Dominguice

Podemos contemplar fotografias e filmes onde aparecemos e não termos qualquer recordação do que estamos a ver. Não fazemos ideia do que fizemos naquele espaço antes ou depois das imagens captadas, nem como lá fomos parar. Porém, é impossível recusar a evidência, a prova. Ali estamos, com uns, com outros, com nenhuns. Quando tal acontece, aquela pessoa banhada pela luz de outrora agora, que somos nós no instante gravado, deixa de nos representar. É um estranho, tão inacessível ao olhar exterior como qualquer estranho. Em que estaria a pensar, que estaria a sentir naqueles momentos em que alguém pressionou um botão? Que nos diria se lhe pudéssemos perguntar? Aceitaria falar connosco acaso o convencêssemos de estar na presença de si próprio, vindo do futuro armado em cusco?

Aposto que nada diria. Não por se assustar, não por timidez, não por pirraça. Por pudor. É principalmente de nós próprios que devemos esconder quem somos.

11 thoughts on “Dominguice”

  1. o bolo-rei do público tem prendas para a comissão organizadora do 49 de novembro

    Sim. No 25 de Novembro o primeiro telefonema que ele faz — quando eu chego ao pé dele e digo que o Otelo desistiu — é para o Melo Antunes; para ele ir à televisão defender o PC: “Ó Melo Antunes, eu preciso do PC na rua. Temos que salvar o Partido Comunista.”
    https://www.publico.pt/2024/12/01/politica/entrevista/mario-soares-intuicao-brutal-nao-acreditava-cultura-democratica-povo-portugues-2113741

  2. devo ter mesmo uma excelente memória . e não percebo qual a vantagem de esconder de mim quem sou , só sabendo posso melhorar – o diagnóstico é essencial para o tratamento :-:) – e como cheguei aqui. e lembro-me perfeitamente de todos os passos do percurso. e de perceber mais tarde a necessidade de alguns terem sido o que foram.

  3. O que nos traz aqui todos os dias, ou perto disso, fica à vista nestes postais filosóficos e não-políticos do volupi: vai-se a baderna e a politiquice, vão-se também os comentários. E os poucos que aparecem, como o do Figueiredo ou o do merdolas residente, ignoram o postal.

    Só a yo foi ao tema, mas creio que passou ao lado da ideia central – haverá quem consiga situar todos os momentos em que foi fotografado, mesmo após muitas décadas, e realmente reconhecer a pessoa que lá está? Somos nós, mas qual de nós? Como o volupi, não tenho a certeza.

  4. algumas fotografias podem ter sido fotoxupadas pelos criativos da defesa ou da acusação, mas na maioria dos casos é malta que funciona a codergocrina ou bagaço. finalmente são felizes para azar da família.

  5. Tenho uma coisa cá dentro que é sempre a mesma ,Filipe. Lembro me de tudo o que viu, o que brincou ,o que sofreu e de como deixou de amuar.. . Não sou dispersa, de alguma maneira segui uma linha. O pouco que logo ao social, ao poder, á publicidade, á satisfação de objectivos impostos que não são os meus poderá ter contribuído para isso. E a importância que dou ao autoconhecimento. E ter os mesmos grupos de amigos á minha volta há anos a fio.

  6. Duas ou três vezes dei uma olhadela pelas muitas fotos que fui colecionando e, tirante as do bilhete de identidade, coisas assim, identifico sempre, em praticamente todas, o momento e respetivo enquadramento. Não tenho pudor de nenhum. Pelo contrário.

    Recorro à nossa memória episódica:
    – A memória episódica é, como o nome indica, a memória para episódios específicos da vida, isto é, acontecimentos com uma localização específica no espaço e no tempo. Podemos, portanto, recordar os aspetos específicos de uma experiência: o lugar, o tempo, as cores e os cheiros, as vozes do passado. Exemplos típicos de memórias episódicas encontram-se nos pormenores de experiências específicas: a morte de um familiar, o primeiro amor, etc. –
    (Estive a citar)

    E à nossa memória de procedimentos:
    – A memória de procedimentos é o oposto da memória episódica. Enquanto a memória episódica preserva a especificidade dos acontecimentos, a memória de procedimentos preserva as generalidades da ação, através dos acontecimentos. As memórias de procedimentos devem preservar princípios de ação e ignorar os pormenores específicos de cada situação. –
    (Estive a citar)
    ­—————————–
    Concluindo. Todos estão conscientes das “cambalhotas” que deram durante a sua vida. Todos estão conscientes da integridade que praticaram em todos os momentos da vida. Os meus pais não me ensinaram nada, nada de nadinha, em casa. Tudo o que aprendi foi fora de casa.
    (O que se aprende em casa!!!! Dava pano para mangas…. – mas isso não vem agora ao caso)

  7. pois olhe , Fernando , comigo foi ao contrário :o principal , a base, aprendi em casa , com exemplos , e nos sítios para onde me mandaram aprender . pude aventurar-me a nadar por todo o lado sem me afogar , as boias eram bem boas -:) -:)
    a disciplina é o que nos torna livres.

  8. “a disciplina é o que nos torna livres.”

    só os cilícios é que são eficazes, mas há quem tome aspirina e coma uns bolicaos.

  9. Totozinho, a disciplina começa precisamente por controlar o que ingeres,, livra te de doenças…come tu bollymerdas e bebe coca cola e toma muita medicação -:)

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