Dominguice

A forma mais eficaz de perder a razão consiste na pulsão para ter sempre razão.

A condição de maluquinho não nasce da sua carência de razões mas do seu excesso.

11 thoughts on “Dominguice”

  1. Concordo.
    Quem acha que tem sempre razão, quem quer ter sempre razão, quem não admite não ter razão, acaba por um enlouquecer, isto se a “pulsão para ter sempre razão” de que fala já não for uma forma de loucura. Por trás disto está baixa auto-estima, ansiedade, ilusão de controlo, narcisismo, etc. O problema é que muitos malucos andam por aí a espalhar as suas certezas, a destruir a vida dos outros que, por vezes, quando demonstram dúvidas saudáveis são, eles sim, considerados malucos, ou fracos, ou burros, ou até desleais… Uma loucura.

  2. Certissimamente.
    O exemplo prático daquele que atingiu o estado de maluquinho desse tipo é aquele que vê e afirma, por tudo e por nada, que os outros são ‘todos’ corruptos, são ‘todos’ bandidos, são todos ´ladrões’ que deviam ser ‘todos’ presos, torturados e mortos.
    Outro exemplo prático desse estado de maluquinho é aquele que está tão ‘convicto’ de uma ideia que se volta para nós e nos afirma repetidamente que ‘eu vejo, ali na minha frente que é assim’ como é que os outros não veem ou não percebem.
    O exemplo mais avançado de maluquinho de certezas absolutas é aquele que já atingiu o estado de ‘falar’ com os lá no ‘alto’ no céu.

  3. e a a pulsão para “ganhar” qualquer discussão ? aqui temos um bom exemplo dessa pulsão. voltas e voltas ao assunto até acabar em “larga o vinho”.

  4. «O exemplo prático daquele que atingiu o estado de maluquinho desse tipo é aquele que vê e afirma, por tudo e por nada, que os outros são ‘todos’ corruptos, são ‘todos’ bandidos…
    «Outro é aquele que está tão ‘convicto’ de uma ideia que se volta para nós e nos afirma repetidamente que ‘eu vejo, ali na minha frente que é assim’ como é que os outros não veem ou não percebem.»

    Sou precisamente um desses maluquinhos e creio que faz aí duas ligeiras confusões:

    Não afirmo que todos são corruptos, e não o afirmo por tudo e por nada: afirmo-o, no caso da política em Portugal, após 50 anos de saque e bandalheira, de corrupção e impunidade. No caso do resto do mundo, afirmo-o após 50 anos de conhecimento directo e indirecto de ‘como o mundo funciona’. Há excepções? Com certeza que sim, mas são isso mesmo. A regra é realpolitik, ganância e hipocrisia.

    E incomoda-me que tantos não vejam o que me é tão óbvio, como por ex. a trafulhice do 44 que percebi desde sempre, ou a necessidade duma democracia mais directa, ou como uma dúzia de mamões tudo fará para impedi-la, mas não creio que seja (só) loucura minha ou incapacidade dos demais: pelo contrário, é por julgar os demais tão capazes como eu que me incomoda que não vejam algo tão óbvio.

    Ou seja, sou o inverso do maluquinho que se julga profeta, ou messias, ou visionário do que mais ninguém pode ver: tudo isto me parece penosamente, banalmente evidente. É quase preciso um esforço consciente para ignorar tudo isto; uma espécie de palas voluntárias usadas por carneiros alienados.

  5. tu nem para maluco prestas, não inventas nada e nem sabes do que falas, limitas-te a amplificar o sinal da colina e aumentas a mentira reduzindo o nível da decência. quem contribui para isso é quem te dá troco e sobretudo quem permite que entulhes as caixas de comentários com os traumas que a direita ranhosa tem vergonha de exibir.

  6. em todos os condomínios há um parvo como tu que paga as cotas e aprova as contas como os outros.

  7. “E incomoda-me que tantos não vejam o que me é tão óbvio”
    “Tudo isto me parece penosamente, banalmente evidente.”

    Ora aqui está a personificação da dominguice valupiana desta semana. O que me assusta mesmo é não saber com quantos Arquimedes e Galileus destes me cruzo diariamente na rua, no supermercado, no café, na papelaria, no autocarro, nas escadas do prédio, no parque quando vou passear o cão, etc. e tal. Prefiro acreditar que estão fechados em caixas de comentários de blogues e no facebook, mas não, eles andam aí. Assustador.

  8. Esta é uma das diferenças entre nós, Zé: eu sei que me cruzo diariamente com centenas, milhares de Zés. São vocês a maioria. São os carneirinhos que votam no Centrão Podre, mais recentemente no Chega, que defendem os pulhíticos do seu partido-gangue, por venais que sejam, que vêem e acham imensa piada ao comuna-caviar Araújo Pereira, que têm futeboleiros e comentadeiros favoritos, que usam as ‘redes sociais’ e consomem e enchem mamões e ‘celebram Abril’ e vão botar o botinho como bons cidadãos.

    Pessoa retratou-vos nas costas do homem que seguia à sua frente ao descer a Rua Nova do Almada; mas não sou Pessoa, nem sinto a ternura que ele sentiu por esse homem que dormia. Sinto outras coisas.

  9. ” eu sei que me cruzo diariamente com centenas, milhares de Zés. São vocês a maioria. São os carneirinhos que votam no Centrão Podre…”

    se queres mandar na maioria tens de ser eleito pela maioria e passas a ser um pulhitico mamão corrupto. até lá vais pagando as cotas, cumprindo as regras do condomínio e reclamando que os outros vão todos em contra-mão.

  10. Ó idiota inútil a pilhas duracell, repara: “Portugal, após 50 anos de saque e bandalheira…”

    Estamos perante um maluco de tipo saudosista. Qual ser eleito qual quê, o homem quer ser levado em ombros pelos Zés todos até Belém e lá ficar 50 anos. É o sonho de todas as criancinhas mimadas, “eu falo, vocês ouvem e não questionam.” Exige atenção total e não admite ser ignorado. E claro, os corruptos são sempre os outros.

  11. “Lohrmann
    foi o cérebro da operação. É o mais
    inteligente e com grande capaci-
    dade económica. É um líder nato,
    muito culto, que sabe esconder in-
    formação”, confidencia uma fonte
    judicial.

    Razão tinha o José Sócrates, Valupi. Um dia em que o teu amigo João Galamba vá dentro é menino para tramar os gajos que se fartam de puxar pela cachimónia para arranjar maneira de dar de frosques (seja de Vale de Judeus ou doutra boutique qualquer) e, todos!, acabarão por morrer como ele atrás das grades (diálogo com a persona do Miguel Abrantes):

    — Não, que ele fala muito. Temos de manter isto só entre nós.

    No jornal I, de 22.1.2017, online.

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