eu utilizo a sua citação apenas para mostrar que :
a) enquanto que o Marco pode tranquilamente falar num hipotético cenário de manipulação de um acto eleitoral por parte do “pessoal cavaquista”, não dizendo sequer explícitamente que não acredita que seja possível, sem que venha alguém dizer que está intencionalmente a dar publicidade e a concordar com tal teoria,
b) já o António Capucho não pode mencionar uma “teoria conspirativa” que se basearia na evidência (pelo menos para alguns) de que a abstenção prejudica Cavaco Silva, mesmo dizendo claramente que não concorda com essa teoria (recordo as palavras exactas de Capucho : “Há quem pense que … Eu não penso assim, acho que foi mera negligência …”).
Tanto mais que, à partida, a afirmação do Marco até se prestaria mais a especulações quanto às suas verdadeiras intenções na medida em que se refere a uma situação futura (enquanto que a “teoria da conspiração” do governo socialista se refere a uma realidade verificada) e não diz claramente não acreditar no cenário da possível manipulação “cavaquista” (enquanto que António Capucho o faz).
Por isto é que eu me refiro à existência de “dois pesos e duas medidas”.
O Marco pretende neste seu último comentário que a minha leitura, atribuindo-lhe a tese de que o “pessoal cavaquista” manipularia as eleições se tivesse poder para tal, é ainda mais incompreensivel depois de o Marco “ter dito, frontalmente, que se o ocorrido tivesse mesmo sido propositado, tal seria de uma monstruosa gravidade e teria que ter consequências”.
Em primeiro lugar, como procurei explicar aqui em cima, eu não lhe atribuí essa tese.
Em segundo lugar, esta afirmação do Marco refere-se ao problema dos eleitores que não puderam votar nas últimas eleições e não ao cenário da possível manipulação de futuras eleições pelo “pessoal cavaquista”.
Ou seja, esta sua afirmação não poderia nunca servir para mostrar que o Marco não acredita no cenário da manipulação “cavaquista”. Para tal o Marco deveria ter feito uma afirmação explícita, “frontal”, nesse sentido, tal como António Capucho fez relativamente à “teoria da conspiração” nas últimas eleições.
É curioso que, ao dizer o que disse, o Marco não exclui explícitamente que pudesse ter havido manipulação propositada nestas últimas eleições. Seguindo o critério que tanto o Marco como o Val utilizaram para acusar António Capucho, então seria normal dizer que o Marco também deixa aberta a porta à ideia de que estas eleições poderiam ter sido manipuladas.
Eu não concordo com este critério e por isso condeno este tipo de insinuações e acusações, seja contra quem for.
Finalmente, fico satisfeito por ver que o Marco também considera que, embora não sendo suficientes, “as boas maneiras são de facto muito importantes para o diálogo civilizado”.
Mas não percebo a que propósito invoca agora a problemática da “honestidade” a propósito de António Capucho.
Por muito menos andamos nós nesta conversa !
Ok val, estamos entendidos.
Fica bem.
Marco Alberto Alves, eu não falo de um “consenso técnico”, isso não existe.
Em computação, existem inúmeras maneiras do gato ir às filhoses e, nisso, cada cabeça sua sentença. Mas é expectável que, antes de se começar qualquer projecto, haja uma discussão técnica e um “assentar de ideias” que sejam minimamente consensuais.
Neste caso, claramente, não foi consultado nenhum técnico, engenheiro, nem ninguém com um mínimo de conhecimento de como as coisas efectivamente funcionam. Ou, alternativamente, foram consultados e não tiveram os tomates de dar dois murros na mesa e dizer com as letras todas: «Isto vai dar granel e eu não quero pactuar com esta merda; agora vou para os jornais botar a boca no trombone.»
As decisões técnicas – como esta era – são para ser tomadas por técnicos. Se o manda-chuva mandar dizer (sim, mandar dizer, que não põe os cotos ao pé da ralé) que não é para fazer, num caso como este, a empresa tem mais é que se desmarcar rapidamente.
Marco,
a minha discordância consigo não é factual (já disse que não sei rigorosamente nada sobre esta questão), mas totalmente conceptual: não acredito em sistemas físicos de Engenharia capazes de responder mais eficazmente às solicitações sem que isso se reflicta obrigatóriamente nos respectivos custos (generalizados). Isto já ficou bastante claro, não carece de mais argumentação.
Fernando S,
agradeço a sua resposta e concordo plenamente consigo quanto à insuficiente clareza de expressão, a partir da minha escrita demasiado sintética, do meu entendimento sobre as três questões em causa.
Quanto à principal, confesso que não ouvi Ant.º Capucho, apenas confio nas transcrições feitas pela Comunicação Social (neste caso também pelo “jornalista” Valupi). Assim sendo, parece-me óbvio que este tem razão ao vituperar Capucho, pois a sua tese peregrina, de uma suposta manipulação voluntária das Eleições por parte do Governo, não foi ventilada por mais ninguém de relevo, o que retira toda a margem de admissibilidade a um Conselheiro de Estado de vir, ainda que por portas travessas, lançar uma tal atoarda. Este tipo de “chicana” deve estar reservado para as figuras de quarta ou quinta linha da luta política, pelo que das duas uma: ou Capucho é uma delas, e nesse caso não tem lugar no Conselho de Estado, ou então mais valera ter ficado com essa “opinião” irrelevantíssima só para si.
Quanto à segunda, quando digo que “espero bem”, quero em primeiro lugar advertir para essa remota possibilidade (tanto por parte do “pessoal cavaquista”, como de qualquer outro “pessoal” político, note-se), tornada agora uma “tentação diabólica” pelo facto de se terem reconhecido lacunas graves num dos mecanismos de validação democrática do processo eleitoral. Por outras palavras, expresso a minha esperança, em modo de advertência, de que ninguém sucumba à facilidade de usar este novo alibi da “informática” para tentar manipular, ou condicionar, no Futuro, resultados eleitorais. Isso seria grave demais. Em segundo lugar, exprimi irónicamente como pode ser possível levantar uma torpe suspeita num “modo não-confirmativo”, digamos…
Finalmente, quanto à terceira questão (que remete para a primeira), concordo com a leitura “formal” de Ant.º Capucho de que houve apenas incúria. Contudo, estando completamente alheio a todo o processo e respectivos intervenientes, não posso rejeitar liminarmente a hipótese, mesmo que apenas académica, de alguma mãozinha perversa ter maldosamente introduzido “areia na engrenagem”, o que tanto poderia ter sido para viciar as Eleições (para mim a hipótese mais remota e até algo alucinada), como também para “tramar” algum responsável, tipo “ajuste de contas” ou algo mais pessoal. E o facto é que já houve mesmo demissões…
Saudações democráticas,
M. Alb. Alves.
Caro Marco,
Agradeço a sua resposta.
Creio que estamos de acordo quanto ao essencial : o que aconteceu nestas eleições foi grave e não deve voltar a acontecer !
Também concordo consigo quanto ao facto de que o mais provável e plausível é que o que aconteceu não foi deliberado por parte do governo e resultou antes de alguma incúria.
Percebi que houve aqui um debate sobre aspectos técnicos, que eu não domino, mas quer-me parecer que pode ter havido também alguma incompetência.
Sinceramente, não sei se há ou não responsabilidades políticas ao nível do governo. Julgo que há um inquérito (interno ao MAI) em curso para apurar o que aconteceu e responsabilidades. Mas há muita gente, sobretudo na oposição, que acha que sim e associa esta falha a deficiências organizativas na acção governativa.
Seja como for, nenhum sector político, nomeadamente da oposição, acusou o governo de manipulação deliberada das eleições.
Ainda bem, porque factualmente não existe nenhuma prova nesse sentido e também porque seria muito mau para o ambiente político.
A nossa discordância tem, vendo bem, apenas a vêr com uma questão relativamente marginal (mas que não deixa de ser políticamente relevante) : saber se as tais afirmações de António Capucho tinham ou não como objectivo lançar a ideia de que o governo poderia ter manipulado as eleições no sentido de prejudicar a candidatura de Cavaco Silva.
O Marco reconhece não ter ouvido a intervenção de António Capucho e fazer fé unicamente nas transcrições do Valupi e de alguma comunicação social.
Eu ouvi, por diversas vezes e com muita atenção, a totalidade dessa intervenção. De resto, o post do Valupi tem um link para um video com a mesma.
Esta circunstância “objectiva” pode eventualmente explicar a nossa divergência.
Mas a verdade é que outras pessoas, como o Valupi, ouviram as mesmas afirmações e fizeram uma leitura com a qual o Marco concorda.
O que me leva a reforçar mais uma vez a ideia de que as leituras que muitas vezes se fazem das afirmações de outros dependem menos do que é efectivamente dito e mais de um preconceito ideológico e político relativamente ao autor das mesmas. Repare que, a este nível de reflexão, não me estou sequer a excluir do universo preconceituoso (no meu caso, seria favorável ao autor).
Mesmo assim, acho que vale a pena transcrever aqui a totalidade das declarações (mas que representam apenas uma pequena parte da entrevista, o que também não é completamente secundário) :
Jornalista : “Se estivesse no lugar de Rui Pereira o que é que fazia ?”
António Capucho : “Eu acho que por uma razão de coerência devia demitir-se. Porque de facto o que se passou é inacreditável. É a primeira vez, que eu me recorde, que é impossível saber quantos abstencionistas tivémos. Na minha assembleia de voto, sendo eu presidente de câmara, tive a sensação, porque fui obviamente intimado, insultado nalguns casos, por variadíssimos eleitores que disseram “estou há 1 hora na bicha ao frio, acabou, vou para casa, isto é uma vergonha de terceiro mundo”, e houve centenas de pessoas em todo o meu conselho e presumo que em todo o país. Portanto, os números da abstenção hoje em dia são uma incógnita. Efectivamente não terá havido impacto no resultado eleitoral. Mas é de uma gravidade extrema porque … Em primeiro lugar, eu não abundo a favor da teoria da conspiração, mas é evidente que toda a gente sabia que a abstenção prejudicaria o candidato Cavaco Silva, portanto há quem pense hoje em dia que isto não é por acaso. Eu não penso assim, acho que foi uma mera negligência e a negligência tem de se pagar políticamente. E o Sr Ministro não pode estar à espera de apurar o que quer que seja. A máquina devia estar montada e é por demais evidente, para quem conhece o processo, que o mínimo que teriam que fazer era escrever aos portadores de novo cartão a dizer qual era o numero da mesa de voto, o local, onde é que deveriam votar, senão mesmo uma circular a todos. Por outro lado, eu não vi a Comissão Nacional de Eleições a fazer, como sempre fez, uma campanha eleitoral de apelo ao voto, também me deixa algumas dúvidas se isto é apenas poupança. Enfim, é um processo que é perfeitamente lamentável e que ensombra, no fundo, os resultados destas eleições, pelo menos no campo das abstenções.”
E a entrevista continua com perguntas e respostas versando a análise própriamente política da campanha e dos resultados eleitorais.
Procurando apresentar esquemáticamente o que me parece ser o essencial do pensamento de António Capucho sobre a matéria que nos ocupa :
1. Houve disfuncionamentos no processo eleitoral que aumentaram certamente o número de abstencionistas.
2. Este maior abstencionismo não teve impacto no resultado eleitoral (entenda-se, em termos da designação de um vencedor), mas prejudicou a candidatura de Cavaco Silva.
3. Tendo em conta que o maior abstencionismo prejudicou a candidatura de Cavaco Silva, há quem pense que os disfuncionamentos não aconteceram por acaso e defenda uma teoria da conspiração.
4. “[] Eu [António Capucho] não abundo a favor da teoria da conspiração …”. “Eu [António Capucho] não penso assim”.
5. “Acho [António Capucho] que estes disfuncionamentos resultaram de “mera negligência”.
6. Mesmo assim, o que se passou é “inacreditável”, “de uma gravidade extrema”.
7. “[] A negligência tem de se pagar políticamente”. “[O] Ministro não pode estar à espera de apurar o que quer que seja. A máquina devia estar montada.”
8. “[] Por uma razão de coerência [o Ministro Rui Pereira] devia demitir-se.”
Pela minha parte, embora não discordando categóricamente, não tenho tanta certeza como António Capucho relativamente a alguns aspectos. Em particular, no que se refere ao impacto da abstenção nas diferentes candidaturas, à responsabilidade política do Ministro do Interior, e à exigência de que este se demita de imediato.
Mas isto não é o que interessa para a nossa conversa.
O que me parece claro é que António Capucho não teve qualquer intenção de promover, muito menos de defender, uma teoria da conspiração por parte do governo.
Falou nela no sentido de reforçar a ideia de que, mesmo reconhecendo que não se tratou de manipulação do governo mas sim de mera negligência, o que aconteceu é da responsabilidade política do governo e é suficientemente grave para justificar a demissão do ministro de tutela.
A invocação de uma tese mais radical mesmo que não se concorde com ela é muitas vezes feita para explicar que, mesmo que as razões sejam menos graves do que seriam naquele caso, são de qualquer modo suficientemente graves para se tirarem consequências fortes.
Toda a gente, num momento ou noutro, sem excepção, de direita como de esquerda, utilizou este tipo de argumentação.
Como já expliquei num comentário anterior, citei uma frase do Marco precisamente como um exemplo “à mão” que mostra que, mesmo quem acusa Capucho de utilizar técnicas rectóricas insidiosas de promoção de uma tese com a qual diz não concordar (o tal “lançar atoardas”), pode estar, sem mesmo se dar conta, a utilizar o mesmo tipo de técnica. No fim de contas, o Marco referiu-se a um hipotético cenário de manipulação de um acto eleitoral futuro por parte do “pessoal cavaquista”, sem sequer ter tido o cuidado de dizer explícitamente que não acreditava nele. Apenas nos comentários seguintes o Marco explicou claramente que não considerava tal cenário como provável e que também se queria referir ao “pessoal não cavaquista”.
Neste momento parece-me perfeitamente claro que o Marco não pretendeu “lançar atoardas” sobre o que o “pessoal cavaquista” poderia fazer em termos de manipulação de eleições se chegasse ao poder. E que, com maior ou menor sucesso, o seu exercício se destinava apenas a “exprimi[r] irónicamente como pode ser possível levantar uma torpe suspeita num “modo não-confirmativo””.
Mas a verdade é que o Marco disse o que disse e, se eu seguisse os mesmos critérios inquisitoriais utilizados para interpretar as declarações de António Capucho, se não lhe tivesse dado o benefício da dúvida, e se não tivesse dado crédito às suas explicações posteriores, então também poderia estar aqui e agora a dizer que o Marco tinha procurado “lançar atoardas” com o ar inocente de quem não o quer fazer (para o citar mais uma vez : “diz (que não acredita, mas diz e isso é que fica)”).
Não me canso de repetir que não sigo esses critérios e que prefiro tomar como tal aquilo que o Marco, ou quem quer que seja, me diz explícitamente.
Eu sei perfeitamente que podem sempre existir segundas intenções e que o que as pessoas pensam (e fazem) nem sempre corresponde exactamente ao que dizem,… Mas se na discussão de ideias, por definição utilizando as palavras, não dermos algum crédito ao que os nossos interlocutores nos dizem (e vice versa), se passarmos o tempo a fazer processos de intenções, então o diálogo torna-se impossível e resvala-se para a incompreensão absoluta.
Quanto à circunstância de nenhum outro dirigente partidário se ter referido à “teoria da conspiração” e de o António Capucho ser Conselheiro de Estado…
Julgo que a questão perde actualidade se se aceitar minimamente o que digo aqui em cima.
De qualquer modo, mesmo num plano meramente formal, continuo a não ver onde estaria o problema.
O facto de nenhum outro dirigente partidário ter falado nessa teoria (não sei se é assim porque não fui verificar, mas pouco importa) não significa que ela não exista. Na realidade, todos sabemos que ela existe, muita gente acredita e fala nela. Há muita gente que não é dirigente partidária mediatica. Felizmente. Não faltam “anti-socratistas primários” para lançar uma “atoarda” como esta. Não custa a acreditar que o António Capucho a tenha ouvido da boca de outras pessoas e se tenha referido a ela nos termos que vimos. O que se pode concluir do que se tem ouvido na praça pública é que esta teoria não parece ser partilhada por dirigentes partidários com expressão mediática. Ou porque não a chamaram à colação ou porque, como o António Capucho, se referiram a ela acessoriamente para a descartar.
O facto de o António Capucho ser Conselheiro de Estado não o impede de exprimir livremente a sua opinião, seja ela qual for. Ainda bem. Era só o que faltava, numa sociedade que se pretende livre e pluralista. Se porventura acreditasse na tal teoria teria até a obrigação moral de falar nela e de explicar as suas razões. Se porventura, como tudo indica ser o caso, não acredita nela, seria grave se tivesse falado nela sem ter dito desde o início não a considerar válida.
E pronto, as minhas desculpas por ter sido longo e massudo.
Agradeço e retribuo as saudações democráticas.
Obrigado pela resposta, prezado Fernando S.
E encerro por ora este assunto, aliás já ultrapassado, com uma breve chamada de atenção para algo por demais evidente, mas importantíssimo: eu posso lançar “atoardas” em “blogues”, mesmo que apenas para efeitos semânticos, ou retóricos, que isso terá sempre uma relevância nula para quem me ler. Pelo contrário, um Conselheiro de Estado, como um Deputado, um Ministro, um Presidente de Câmara, ou até “apenas” um Juiz, um Médico, um Professor, um Bispo, ou uma celebridade mediática, detêm um “peso” social e uma credibilidade pública que lhes conferem uma responsabilidade ética e pedagógica, a qual lhes deveria “limitar”, sem contudo a limitando, a sua liberdade de expressão (e, às vezes, apenas na forma, nem sequer no conteúdo)!
Para que a sua “conversa” nunca possa ser confundida com a de um qualquer espectador (ou Jogador) de Futebol, ou um participante de “reality-shows” televisivos, por exemplo. Não concorda?