Por uma «Suíça» 2.0

 

De acordo com a revista Sábado, um grupo de lisboetas chamado Fórum Cidadania Lisboa resolveu escrever a Rafael Nadal para lhe pedir, enquanto investidor (muito minoritário) do fundo que comprou o quarteirão do Rossio onde se situa a pastelaria Suíça, que não deixasse desaparecer a dita, agora que as obras de requalificação dos imóveis estão em curso. Pedem-lhe que “não mate as nossas memórias”. Estão a exagerar.

 

Primeiro, não sei se o Nadal alguma vez ouviu falar do Rossio, quanto mais da pastelaria Suíça e, caso lá entrasse, se compreenderia o que motivava a angústia dos ditos lisboetas perante o fecho daquele estabelecimento concreto. Há pouco tempo entrei lá e, francamente, para além de funcionários com idade para terem muitos anos de casa e direito a uma boa e merecida reforma (havia excepções, claro), nada vi que merecesse ser preservado ao ponto de impedir o estabelecimento de fechar. A pastelaria já sofreu transformações ao longo dos anos, estando agora, arquitectonicamente, sem grande jeito e sem grande graça. Também não me pareceu que, de entre a doçaria em oferta, se encontrassem receitas originais ou especialmente saborosas e não me lembro de nenhuma bebida típica ou particularmente apreciada da pastelaria Suíça. Além disso, são poucos, se alguns, os lisboetas que por ali param. A esplanada costuma ter só turistas. Para coroar, o actual dono não vê qualquer viabilidade na exploração da pastelaria.

 

A situação da pastelaria é a única privilegiada (se descontarmos a proximidade da saída do Metro). Vista para o Rossio, de um lado, e para a Praça da Figueira, do outro. Mas essa, com um estabelecimento novo, poderá  ser preservada.

 

É este o ponto: o fim desta pastelaria não significa o fim das possibilidades de abertura de uma outra, ou de um bar ou do que quer que seja. Mais para a direita, mais para a esquerda, enfim, acho que o lugar é propício a um estabelecimento desse género, com esplanada.

 

Segundo, todo aquele quarteirão estava extremamente degradado, sendo uma dor de alma ver, em pleno Rossio, imóveis naquele estado de pré-colapso e lojas, no rés-do-chão, em avançado declínio comercial. Ainda bem que alguém decidiu investir.

 

Portanto, não se compreende que saudades pode deixar uma pastelaria fortemente descaracterizada, pouco frequentada pelos lisboetas e encimada por um imóvel à beira da ruína. O novo hotel que, segundo consta, ali está a ser construído aproveitando o actual edificado terá com certeza espaço, no rés-do-chão, para um estabelecimento mais contemporâneo e atraente.

6 thoughts on “Por uma «Suíça» 2.0”

  1. O dia 3 fevereiro de ’59 ficou imortalizado pelo Don Mclean como o dia em que a musica morreu. Nesse dia um acidente aéreo matou Buddy Holly, Richie Valens e JP Richardson quando andavam em tournée. Hoje num local ao pé do aeroporto dar-se-a a morte do rock (só para quem ainda acredita que ali ainda viva alguma coisa semelhante) português num espectaculo de celebração do mais reles populismo. E nestes idiotas que pensam votar?
    https://m.youtube.com/watch?v=eY7EPE9biO0

  2. A velha Lisboa, Avenida da Liberdade, e outros lugares notáveis assim como no próprio Porto, estão a ser alienados a “migrantes” e qualquer dia a capital de Portugal vai ser Madrid.

  3. Certo Joe Strummer.
    Federer para além de ser Grandioso é fan e inspirador da Selecção.

  4. Não preciso da Pastelaria Suíça para nada, mas preciso ainda menos de que ela desapareça em definitivo da paisagem lisboeta!

    E um qualquer sucedâneo do tipo “Suíça 2,0” pode existir (já existe) em todo o lado, até em Santa Maria de Todo-o-Mundo, não precisa para nada de destruír este ícone do Rossio e do nosso imaginário alfacinha para se repetir mais uma vez…

    Ou então, se é mesmo para “requalificar” as velharias “1,0” de Lisboa, comece-se por fechar todas as espeluncas do Bairro Alto, cheias de baratas e com casas-de-banho que não respeitam nenhumas normas dimensionais a[c]tuais, e acabe-se no Cristo-Rei, que está a impedir, por exemplo, a construção de uma torre de tele-comunicações moderna para a toda a Margem Sul…

  5. Pobre Reaça, só vê “migrantes” e outros fantasmas por todo o lado…

    É O CAPITAL 2.0, CARALHO, não os miseráveis “migrantes”, que adquire todos os “lugares notáveis”, na tua nomenclatura antiquada, ou sejam os Ativos Imobiliários de Elevada Rentabilidade, no seu linguajar muito pós-Moderno e devidamente abençoado pelos tecnocratas e outros “arquitontos” dos múltiplos poderes autárquicos, convenientemente respaldados em juristas e nos próprios decisores políticos analfabetos, mas que vêem “pugréço” e “dexenvolvimeinto” em TUDO O QUE GERE TAXAS PARA O ERÁRIO MUNICIPAL e dê a ilusão ao pagode de poder transformar a sua terrinha numa coisa qualquer parecida com Miami, no mínimo!

    Basta ler o senhor Isaltino a dizer que vai transformar Paço d’Arcos na “Saint Tropez” portuguesa – já para não falar no caso consumado (?) das Torres do Dubai na Cruz Quebrada, que começa agora a dar que falar…

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