Como aproveitar o descontentamento com a emigração e o terrorismo, a crise financeira e a ascensão de partidos fascistas para sonhar com o regresso da revolução anti-capitalista
A posição de Jean-Luc Mélanchon sobre o voto na segunda volta das eleições presidenciais francesas é, por cá, apoiada pelo Bloco de Esquerda. (Do PCP, encontrei esta passagem no Avante! “Por seu lado, o Partido Comunista Francês apelou claramente «a barrar o caminho da Presidência da República a Marine Le Pen», que «constitui uma ameaça para a democracia, à República e à paz», utilizando o único boletim de voto disponível para esse fim.“. Macron será, portanto.) Mas, dizia eu, o Bloco concorda que os eleitores da esquerda derrotada representada por Mélenchon não vão votar, vão votar nulo ou vão votar em Macron. Tanto faz.
Que esta posição seja inteligentemente aproveitada e explorada por Marine Le Pen, que objectivamente ganha força, é-lhes indiferente. Ora, acontece que a indiferença nestes casos significa muito. Significa, nomeadamente, que não os incomoda ver Marine Le Pen no poder ou com representatividade reforçada. Aparentemente, seria até divertido, uma revolução fascista a espreitar muito fresca, em pleno século XXI. Seria uma situação extrema que lhes traria, a eles, pensam eles, hipóteses futuras de sucesso. Ou nem será isso. Será mais o espectáculo. Incomoda-os mais ver por lá Emmanuel Macron, um centrista moderado e europeista (não pode!).
Ontem, no programa Prova dos Nove, da TVI 24, Fernando Rosas estava com sérias dificuldades em defender tamanha posição. A má consciência pô-lo irritado (afinal, Mélanchon tinha dado instruções, em 2002, para o voto em Chirac; em Chirac, do partido UMP – da direita republicana), pelo que não lhe restou mais se não uma fuga para a frente. Dizia ele, furioso, que, está bem, a senhora Le Pen é racista e xenófoba e tudo isso, mas, com Macron, nada vai mudar! Nada vai mudar. É este o principal argumento. E como nada vai mudar, diz ele, com a certeza dos fanáticos e/ou interesseiros e/ou apostadores malévolos, conclui-se que é até preferível deixar ir a França para uma deriva fascista e nacionalista, pouco importando que tal arraste a Europa para o abismo da implosão. Não! Calma. Atenção que ele não diz isso. O que ele diz é que não quer isso (enfim, não quer o fascismo; a implosão da UE dir-se-ia que sim). Então como evitá-lo? Ora bem, se no vosso pensamento aparece a palavra «votar», esqueçam, a ideia é que vote em Macron quem quiser; ele, se lá estivesse, esperaria que alguém o fizesse por ele. Faria figas para que alguém o fizesse por ele. Ir lá pôr o voto em Macron é que não. Extraordinária posição, de facto. No fundo, crendo que Macron ganhará, é mau dar-lhe demasiados votos – o homem cometeu o pecado capital de trabalhar na banca, além de ter sido ministro da Economia de Hollande em 2014, apesar de se ter demitido em 2016. Já não é tão mau deixar a Frente Nacional ganhar votos nesta segunda volta à conta dos abstencionistas ou “protestantes” da extrema-esquerda. Ah, desculpem, é mau, é mau: mas haja quem o impeça, que eles não.
E a cena do “feriado” por causa de Fátima, que diz aqui respeito ao pipol?!
Eh pá isso não! implica criticar o Costa, e o Costa por definição não é criticável, paira acima do pecado e da mentira … o gajo nem é religioso nem nada é só amigo dos fatos religiosos, visões, aparecimentos e consultas de tarot, desde que dêm votos, marcha. É laico.
Já agora quero ver a programação da rtp, os directos a partir do maior cinzeiro do país (milhões de beatas) com a Fátima Santos Ferreira aos pulos e de véu a abanar.
O BE ou a Igreja a cena é a mesma sectarismo, dogmas ye amendoins
No artigo que citas as palavras “utilizando o unico boletim de voto disponivel para este fim” não fazem parte da citação. Esta situação não é propria do PC, muito infelizmente. Na verdade, os apelos de uma grande parte dos sectores de esquerda contam com os eleitores para fazerem sozinhos o raciocinio e tirarem as conclusões. E ha muito quem deixe a entender que, se o voto for branco ou nulo, ou mesmo se não houver voto, não ha de vir mal maior ao mundo (a propria Martine Aubry demorou um pouco a acordar !)…
O Macron (de quem sou critico, mas em quem votaria se tivesse direito) ganhou uma importante batalha e coloca a esquerda numa séria dificuldade, a de se reconstruir a partir do zero. Sem grande surpresa, pelo menos para mim, não é obvio para todos que a reconstrução tera de ser feita democraticamente e usando o que se pode a partir do “sistema”. Hoje como sempre, a principal oposição, à esquerda, não é entre quem quer reformar e quem quer fazer a revolução. E’ entre quem quer reformar ou fazer a revolução no mundo, e quem quer reformar ou fazer a revolução saindo do mundo.
O peso actual dos “esquerdistas” da segunda categoria explica as dificuldades de que falas no teu post.
Boas
Xi c’a burra!
https://www.publico.pt/2017/04/28/culturaipsilon/noticia/e-desta-que-descobrimos-quem-e-bruno-aleixo-1770273
E não obstante quem não apanha pancada e até a dá é o PSF, que viabilizou as portas às eleições com a dupla Macron e Marine le Pen.
O seu candidato podiam ter desistido e pedido o voto em Mélenchon e agora a disputa seria entre Mélenchon e Macron. Mas não. Temem mais a esquerda do que os fascistas, foram até ao fim com a candidatura e agora queixam-se de Mélenchon. Por omissão, ajudaram a fazer a festa e agora querem apanhar as canas batendo em Mélenchon.
Convém não desvirtuar o conceito de primárias, ninguém desiste em favor de ninguém nem nos states. A última vez onde houve uma desistência do PS foi cá em favor de Marcello, e em França provavelmente votariam em Macron, não no holograma.
A França foi dos países que ofereceram menos resistência à ocupação nazi. Isso aconteceu há 80 anos.
O voto útil é bem conhecido naquelas paragens. Se fossem à segunda volta a Le Pen e um candidato do partido nazi fazia algum sentido a esquerda mandar as pessoas votar em Le Pen?
Com Macron é semelhante. Um homem sem partido!
O mais natural é que a França venha a ter um primeiro ministro designado por Le Pen que “reinará” com Macron em presidente… que grande salsada!
São logicas de voto diferentes, primarias-identificação, voto de nicho. Estas requerem outro tipo de julgamento,outros valores maiores, UE, racismo, nacionalismo,etc…as diferenças são tão nitidas q ficar indiferente por puro ressentimento só prova a menoridade de Mellenchon.
O calculismo disfarçado de neutralidade barata de Mellenchon também resulta do facto de pescar no mesmo eleitorado de Le Pen, entre outros, os desiludidos do PC, e a sua ligação a Putin também deixa muito a desejar, mas enfim compreende-se, a Russia é a motherland de muito pessoal de esquerda, religião abundante por cá. Por isso não pode apelar ao voto directamente contra a fascista, está-se a guardar para se algo falhar ter o apoio dos descamisados da globalizaçao, nem q para isso haja primeiro sangue, no fim o religioso destino elegerá o herói da luta de classes.
Espero bem que Le Pen ganhe…isto para começo de conversa. Depois, verei se tenho paciência para decifrar a penepolice…que fala em fanáticos, interesseiros, racistas, eheheheh…como na esquerdalhice portuguesa.
Está bem abelha, Strumer, perante a possibilidade real de afastar o perigo de Marine le Pen apelando ao voto em Mélenchon, o PSF tinha era de respeitar as primáriazinhas e ir a votos, o que acabou por converter aquele partido histórico num nicho eleitoral.
Já a consulta de Mélenchon dos seus eleitores, onde votar Marine le Pen não entra como opção, e com declarações do candidato contra a candidata da FN já é calculismo barato.
Escudados na consulta das primárias, o lá o que foi, e contra o risco grave da chegada de Marine le Pen à segunda volta o PSF e os seus adeptos não assumiram a sua responsabilidade (muitos de cá votariam aliás no banqueiro Macron: Vital Moreira, Assis, Seixas da Costa). Mas Mélenchon já é um bandido por abrir uma consulta onde à cabeça do boletim de voto se diz que ninguém deverá votar em Marine le Pen e nem sequer se abre hipótese de votar essa hipótese.
Podemos achar que é uma estratégia errada. Mas se é para atirar pedras, a crucificação do candidato tem que se lhe diga e pouca sustentação na atitude prévia dos freis tomáses que querem ver Mélenchon lapidado.
Cantaril, chamo “primárias” a primeira volta destas eleições mas no sentido de discutir quem passava a segunda volta, porque primárias no PSF não existiram e a existirem nunca podiam incluir Mellanchon, porque este já não milita no partido. Do q tu falas e de uma desistência do candidato do PS em favor de Mellanchon mas isso seria impossível e hipoteticamente até poderia afastar eleitorado das franjas reaccionarias que detestam o PS e Hollande que favoreceram o duplice do holograma. A análise de votos não pode ser simplista e aritmética, expressam comportamentos que reagem a situações.
Eu também não votaria Mellenchon e considero-me muito mais a esquerda do q os q mencionas, é um populista q vai do apoio a Putin até a mais desbragada utopia, e a Le Pen de esquerda com o mesmo target e tipo de apelo a ignorancia.Também não em Macron numa primeira volta, numa segunda e perante o q está em causa nem pestanejaria. O q muitas figuras ca expressam é o q foi feito aquando do pedido de ajuda a troika, o nao apoio e o constante combate para q o governo de Socrates caisse,foi necessário para uma recomposição da esquerda e q o Mellanchon deve fazer o mesmo, mesmo q isso implique q Le Pen ganhe a presidencia. Para eles e refresco.Este discurso de aceitação implicita do q fizeram e porque só passa impune porque o atual PS desistiu da defesa do q aconteceu e enterrou Socrates, por medo mas com prazer.
Joe Strummer, Tanta distorção acerca do que diz Mélenchon (vejam como se escreve o nome do tipo), do que representa e do que defende. Quando os PS de todo o mundo dizem o que dizem e votam como votam, preferindo Marine le Pen na segunda volta a votar em Mélenchom, compreende-se pq tem tanta força a candidata fascista.
Eheh Cantaril, tu é q estás a distorcer isso tudo, cena conspirativa para justificar una derrota. O q se passou foi q os franceses q desejam uma mudança radical confiam mais em Le Pen do q em mr. M. A distorção está para o ruido como o holograma para a autenticidade.
Distorço, distorço,
Como pelas acções e pelas políticas conduzidas não podem reivindicar o combate de Marine le Pen, atacam agora Mélenchon que sempre o tem feito, a ver se disfarçam.
O velho Chama-lho tu, antes que ela te chame a ti.
Eu por acaso gostava de ter visto o Mélanchon ir à segunda volta com a Le Pen. E aposto dobrado contra singelo que os “indignados do centrão” de hoje, votariam em massa na Marine. Ainda que, envergonhados, não o assumissem. E de certeza que não aconselhariam o voto no Mélanchon. Ou então que fariam? Suicidavam-se? Deitavam-se ao mar? Quando vejo gente, que se diz de “esquerda”, ou que se julga de “esquerda”, a usar os mesmos argumentos do Paulo Rangel, é de desconfiar. Se estão no mesmo barco do Rangel é porque o barco as leva ao mesmo sítio. Ainda que, para sossegarem as suas left-consciências, se persignem perante o timoneiro e lá vão pedindo para que a rota do navio mude. Só que o navio está à deriva e já não há piloto que o desvie do iceberg.
Estátua de Sal: Se o Mélenchon estivesse sequer para ir à segunda volta com a Le Pen, já na primeira volta muitos votantes de Fillon votariam em Macron (ou vice-versa, conforme o que, nas sondagens, tivesse mais intenções de voto. Dados os escândalos de Fillon, só poderia ser Macron). Os franceses não ensandeceram assim tanto. Dificilmente a maioria deseja o caos. Afinal os votos no Fillon e no Macron ascenderam quase a 44%. Por isso, esse cenário de que fala é um não-cenário.
Acrescento que, embora assustador, não deixa de ser útil a Macron que a Le Pen obtenha uma boa votação. Ao contrário do que você parece pensar, o Macron não é burro e sabe perfeitamente que muito tem que mudar no funcionamento da UE e da zona euro (e sim, trata-se da França, um grande país). Para o conseguir, a ameaça da queda do poder nas mãos da Marine e seus apoiantes é importante. Aliás, segundo o que li, ele já começou a jogar essa carta.