Dominguice

Se nos fosse dado o poder de mudar algo no nosso passado ou no nosso futuro, mas só uma das opções, qual escolher? Qualquer das decisões implica um risco dilacerante: o do arrependimento. Mudar o passado parece mais seguro, porque o conhecemos. Mudar o futuro parece mais promissor, porque o imaginamos. O arrependimento na escolha do passado poderia vir da constatação de que ficou tudo na mesma. O arrependimento na escolha do futuro poderia vir da consciência de que poderia ser melhor.

A pensar morreu um burro.

10 thoughts on “Dominguice”

  1. o ano do meu nascimento para quando na Terra só existiam uns milhares de pessoas -:) -:) do que eu me livrava , Jesus . Mundo tão lindo , mas que se encheu de uma praga que nem no-lo deixa desfrutar.

  2. E O 3.º TERMO?

    PASSADO e FUTURO … mas, onde está o terceiro termo, o PRESENTE?

    Seria assim, — eternamente condenados à impotência do “arrependimento”, presos a essa oscilação dual da qual seria impossível sair – EXCEPTO se não existisse um terceiro termo.

    O terceiro termo é aquilo que não ‘é’ nem ‘não é’. Aquilo que nenhum Passado nem nenhum Futuro consegue formalizar ou captar. O terceiro termo é o constructor (o engenheiro do Impronuncialismo), aquele que modifica as peças, as substâncias e as proporções, provocando a mudança nos Passados (naquilo que se concebeu e vivenciou como sendo o real que aconteceu) e nos Futuros (nas utopias, nas imaginações, nas certezas, nos absolutos).

    PASSADO (o antes, pai/mãe, progenitores, etc.) e FUTURO (o depois, filho/a, crias, o corolário dos teoremas, lógicas e equações feitas no Passado, etc.) … MAS, onde está o terceiro termo, o PRESENTE (o «Espírito Santo»; ou o equivalente no hinduísmo, designado «Brāman»)? Onde está esse, que não nos deixa ‘morrer’ apesar de termos ‘nascido’ (sem autorização nem consentimento)?

    Georges Dumézil fartou-se de escrever sobre essa “Trifuncionalidade do Indo-Europeu”.

    “Em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo”, dizem os judaico-cristãos.

    Quem é esse terceiro termo que se atravessa na dualidade Passado/Futuro? Quem é esse ente que não se deixa ser nem formalizar, que muda tudo, e provoca a mudança e a evolução?

  3. O Passado e o Futuro não existem, senão em cada Presente que os concebe e descreve.
    Para cada ‘mortal’, quanto tempo isso é?

    O Presente jamais ‘é’ ou ‘não é’. O Presente ‘é’ e ‘não é’ simultaneamente.

    O Presente é a única existência a que temos e tivemos acesso. A única porta por onde poderíamos sair, se quisermos.

  4. Mudar o passado pode, como dezenas de filmes e séries tentam ilustrar, ter efeitos imprevisíveis no presente. Estes podem ser bons ou maus. Nos filmes tendem a ser maus.

    Mudar o futuro é o que já fazemos; poder definir certo futuro traz questões logísticas: se definir que serei magro daqui a um ano e até lá só comer bolos e feijoadas, como é isso possível? Ou ganhar a lotaria: isso impele as dezenas de bolinhas do sorteio na ordem correcta? Ou a Kamala ganhar as eleições, como o volupi gostaria: isso muda a cachola de milhões de carneiros americanos?

    Como diz o IMP, até certo ponto – o ponto que interessa – só existe presente.

  5. mudar acontecimentos do passado significava mudar nos a nós no presente . ora , não tenho interesse nenhum mesmo em mudar-me. eventualmente mudaria contextos sociais e trespassava-me para outra época de “menos perros , menos pulgas”. no futuro , só na eventualidade de sobreviver a mim própria , pois adiantava a hora da morte, , vegetar é uma ideia angustiante.

  6. “O TEMPO SOMOS NÓS”?

    ”Sind wir selbst die zeit“ (Heidegger, 1924)

    O Presente será a duração da Existência, será ela própria?
    Se assim fôr, só existirá Passado antes da Existência, e Futuro após ela.

    O Presente começou quando o Passado acabou? O Futuro começará quando o Presente acabar?

    O Tempo será a Duração? Haverá diferentes tempos consoante as várias durações (por exemplo, ‘passado’, ‘presente’, ‘futuro’)? Qual será a duração de cada uma?
    — Se o Presente começou há 13.700 milhões de anos, o Passado acabou nessa data? Se o Presente ainda decorre, então, o Futuro ainda não começou. Se tudo o que existe na existência (desde a energia, a matéria, as partículas, os objectos, as coisas, até aos seres-humanos) é o Presente, como sabemos o que foi o Passado e será o Futuro?
    — O Presente são esses 13.700 milhões de anos que dura este universo? E quando acabará?
    Ou há vários Presentes, cada um dos quais correspondendo a um submúltiplo da duração desses 13.700 milhões de anos?
    — Por exemplo, o Presente é aquilo que dura apenas o período de uma transição da radiação entre dois estados hiperfinos do átomo de césio 133 (ou mais recentemente, dos átomos de itérbio ou alumínio)?
    — Ou o Presente terá uma duração exponencialmente maior, correspondendo à duração de 1 segundo (isto é, em vez e 1, à duração de 9.192.631.770 períodos da radiação correspondentes à transição entre os dois níveis hiperfinos do estado fundamental do átomo de césio 133”)?
    — Ou o Presente é um dia, uma semana, um mês, um ano, um século, um milénio, uma ‘era’, uma ‘época’, a ‘duração da vida de um observador até morrer’, ou será outro qualquer submúltiplo dos 13.700 milhões de anos da existência deste universo?

    QUAL É O CRITÉRIO para se validar a fronteira entre aquilo que designamos por Presente, Passado, Futuro?

    No BUDISMO, o tempo (Maha-Kalpa) pode assumir três formas (fogo, água e vento), e possui quatro durações (o tempo necessário para o mundo se formar; a duração estável do mundo, onde todos os seres vivos podem prosperar; o tempo necessário para a destruição do mundo; o período vazio de tempo).

    No HINDUÍSMO, o tempo é um ciclo de permanente e eterno retorno entre criação (Brahma), destruição (Shiva), e reconstrução (Vishnu). O deus Brahma cria o universo num dia (a que correspondem 4.320.000.000 anos). E vai dormir. Enquanto dorme, o universo é destruído pelo fogo através do deus Shiva. Mas o deus Vishnu não permite que a destruição do universo perca a latência de poder vir de novo a ser reconstruído. Assim, quando Brahma acorda, volta a criar de novo o universo, num dia. E assim sucessivamente, até que se completem 100 anos feitos de um dia de Brahma.

    No JUDAÍSMO, o tempo é concebido como “começo, paradigma absoluto, e como essência”. Uma concepção construída em redor de «re’shit», que dá início ao livro do Génesis (o qual, na tradição hebraica, se designa também por «Bere’shit’). A ideia de precedência de Deus em relação ao tempo é formulada posteriormente no Evangelho de João, ao dizer: “No princípio era o Logos, e o Logos estava em Deus. E o Logos fez-se carne”. Ou seja, o Logos incarnou numa fase adiantada do Tempo, quando começou o tempo humano. Assim sendo, o Tempo é algo preexistente, uma coisa coincidente com o incomensurável horizonte intemporal de Deus, podendo, assim, ser anterior ao próprio tempo inicial do mundo.

    ARISTÓTELES diz: “arithmós kinéseôs katá tó próteron kai ýsteron”. A Escolástica, posteriormente, transforma este conceito aristotélico em: “numerus motus secundum prius et posterius”.

    E na Idade Média, a partir do século IV, a IGREJA CRISTÃ na europa, com S. Tomás de Aquino e Agostinho de Hipona, impõe uma visão linear do tempo («antes-agora-depois», «passado-presente-futuro»). Impedindo que continuasse a ser concebido como um processo cíclico de eterno retorno. Agostinho de Hipona escreveu: “(…) Quanto ao Presente, se fosse sempre Presente, e não passasse para o pretérito, como poderíamos afirmar que ele existe, se a causa da sua existência é a mesma pela qual deixará de existir?”. (Santo Agostinho, ano 398 d.C, Cf. XI, 14)

    Quando a CIÊNCIA chega ao pensamento humano as narrativas mudam. Dizem o seguinte:

    “O tempo é uma quarta dimensão. Depende da velocidade do observador e do campo gravitacional ao qual está submetido” (Albert Einstein, 1905 e 1915)

    “O Tempo pode acabar? As características que o tempo irá progressivamente perder são pré-requisitos para a nossa existência. Precisamos que o tempo seja unidirecional, para nos desenvolvermos e evoluir. Precisamos da noção de duração e de escala, para sermos capazes de formar estruturas complexas. Precisamos de um ordenamento causal, para que os processos se possam desenrolar. Precisamos da separação espacial, para que os nossos corpos criem um pouco de ordem no mundo. Apesar de tudo, não somos vítimas passivas da extinção do tempo, somos perpetradores. Enquanto vivemos, convertemos energia em calor, e contribuímos para a degeneração do Universo.” (Musser, 2010)

    “O tempo é provavelmente uma ilusão – uma ilusão fortíssima” (Alberto Casas González, 2020, Instituto de Física Teórica CSIC).

    EM SUMA, EM QUE É QUE FICAMOS?

    Valupi, onde está a culpa e o arrependimento?

  7. «“O tempo é provavelmente uma ilusão – uma ilusão fortíssima” (Alberto Casas González, 2020, Instituto de Física Teórica CSIC).»

    Se assim é, e eu até posso concordar que assim seja, para quando e como pensar num tempo para o que “há-de vir”?

  8. Jose Neves,
    O «HÁ-DE VIR» pensado não como um Futuro, mas como algo a construir no Presente.

    Valupi pergunta se podemos evitar o “arrependimento”, ao fugirmos para o Passado ou para o Futuro. A resposta é, que o arrependimento não pode fugir do Presente, e o Presente é o máximo que conseguimos ser, e de onde fazer.

    Logo, digamos o que dissermos, façamos o que fizermos, imaginemos o que sonharmos ou desejarmos, o que falta é aquela ESCOLHA de agirmos aqui-e-agora na modificação de «O QUE É». Em que nunca estaremos a salvo do arrependimento, mas também da realização perante (inevitavelmente) o imperfeito e o inconcluído.

    Valupi queria que conseguíssemos escapar ao erro e à imperfeição ao escolhermos e agirmos. Mas isso é impossível. Valupi, talvez, em parte, quisesse ameaçar-nos com o arrependimento para evitar que não criticássemos a Democracia (e outras coisas que constroem «aquilo que somos»).

    Ninguém sabe o que vai na alma de um ser, cujo sistema e programa possui a propriedade de ser aberto à opressão do absoluto e do definitivo. Que não precisa do Passado nem do Futuro para criar «O QUE HÁ-DE VIR», e não sucumbe à culpa nem ao arrependimento por errar e falhar nessa tentativa.

  9. Como fanático “filósofo” do esoterismo puro embora cites, à-lá-carte, filósofos não esotéricos considerados, quando os argumentos lógicos não colhem corres logo para o jogo de palavras e conceitos circulares que se justificam uns aos outros por si próprios; ou então usas artifícios de relatividade entre conceitos tão latos que, até, vão ao ponto de considerares ‘opostos simétricos’ como simples ‘diferenças’

    Dizes,
    «O «HÁ-DE VIR» pensado não como um Futuro, mas como algo a construir no Presente.»

    Isto que dizes acima é um imbróglio de contradições: O teu “há-de vir” é futuro, está situado no futuro, contudo, é pensado no presente não como um futuro. Isto é, pensas num futuro mas como o pensas no presente, por magia linguística, o pensado como futuro passa a algo ‘a construir’ no presente. Na utilização do termo ‘a construir’ voltas ao futuro, a outros futuros presentes contidos na vida humana. Tal argumentação é uma pura argumentação circular muito própria e comum do esoterismo que funciona na poesia mas nunca na filosofia a sério.

    «Ninguém sabe o que vai na alma de um ser, cujo sistema e programa possui a propriedade de ser aberto à opressão do absoluto e do definitivo. Que não precisa do Passado nem do Futuro para criar «O QUE HÁ-DE VIR», e não sucumbe à culpa nem ao arrependimento por errar e falhar nessa tentativa.»

    Algumas vezes, na tua linguagem, a ‘alma e o ser’ são a mesma coisa como é normal no gnosticismo místico. Para o impronuncialismo aqueles entes incógnitos (alma e ser) constituem um “sistema e programa aberto que possui a propriedade de ser aberto à opressão do absoluto e do definitivo.” (Que sistema, que programa, que propriedade, qual absoluto, qual definitivo?). “Que Não Precisa Do Passado Nem Do Futuro Para Criar «O QUE HÁ-DE VIR»”.
    Tudo isto são falácias que só fazem sentido numa mente gnóstica a transbordar. Dizes que não é preciso passado nem futuro para criar “o que Há-De vir. Se não precisou de passado quer dizer que tal ideia de criar o que “há-de vir” nasceu espontaneamente de ti próprio? Se não precisa de futuro quer dizer que só é possível localizá-lo no presente?
    O presente é «O QUE É» e só nele pode ser exercida a acção humana ou nele construir algo material. Contudo, tu que és idealista puro que pensa o há-de vir como o homem puramente espírito, projetas no teu presente algo a concretizar no futuro, quiçá, longínquo; logo, estás a utilizar no presente a ideia de futuro para os teus projetos ideológicos. Por outro lado, como nada nasce do nada, a tua ideia acerca do “há-de vir” terá nascido há séculos do hermetismo ou outro esoterismo vindo do tempo indeterminado; logo estás a utilizar o conhecimento do passado para criares no presente o que propões para futuro da humanidade.
    O presente não é mais do que um cadinho (ou caldeirão) em permanente osmose entre passado e futuro. Já li pensadores que até concordam que os humanos vivem mais sob o peso do passado, tradições, cultos, experiência, técnicas comprovadas, etc., do que da inovação do presente. Aliás o humano só pode raciocinar sobre o que passou, o experimentado, a história e fá-lo à luz do presente, de “O Que È” para projetar no futuro.
    Dizer que só há “Presente” é uma falácia linguística tal como aquela do Wittgenstein, que citaste há dias, e que encerra o seu “Tractatus” que escreveu à boleia das ideias desenvolvidas por B. Russel e G. Frege mas que, depois desmentiu tudo com as “Investigações Filosóficas”
    Também este, o do Tractatus, pensava ter descoberto a ligação inextrincável entre o inteligível, o mundo das ideias e o sensível, o mundo da matéria, que desde a invenção da filosofia os sábios tentam e lutam por descobrir e nunca o conseguiram.
    E que só por modelos e formulas esotéricas feitas de matemática e linguística alquimista como a do teu Impronuncialismo militante pode ser pensada mas ilógica e irrealisticamente.

  10. ó José , o Imp já está noutro patamar , pensa e especula noutra frequência. tal e qual como o Filipe. nem todos os humanos estão no mesmo estagio de evolução…. ele pode errar , mas erra muito à frente -:) e não discute por questões de ego , um salto evolutivo digno do futuro -:)
    ainda por cima dedica-se a actividade mais gira que há no mundo : especular.
    quem tem imaginação tem tudo.

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