João Miguel Tavares – Eu tenho pena do Carlos Santos Silva. A única coisa que eu retive é que ele está bem ensinado. E foi para lá, não entregou o José Sócrates... Ele está muito bem treinado, se calhar até traz as pantufas a José Sócrates. [...]
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Pedro Mexia – […] as perguntas do juiz Ivo Rosa, que nós achávamos todos que iam ser mansinhas, na verdade são perguntas incisivas
[…]
Pedro Mexia – […] não sei se por ser um juiz que José Sócrates acolheu como sendo um juiz em que ele confiava...
João Miguel Tavares – O seu possível salvador.
Pedro Mexia – O seu possível salvador no sentido que podia, digamos, deixar o processo por aqui...
[…]
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João Miguel Tavares formou a convicção de que Carlos Santos Silva deixou de ser um cidadão com direitos, desapareceu como ser humano com razão e vontade, capaz de agir livremente e de se responsabilizar pelos seus actos. Em vez disso, quando olha para ele, e quando toma conhecimento do que diz, o que lhe aparece à frente é uma outra coisa cuja imagem mais aproximada será a de um cão. Um cão domesticado cujo dono é Sócrates. Como é que se terá formado tal convicção nos neurónios do Sr. Tavares? Será que o alvo da sua desumanização lhe fez algum mal, ou terá prejudicado algum familiar, amigo, colega, vizinho seu fosse lá no que fosse e quando fosse? Muito improvável. O mais provável é que a desumanização não ocorresse calhando aparecer-lhe à frente o alvo da mesma, até o imaginamos a cumprimentar o canídeo, mas naquele contexto em que se recebe dinheiro para dizer coisas e há parceiros de espectáculo, uma plateia com notáveis e uma audiência televisiva socialmente influente, ali, então, portantos, o homem caluniador e a sua circunstância venal, narcísica e megalómana fazem com que se possa reduzir uma pessoa envolvida num processo judicial a um animal perante as gargalhadas de quem assiste sem com isso vir a perder o sono em camas de Lisboa ou de Portalegre. A família de Santos Silva, os amigos, o seu direito a não ser tratado como criminoso enquanto for considerado inocente, o facto de ainda não ter sido condenado por nada de nada e não se saber se o será ou porquê, isso não conta para quem não precisa das chatices e demoras do Estado de direito democrático para encher o bolso a representar na perfeição o papel de um pulha. Um canalha que, desde Janeiro de 2019, também se exibe em representação do actual Presidente da República que o instituiu como exemplo e símbolo nacional; única e exclusivamente por ser um caluniador profissional que ataca “inimigos” políticos comuns. Que nome podíamos dar à cultura onde uma personagem socialmente infecta como esta é promovida pela cúpula do Estado?
A seguir abriu a boca o consultor para a Cultura da Casa Civil do Presidente da República. Abriu a boca para deixar algum reparo à desumanização que acabava de ouvir? Nada disso e ao contrário. Partilhou connosco a sua Weltanschauung, na qual afiança que “todos” [sic&sick] esperavam ver o juiz Ivo Rosa a proteger os acusados com perguntas preparadas para terem respostas falsas e inocentadoras – exegese: “todos” os elementos dos grupos relacionais onde este indivíduo constrói a sua identidade partilham a mesma convicção de Ivo Rosa ser um juiz cúmplice de criminosos, ou tal percepção espalham à sua volta mesmo que não acreditem nela (quiçá, precisamente, por nela não acreditarem). Foi isto que Pedro Mexia revelou, sem surpresa no caso dos seus parceiros de espectáculo mas atingindo a população do Palácio de Belém que frequenta amiúde e intimamente. Daí o seu gozo, ou compulsão, ou ambos os fenómenos, ao deturpar as declarações de Sócrates a respeito de Ivo Rosa, as quais não foram de confiança ou preferência por este juiz devido a qualquer característica que antecipasse favorável no seu plano para fugir da Lei, como Mexia e os restantes caluniadores têm repetido e o caluniador-mor acrescentou na ocasião. Sócrates limitou-se a constatar que, pela primeira vez no processo, iria ser julgado por um juiz isento. O que remete para o histórico de Carlos Alexandre na “Operação Marquês”, matéria que daria para milhares de doutoramentos acerca da “cultura” dos magistrados portugueses, acerca da “cultura” dos nossos jornalistas e acerca da “cultura” da nossa direita política decadente.
Pedro Mexia surgiu como personalidade interessante na política nacional quando fundou com Pedro Lomba e João Pereira Coutinho o blogue Coluna Infame; há incompreensíveis 17 anos, o Blogger tinha acabado de ser comprado pela Google. Por isso, pelo seu talento intelectual, por representar uma incipiente vanguarda para o renovo da direita, e talvez pelo berço histórica e socialmente aristocrático, foi convidado para o lançamento do Eixo do Mal em 2004. Viria a sair deste programa um ano depois, ficando a ideia de não apreciar a crescente politização do mesmo e preferir o registo opinativo dedicado às artes ao de guerrilheiro ou polemista da actividade partidária e governativa. A sua imagem era a de um comentador tímido, delicado e com sólida cultura clássica e literária. Voltaria à ribalta mediática em 2008 com o lançamento do Governo Sombra na TSF, então apenas um programa de rádio – tendo sido durante vários anos, até à assunção da carreira de caluniador profissional do Tavares e até ao episódio do dinheiro do Sr. Araújo sumido no BES, um programa puxado pelo brilhantismo do cómico fedorento onde se produziu crítica política e social decente. Depois, pelo meio, nasceu o “Processo Marquês” e choveram os sistemáticos crimes de violação do segredo de justiça usados para a exploração das captações da privacidade e das situações de exposição perante agentes policiais e da Justiça de suspeitos, arguidos, testemunhas, familiares, terceiros. Pedro Mexia passou não só a aceitar ser co-estrela num espaço de decadência mediática, social e política como igualmente celebrou a caçada e se aproveitou da prepotência colectiva para mostrar que também conseguia atingir e violentar quem já estava caído no chão.
Nunca terá de responder à pergunta mas nada impede que fique feita: “Pedro, que nome darias à cultura onde se usam crimes cometidos por magistrados e jornalistas em processos judiciais para alimentar a rapacidade voyeurística e caluniadora do ódio político?”
Parecem dois canalhas a assistir, divertidos, a um linchamento. Um pergunta, por desfastio, se a corda aguentará. O outro responde que se não aguentar, arranja-se outra.
Mas que dois, um trabalha para o PR, o outro escrevinha num jornaleco (Público) que foi em tempos idos, um bom jornal. Agora têm púlpito na TVI, que já foi católica e agora è da Cofina, que ao que consta em termos financeiros não está muito bem.
Com o tipo de intervenção, que normalmente estes dois senhores praticam, não admira a crise em que a comunicação social se encontra , a ponto do PR já vir candidamente apelar ao apoio do Estado, para a salvar………….
Não obstante Mexia, o da secreta cultural do Presidente, tentar quase sempre dar um arremedo de fundamento à sua opinião todos no fedorento “governo sombra” já foram contaminados pelo ser caluniador chulista de jmt e pelo humorismo parasitário e chulista do fedorento-mor.
Tudo aquilo cheira já a bolor velho tal como transparece da assistência de apanhados jarretas papalvos cada vez mais parecida com as dos programas da manhã ou do joker.
Porque nada naquilo já é sequer opinião mas variações masturbatórias à volta do tema Sócrates; tudo vai dar a Sócrates como nos crentes tudo vai dar a Deus.
Mas, coitados, aquilo ainda continua sendo parte do seu ganha-pão e enquanto der vão vendendo do mesmo chouriço até que o povo tope que é chouriço de cão.
José Neves, boa bola. Venham mais dessas, curtas, mas letais.