Na nossa língua, no que diz respeito ao género, são os homens que não têm identidade própria, e não as mulheres. Efectivamente, para se conferir aos homens um estatuto próprio, é necessária a referência distintiva a homens e a mulheres. Por exemplo, se dissermos “Os passageiros entraram no avião.”, estão englobados nesta frase os homens e as mulheres, mas, se quisermos dizer que foram só os homens que entraram, então, temos de referir especificamente as mulheres, temos de os separar delas (“Os passageiros entraram, mas as passageiras não o fizeram.”), não se verificando o contrário: com a frase “As passageiras entraram no avião.”, não é necessária a referência aos homens (eles não entraram).
O motivo para isto é histórico: no contexto das línguas indo-europeias a que o português pertence, o género a que chamamos hoje masculino era inicialmente de cariz ambivalente, englobando todas as palavras que se referissem a seres animados, independentemente do sexo. Foi posteriormente que muitas das palavras que se referem especificamente a seres de sexo feminino, bem como várias outras, foram incluídas no género a que hoje chamamos, por esse motivo, feminino, mas sem que isso retirasse ao outro género a sua capacidade ambivalente.
É, naturalmente, admissível que se faça a distinção entre homens e mulheres, por exemplo, num discurso político, por uma questão de expressividade oratória (“Portuguesas e portugueses”, “Cidadãs e cidadãos”…), mas tal não é funcional na generalidade dos discursos e textos.
As palavras não têm sexo: na língua, o masculino ou o feminino são, apenas, género gramatical.
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Maria Regina Rocha, no rescaldo da polémica, serve aos leitores um texto cristalinamente pedagógico e pedagogicamente cristalino a respeito da dimensão filológica e gramatical da questão. É por estas razões que vários se irritam com o activismo político no patrulhamento da língua. E misturam-se nesse vasto grupo machistas e sectários direitolas com genuínos e inquebrantáveis defensores da “igualdade de género”.
Exemplo maior desta tensão, e desta tenção, aquele referido pela autora – “Portuguesas e portugueses”, “Cidadãs e cidadãos” – que começou por ser uma manifestação ideológica e se transformou em cliché. Também aqui, e simetricamente, há boas razões para que a retórica venha em auxílio da cidadania e da comunidade. A desigualdade que prejudica as mulheres tem séculos e milhares de anos de peso, qualquer conquista para a dignificação da condição feminina é de aplaudir num qualquer modelo civilizacional regido pela liberdade, pelo humanismo e pela democracia. Porém, igualmente teria interesse em interrogar as figuras mais proeminentes deste combate no espaço público e político sobre o que pensam a respeito da ordenação dos termos, com o feminino a anteceder o masculino na actual convenção generalizada e historicamente significativa. Qualquer que fosse a opinião, geraria um debate fascinante – posto uma terceira opção ao binómio sequencial e hierarquizante, “neutra”, estar excluída. Assim como fascinante seria a assunção de não terem opinião ou se recusarem a atribuir relevância à questão.
Infelizmente, é altíssima a probabilidade de nunca vir a satisfazer esta curiosidade.
Só uma grande geringonçada, nos metia nas estas alhadas para distrair o pagode enquanto o pacote descansa.
“As palavras não têm sexo: na língua, o masculino ou o feminino são, apenas, género gramatical.”
Não sabia que os géneros gramaticais eram eunucos.
Existe uma nova linguagem à direita que visa esconder velhas e falsear novas realidades e a esquerda uma outra que tende a eliminar o sentido de origem em nome de uma pretensa nova legitimidade igualitaria.
Reduzindo o binomio unicamente a esta questão, a sua utilização só pode ter a ver com a habitual condescendencia para com os mais fracos e inferiores, assim sendo claro que não deviam ser aceites em nome da igualdade.
E claro que nunca se ira discutir essa questão, vivemos no reino de efémero, não interessa o certo ou o errado, interessa só o momento e isso já foi ha cem anos mediáticos .
Há uma nova linguagem à direita que visa esconder velhas e falsear novas realidades e à esquerda uma outra que tende a eliminar o sentido de origem em nome de uma nova legitimidade igualitaria.
Esse e outros clichês deveriam ser rejeitados em nome da igualdade dado serem uma forma condescendente de tratamento nessa perspectiva.
O meu é do género pendurado…
Já era tempo de estar alinhavado um post
http://causa-nossa.blogspot.pt/2016/05/abuso-de-poder.html?m=1
não, não me parece bem dizer que tenho sexa. :-) adorei. :-)