Estar na oposição é estar permanentemente em crise política. Porque algo está a correr muito mal quando se é oposição. Nenhum partido foi criado com a intenção de ficar na oposição como meta ideológica ou programática. Ser oposição parlamentar implica sofrer o vexame da derrota nas urnas ou na Assembleia da República. A saída para essa inerente crise política passa pela abertura de novas crises políticas cujo alvo seja o Governo e o partido, ou partidos, onde se legitima. Logo, as oposições procuram constantemente, salvo nos acordos pontuais com o Governo onde obtêm vantagens, que o Governo se desgaste, enfraqueça e acabe por ser substituído – de preferência, antes do fim da legislatura – por outro Governo agora formado por quem estava na oposição.
Estar no Governo é estar permanentemente em crise política. Porque algo pode correr mal, ou muito mal, e algo acaba invariavelmente por correr mal e muito mal. Nenhum Governo escapa à permanente e ubíqua pressão da fiscalização dos seus actos – e ainda dos actos passados, de Governos anteriores, cujas responsabilidades e consequências possam ser associadas ao Governo em funções. A saída para essa inerente crise política passa pelo fechamento das sucessivas emanações do estado geral de crise, seja pela resolução dos problemas avulsos, seja pela retórica da pose de Estado. Logo, os Governos procuram constantemente, e especialmente nos acordos pontuais com a oposição onde tudo o que fica acordado são vantagens, que a oposição pareça incapaz de fazer melhor do que está a ser feito na governação, levando a que no final da legislatura o eleitorado prefira a continuidade à mudança.
A comunicação social que cobre as actividades do Governo e da oposição alimenta-se das crises políticas. O registo é apocalíptico para quem estiver a empurrar a oposição na direcção do poder e dissuasor e panegírico para quem estiver a empurrar o Governo para se manter no poder. A energia dos participantes cresce na relação directa das reais ou inventadas fraquezas do adversário e das agendas respectivas daqueles que têm espaço mediático: políticos, directores de imprensa, jornalistas, comentadores. Quando não há matéria substantiva para crises, diz-se que essa situação prenuncia uma crise futura, iminente, já em curso… na comunicação social. Por exemplo, se um Governo estiver a superar todas as expectativas e a apresentar resultados económicos crescentemente positivos, alega-se que tudo podia ser muito melhor com outros senhoritos ou que vai tudo desabar em breve por causa disto e daquilo. Por exemplo, se um Governo tiver de lidar no espaço de poucas semanas com um incêndio com dezenas de mortos e um assalto a um paiol militar com falhas de segurança, declara-se a falência do Estado e agitam-se as bandeiras do caos. Não há, nem tem de haver, racionalidade, objectividade, justiça. Porque tal ponderação é contrária à dinâmica da comunicação social. Os milhares e milhões e milhares de milhões de situações que correram e correm bem nos serviços do Estado não impedem o frenesim sanguinolento quando as variáveis geram desastres e danos alarmantes. Na comunicação social, por causa do seu próprio ritmo editorial e da sua natureza autofágica, as crises políticas não são episódios, são conteúdos.
Porém, todavia, contudo, nem todas as crises políticas são crises políticas. Aliás, quase nenhumas, não passando de algazarra que se mastiga e deita fora assim que perde o sabor. Para percebermos o que é uma verdadeira crise política temos de pesar as suas origens e consequências. A mais recente aconteceu no seguimento das eleições legislativas de 2015, em que o partido vencedor em número de deputados não conseguiria formar um Governo com legitimidade parlamentar. Desta crise política veio uma solução governativa que não só tem resultado por cumprir o que prometeu aos eleitores como antecipa um salto qualitativo no sistema político no mesmo sentido. Antes dessa, tivemos a de 2011. A insuspeita Marina Costa Lobo, num artigo onde chega a citar o insuspeito Pedro Santos Guerreiro, explicou em tempo útil, e à prova de estúpidos, o que era uma obscena crise política em formação e andamento:
Sempre se sentiu bem enquanto oposição o PCP.
Crise é agora, que o Costa os pegou de cernelha!
Foi verdadeiramente um trabalho de gigantesca visão patriótica aquele feito pelo PM Sócrates junto da UE e especialmente da sua comandante Angela Merkel, para mais, tendo à perna o sem pernas que tudo fez para boicotar o acordo Sócrates-Merkel. E tudo inglório.
Inglório, ignóbil e patriótico-politicamente vergonhoso devido a personagens menores sem noção e estatura de Nação e Estado ao qual sobrepôem a sua ambição pessoal momentânea. A Marina cita apenas passos coelho uma inutilidade política criada na jota, depois feita vida na juventude vadia e de seguida servindo-se de empregos de expedientes junto de amigos com cargos no Estado para, por fim, deixar-se ser o que realmente era, homem-moço de barro para ser moldado pm às ordens dos patrões.
Contudo e, acima de tudo, neste desastre para Portugal esteve, apadrinhando-o e promovendo-o, uma criatura sinistra da recém-actual história deste país: cavaco silva. Para além da pressa de ir ao “pote” dos psd, para além dos traquinas do bloco e bronco político do rabaça, para além dos “coerentes” ortodoxos imutáveis do PCP esteve, na primeira linha, essa hirta figura salazarenta por imitação sem convicção que confundia a pátria com o seu boneco-figurão-sempre-em-parada que pregava recados e avisos a torto e a direito para mais tarde vir dizer que já dissera, já avisara.
Gente miserável que menosprezaram a pátria e os portugueses em seu favor politico-económico-pardidário e ainda conseguiram, ou vão conseguindo ainda, atirar os seus desonestos pecados-procedimentos odiosos para cima de quem lutou e tudo fez em prol de uma saída sem o “protectorado” (portas disse) carrasco implacável da troika.
Que terá a história, um dia, a dizer acerca destas fraudulentas personas menores perante os documentos oficiais de estado, e não face às capas do “cm” ou eventuais julgamentos políticos por vingança corporativa?
Depois de ler jose neves o meu dia ficou de verão glorioso.
Não esquecer o papelinho do condecorado teixeira das finanças.
pois: existem crises políticas, outras crises quaisquer e também políticos em crise. no que à comunicação social diz respeito há a crise de valores. que grande teta é a crise, cáspite! :-)
Valupi, larga o vinho (Marina colheita de 2011, eheheheh!).
Eleições 2015 crise política!? Mas um governo resulta de uma maioria na AR, não do partido mais votado, crise só se for para a direita, de resto foi o perfeito funcionamento da constituição. Crise politica haverá, se por exemplo, um dos partidos furar o acordo estabelecido nesta nova maioria como em 2011 com o volte face em torno do Pec4 por parte do Psd e o q sucedeu em parte com o irrevogável revogável de Portas.
Joe Strummer, isso é saltar para a abstracção e aterrar com a cabeça no chão. Não havia precedente histórico, na democracia portuguesa, de uma solução governativa que excluísse o partido com mais deputados eleitos. Para mais, o então Presidente da República não queria a actual fórmula parlamentar que mantém no poder um Governo minoritário. Estes os ingredientes de uma verdadeira crise política, para a qual não tínhamos termo de comparação e cujo impacto abalou as instituições e o sistema partidário.
Comparado com esse episódio, o número de Portas não passou de farsa revisteira. Sabemos isso pelo desfecho, o mesmo para a substituição de Vítor Gaspar por Maria Luís, deixando o Governo de Passos intacto e apenas originando barulheira mediática.
Abstração nenhuma, a normalização “do partido mais votado é que governa” é que e uma aberração que resulta de uma crise politica à esquerda que ficou congelada desde 75.
A actuaçao de Cavaco é que transformou as eleições e a posse de uma solução de governo uma palhaçada, fez birra, toda a gente sabia que Costa já tinha a solução. Portas quis mesmo sair, não o deixaram e isso sim seria uma crise porque deixaria o governo sem apoio parlamentar, dai a necessidade de negociar com Seguro e a intervenção de Soares contra o acordo. Isso sim é uma crise politica.
Joe Strummer, com aberração ou sem ela, era a prática corrente. Daí o abalo que, inclusive, levou ao efémero XX Governo e seus 27 dias de existência. As incertezas geradas pela situação, e a periclitante fórmula da solução,configuram um quadro de verdadeira crise política na medida em que as acções dos líderes políticos ocorrem em cenários de inaudita complexidade e desfecho imprevisível.
No caso de Portas, e como dizes, nada se passou. Estás agarrado a projecções, cenários imaginados. Q.E.D.
Valupi, por aberração e absurdo até podes chamar democracia a um sistema onde não se vote, só por ser prática corrente, a democracia consuetudinária, as leis são os costumes.
Lá pelo governo ter sido efémero, por pura embirração, o país não ficou sem solução governativa. Alias Cavaco não aprendeu, o problema de Socrates foi ter formado um governo minoritário, como já reconheceu, se vamos por cenas de costumes então a primeira máxima é “num país em dificuladades o governo deve ter o maior apoio parlamentar possível” QED