Aos amigos de Costa

A embrulhada de amizade com assuntos do Estado que Costa se lembrou de inventar recorrendo a Diogo Lacerda Machado é apenas mais uma peça de um retrato de surpreendente sobranceria e disfuncionalidade. A questão tem a beleza do que é simples: calhando ter ocorrido algo similar sendo Passos o primeiro-ministro e Costa secretário-geral do PS, o próprio Costa estaria a criticar, ou a mandar criticar, ou a não impedir que os seus tenentes criticassem, tão grosseira violação de regras básicas da responsabilização governamental. O episódio só se agravou com o estilo meio estouvado, ou então infantilóide, como se justificou publicamente quando foi obrigado a estabelecer um vínculo contratual entre o Estado e o seu amigo.

Esta surpreendente sobranceria e disfuncionalidade começou a tornar-se incontornável aquando da campanha contra Seguro, mas aí ainda não estava claro estarmos perante um padrão. Padrão que já tinha tido a primeira exposição pública no episódio do avanço e recuo contra Seguro. Foi no período eleitoral para as legislativas, e na campanha de merda que desenvolveu, que ficou plenamente iluminada a raiz da sua incompetência como líder a esse nível máximo – e a raiz estava na soberba de quem tinha sempre vencido sem esforço até então. De facto, Costa foi ao longo de décadas visto como inevitável futuro líder do PS e, por consequência, de um Governo. O seu trajecto está pejado de relevantes cargos políticos, incluindo o muito importante posto de presidente da Câmara de Lisboa. O seu carisma aparece marcado por uma propalada superior capacidade para estabelecer acordos com adversários e partes conflituantes, algo que a existência deste Governo e os primeiros meses do Executivo comprovam unanimemente. Só que tais predicados não esgotam as exigências do que seja uma liderança admirável.

Logo, não é por falta de experiência política que Costa comete erros de principiante. Terá de ser por outra razão, algo que pede a influência de bons amigos para o ajudar a resolver essa pecha que arrisca causar prejuízos a muita gente.

16 thoughts on “Aos amigos de Costa”

  1. … este post do Valupi tem eventuais reminiscências dionisíacas, Aos amigos de Costa! só lhe falta um ponto de exclamação. Brinda-se a quê, …?

    Concordando com fragmentos, discordo do teu desencanto… messiânico.

  2. Seja o que for existe em Costa uma tendência para a auto-sabotagem. Pode ser o tipo de liderança ou uma exagerada auto-estima, no entanto parece-me que ele não queria ser PM ou não estava preparado interiormente para o ser, foi um sacrifício pessoal, e inconscientemente passa o tempo a afirma-lo.

  3. o Valupi está para Costa como aquele comentador ex-treinador e ex-futebolista que exigia, da selecção nacional (no tempo do sargentão brasileiro), não só que ganhasse como o fizesse com brilhantismo.
    Mais uma vez o Valupi, tendo como bitola de medida as elevadas e quase insuperáveis qualidades de visão, carisma e políticas de Sócrates, está sempre de olhos postos em Costa exigindo-lhe uma perfeição de princípios a tender para o absoluto, sua habitual postura filosófica.
    Costa, como nenhum de nós é perfeito, e nele é precisamente as suas imperfeições, de tão ingénuas que acontecem, que lhe dão humanidade, lhe tiram qualquer carga de ideia ou intenção de corrupção e, desse modo, acarretam uma carga de simpatia pessoal e política que será, no dizer valupiano, “O seu carisma aparece marcado por uma propalada superior capacidade para estabelecer acordos com adversários.”
    Há muitas maneiras de apanhar moscas, há muitas maneiras de matar pulgas, há muitas maneiras de fazer política para levar a brasa à sua sardinha. Costa é um caso muito peculiar que de “erro” em “erro” vai ganhando admiradores e registando vitórias; o seu percurso na CML é exemplar. Porque para além dos “erros” que o humanizam simpaticamente há muita outra boa matéria de faculdades pessoais e conhecimento político-social que o determinam convictamente.
    Provavelmente, se o PCP e o Bloco tiverem paciência e perceberem Costa, este vai fazer um percurso semelhante no governo. Apesar da eurocracia de Bruxelas, até nesse meio medíocre e subserviente dos “mercados” granjeará simpatias que o farão aliviar das sacanices, sempre afiadas, dos súbditos bruxelenses dos plutocratas.

  4. Valupi

    Se calhar o “Outro” tinha razão quando disse “AC nunca terá competência para ir além de Presidente de Câmara”, se é que o disse …! Mas se o disse talvez, uma vez mais, tenha sido visionário !

  5. ai! que maravilha de texto a retratar miséria de achaque! :-)

    não conhecia a palavra pecha e fiquei a adorá-la. é perfeita na fonética para a sua significância. o som do ch, per si, é uma espécie de nódoa na língua.

  6. O António Costa limita-se a dar expressão aquela geringonça que, por
    acaso é o Governo da República! Querem maior disfunção do que os
    discursos e críticas dos apoiantes da geringonça? Como diz o Povo na
    sua imensa sabedoria; – o óptimo é inimigo do bom!
    Por outro lado, estamos rodeados de uma comunicação social obediente
    aos seus donos, temos uma molhada de “espertos” a dar palpites sobre
    tudo e nada que o Governo faz, o maior partido da oposição anda à pro-
    cura de um verdadeiro líder que, o possa fazer regressar à mangedoura
    do poder … nos dias correntes limitam-se aos jogos florais e a questões
    menores, como saber o que diz o papel que A. Costa assinou com Tsipras
    na sua recente visita à Grécia!
    Deixem-se de narcisismos e combatam a direita e Bruxelas que insiste
    no corte de 700 milhões nas pensões! Desmascarem os feitores dos gran-
    des titulos na imprensa a começar pelo careca do DN!!!

  7. Ter um acessor informal não aquenta nem arrefenta a envergadura de um estadista. O silêncio cobarde perante o linchamento mediático e judicial de um cidadão, ou o apoio a um regime que persegue minorias, encerra jornais, fomenta a guerra civil na Síria, sim.

  8. Aos amigos do Costa?
    A. Costa só tem um amigo sincero, Marcelo.
    E também um inimigo sincero, a oposição.
    O Costa está tramado com “inimigos”do PS e os amigos da onça antigovenamentais.

  9. O calendário do Bloco é tão cortinho que Costa vê-se grego com elas.
    Não é que agora vamos ter um novo cartão de cidadão?
    Ganda bloco e ganda costa!

  10. José Neves das 20:11, pode parecer estranho mas estou muito de acordo com o encadear do teu relatório (relatório, e porquê: fundamentalmente pelo desusado tamanhão dos teus comentários, muitas vezes pela sua oportunidade e teimosia, coisas que se notavam no CC). Como disse antes, se fragmentariamente concordei com o post do Valupi, faltou-lhe, exactamente, o encadear de argumentos poderosos para se tornar politicamente legível (ou, se quisermos noutra versão, politicamente ilegível). E era assim sobre os messias presente e ausentes que eu e, pelos vistos, outros entendi/entendemos quando tivemos oportunidade de ler o presente desencanto do postante. Até porque faço agora notar, se calhar desnecessariamente, que, sendo o Valupi uma personagem bem informada, ontem se comemoravam exactamente os 40 anos do PS com festa no largo do Rato (daí o tom dionisíaco que eu entrevi, presumi bem?) através do recitar da poesia à solta de Sophia pela voz de uma menina… Barroso Soares (simbolicamente lembravam-se, ali, os seus avós ao mesmo tempo que as divergências entre o pai e a mãe fundadores do PS).

    Nota. Nas notícias que as gazetas trazem hoje sobre os ausentes e presentes (sobre os messias, portanto) na sede do PS, e no que respeita aos anteriores líderes do PS, destaque para duas ausências. E que só esteve presente o Ferro Rodrigues, esclarecem. De quem falam?

  11. J. Madeira, concordo contigo no que dizes sobre o Frodo* do DN cuja teses enxameiam há meses a RTP 3 etc.

    * Não o cinematográfico Baggins do Tolkien mas a personagem dos portugueses Tantra.

  12. O amigo Catroga leu o post e quer dar uns conselhos ao Costa, em público mas mais no privado.
    O acanhamento do Costa foi evidente perante a ousadia apalhaçada com insultuoso a vontade, ficou indefeso. Um caso nitido de tentativa de trafico de influências para o MP investigar

  13. Joe, eu acho que ele não leu porque o Valupi se precipitou um dia. O avô do iPhone made in China bichanou-o em mandarim*, para toda a gente perceber, o que noutros tempos mereceria pelo menos um post no Aspirina B. Hard times, lembras-te?

    * Tradução, mesmo free para os cofres alegadamente fraquitos do MP e do super-TIC: «Como sabe eu há muito que perdi a vergonha, o amigo (ou doutor?) Costa não se esqueça que eu faço parte da ínclita geração da quadrilha do BPN cavaquista, e olhe que os meus novos amigos chineses querem negociar consigo. Estão por um pintelho, na verdade! Olhe ali os tipos da SIC à coca, falemos baixinho, schiu, porque ao contrário da boneca de cera do MP português a secreta de Pequim está em todo o lado…»

  14. A crítica é certeira, justa e pertinente.
    Porém, como acertadamente sublinha o José Neves, o criticado parece ter o dom de virar os próprios erros a seu favor, o que não está realmente ao alcance de qualquer um, muito menos dos críticos de bancada em biquinhos de pés…
    Que o Costa é inferior a tudo o que esperávamos dele, já toda a gente sabe há muito tempo.
    E pur si muove…
    Os pafiosos que continuem pois a andar à nora, completamente desnorteados, a tentar saber onde se encontra o seu calcanhar de Aquiles. É que não está nada fácil, chamuça dum corno…

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