Citizen Karvalho


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«If the headline is big enough, it makes the news big enough.»

Charles Foster Kane

1941

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Ao dia 18 de Junho de 2019, Manuel Carvalho é capaz de publicar estas atoardas, insultos e ofensas em nome da Redacção e do accionista do Público:

– Que é Vítor Constâncio quem anda a “reescrever a história” – ou seja, que anda a mentir; enquanto ele, o cidadão Karvalho, possui a única versão admissível da história.

– Que Vítor Constâncio se refugia em “formalismos legais” – ou seja, que a obediência à Lei não deve ser chamada para este caso; postula o cidadão Karvalho só porque lhe dá jeito.

– Que “para o dinheiro sair da Caixa para Berardo, o Banco de Portugal tinha de lhe conceder a devida autorização” – ou seja, que o Público continua a debochar num ponto onde já foi desmentido peremptoriamente ao se conhecer o teor do contrato de empréstimo; assim se vendo como a realidade não é uma cena que assista ao cidadão Karvalho.

– Que “o BdP poderia ter evocado o número 2 do artigo 118 do Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras” para justificar o que seria uma decisão absurda in illo tempore – ou seja, que o Banco de Portugal devia ter recorrido a “formalismos legais” para prejudicar Berardo; postula o cidadão Karvalho precisamente ao arrepio do que escreveu linhas antes só porque lhe volta a dar jeito.

– Que “só num país de loucos um banco empresta dinheiro a alguém para comprar acções, recebendo como garantia exclusiva essas mesmas acções” – ou seja, a prática então corrente em todo o Mundo de financiamento bancário dos investimentos em bolsa, prática que continua a ser usual pelas melhores razões comerciais e capitalistas, e a existência de um contrato de empréstimo que poderia executar as acções a comprar, mais as já existentes e ainda o património artístico da Fundação Berardo, tudo isto que ficou legalmente instituído é colocado ao nível de uma “loucura”; volta a mentir debochadamente com quantos caracteres tem o cidadão Karvalho.

– Que Vítor Constâncio “poderia ter travado a ambição de Berardo no BCP, recusando o seu pedido e, acto contínuo, anulando a exclusiva finalidade da linha de crédito negociada na CGD, nesse tempo gerida pela dupla Carlos Santos Ferreira/Armando Vara” – ou seja, que o então governador do Banco de Portugal devia ter agido contra a Lei só para satisfazer os caluniadores que em 2019 continuam a espalhar no espaço público dementes teorias da conspiração; delira encharcado em ódio o cidadão Karvalho.

– Que “uma elite espúria tentou tomar de assalto o sistema financeiro” – ou seja, que Sócrates (o “espúrio”), com Teixeira dos Santos, com a dupla Santos Ferreira/Armando Vara, tentou tomar de assalto o sistema financeiro, o regime, a União Europeia, o Planeta e arredores; calunia desvairado o desvairado e caluniador cidadão Karvalho.

– Que Vítor Constâncio “foi, no mínimo, cúmplice” “da trapaça“, “desse negócio ruinoso para o país e para os portugueses“, mostrando não ser “corajoso” – ou seja, que o então governador do Banco de Portugal é criminoso e cobarde, no mínimo; declara para a posteridade, e para o tribunal onde irá explicar melhor o seu decentíssimo argumentário, o valente cidadão Karvalho.

– Que “todas as conclusões a que chegámos se inscrevem na obrigação de um jornal responsável” – ou seja, se fazer uma parangona onde se lê “Constâncio autorizou Berardo a ir levantar 350 milhões à Caixa / Banco de Portugal aprovou investimento de Berardo no BCP com crédito tóxico da Caixa / Ex-governador disse no Parlamento que não sabia de nada” pode estar relacionado com a “responsabilidade” então dizer que “Manuel Carvalho é pago para fazer assassinatos de carácter e perseguição politica escudado na liberdade de imprensa” estará inequivocamente relacionado com a “objectividade”; inferimos imitando o cidadão Karvalho.

Este degradante episódio é muito mais do que uma rixa avulsa entre um director de um jornal, embriagado de soberba e má-fé, e um ex-governador do Banco de Portugal, vítima incauta de sórdidas e lunáticas calúnias. Chegados a este ponto – onde se assiste ao desfile de inacreditáveis exercícios esquizóides no que passa por “imprensa de referência”: Doze anos de mentira – é patente como a decadência da direita partidária explica a decadência dos seus impérios mediáticos. Esses dois braços da oligarquia estão neste momento barricados na judicialização da política e na politização da Justiça. Não têm mais nenhuma causa, de facto. Não têm causas porque faliram intelectualmente, caíram na bancarrota da decência. Assistem em desespero à perda do seu poder bancário e político, desde a vitória do PS em 2005, só lhes restando as golpadas dos magistrados justiceiros e corporativos, mais a ubíqua indústria da calúnia.

Manuel Carvalho, e o seu jornal que paga a caluniadores profissionais, revelou preferir o ataque à honra de pessoas e instituições em vez do cumprimento das regras básicas do jornalismo. Das mais básicas, senhores ouvintes. O tipo de jornalismo que pratica – essa miséria moral e deontológica assumida em notícias falsas e editoriais sinceros – não defende a democracia nem a liberdade. A cidadania que procura informação factual, rigorosa e imparcial dispensa o contributo sectário do cidadão Karvalho.

4 thoughts on “Citizen Karvalho”

  1. Ainda se pode estabelecer um paralelismo entre a fé que alguns chegaram a ter em Rui Rio e o Público. Sobre Rio já não vale a pena dizer mais nada depois de ter sido completamente empurrado para o canto do populismo tão tradicional à direita, nomeadamente no PPD. O Público, independentemente dos cadernos de cultura ou até deste episódio mais recente que só denota mais uma vez má fé, nunca passou de um pasquim a soldo. Ou alguém ainda acha que a Sonae alguma vez teve alguma vocação para a imprensa livre? Mais recentemente o que se passou, foi que à medida que os verdadeiros jornais foram fechando ficou o Público… Sempre no vermelho, de onde nunca saiu aliás, algo que devia agradar deveras a alguém como Belmiro. Algum lucro teve que dar. Normalmente plantado. Por alguma razão nasceu no auge das trocas bolsistas, sempre com várias notas puramente especulativas, sempre ao serviço de uma certa estratégia de poder pessoal… condimentado com uns pingos de jornalismo, sabe e passa – sobretudo – sempre melhor. Já no que respeita à verdadeira imprensa e ao verdadeiro jornalismo, um jornal dirigido mais de uma década pelo Zé Manel das escutas… Já para não falar das vedetas mais recentes.

  2. … fazem um epitáfio no pasquim da casa.
    se o belarmino tivesse comprado a pt a pataco financiado pelo mealheiro nacional com garantias que depois revendia aos espanhóis através duma sierra holandesa nunca tinha havido cenas destas e era tudo legal. ainda me lembro do merceeiro convidar o sócras para implodir a torralta e não o acusar de corrupção.

  3. tal pai tal filho! cheguei a pensar que o paulinho , era diferente do pai,mas enganei-me.! são farinha do mesmo saco!

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