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Randa Nabulsi choca de frente

A representante da Autoridade Palestiniana em Portugal desfez as dúvidas: a culpa do terrorismo que se abate sobre Israel é do próprio Israel. Isto equivale a legitimar o terrorismo, visto como resposta adequada. Creio que a enorme maioria dos que tomaram partido por este lado da barricada comunga do raciocínio. É por isso que PCP e BE, mas também muitos outros no PS e alhures, não se alvoroçam com os actos de terror. Uma parte da explicação estará na cobardia de se manifestarem contra indivíduos que sabem não respeitar qualquer lei ou ser humano, mas esta consciência fica recalcada. O seu silêncio embrulha-se na desculpa da assimetria, indo dar a estes raciocínios:

Houve apenas 3 israelitas mortos, em 8 anos, e 12 foram feridos. […] Um acidente viário pode resultar em mais mortes do que estas.

Eis o algoritmo do horror: vale tudo desde que a aritmética possa ser invocada. Quantos morreram no 11 de Setembro? 2.974 pessoas, uma gota no número de mortos causados pelos EUA, Israel e aliados ao longo dos anos, séculos. Esta abstracção, que une fundamentalistas religiosos com fanáticos marxistas, tanto pode ir buscar às Cruzadas motivos para assassinar inocentes como os escolher para alvo pelo aleatório facto de estarem no local errado à hora errada. Os bombistas de Londres e Madrid não se importavam de ir matar também muçulmanos, hindus, budistas, agnósticos e ateus, já para não falar nas nacionalidades, sexos, profissões e idades dos massacrados. Aliás, o sentimento de impunidade, e sua pulsão martirizante, obriga a que se anule a noção de inocência. Não há inocentes, só injustiçados a quem a divindade cauciona a destruição, de um lado. Do outro, só algozes e seus cúmplices, mesmo que alguns destes cúmplices estejam a favor da causa dos bombistas, contra as políticas dos seus Governos ou, tão-somente, tenham uma mochila às costas com os livros da escola primária.

Cada morte injusta compromete por igual toda a Humanidade. Não há mortes de inocentes que valham mais do que outras. Os imbecis que comparam números são coniventes com a matança. Daqui, a primeira posição ética perante um conflito que regista injustiças de parte a parte ser a de recusar a violência maior, o terror. Quem se faz rebentar no meio de civis ou manda bombas pelo ar para zonas de habitação, e quem o apoia, é nosso inimigo. Um tipo de inimigo que não merece qualquer piedade.