Este Expresso Curto começa com uma violação. Não de alguém, mas dos princípios básicos do jornalismo.
(Esta opinião não vincula nenhum dos outros elementos do Expresso, nem a direção da qual faço parte. Não discuti sequer o tema com todos os jornalistas do Expresso mas tenho a certeza de que a maioria (se não todos) concordam, de forma geral, com as próximas linhas).
A divulgação de um vídeo pelo Correio da Manhã de uma alegada violação de uma rapariga num autocarro da cidade do Porto, durante a Queima das Fitas, não é jornalismo. É entretenimento travestido de informação. É a procura da maximização de audiência e de visualizações através da profanação do jornalismo, recorrendo para isso ao total desrespeito pela alegada vítima.
Mostrar aquele vídeo não acrescenta nada à notícia. A mesma podia ser dada sem recurso a imagens. Por isso o seu uso é errado, despropositado e condenável. E justificar a sua divulgação por uma questão de justiça também não faz sentido. Se algum crime foi cometido, então o jornal deveria ter entregue as imagens às autoridades para que fizessem o seu trabalho.
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Acredito que este importante profissional do grupo Impresa faça mais pelo seu patrão do que escrever sucessivos textos a malhar nos socialistas e a defender o laranjal. Não que isso já seja pouco, a que temos de somar as idas à SIC com o mesmo propósito, mas porque, ainda assim, deve ficar com muito tempo livre nos intervalos. É altamente provável que, depois de tratar de outros relevantes assuntos profissionais relativos ao Expresso, ainda consiga passar os olhos diariamente pelos restantes principais jornais portugueses. E que, portanto, não tenha começado a ler o Correio da Manhã pela primeira vez na sua vida nesta semana. A ser válida esta hipótese, qual a razão para ter esperado por Maio de 2017 em ordem a denunciar a violação dos “princípios básicos do jornalismo” no CM, situação que constitui a prática corrente naquele esgoto a céu aberto? Nunca o dirá em público, quiçá nem em privado, óbvio. Mais, nunca outro jornalista lhe fará essa pergunta num contexto de exposição mediática.
Eis o que gostaria de saber: quando o João Vieira Pereira tropeçou, e continuará a tropeçar, na publicação de escutas e interrogatórios judiciais concernentes a processos em investigação – ou seja, onde os indivíduos envolvidos são factuais inocentes até prova em contrário e onde esses materiais têm como exclusiva função serem avaliados judicialmente quanto à sua legitimidade para serem eventualmente apresentados em tribunal, estando protegidos por vários valores constitucionais, legais e deontológicos, sendo a sua divulgação pública um crime se sujeitos a segredo de Justiça – não se sentiu atingido na sua decência de jornalista e cidadão? O que acharia o João Vieira Pereira, calhando ser alguém da sua família ou estima a ser vítima dessa violência, de se expor a própria voz de uma pessoa sujeita a um interrogatório no Ministério Público ou apanhada numa escuta? De que forma é que essa dimensão se constitui como “notícia”? Os particularismos somáticos e psicológicos de alguém colocado numa situação de alta tensão emocional podem ser considerados como necessária “informação” a transmitir ao público? E quanto àquilo que se disse privadamente com um sentido e cuja descontextualização e recontextualização permite toda a sorte de deturpações e insinuações? E que diria o João Vieira Pereira se depois visse aparecerem no espaço público, das “redes sociais” à “imprensa de referência”, uma avalanche de explorações desses mesmos materiais com o exclusivo fito de espalhar e aumentar o sentimento popular de culpabilidade das vítimas? Ou achará o João Vieira Pereira que a Constituição, a Lei e a decência estão reservadas somente para os autocarros usados pelos foliões da Queima das Fitas do Porto e deixam de ter aplicação quando se trata de políticos e aqueles com quem eles se dão ou deram privadamente, especialmente se for um certo político de um certo partido?
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Resumindo : o que o homem diz até tem sentido ; em abstrato, eu concordaria com ele e as palavras do texto parecem-me de bom senso, no entanto o homem colabora com um jornal que disse mal do Socrates, ou tem uma sobrinha que confessou ter ja pensado mal do Socrates, enfim uma coisa grave. Logo, não podemos ser tibios, nada de fraquezas. E’ malhar sem piedade no animal até ele cair inanimado a jorrar sangue pela boca. Lapide-se, torture-se, esfrangalhe-se. Santiago ! Santiago !
O que é que julgam ! Que isto agora virou blogue de opinião ?
Boas
Caro José Sócrates, excelente post.
De que falas, Valupi?
E de quem? E porquê?
E para quem?
[Andas lelé da cuca, como dizia o outro.]
Valupi, faz um break ou dá trabalho aos músculos das pernas (deprimido como andas evita trincares uma caixa de Kit Kat, na onda das doçuras e travessuras!) e poupa-nos os pormenores sobre essa espécie de eutanásia criativa. Quase 27 horas depois, tens dois comentários.
Dois comentários + um meu (censurado) + um meu censurado?! Cof, cof, cof!
[Valupi, segue os meus bons conselhos…]