Independentemente de poder ter havido cúmplices no interior do exército para o furto de armamento dos paióis de Tancos, e independentemente da responsabilidade pela não reparação ou substituição das câmaras de vigilância, que, de qualquer modo, segundo ouvi, nunca cobriram toda a extensão do terreno, parece-me que a pessoa responsável pelo bizarro sistema de vigilância em vigor, que consistia na mera passagem de uma ronda uma vez por dia, devia ser imediatamente demitida. Quer por assim ter decidido, quer por não exigir mais meios. Será assim tão difícil descobrir essa pessoa?
Também tenho outra pergunta: aquelas instalações ficam tão isoladas e distantes de qualquer base ou posto ao ponto de não ser possível ninguém ouvir a chegada e as movimentações de um camião/camiões/furgonetas/jipes não previstos?
Na televisão, todos vimos o embaraço do general Rovisco Duarte ao afirmar que o sistema de vigilância em vigor em Tancos era considerado suficiente. Mas quem o considerou suficiente? Terá sido ele? Se não foi, aparentou ter conhecimento dele, pelo menos para efeito da ida às televisões. O general tem um ar simpático, mas ou é incompetente ou negligente (conhecendo-o) ou não sabia efectivamente, até anteontem, de nada em matéria de controlo do material militar, porque não tinha que saber. No primeiro e segundo casos, tem que se demitir; no terceiro, tem que procurar quem sabia e/ou decidiu a periodicidade da voltinha ao recinto e demiti-lo. Qualquer pessoa consegue ver que o sistema era ridículo. Vejamos com imagens: compra-se material militar caro e perigoso, transporta-se o mesmo para Tancos, deposita-se nos paióis, fecha-se a porta, fecha-se o portão exterior e todos seguem para o quartel ou para casa tranquilos porque há-de passar uma patrulha no dia seguinte. É isto. Surpreende o furto não ter acontecido antes e não terem sido esvaziados todos os paióis.
Finda a guerra colonial, o exército (bom, alguns militares, para não generalizar), apesar de continuar a comprar e a lidar com material de guerra, parece não se levar a si próprio muito a sério. Mesmo quando o mundo está terrível e o roubo e tráfico de armas exige um esforço de controlo acrescido.
Dizem que o orgulho dos militares sofreu um rude golpe com o que aconteceu. É verdade, uns estão a ser alvo fácil de chacota e, com isso, outros sentir-se-ão manchados mesmo sendo profissionais competentes, mas, meus senhores, aquele sistema é demais! Aliás, é de menos. E repito, mesmo que se venha a provar que houve colaboração de quarteleiros (como diz o Correio da Manhã), o sistema de rondinhas diárias ao pôr do sol ou ao nascer do sol é anedótico. E inadmissível.
Precisamos dos militares e hoje gostamos deles. Mas devem ser bons profissionais. Em qualquer ramo e em qualquer função. Confesso que fiquei surpreendida com a ingenuidade daquele general, que calha ser o Chefe do Estado-Maior do Exército. Pareceu-me convencido de que Portugal devia ser uma pasmaceira de facto, onde nada de grave acontece, que essa é a ordem natural das coisas, e que, não fora a existência de cúmplices dentro do exército, nunca aquele roubo teria acontecido. As rondinhas não teriam deixado que acontecessem. Senhor general, será possível?
Por falar em profissionalismo, lembro-me de protestos de militares a propósito de carreiras, remunerações e assuntos afins, mas não me lembro de protesto algum nem de reivindicação alguma para garantirem o exercício das suas missões com eficácia nem para exigirem mais efectivos para certos locais sensíveis, nem para colmatarem as lacunas de segurança existentes. Nem depois dos roubos de armamento que tiveram lugar, ainda recentemente, noutros países europeus, nomeadamente em França, e um pouco por todo o mundo. Talvez ainda não tenham percebido que o mundo mudou, que tudo se trafica, desde fio de cobre a armamento, sobretudo armamento, e que não se vai lá com voltinhas à rede a cada 24 horas.
Só pelo relambório tá-se mesmo a ver que de tropa não percebes népia….
Maria vai com as outras: Estás então pronta para nos contar tudo o que sabes? Vai, começa.
No meu tempo de tropa ( forçada ) dizía-mos assim : militar ( de carreira , do quadro permanente) , é como o marisco, tem casca grossa e merda na cabeça .
Claro que o que eles querem é uma carreira bem remunerada .
O resto, é acessório.
eu fico-me, consolada, com a ideia ingénua de que Portugal é um país calmo e sem acontecimentos de grande gravidade expectáveis. viva portugal! :-)