A Joana é a nova TINA

Não temos notícia de à esquerda se judicializar a política e de se politizar a Justiça, a caminho dos 45 anos depois do 25 de Abril. À direita, sim. Se esquecermos o período exótico e tão-só mediático de O Independente, em que uma direita instalada e omnipotente se viu beliscada por uma direita de franja e vanguardista, tal fenómeno começou de forma estratégica em 2004, com a invenção do caso Freeport, e não mais deixou de ser a principal arma da direita decadente contra o PS – tendo chegado ao ponto em que se espiou ilegalmente um primeiro-ministro em funções, com a intenção tentada de o abater judicialmente, e em que um Presidente da República lançou, ou assumiu, uma golpada mediática que alimentava esse clima de perseguição judicial a um Governo em cima de umas eleições legislativas.

Agora, com o alvoroço dessa mesma direita para explorar o final de mandato da procuradora-geral da República, estamos a assistir a uma jogada em que os pulhas acham que vão sempre sair a ganhar. Se Joana Marques Vidal for substituída, farão uma festa e mergulharão de cabeça na calúnia mais torpe e rancorosa. Se a senhora ficar mais 6 anos a mandar na PGR e a mandar recados para a Cofina, farão uma festa e, fatalmente, mergulharão de cabeça na calúnia mais torpe e rancorosa. Neste último cenário, porque tal lhes possibilitará dizer que tinham razão ao ter acusado o PS de ser um partido essencialmente corrupto que dominou criminosamente a Justiça portuguesa na era pré-Vidal. Last but not least, igualmente virão repetir que foi essa corrupção socialista em auto-estradas, aeroportos, linhas de TGV e, não esquecer, as faraónicas fundações, que levaram Portugal à bancarrota. Em qualquer dos cenários, a festança da calúnia está garantida aconteça o que acontecer.

Há uma direita conservadora que prefere as instituições do Estado ao tribalismo e que sai a terreiro em defesa da lei. Há uma direita liberal que faz do Estado de direito o seu primeiro e principal tesouro civilizacional. E depois há a pulharia. A pulharia não suporta Rui Rio pois este resiste a ceder o palco aos videirinhos, aos hipócritas, aos broncos. Dizer que Joana Marques Vidal é insubstituível porque, no seu mandato, houve razões legítimas para investigar Sócrates e Salgado já seria absurdo o suficiente para não ligar mais a essas vozes. Mas fazer de Pinto Monteiro – escolhido por Cavaco e condecorado por Cavaco precisamente por causa do seu mandato como PGR, o que o deve ter enchido de azia – um alvo para acusações que ofendem a sua honra e a nossa inteligência é relevante pelo grau de indecência com que esta direita trata a República. O à-vontade com que responsáveis políticos e os impérios mediáticos da direita se permitem cobrir de infâmia um número indeterminado de magistrados expõe a violência que os anima e consome. Uma violência contra a liberdade.

4 thoughts on “A Joana é a nova TINA”

  1. Totalmente de acordo com o autor do post,as sistemáticas fugas ao segredo de justiça ,são o melhor do reinado da Vidal , como será o pior ?

  2. Caro Valupi, a violência que anima os pulhas, penso eu, é em primeira instância contra o medo.
    O medo de um dia serem confrontados com uma PGR ao serviço do Estado de Direito. O medo de terem de responder pelas grandes pulhices cometidas contra o país a favor do enriquecimento pessoal por assalto ao pote e corrupção em grande escala.
    O medo de que um dia uma PGR faça devido uso da Lei e os inquira acerca dos descarados casos de corrupção do BPN, submarinos, Portucale, Tecnoforma, etc.
    O medo de que um dia Uma PGR limpe o país da batota justiceira e faça ver ao zé como era manipulado na inversão de valores que troca a causa pelo efeito. Isto é, trocando o causador do mal pelo que tenta tratar o mal.
    O medo de que um dia alguém como Mário Soares ou Sócrates acabe com esta inquietante passividade do PS e desmascare a estratégia anti-social e anti-democrática que os pulhas praticam com a conivência dos media e actual “justiça” politizada.
    Até quando esta situação podre?

  3. É verdade: há mais PODER na Procuradoria-Geral da República do que no Governo todo mais o Marcelo juntos.

    E esse PODER todo ainda escapa à Democracia e vive tranquilamente ainda hoje no 24 de Abril.

    Se António Costa não tiver TOMATES para dar o seu contributo para remediar este mal, pode dizer-se que não deixará legado absolutamente NENHUM desta sua passagem por Primeiro-Ministro português, de um Governo que, afinal, apenas teve na prática um só Ministro e um só grande sucesso, mai’NADA.

  4. Sem dúvida! Esta é a grande oportunidade para António Costa tomar, finalmente, uma decisão política de verdadeiro alcance histórico neste seu Mandato, para além dos delicados e efémeros arranjos de bastidores, de curto e médio alcance, e da gestão semanal da agenda me(r)diática e dos (encobertos) atritos institucionais com o Presidente equilibrista, que no fundo têm constituído a quase totalidade da sua acção como Primeiro-Ministro.

    Se não o conseguir fazer agora, este seu Governo será apenas recordado pelos seus sucessos no campo económico e social, o que, sendo muito (pelo menos comparado com a indigência do passos coelho e sua trupe de má memória), será sempre considerado pouco numa perspectiva histórica, mesmo tendo apenas como termo de comparação os anteriores Governos do PS…

    É agora que Ant.º Costa tem a grande oportunidade para mostrar ao seu eleitorado, real e potencial, se vale, ou não, a pena o voto no PS, para alguém de Esquerda!

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