Ponderem queixar-se de vós próprios

Era de esperar que a publicação de um livro por José Sócrates levasse os jornais, sobretudo aqueles que mal falaram no assunto do livro, a dizer-nos qual o ponto da situação sobre o processo judicial em que está envolvido. Assim, apesar de não haver nenhuma notícia “fresca” sobre esta matéria, lê-se hoje no Diário de Notícias que os procuradores e o inspector tributário encarregados do processo “Marquês” se queixam, para além da imensidão de ficheiros e das cartas rogatórias que ainda não obtiveram resposta, ou resposta que lhes agrade,  sobretudo do fim do segredo de justiça interno e externo porque, dizem, assim alguns dos suspeitos que se encontram no estrangeiro ficaram com receio de vir ao país.

O fim do segredo de justiça interno passou rapidamente a externo, isto é, não só os intervenientes processuais tiveram conhecimento da investigação, mas também outras pessoas, fruto das inúmeras notícias que se sucederam; e o facto de suspeitos que se encontravam no estrangeiro terem mostrado “receio” de se deslocarem a Portugal.

Meus caros, a lei é a lei. Depois das fugas cirúrgicas e programadas para os jornais, todas da vossa inteira responsabilidade, que justiça haveria em manter os alinhavos, o poder e o arbítrio todos nas mãos dos procuradores feitos acusadores por interpostas pessoas? Mas também há que perguntar: se não tivessem prendido Sócrates com toda aquela ânsia e todo aquele aparato, não estariam agora a (continuar a) investigar o caso com toda a discrição e todas as condições que dizem faltar-vos agora? Não andariam todos os hipotéticos criminosos a circular livremente cá e lá fora e a passar várias vezes à frente das vossas instalações? Quem mandou a Vossas Excelências precipitarem-se para, aparentemente, se vingarem de frustrações antigas e, dizem alguns, intervirem no processo político, tendo para isso que mentir, dizendo que havia indícios suficientemente fortes para uma detenção? Não havia. E continuou a não haver até à atual hipótese PT, cujo desenvolvimento aguardo com extremo interesse, mas espero que não eternamente, porque vejo aí uma desumanidade inaceitável. Vale do Lobo e outros indícios fortíssimos ficaram mesmo lá para trás, não foi? E o que se disse na praça pública na ocasião?

26 thoughts on “Ponderem queixar-se de vós próprios”

  1. Pois ! Nem menos. Mas perante este quadro inaceitável,no qual Sócrates não é, nem de longe nem de perto, a única vitima, continua a haver quem considere prioritária a celebrada “questão moral “.

  2. a isabel moreira aproveitou a boleia do livro do sócras e deu uma entrevista ao sol para se promover. como ninguém lia aquela merda, sol e isabel, lá teve de recorrer à formula joãomigueltavares para fazer capa do pasquim. na próxima despe-se como a joana ou aparece sentada numa constituição vibratória.

  3. Eles, o procurador, o inspector tributário e juíz de Instrução devem sofrer de amnésia
    pois, escreveram ter indícios muito fortes de que, andam há mais de 3 anos a investigar,
    por acreditarem neles, vários juízes de tribunais superiores assinaram de cruz e até
    brincaram com os tais ditos populares … só faltava o depoiamento de Angola do sr.
    Bataglia que já chegou há montes de tempo, agora falta de Inglaterra que deixou de
    colaborar com o M.Público talvez uma sequela do “Freeport” ? Quem sabe?
    Após a devassa pública sobre os delírios desta gente, firme convicção do principal ar-
    guido da “operação Marquês”, nos pasquins habituais, com a Relação a indicar o fim
    do prazo … sem algo de concreto que prove a “teoria” desenvolvida! Aconteceu, ser
    tal inspector a dar o “grito” que não era ele que alimentava os pasquins e a exigir uma
    investigação àa fugas para a comunicação social, nunca se soube se foi feita!
    Últimamente, o juíz de Instrução sentiu necessidade de aparecer a dizer coisas e a
    tentar mostrar algo que parece não ser … ele que achava que prisão preventiva era
    pouco para um ex P: Ministro sem qualquer prova sobre culpabilidade da tal corru-
    pção a mãe dos outros “crimes de que o pretendiam acusar!
    Só falta aparecer o procurador a dizer que acredita firmemente na “teoria” desenvol-
    vida ao longo de mais de 3 anos sem conseguirem a prova material dos crimes em cau-
    sa e que, isto nada tem de político apesar da evidência circunstancial dos factos!
    Que tal, uma baixa médica por esgotamento cerebral como possível passaporte para
    uma reforma antecipada e muitos elogios pela dedicação mostrada!!!

  4. Madeira,

    Estás a misturar as cenas ! Se metesses de baixa médica toda a gente que acredita em coisas estranhas, que fazias com os devotos das aparições ? Não vás por aí. Acreditar é uma coisa boa. Serve para não nos afundarmos na ignorância. O Direito é outra coisa. A figura da “dúvida razoável” em beneficio do réu, ou o ónus de prova para quem acusa, não foram inventados para substituir as crenças, mas exactamente para as deixar de fora de equação. Mas no mundo dito civilizado, o que se vê é que foram poucos os que abandonaram as fronteiras mentais da famigerada paróquia de Salem Town.

  5. 1.
    Mas Sócrates não queria ficar-se
    pela tese de mestrado. Logo começa
    a burilar a escrita de um novo
    livro que resultaria da tese de
    doutoramento que acabou por
    não concluir. Farinho não se importava
    de continuar a colaborar,
    mas queria mais dinheiro. A 4 de
    Novembro, é o professor de Direito
    quem o vem lembrar. Quer saber
    se podem continuar a trabalhar
    juntos e pergunta: «Ainda
    está interessado em avançar
    com o doutoramento?».
    Farinho é convidado para a nova
    etapa. Nesse mês, Sócrates pretendeu
    solidificar o compromisso já
    estabelecido entre ambos numa
    conversa que os dois mantiveram
    durante uma viagem de carro e inquiriu-o:
    «Então avançamos?». O
    professor universitário confirmou,
    mas, por razões fiscais, perguntou-lhe
    se o novo contrato não poderia
    antes ficar em nome da mulher, envolvendo
    assim Jane no assunto, o
    que motivou a sua audição como
    testemunha.
    E assim foi, a advogada Jane
    Kirkby e a sociedade de Rui Mão
    de Ferro assinavam um contrato
    de prestação de serviços de apoio
    e assessoria na área jurídica que
    vigoraria entre 1 de novembro de
    2013 e 31 de outubro do ano seguinte
    – vésperas da prisão de Sócrates.
    Segundo o ex-governante disse
    nos últimos dias à SIC, o livro que
    se prepara para lançar – e que deverá
    ser o mesmo para o qual contratualizou
    a assessoria – é uma
    obra dedicada à teoria política sobre
    o carisma, como SOL já avançara
    no ano passado.

    http://static.comicvine.com/uploads/original/11122/111225170/5040042-bugsbunny-writing.jpg

    2.
    A TVI 24, que já teve acesso à nota de apresentação escrita pelo próprio, conta que a obra foi esboçada quando o socialista esteve detido preventivamente na prisão de Évora, no âmbito da Operação Marquês. “Nas suas linhas gerais, este livro foi esboçado na prisão e, depois, desenvolvido com troca de impressões, sugestões de leituras e observações de muitos amigos com quem partilho afinidades electivas na política”, avança Sócrates, sem citar nomes.

    I love this guy; his expression is priceless!

    3.
    Sócrates e Farinho fizeram retiro no Algarve para escrever o livro

    FELÍCIA CABRITA
    02/10/2016 17:02

    O livro Carisma, a lançar já em outubro, resulta da colaboração entre Sócrates e um professor catedrático pago através de uma conta bancária de Carlos Santos Silva.

    As contas bancárias de Domingos Farinho – o professor que alegadamente terá escrito o primeiro livro de José Sócrates, A Confiança no Mundo – estão a ser investigadas pelo Ministério Público.

    O catedrático da Faculdade de Direito de Lisboa, com o mestrado em Ciências Jurídico-Políticas e várias obras publicadas, foi notificado em julho passado na qualidade de testemunha. Mas, questionado pelo SOL sobre o seu atual estatuto no processo, Farinho foi parco em palavras, não adiantando se terá ou não sido constituído arguido: «Já tinha dito que não vou falar mais sobre esse assunto». Também as contas bancárias da sua mulher, Jane Kirkby, estão sob escrutínio por parte dos investigadores.

    Para o MP, mais do que a autoria do livro, o que está em jogo é saber de que forma foi paga a colaboração do académico e a origem do dinheiro. As autoridades suspeitam que os valores recebidos por Domingos Farinho e a mulher foram pagos com montantes oriundos de uma fortuna presumivelmente acumulada por José Sócrates que tem como ‘hospedeiro’ bancário o empresário e seu amigo de juventude Carlos Santos Silva. E tanto Domingos Farinho como Jane Kirkby, também ouvida como testemunha, receberam avenças de empresas de Santos Silva. Foi o próprio professor, aliás, quem anteriormente confirmou ao SOL ter auferido pagamentos por trabalho da esfera intelectual que manteve com José Sócrates.

    Honorários pagos por Santos Silva

    A existência dos honorários foi detetada após uma busca desencadeada a várias empresas de Santos Silva, onde o MP descobriu o print de um email de 23 dezembro de 2012, trocado entre o catedrático e Rui Mão de Ferro, administrador de uma dessas sociedades, a Proengel 2, relativo à preparação de um contrato e à realização dos pagamentos entre esta sociedade e Domingos Farinho.

    Na altura, o professor reconheceu ter recebido os pagamentos, argumentando que esse trabalho se ficou apenas pela sugestão de alguns títulos para a bibliografia e a revisão da tese que Sócrates apresentou quando cursava filosofia política em Paris, no Instituto de Estudos Políticos (Sciences Po), mas negou a autoria do livro.

    Quanto ao montante que recebeu de forma regular durante um ano, disse ter sido o mesmo acertado entre ele e Sócrates, e não ser «do foro público». No entanto, esclareceu que não era o ex-primeiro-ministro quem lhe pagava: «Não me lembro do nome da empresa, mas tratei de tudo sempre com Rui Mão de Ferro». Recorde-se que, publicamente, o antigo líder socialista referiu-se ao livro em causa como sendo a versão traduzida da sua tese de mestrado na escola de Sciences Po.

    O MP, aliás, pediu o levantamento do sigilo bancário da conta conjunta do casal Farinho no Banco Santander Totta, num período mais vasto do que o da elaboração da tese de Sócrates: de janeiro de 2011, quando o então líder socialista ainda permanecia ao leme do país, à presente data.

    ‘Muleta intelectual’ de Sócrates

    As suspeitas são várias. Ainda no final de novembro de 2012, quando Sócrates se encontrava em Paris a preparar a mémoire de mestrado em Ciência Política, na qual o académico também assumiu ter colaborado, Farinho e a mulher viajavam ao seu encontro para passarem o fim de semana na capital francesa.

    A deslocação, paga por Santos Silva através da agência de viagens Raso/Geostar, deu-se três semanas depois do email trocado com Mão de Ferro para ultimar o contrato que Farinho corroborou ter concretizado para se tornar numa espécie de ‘muleta intelectual’ de Sócrates.

    Outro dos indícios considerados relevantes para a investigação prende-se com uma revelação recente. No fim de semana passado, o ex-líder socialista, num regresso intempestivo à vida política, anunciou que estava para vir à estampa, neste outubro, um novo livro assinado por ele – o qual, segundo adiantou à SIC, será uma «obra dedicada à teoria política sobre o carisma».

    Ora este ensaio, que também conta com a participação de Domingos Farinho, já estava em andamento antes de Sócrates ter sido detido.

    Segundo os investigadores, quando Sócrates se preparava para fazer o doutoramento, Farinho tinha a incumbência de o ajudar nessa nova etapa – que culminaria em mais um livro, para o qual já havia título: Carisma.

    Em novembro de 2013, Sócrates pretendeu solidificar o compromisso já estabelecido entre ambos numa conversa que mantiveram durante uma viagem de carro: «Então, avançamos?», perguntou Sócrates. O outro confirmou. Mas, por razões fiscais, sugeriu que o novo contrato ficasse em nome da mulher, envolvendo assim Jane no assunto, o que motivou a sua recente audição como testemunha. E Farinho, que andava sempre um passo à frente do antigo líder socialista, confidenciou-lhe que já andava a consultar bibliografia sobre o tema. As conversas sobre o tema ficaram registadas.

    Convite para os EUA

    Entretanto, em maio, Sócrates admitira a possibilidade de ir estudar para Nova Iorque, na Universidade de Columbia. O desafio chegou-lhe através do seu antigo ministro da Economia, Manuel Pinho, que lecionava naquela instituição e que, em simultâneo, lhe arranjou forma de ser convidado como professor visitante.

    Foi a própria Universidade de Columbia que enviou a Sócrates um email a confirmar a intenção. Farinho, uma espécie de alter ego académico de Sócrates, foi chamado de imediato a assumir a responsabilidade, dadas as dificuldades do ex-líder do PS no domínio da língua inglesa: «Podes-me endossar a resposta, porque escreves melhor do que eu. Agradece o convite e diz-lhes para não se preocuparem com as questões do alojamento e pagamento. Não são importantes para mim».

    O segundo livro de Sócrates estava, no entanto, no maior dos segredos. Apenas um jornalista ficou a conhecê-lo. José Manuel Portugal, à época diretor de Informação da RTP, convidara-o para um debate na estação, tendo recebido escusa com uma boa explicação: «Eh pá, eu estou a pensar retirar-me uns três meses para escrever mais um livro, por favor não comente com ninguém».

    Mas, em maio de 2014, Domingos Farinho ainda estava quase na estaca zero, e disso deu conta a Sócrates: «Tenho-me dedicado às leituras mais do que à escrita, tirei notas de livros e já tenho cinco páginas escritas». Sócrates, por seu lado, estava com pressa e propôs umas férias. Pretendia alugar um apartamento no luxuoso Pine Cliffs de Albufeira para os dois se concentrarem: «Temos de fazer um retiro de dois ou três meses». Ao que o outro não se opôs: «Era importante, mais por ti, mas a mim também me sabia bem».

    Entre os amigos mais próximos de Sócrates, poucos sabiam destes planos. Apenas o seu motorista, João Perna, que levava e trazia material trocado entre o patrão e o professor catedrático, costumava propagar quando saiu A Confiança no Mundo: «Ele escreveu tanto o livro como eu».

    5.
    LOL

    Na ciência política, a questão do carisma é, no essencial, uma discussão sobre liderança. Durante muito tempo, na cultura política europeia este debate foi residual. Afinal, pensava-se que podíamos aperfeiçoar as democracias pondo de lado, com vantagem, a dimensão pessoal da política e substituindo-a pela discussão sobre ideias e programas. Qualquer valorização das questões da liderança ecoava como suspeita perante as regras da democracia. O fantasma dos totalitarismos carismáticos deixou uma longa herança. Este é o tema do livro.

    Nas suas linhas gerais, este livro foi esboçado na prisão e, depois, desenvolvido com troca de impressões, sugestões de leituras e observações de muitos amigos com quem partilho afinidades eletivas na política. Devo muito a essa “política de camaradagem” e agradeço a todos, que aqui se reconhecerão. Especial agradecimento devo ao Reitor e aos Professores de Filosofia Política da Universidade da Beira Interior, cujas discussões no Seminário sobre Carisma e Democracia muito me ajudaram. Aqui encontrarão ecos do que discutimos. Mas é claro que o que aqui fica escrito só a mim vincula. Este foi o tempo do livro.

    6.
    Quarta-feira
    Consta por aí que o eng. Sócrates vai publicar outro livro. Por descargo de consciência li o primeiro. É um exercício escolar sem originalidade ou rigor, que, como lhe compete, exibe uma enorme incultura filosófica. Não valia a pena tornar a falar dele se Sócrates não aparecesse agora com uma nova prestação dos seus pensamentos, desta vez sobre o “carisma” (um assunto que tresanda a pretexto para o auto-elogio). Depois do que se disse sobre a autoria e as vendas da sua alegada tese, nenhum académico com vergonha se atreveria a lembrar a sua presença sobre a terra, sem o reconhecimento de uma universidade idónea. O problema de Sócrates é que está morto, intelectual e politicamente morto, e se recusa a reconhecer esse facto simples. A agitação em que anda chega a confranger. Sossegadinho na Covilhã ou no diabo ficava melhor.

    O Diário de
    Vasco Pulido Valente

    7.
    Pré-lançamento
    da introdução
    de “O Dom
    Profano –
    Considerações
    Sobre o Carisma”

    Ao longo dos
    séculos, o carisma
    sempre foi um
    factor essencial na
    governação dos
    povos, uma virtude
    cultivada por grandes líderes como
    Júlio César, Napoleão Bonaparte
    ou o ex-primeiro-ministro José
    Sócrates. Ou seja, eu. O autor
    deste livro que eu agora introduzo.
    Foi Max Weber o primeiro a
    cunhar o termo “liderança
    carismática”, Max Weber o
    sociólogo alemão que José Sócrates
    estudou quando estava em Paris,
    quer dizer, que eu estudei quando
    estava injustamente detido no
    Château d’If. Ou melhor, não,
    que isso foi o Conde de Monte
    Cristo. Quando o José Sócrates
    esteve injustamente detido no
    Estabelecimento Prisional de
    Tires, quer dizer, Évora, onde
    eu estive detido vários meses,
    conheço bastante bem Évora, eu
    conheço. Quer dizer, não conheço
    assim tão bem porque eu estive
    preso em Évora quando escrevi
    este livro. Não conheço Évora
    como, por exemplo, conheceria
    alguém que estivesse a escrever
    um livro mas não estivesse preso e
    pudesse passear por Évora depois
    de uma visita ao Estabelecimento
    Prisional e depois fosse passear
    ao Templo de Diana onde se
    cruzasse por acaso com o Mário
    Soares e este lhe perguntasse como
    estava o José Sócrates. Ou seja,
    como estava eu. Bem, quero com
    isto dizer que José Sócrates, ou
    melhor, eu, com este livro escrito
    em Mem Martins, quer dizer, em
    Évora, inscreve-se, ou melhor,
    inscrevo-me numa tradição de
    grandes livros políticos redigidos
    na cadeira, como o “Mein Kampf”.
    Quer dizer, talvez ele não queira
    essa comparação. Eu não queira
    essa comparação. Não quero.
    Eu não quero. E agora vamos ao
    livro, que escrevi, como diria o
    Edgar Degas sobre a pintura, “es
    troi facile quando vu ne sabon,
    pá, comentaire; quando vu le
    savé, sê trois diffi lement”. Quer
    dizer, isso foi o que ele escreveu
    quando mandou, o que eu escrevi
    quando comecei a escrever este
    livro e queria dizer “c’est très facile
    quand vous ne savez pas comment
    faire; quand vous le savez, c’est
    très diffi cile”, como é óbvio.
    Porque eu sou fl uente em Francês
    e escrevo primeiro os meus livros
    em Francês e apenas depois os
    traduzo para Português. Porque
    eu, que escrevo o meu livro,
    aprendi Francês quando estive
    detido em Château d’If. Quer dizer,
    não. Bolas. VE

    8.
    José Sócrates vai lançar ainda este mês o seu livro sobre carisma. Segundo o Imprensa Falsa conseguiu apurar, o ex-primeiro-ministro já vai a meio da obra e está a adorar, tanto que quer conhecer o autor.
    “Uma abordagem original sobre o carisma, numa prosa escorreita que dá gosto ler”, terá afirmado Sócrates, antes de pedir um encontro com o autor.

    http://www.imprensafalsa.com

    9.
    José Sócrates garantiu que a ideia
    de lançar um segundo livro, provisoriamente
    intitulado Carisma,
    lhe ocorreu enquanto esteve
    preso em Évora, entre 2014 e 2015.
    No entanto, os investigadores
    detetaram contactos para a elaboração
    da obra entre Sócrates e o
    catedrático de Direito Domingos
    Farinho ainda em 2013, no seguimento
    do lançamento de A Confiança
    no Mundo.
    Os investigadores suspeitam
    ser Farinho o verdadeiro autor
    tanto do primeiro como do segundo
    livro assinado por Sócrates.
    O problema foi que o professor
    queria melhorar as vantagens financeiras
    que auferira com o primeiro
    livro e não aceitou o encargo
    logo à primeira. E de facto acabaria
    por melhorar as condições,
    passando de 4 mil para 5 mil euros
    mensais, depositados numa
    conta da mulher.
    Em maio de 2014 Farinho ainda
    tem a tarefa quase no início mas
    vai dando notícia dos seus avanços:
    «Tenho-me dedicado às leituras
    mais do que à escrita, tirei notas
    de livros e já tenho cinco páginas
    escritas». Esta última afirma-
    ção – «já tenho cinco páginas escritas»
    – parece provar que foi mesmo
    Farinho quem escreveu a obra.
    Recorde-se que, através de um
    esquema montado entre o suposto
    autor e o seu amigo Carlos Santos
    Silva, Sócrates comprou milhares
    de exemplares de A Confiança
    no Mundo, para que a
    primeira edição esgotasse até ao
    dia da cerimónia de lançamento,
    no então Museu da Eletricidade,
    em Lisboa, com a presença da
    nata socialista (como Mário Soares,
    António Costa e Eduardo Ferro
    Rodrigues), assim como do ex-
    -Presidente brasileiro Lula da Silva
    (prefaciador da obra) e de
    Eduardo Lourenço (autor do posfácio).
    Santos Silva e a mulher, Inês do
    Rosário, acabaram por admitir
    às autoridades que o plano para
    adquirir em massa exemplares
    do livro partiu do ex-governante
    socialista.
    Durante o interrogatório, o empresário
    não evitou uma gargalhada
    quando questionado pelo procurador
    Rosário Teixeira sobre o
    esquema de vendas: «Foi a pedido
    de Sócrates mas também por
    minha vontade. Comprei muitos.
    Naturalmente o Sócrates
    queria manter o status, tinha a
    vontade que o livro tivesse uma
    boa aceitação, e alavancou as
    vendas do livro». E Inês do Rosá-
    rio, que com azedume chegou a
    atribuir a José Sócrates a responsabilidade
    pelo marido estar em
    maus lençóis, desabafou ao ser ouvida:
    «Comprei [livros] mas não
    sei quantos. O meu marido queria
    agradar ao amigo para lhe
    alimentar o ego».
    Intitulado O Dom Profano –
    Considerações sobre o carisma,
    o novo livro assinado por Sócrates
    será apresentado no próximo
    dia 28, pelas 18h30, no Auditório I
    da FIL – Centro de Exposições e
    Congressos de Lisboa.

    10.
    Ocorreu-lhe visitar José Sócrates enquanto esteve preso?
    Várias vezes pensei nisso. Mas entendi que, não havendo uma relação de amizade pessoal entre nós dois e tendo depois havido um distanciamento na medida em que eu o critiquei pelo despesismo que caracterizou os últimos dois anos do Governo dele, não havia uma obrigação da minha parte nem com certeza uma expectativa da parte dele de que eu fosse visitá-lo. Mas pensei nele. E rezei por ele. Eu sou católico e gosto de rezar pelos doentes, pelos presos e por aqueles que estão em situação de aflição. Como disse uma vez e repito, não gostei nada de ver um antigo primeiro-ministro do meu país em prisão preventiva durante tanto tempo. E sem que, no momento em que saiu, fosse deduzida a acusação. Prender-se um antigo primeiro-ministro durante quase um ano, com vista a recolher provas para uma acusação, e depois já passou mais um ano e tal e não há acusação nenhuma, acho que isso é um mau exemplo da justiça portuguesa.

    Quem disse, Valupi? Outro católico?
    11.
    Bertold
    12:57
    Em vez de rezar é melhor pôr uma vela junto ao defunto (e rezar para que ele não a venda…)

    LOL

    12.
    Apanhar Eduardo Lourenço à socapa
    Simultaneamente, Sócrates preparava uma edição especial que acabaria por sair apenas em abril do ano seguinte. Com a sua singular forma de agir, queria estar bem acompanhado. Encarregou Araújo, o comercial da Babel, de agendar uma reunião com Eduardo Lourenço para o convencer a escrever o posfácio (o prefácio da primeira edição era assinado pelo ex-Presidente brasileiro Lula da Silva), e a capa ficaria a cargo do destacado pintor Júlio Pomar.

    Mas, neste novo desafio, um encontro com Lourenço afigurou-se um bico-de-obra. Araújo esforçou-se, debalde, em contactos para a sua secretária. Sócrates não suporta um ‘não’, e Araújo prometeu-lhe fazer pressão e mesmo um choradinho. O homem da editora andava num sufoco para cumprir os desígnios do ex-primeiro-ministro e não arranjou outra alternativa do que tentar apanhar Lourenço à socapa na Fundação Calouste Gulbenkian, onde o professor é administrador não-executivo.

    Sócrates conseguiu assim os seus intentos, envolvendo desse modo dois homens da melhor nata criativa do país no projeto. O seu cérebro não tinha descanso. Em 2014, decidiu estudar com mais afinco e transformar o mémoire feito em Paris em tese académica. Mais uma vez, socorreu-se da bondade intelectual de Domingos Farinho.

    Luxuoso apartamento para escrever
    Este foi lendo livros que Sócrates encomendava pela internet via Amazon. Entre a vasta lista bibliográfica que assim lhe chegou às mãos, Farinho especializou-se no tema da guerra contra o terror e na ideia de como a razão do Estado se pode transformar numa ameaça, matérias que foi sugerindo ao antigo líder socialista para a orientação do seu trabalho académico. E, no final do ano, Sócrates começou a pensar escrever um novo livro para o qual já tinha nome: Carisma.

    Precisava de se retirar por uns tempos do bulício citadino e tinha a intenção de alugar um apartamento no luxuoso Pine Cliffs Residence, do grupo Sheraton, em Albufeira. A seguir ao lançamento da edição especial do livro, combinou com Farinho, que já deitara dedo ao texto e tinha cinco páginas escritas, tirarem uns meses para porem mãos à obra.

    Imbuído agora no papel de ensaísta, Sócrates não escondia a sua pretensão. Em outubro, o jornalista José Manuel Portugal – à época diretor de Informação da RTP e que, após a prisão de Sócrates, acabaria por recusar a primeira entrevista dada pelo recluso, que acabaria por sair na TVI em dezembro de 2015 – desafiou-o para um debate na estação: “Ele tinha o programa dele aos domingos e Nuno Morais Sarmento às quintas. A minha ideia era juntá-los”.

    Mas Sócrates descartou-se: “Eh pá, eu estou a pensar retirar-me uns três meses para escrever mais um livro, por favor não comente com ninguém”. Em reserva, para os seus planos megalómanos, contava mais uma vez com Eduardo Lourenço, com quem se queria emparceirar. Araújo, ainda nesse mês, avisou-o de que a ideia do livro com o professor, da forma como ele a desenhara, não seria possível. Tinha alternativas.

    Já Lourenço parece estar a léguas destes projetos. O professor conhecia Sócrates da televisão e pouco mais: “Fiz o posfácio do primeiro livro, mas escrever com ele outro livro? Essa questão nunca se pôs entre nós! Claro que não estou na cabeça dele e não sei se ele pensou algum dia escrever um livro comigo. A partir do momento em que saiu a edição especial, não tive mais contactos com ele”.

    13.
    2016
    O novo livro de José Sócrates será apresentado esta tarde em Lisboa pelo deputado do PS, Sérgio Sousa Pinto. “O Dom Profano – Considerações sobre o Carisma” é uma obra de natureza académica, tal como “A Confiança no Mundo – Sobre a Tortura em Democracia”, anteriormente publicado pelo ex-primeiro ministro.

    2015
    http://umjeitomanso.blogspot.pt/2015/10/sergio-sousa-pinto-para-mim-uma-especie.html

    2011
    https://www.youtube.com/watch?v=aBKKjDcYEMw

    14.
    Questionado pelos jornalistas sobre a polémica, à margem da apresentação, o antigo secretário-geral do PS garantiu que se trata de uma “falsidade”, deixando críticas à justiça.

    “Todas essas alegações são absolutamente falsas, desmentidas por toda a gente e isso só existe com um objetivo, que não devia ser um objetivo da justiça. O objetivo da justiça não é um objetivo político, a ação penal deve-se concentrar na descoberta da verdade e de crimes, e não em denegrir pessoas”, afirmou.

    No início do mês, o semanário SOL e a revista Visão, adiantaram que a investigação da ‘Operação Marquês’ suspeita que José Sócrates terá alegadamente pago cerca de 100 mil euros a um professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Domingos Farinho, para escrever a obra.

    (continua)

  6. Penélope, perante mais um prato teu de comida requentada (na senda das cenas diletantes sobre o MP e a justiça portuguesa que fizeram escola no Aspirina B) deixo-te um naco sobre o estado da arte (em duplex, resposta ao Meirelles ali ao lado). É uma tese iconoclasta, de implicações várias, mas esperemos que estejamos cá para ver.

    ___

    Meirelles, tirando o facto de o excerto vir da cabeça do Rui Ramos o «estado de negação» referir-se-à por certo à parte da entrevista do José Sócrates que passou na TVI. Eu vi, e na verdade senti quase o mesmo (mais: até tive compaixão na visível dificuldade que o ex-PM teve em fazer concordar duas ideias sequencialmente lógicas sobre o… carisma-do-“meu-livro”).*

    Nota, baixinho. Aliás, confesso que por vezes me ocorrem umas cenas sobre a personagem com mais alguns anos em cima e lembro-me de Goffman porque algo ali não bate. Coisas minhas e tristes, enfim.

    * Esta passagem surge agora hifenizada de propósito, para o bem comum.

  7. Digam o que disserem, pensem o que pensarem, façam o que têm feito, a verdade é que é preciso tê-los no sítio para suportar tudo isso sem vergar a espinha, sem baixar a cabeça. Qual será o fim?

  8. 15.
    6. Sócrates é o pior da política portuguesa e que possa continuar a fazer política pelos intervalos da chuva mostra bem como existe uma degradação da vida política e como isso é indiferente aos partidos, neste caso a começar pelo PS. Eu nem sequer estou a escrever isto pressupondo que ele seja culpado das graves acusações que lhe fazem — isso é para outro foro e até lá existe a presunção de inocência. Não é por isso, é por tudo o resto. Pagou ou não ao “Abrantes” (e o PS veja lá se não continua a ter outros “Abrantes” em funções…)? Escreveu ou não os livros que têm o seu nome ou encomendou-o a um nègre? Comprou ou fez comprar milhares de livros seus para fazer subir a obra nos tops? Para cada uma destas acusações que não envolvem necessariamente crimes, uma vez explicada a origem do dinheiro, está-se perante um homem que vive e respira na mentira e que envenena o poço da nossa república. Sócrates é o exemplo vivo de alguém que mostra todos os dias como os partidos políticos são mais sensíveis à dissidência e ao delito de opinião do que a reiteradas “más práticas”, isto para usar um eufemismo.

    Pacheco Pereira

    (continua)

  9. se o palhaço pode, eu tamém posso

    Onde o governo está da humana gente,
    Se ajuntam em consí
    lio glorioso,
    Sobre as cousas futuras do Oriente.
    Pisando o cristalino Céu fermoso,
    Vêm pela Via Láctea juntamente,
    Convocados, da parte de Tonante,
    Pelo neto gentil do velho Atlante.
    Deixam dos sete Céus o regimento,
    Que do poder mais alto lhe foi
    dado,
    Alto poder, que só co pensamento
    Governa o Céu, a Terra e o Mar irado.
    Ali se acharam juntos num momento
    Os que habitam o Arcturo congelado
    E os que o Austro têm e as partes onde
    A Aurora nasce e o claro Sol se esconde.
    Estava o Padre ali, sub
    lime e dino,
    Que vibra os feros raios de Vulcano,
    Num assento de estrelas cristalino,
    Com gesto alto, severo e soberano;
    Do rosto respirava um ar divino,
    Que divino tornara um corpo humano:
    Com üa coroa e ceptro rutilante,
    De outra pedra mais clara
    que diamante.
    Em luzentes assentos, marchetados
    De ouro e de perlas, mais abaixo estavam
    Os outros Deuses, todos assentados
    Como a Razão e a Ordem concertavam
    (Precedem os antigos, mais honrados,
    Mais abaixo os menores se assentavam);
    Quando Jú
    piter alto, assi dizendo,
    Cum tom de voz começa grave e horrendo:

    «Eternos moradores do luzente,
    Estelífero Pólo e claro Assento:
    Se do grande valor da forte gente
    De Luso não perdeis o pensamento,
    Deveis de ter sabido claramente
    Como é dos Fado
    s grandes certo intento
    Que por ela se esqueçam os humanos
    De Assírios, Persas, Gregos e Romanos.
    «Já lhe foi (bem o vistes) concedido,
    Cum poder tão singelo e ao pequeno,
    Tomar ao Mouro forte e guarnecido
    Toda a terra que rega o Tejo ameno.
    Pois co
    ntra o Castelhano ao temido
    Sempre alcançou favor do Céu sereno:
    Assi que sempre, enfim, com fama e glória.
    Teve os troféus pendentes da vitória.
    «Deixo, Deuses, atrás a fama antiga,
    Que co a gente de Rómulo alcançaram,
    Quando com Viriato, na inimiga
    Guerra Romana, tanto se afamaram;
    Também deixo a memória que os obriga
    A grande nome, quando alevantaram
    Um por seu capitão, que, peregrino,
    Fingiu na cerva espírito divino.
    «Agora vedes bem que, cometendo
    O duvidoso m
    ar num lenho leve,
    Por vias nunca usadas, não temendo
    de Áfrico e Noto a força, a mais s’atreve:
    Que, havendo tanto já que as partes vendo
    Onde o dia é comprido e onde breve,
    Inclinam seu propósito e perfia
    A ver os berços onde nasce o dia.
    «Prome
    tido lhe está do Fado eterno,
    Cuja alta lei não pode ser quebrada,
    Que tenham longos tempos o governo
    Do mar que vê do Sol a roxa entrada.
    Nas águas têm passado o duro Inverno;
    A gente vem perdida e trabalhada;
    Já parece bem feito que lhe seja
    Mostr
    ada a nova terra que deseja.
    «E porque, como vistes, têm passados
    Na viagem tão ásperos perigos,
    Tantos climas e céus exprimentados,
    Tanto furor de ventos inimigos,
    Que sejam, determino, agasalhados
    Nesta costa Africana como amigos;
    E, tendo guarnecida a lassa frota,
    Tornarão a seguir sua longa rota.
    Estas palavras Júpiter dizia,
    Quando os Deuses, por ordem respondendo,
    Na sentença um do outro diferia,
    Razões diversas dando e recebendo.
    O padre Baco ali não consentia
    No que Júpi
    ter disse, conhecendo
    Que esquecerão seus feitos no Oriente
    Se lá passar a Lusitana gente.
    Enquanto isto se passa na fermosa
    Casa eté
    rea do Olimpo omnipotente,
    Cortava o mar a gente belicosa
    Já lá da banda do Austro e do Oriente,
    Entre a costa Etiópica e a famosa
    Ilha de São Lourenço; e o Sol ardente
    Queimava então os Deuses que Tifeu
    Co temor grande em pexes converteu.
    Tão brand
    amente os ventos os levavam
    Como quem o Céu tinha por amigo;
    Sereno o ar e os tempos se mostravam,
    Sem nuvens, sem receio de perigo.
    O promontório Prasso já passavam
    Na costa de Etiópia, nome antigo,
    Quando o mar, descobrindo, lhe mostrava
    Novas ilha
    s, que em torno cerca e lava.
    Vasco da Gama, o forte Capitão,
    Que a tamanhas empresas se oferece,
    De soberbo e de altivo coração,
    A quem Fortuna sempre favorece,
    Pera se aqui deter não vê razão,
    Que inabitada a terra lhe parece.
    Por diante passar determi
    nava,
    Mas não lhe sucedeu como cuidava.
    Eis aparecem logo em companhia
    Uns pequenos batéis, que vêm daquela
    Que mais chegada à terra parecia,
    Cortando o longo mar com larga vela.
    A gente se alvoroça e, de alegria,

    o sabe mais que olhar a causa dela.

    «Que gente será esta?» (em si diziam)
    «Que costumes, que Lei, que Rei teriam?»
    As embarcações eram na maneira
    Mui veloces, estreitas e compridas;
    Ás velas com que vêm eram de esteira,
    Düas folhas de palma, bem te
    cidas;
    A gente da cor era verdadeira
    Que Fáëton, nas terras acendidas,
    Ao mundo deu, de ousado e não prudente
    (O Pado o sabe e Lampetusa o sente).
    De panos de algodão vinham vestidos,
    De várias cores, brancos e listrados;
    Uns trazem derredor de si c
    ingidos,
    Outros em modo airoso sobraçados;
    Das cintas pera cima vêm despidos;
    Por armas têm adagas e tarçados;
    Com toucas na cabeça; e, navegando,
    Anafis sonorosos vão tocando.
    Cos panos e cos braços acenavam
    Às gentes Lusitanas, que esperassem;
    Mas já as proas ligeiras se inclinavam,
    Pera que junto às Ilhas amainassem.
    A gente e marinheiros trabalhavam
    Como se aqui os trabalhos s’acabassem:
    Tomam velas, amaina

    se a verga alta,
    Da âncora o mar ferido em cima salta.
    Não eram ancorados, quando
    a gente
    Estranha polas cordas já subia.
    No gesto ledos vêm, e humanamente
    O Capitão sublime os recebia.
    As mesas manda pôr em continente;
    Do licor que Lieu prantado havia
    Enchem vasos de vidro; e do que deitam
    Os de Fáëton queimados nada enjeitam.
    Comendo alegremente, perguntavam,
    Pela Arábica língua, donde vinham,
    Quem eram, de que terra, que buscavam,
    Ou que partes do mar corrido tinham?
    Os fortes Lusitanos lhe tornavam
    As discretas repostas que convinham:

    «Os Portugueses somos do Ocident
    e,
    Imos buscando as terras do Oriente.
    «Do mar temos corrido e navegado
    Toda a parte do Antártico e Calisto,
    Toda a costa Africana rodeado;
    Diversos céus e terras temos visto;
    Dum Rei potente somos, tão amado,
    Tão querido de todos e benquisto,
    Que não no largo mar, com leda fronte,
    Mas no lago entraremos de Aqueronte.
    «E, por mandado seu, buscando andamos
    A terra Oriental que o Indo rega;
    Por ele o mar remoto navegamos,
    Que só dos feios focas se navega.
    Mas já razão parece que saibamos
    (S
    e entre vós a verdade não se nega),
    Quem sois, que terra é esta que habitais,
    Ou se tendes da Índia alguns sinais?»

    «Somos (um dos das Ilhas lhe tornou)
    Estrangeiros na terra, Lei e nação;
    Que os próprios são aqueles que criou
    A Natura, sem Lei e s
    em Razão.
    Nós temos a Lei certa que ensinou
    O claro descendente de Abraão,
    Que agora tem do mundo o senhorio;
    A mãe Hebreia teve e o pai, Gentio.
    «Esta Ilha pequena, que habitamos,
    É em toda esta terra certa escala
    De todos os que as ondas navegamos
    ,
    De Quíloa, de Mombaça e de Sofala;
    E, por ser necessária, procuramos,
    Como próprios da terra, de habitá

    la;
    E por que tudo enfim vos notifique,
    Chama

    se a pequena Ilha

    Moçambique.
    «E já que de tão longe navegais,
    Buscando o Indo Idaspe e terra ardente,
    Piloto aqui tereis, por quem sejais
    Guiados pelas ondas sàbiamente.
    Também será bem feito que tenhais
    Da terra algum refresco, e que o Regente
    Que esta terra governa, que vos veja
    E do mais necessário vos provej
    a.»
    Isto dizendo, o Mouro se tornou
    A seus batéis com toda a companhia;
    Do Capitão e gente se apartou
    Com mostras de devida cortesia.
    Nisto Febo nas águas encerrou
    Co carro de cristal, o claro dia,
    Dando cargo à Irmã que alumiasse
    O largo mundo, enquanto
    repousasse.
    A noite se passou na lassa frota
    Com estranha alegria e não cuidada,
    Por acharem da terra tão remota
    Nova de tanto tempo desejada.
    Qualquer então consigo cuida e nota
    Na gente e na maneira desusada,
    E como os que na errada Seita creram,
    Tanto por todo o mundo se estenderam.
    Da Lüa os claros raios rutilavam
    Polas argênteas ondas Neptuninas;
    As Estrelas os Céus acompanhavam,
    Qual campo revestido de boninas;
    Os furiosos ventos repousavam
    Polas covas escuras peregrinas;
    Poré
    m da armada a gente vigiava,
    Como por longo tempo costumava.
    Mas, assi como a Aurora marchetada
    Os fermosos cabelos espalhou
    No Céu sereno, abrindo a roxa entrada
    Ao claro Hiperiónio, que acordou,
    Começa a embandeirar

    se toda a armada
    E de toldos alegres
    se adornou,
    Por receber com festas e alegria
    O Regedor das Ilhas, que partia.
    Partia, alegremente navegando,
    A ver as naus ligeiras Lusitanas,
    Com refresco da terra, em si cuidando
    Que são aquelas gentes inumanas
    Que, os apousentos Cáspios habitando,
    A conquistar as terras Asianas
    Vieram e, por ordem do Destino,
    O Império tomaram a Costantino.
    Recebe o Capitão alegremente
    O Mouro e toda sua companhia;


    lhe de ricas peças um presente,
    Que só pera este efeito já trazia;


    lhe conserva doce e dá

    lhe o ardente,
    Não usado licor, que dá alegria.
    Tudo o Mouro contente bem recebe,
    E muito mais contente come e bebe
    Está a gente marítima de Luso
    Subida pela enxárcia, de admirada,
    Notando o estrangeiro modo e uso
    E a linguagem tão bárbara e enleada.
    Também o Mouro astuto está confuso,
    Olhando a cor, o trajo e a forte armada;
    E, perguntando tudo, lhe dizia
    Se porventura vinham de Turquia.
    E mais lhe diz também que ver deseja
    Os livros de sua Lei, preceito ou fé,
    Pera ver se conforme à sua seja,
    Ou se são dos de Cristo, como crê;
    E por que tudo note e tudo veja,
    Ao Capitão pedia que lhe dê
    Mostra das fortes armas de que usavam
    Quando cos inimigos pelejavam.
    Responde o valeroso Capitão,
    Por um que a língua escura bem sabia:

    «
    Dar

    te

    ei, Senhor ilustre, relação
    De mi, da Lei, das armas que trazia.
    Nem sou da terra, nem da geração
    Das gentes enojosas de Turquia,
    Mas sou da forte Europa belicosa;
    Busco as terras da Índia tão famosa.
    «A Lei tenho d’Aquele a cujo império
    Obed
    ece o visíbil e invisíbil,
    Aquele que criou todo o Hemisfério,
    Tudo o que sente e todo o insensíbil;
    Que padeceu desonra e vitupério,
    Sofrendo morte injusta e insofríbil,
    E que do Céu à Terra enfim deceu,
    Por subir os mortais da Terra ao Céu.
    «Deste
    Deus

    Homem, alto e infinito,
    Os livros que tu pedes não trazia,
    Que bem posso escusar trazer escrito
    Em papel o que na alma andar devia.
    Se as armas queres ver, como tens dito,
    Cumprido esse desejo te seria;
    Como amigo as verás, porque eu me obrigo
    Que nu
    nca as queiras ver como inimigos».
    Isto dizendo, manda os diligentes
    Ministros amostrar as armaduras:
    Vêm arneses e peitos reluzentes,
    Malhas finas e lâminas seguras,
    Escudos de pinturas diferentes,
    Pelouros, espingardas de aço puras,
    Arcos e sagití
    feras aljavas,
    Partazanas agudas, chuças bravas.
    As bombas vêm de fogo, e juntamente
    As panelas sulfúreas, tão danosas;
    Porém aos de Vulcano não consente
    Que dêm fogo às bombardas temerosas;
    Porque o generoso ânimo e valente,
    Entre gentes tão pouca
    s e medrosas,
    Não mostra quanto pode; e com razão,
    Que é fraqueza entre ovelhas ser lião.
    Porém disto que o Mouro aqui notou,
    E de tudo o que viu com olho atento,
    Um ódio certo na alma lhe ficou,
    üa vontade má de pensamento;
    Nas mostras e no gesto o
    não mostrou,
    Mas, com risonho e ledo fingimento,
    Tratá

    los brandamente determina,
    Até que mostrar possa o que imagina.
    Pilotos lhe pedia o Capitão,
    Por quem pudesse à Índia ser levado;
    Diz

    lhe que o largo prémio levarão
    Do trabalho que nisso for to
    mado.
    Promete

    lhos o Mouro, com tenção
    De peito venenoso e tão danado
    Que a morte, se pudesse, neste dia,
    Em lugar de pilotos lhe daria.
    Tamanho o ódio foi e a má vontade
    Que aos estrangeiros súpito tomou,
    Sabendo ser sequaces da Verdade
    Que o filho de David nos ensinou!
    Ó segredos daquela Eternidade
    A quem juízo algum não alcançou:
    Que nunca falte um pérfido inimigo
    Àqueles de quem foste tanto amigo!
    Partiu

    se nisto, enfim, co a companhia,
    Das naus o falso Mouro despedido,
    Com eng
    anosa e grande cortesia,
    Com gesto ledo a todos e fingido.
    Cortaram os batéis a curta via
    Das águas de Neptuno; e, recebido
    Na terra do obseqüente ajuntamento,
    Se foi o Mouro ao cógnito apousento.
    Do claro Assento etéreo, o grão Tebano,
    Que da pater
    nal coxa foi nascido,
    Olhando o ajuntamento Lusitano
    Ao Mouro ser molesto e avorrecido,
    No pensamento cuida um falso engano,
    Com que seja de todo destruído;
    E, enquanto isto só na alma imaginava,
    Consigo estas palavras praticava:

    «Está do Fado já
    determinado
    Que tamanhas vitórias, tão famosas,
    Hajam os Portugueses alcançado
    Das Indianas gentes belicosas;
    E eu só, filho do Padre sublimado,
    Com tantas qualidades generosas,
    Hei

    de sofrer que o Fado favoreça
    Outrem, por quem meu nome se escureç
    a?
    «Já quiseram os Deuses que tivesse

    (continua)

  10. Esta caixa de comentários tornou-se insuportável pela sua toxicidade. Se ninguém faz nada para obstar a que se venha para aqui fazer contra-informação e propaganda a servir certos interesses, o melhor é deixar de frequentar tal sítio.
    Irra, isto já fede!

  11. resumo: a acusação está pronta, mas só sai daqui a seis meses. os pasquins precisam de vender e o ministério público de desculpas para a merda em que se meteu. entretanto há que aliciar o putedo com capas de jornalecos.

  12. Quem se junta ao lixo é lixo.
    Falam falam mas moral e coerência é só para os outros. Dar entrevistas a um jornal, cujo carácter do Director permite, por exemplo, divulgar ou insinuar aspectos da intimidade de terceiros ou que assumiu fazer um investimento comercial, associado a outro jornal, para perseguir um político e destruir a tentar destruir a sua possiblidade de intervenção e representação é como beber um copo de água. Pode limpar as mãos à parede com a sua ética, Isabel.

  13. “o fim do segredo de justiça interno passou rapidamente a externo, isto é, não só os intervenientes processuais tiveram conhecimento da investigação, mas também outras pessoas, fruto das inúmeras notícias que se sucederam; e o facto de suspeitos que se encontravam no estrangeiro terem mostrado “receio” de se deslocarem a Portugal.

    Ou muito me engano mas a Penélope talvez esteja a interpretar mal esta frase, pois, o que ela realmente pretende dizer é que a partir do momento em que o MP foi obrigado, pela própria justiça extra-acusadores, a pôr fim ao segredo de justiça e ter de abrir o processo aos defensores de Sócrates (o segredo passou a externo) todos os suspeitos foram informados e se puseram a recato.
    No fundo, a frase na boca dos senhores magistrados do “processo” é um verdadeiro passa-culpas para os advogados de Sócrates sobre as fugas de informação que eles próprios, os magistrados do “processo”, desde o início do caso e anos a fio colocaram nos pasquins seus colaboradores neste “processo” inacreditável depois de Kafka.

    Ignatz, acerca da Isabel, também postadora neste blog, não seria mais fácil para ela vasculhar em casa onde haverá cofres cheios de práticas de “imoralidades” morais e politicas cometidas durante a longa ditadura de salazar com o apoio colaboracionista indefectível do seu progenitor.
    Ela tem em casa e à mão basta e gorda matéria para chafurdar em imoralidades mas prefere ir à casa dos “amigos” partidários para passar uma imagem de integridade “absoluta” à maneira do Valupi e todos que acham que pedir dinheiro confidencialmente a um amigo (a quem se pede dinheiro? a desconhecidos ou inimigos?) é “por-se a jeito” para ser acusado de imoralidade.
    É preciso ser muito oportunista e calculista para ao tomar uma decisão de necessidade, recorrendo a um amigo de infância, esteja de antemão a prever e precaver-se com os assépticos “escuteiros” guardiãos morais da Cidade que, eventualmente, no futuro possam vir a decretar comportamento imoral segundo a fórmula capciosa do “afinal, ele pôs-se a jeito”.
    O “mal” para tais guardiãos moralistas é Sócrates não ser feito dessa massa de pão de leite, plástica e desenxabida sem sal, de que foram fabricados os acusadores, quer os directos fariseus quer os finórios bem-pensantes vigilantes da moral de serviço.

  14. Mesmo morto, este Sócrates ainda é o político mais importante de Portugal! Muito escrevem sobre o homem! Se está morto e arrefece,se as provas estão consolidadas,se dúvidas não há,porquê esta algazarra? Por saudades,por medo,por esconjuro? Escrevam sobre o Vítor Gaspar,o génio loquaz! Escrevam sobre o Zeinal Bava,o génio da gestão! Escrevam sobre o Henrique Granadeiro,o génio da estabilidade.Escrevam sobre Ricardo Espírito Santo,o génio bancário!!! O Sócrates está morto !!! Até o Pacheco Pereira,o génio da Ferreira Leite o diz! Está morto,diz o Pulido Valente,o génio do Gambrinus! Está morto,diz o Passos Coelho,o génio da governação!!! Está morto,diz o senhor cardeal Patriarca,o génio do esoterismo! Está morto,matei-o eu,diz o génio de Boliqueime! Não duvidem,não há político com maior importância e mais vivo que o Sócrates!!!

  15. Sim claro e o que aqui cito abaixo, é ou não verdade? O ser humano é o que conhece, ou seja, o pior animal que a natureza produziu, com poucas excepções, claro, basta ver o que vai por aí… e quando um político pôs em causa muitos benefícios de certas instituições e etc. que deveriam, pelo objectivo da sua existência, serem os modelos da justiça e da solidariedade entre os seus semelhantes, mas que não o são, antes pelo contrário, como as que os juízes pertencem, não descansaram enquanto não o derrubaram infamemente!
    E cito do blogue “ladrar à lua” –
    “SEXTA-FEIRA, 3 DE OUTUBRO DE 2014
    Até que a voz me doa
    Cá em casa roem-se quotidianamente as dores dum cepticismo de casca um tanto rugosa. Mas uns lares generosos livram-nos das tentações do cinismo correntio, que é tão diletante como inútil. Quer dizer que, em se podendo, ninguém por aqui hesita em meter as mãos na massa.
    Por vezes chegam-me aos ouvidos ecos de fóruns nos media, onde acabam a desaguar torrentes de desespero. O que eu tenho a dizer a tal propósito é que não existe causa que não traga o seu efeito. E este efeito, que tem a sua causa, consiste em terem os portugueses que beber o vinagre até ao fim. Na sua história já longa, não é esta a vez primeira. Nós é que já o esquecemos.
    Portugal teve governos do PS, antes de ser governado pela assombração que aí anda. E tais governos cometeram erros vários, lembremos só a barragem do Côa que não chegou a sê-lo e devia tê-lo sido, e a barragem do Tua que vai sê-lo e é um crime.
    O último governo do PS foi o de Sócrates. O qual particularmente se empenhou em afrontar os problemas e fragilidades fatais de que Portugal padece, há muitos anos. A vida de todos nós depende disso. Mas desde cedo se foi acrescentando que fez tudo isso à bruta, à descarada, com demoníaca sobranceria, que era um venal, um corrupto, um temerário, e punha em risco evidente a nossa democracia, essa coitada. Olhemos nós para o marquês de Pombal, um notável governante no século que lhe coube. Nem sequer nos questionamos sobre o que poderia ele ter feito, sem trucidar à partida a arrogância dos Távoras e dos duques de Aveiro, sem incendiar previamente a escuridão da noite jesuíta. Limitamo-nos a pensar que o marquês era uma sanguinária besta, ou ouvimos dizer isso e ficamos calados. Por cobardia pura, ou por ignorância crassa . Ora vejamos:
    Na Saúde, Sócrates prosseguiu o SNS, saído das mãos do ministro Arnaut. Na Segurança Social, com Vieira da Silva, incrementou a protecção social, sem a qual metade dos portugueses caem de imediato na penúria mais crassa. Na Educação, com a ministra Lurdes Rodrigues, melhorou a escola pública, renovou instalações, criou oportunidades para adultos, introduziu línguas e tecnologias. E queria avaliar os professores, um quarto dos quais não mostra capacidades nem conhecimentos para ser profissional do ensino. Sei do que falo, fui dez anos professor, no público e no privado, à noite e durante o dia. Foi aí que entrou em cena o tribuno Nogueira, que desceu a avenida à frente de legiões de setôres, e retirou 300 mil votos e a maioria absoluta ao PS em 2009. Mas o comité central conquistou cinco pontos eleitorais, é do que vive. Na Ciência e na Investigação, com Mariano Gago, a universidade portuguesa atingiu reconhecidos patamares de excelência, com efeitos que ainda sobrevivem. Na Justiça afrontou interesses corporativos das eminências da beca, e suportou-lhes por isso o azedume da bílis. Na Economia abriu campos de acção, nas viaturas eléctricas, nas energias renováveis, nas indispensáveis infra-estruturas, nas novas tecnologias. Nas Finanças tinha recebido, em 2005, um défice de 7% e uma dívida de cerca de 90% do PIB. Em 2007 o défice estava em 2,9%.
    Em 2008 chegou da América a sarna do subprime, e a maior crise financeira dos últimos oitenta anos. Seguindo as instruções da União Europeia, esse ninho de elites traiçoeiras, Sócrates abriu os cordões à bolsa para responder à crise. Aumentou o investimento público e o défice voltou a subir. Em 2010, perante a queda da Grécia e da Irlanda, perante isso da austeridade e o acosso das agências de rating, Sócrates apresentou o PEC IV. O resto é bem conhecido.
    Diga-se então clarinho, para se perceber bem: Sócrates foi o melhor primeiro-ministro que Portugal conheceu, na era democrática. Por isso mesmo foi acossado implacavelmente, e ainda hoje é homiziado pela oligarquia rapace, pelos seus lacaios avençados, e pela estupidez atávica dos portugueses, cujo fadário é serem os cafres da Europa. Depois de soltarem os lobos, já desesperam muitos, no rebanho. Mas só podem contar consigo próprios.
    PUBLICADA POR JORGE CARVALHEIRA À(S) 22:32

  16. Não é preciso ser muito perspicaz para ver que nestas reacçoes todas a única novidade é a desafetação dos geringonços. Todo o poder tem o seu sequito de matilheiros e opinion makers que reagem na proporção inversa do nível de liderança do chefe para assegurar a sua credibilidade, a governação e neste caso a unidade da solução de governo.
    Atacam tudo o que possa constituir uma ameaça, daí que a argumentação não tenha por base questões de estado e do funcionamento do estado (que alguns nem sabem o que é ) mas argumentos morais e éticos que os próprios se dispensam de seguir, basta ver o nepotismo dos media e as ligaçõesa certos meios politicos e empresariais . Socrates e um empecilho aos objectivos da geringonça não só por causa do processo em que o envolveram mas por ter poder de inscrição e sobretudo uma visão estruturada para o país. Costa é um pragmático e, se após as autárquicas Passos cair e Rio ocupar como se preve o seu lugar e com a influência de Marcello a para pactos com o psd socrates sera sempre um empecilho. Como dizia Marcello na sua homilia matem-no já.
    Muitos geringonços preferem Passos a Rio, dai o pobre e mediocre debate público que se resume a querelas futebolísticas que mais não visam do que a sustentação do primeiro transformando-o num pateta simpatico , umavez mais por razões de sobrevivência política do projecto de esquerda. Tudo bem e assim a política, mas por favor não confundam isto com justiça ou etica .

  17. A capa Isabel Moreira do Sol confirma a identificação de um dos maiores erros políticos de Sócrates – dar corda à marginal tralha esganiçada LGBT, e distrair-se, no momento em que o mundo financeiro estava em chamas. É gente que desconhece o significado da palavra lealdade e morde a mão que lhes dá de comer. Não tivesse encontrado o mais brilhante tribuno dos últimos 5 anos, e principal pilar da geringonça no parlamento, João Galamba, a safra de influências do Jugular saldaria em retumbante fracasso.

  18. Lucas Galuxo – sem dúvida, pérolas a porcos.

    Jasmin – oxalá

    MCTorres – a oportunidade de reviver o Ladrar à Lua. Dois anos depois :
    – a certeza do porquê.

  19. “… e um dia recebi um telefonema do Marcos Perestrelo a convidar-me.”
    http://sol.sapo.pt/artigo/532250/isabel-moreira-socrates-teve-um-comportamento-que-e-eticamente-condenavel

    há 3 anos, tinha sido o sócras a convidá-la para integrar as listas do ps e na altura era dona do aspirina.
    https://www.publico.pt/politica/noticia/mario-soares-primeiro-proponente-da-filiacao-de-isabel-moreira-no-ps-1598233

  20. josé neves, fiquei pelo «ou muito me engano» e, sem ler mais um dos teus relatórios (o meu ar cristão tem dias), aposto que tens razão. Esclareço: que como de costume te fintarás a ti próprio, pois.

    … «Se está morto e arrefece,se as provas estão consolidadas,se dúvidas não há, porquê esta algazarra?», …?

    Chevrollet, diz-se jaz duas vezes («Jaz morto, e apodrece» também), mas enalteço essa tentativa de trazer Fernando Pessoa à colação num dos poemas mais “garotizados” do senhor. Mas ainda bem que o fizeste porque Freud e os seus discípulos ajudar-nos-ão a compreender quem antigamente era o Menino de Ouro e quem é HOJE o pós-PM. E ainda, eventualmente, a tua delirante escolha.

    O Menino de Sua Mãe
    No plano abandonado
    Que a morna brisa aquece,
    De balas trespassado
    — Duas, de lado a lado —,
    Jaz morto e arrefece.

    Raia-lhe a farda o sangue.
    De braços estendidos,
    Alvo, louro, exangue,
    Fita com olhar langue
    E cego os céus perdidos.

    Tão jovem! que jovem era!
    (Agora que idade tem?)
    Filho único, a mãe lhe dera
    Um nome e o mantivera:
    «O menino da sua mãe».

    Caiu-lhe da algibeira
    A cigarreira breve.
    Dera-lha a mãe. Está inteira
    E boa a cigarreira.
    Ele é que já não serve.

    De outra algibeira, alada
    Ponta a roçar o solo,
    A brancura embainhada
    De um lenço… Deu-lho a criada
    Velha que o trouxe ao colo.

    Lá longe, em casa, há a prece:
    «Que volte cedo, e bem!»
    (Malhas que o império tece!)
    Jaz morto, e apodrece,
    O menino da sua mãe.

    … «SEXTA-FEIRA, 3 DE OUTUBRO DE 2014 (?!)», …?

    MC, estamos em 2016 mas admita-se que são bonitas as palavras desse trinar.

    Maria da Fé – Até Que a Voz Me Doa – YouTube
    https://www.youtube.com/watch?v=5IfhsMWcj5s

    … «dar corda à marginal tralha esganiçada LGBT, e distrair-se, no momento em que o mundo financeiro estava em chamas», …?

    Lucas, ó do Galuxo. Não é a primeira vez que dizes tal alarvidade aqui no Aspirina B e como não te dizem nada deves ter a tua auto-estima em níveis aceitáveis. Homofóbico tu?

    «Sócrates acabará a liderar [1] a ala esquerda do PS {2] e toda a esquerda [3]», …?.

    Jasmim, g’anda ressaca digna de um fim-de-semana em que passaram por ti as maiores alucinações.
    (o Goffman esperará por ti, também)

    Nota, ao fundo. Vai estudar, Ignatz.
    (tem vergonha de ti próprio, poupa-nos e não queiras ser burro para sempre)

  21. Que a Ilha em torno cerca em pouco espaço.
    Uns vão nas almadias carregadas,
    Um corta o mar a nado, diligente;
    Quem se afoga nas on
    das encurvadas,
    Quem bebe o mar e o deita juntamente.
    Arrombam as miúdas bombardadas
    Os pangaios sutis da bruta gente.
    Destarte o Português, enfim, castiga
    A vil malícia, pérfida, inimiga.
    Tornam vitoriosos pera a armada,
    Co despojo da guerra e rica presa,
    E vão a seu prazer fazer aguada,
    Sem achar resistência nem defesa.
    Ficava a Maura gente magoada,
    No ódio antigo mais que nunca acesa;
    E, vendo sem vingança tanto dano,
    Sòmente estriba no segundo engano.
    Pazes comet
    er manda, arrependido,
    O Regedor daquela inica terra,
    Sem ser dos Lusitanos entendido
    Que em figura de paz lhe manda guerra;
    Porque o piloto falso prometido,
    Que toda a má tenção no peito encerra,
    Pera os guiar à morte lhe mandava,
    Como em sinal das
    pazes que tratava.
    O Capitão, que já lhe então convinha
    Tornar a seu caminho acostumado,
    Que tempo concertado e ventos tinha
    Pera ir buscar o Indo desejado,
    Recebendo o piloto que lhe vinha,
    Foi dele alegremente agasalhado,
    E respondendo ao mensage
    iro, a tento,
    As velas manda dar ao largo vento.
    Destarte despedida, a forte armada
    As ondas de Anfítrite dividia,
    Das filhas de Nereu acompanhada,
    Fiel, alegre e doce companhia.
    O Capitão, que não caía em nada
    Do enganoso ardil que o Mouro urdia,
    Dele mui largamente se informava
    Da Índia toda e costas que passava.
    Mas o Mouro, instruído nos enganos
    Que o malévolo Baco lhe ensinara,
    De morte ou cativeiro novos danos,
    Antes que à Índia chegue, lhe prepara.
    Dando razão dos portos Indianos,
    Também t
    udo o que pede lhe declara,
    Que, havendo por verdade o que dizia,
    De nada a forte gente se temia.
    E diz

    lhe mais, co falso pensamento
    Com que Sínon os Frígios enganou,
    Que perto está üa Ilha, cujo assento
    Povo antigo Cristão sempre habitou.
    O Capitão,
    que a tudo estava atento,
    Tanto co estas novas se alegrou
    Que com dádivas grandes lhe rogava
    Que o leve à terra onde esta gente estava.
    O mesmo o falso Mouro determina
    Que o seguro Cristão lhe manda e pede;
    Que a Ilha é possuída da malina
    Gente que seg
    ue o torpe Mahamede.
    Aqui o engano e morte lhe imagina,
    Porque em poder e forças muito excede
    À Moçambique esta Ilha, que se chama
    Quíloa, mui conhecida pola fama.
    Pera lá se inclinava a leda frota;
    Mas a Deusa em Citere celebrada,
    Vendo como deixava a certa rota
    Por ir buscar a morte não cuidada,
    Não consente que em terra tão remota
    Se perca a gente dela tanto amada,
    E com ventos contrairos a desvia
    Donde o piloto falso a leva e guia.
    Mas o malvado Mouro, não podendo
    Tal dete
    rminação levar avante,
    Outra maldade inica cometendo,
    Ainda em seu propósito constante,
    Lhe diz que, pois as águas, discorrendo,
    Os levaram por força por diante,
    Que outra Ilha tem perto, cuja gente
    Eram Cristãos com Mouros juntamente.
    Também nestas
    palavras lhe mentia,
    Como por regimento, enfim, levava;
    Que aqui gente de Cristo não havia,
    Mas a que a Mahamede celebrava.
    O Capitão, que em tudo o Mouro cria,
    Virando as velas, a Ilha demandava;
    Mas, não querendo a Deusa guardadora,

    o entra pela barra, e surge fora.
    Estava a Ilha à terra tão chegada
    Que um estreito pequeno a dividia;
    üa cidade nela situada,
    Que na fronte do mar aparecia,
    De nobres edifícios fabricada,
    Como por fora, ao longe, descobria,
    Regida por um Rei de ant
    iga idade:
    Mombaça é o nome da Ilha e da cidade.
    E sendo a ela o Capitão chegado,
    Estranhamente ledo, porque espera
    De poder ver o povo baptizado,
    Como o falso piloto lhe dissera,
    Eis vêm batéis da terra com recado
    Do Rei, que já sabia a gente que er
    a;
    Que Baco muito de antes o avisara,
    Na forma doutro Mouro, que tomara.
    O recado que trazem é de amigos,
    Mas debaxo o veneno vem coberto,
    Que os pensamentos eram de inimigos,
    Segundo foi o engano descoberto.
    Ó grandes e gravíssimos perigos,
    Ó cami
    nho de vida nunca certo,
    Que aonde a gente põe sua esperança
    Tenha a vida tão pouca segurança!
    No mar tanta tormenta e tanto dano,
    Tantas vezes a morte apercebida!
    Na terra tanta guerra, tanto engano,
    Tanta necessidade avorrecida!
    Onde pode acolher

    se um fraco humano,
    Onde terá segura a curta vida,
    Que não se arme e se indigne o Céu sereno
    Contra um bicho da terra tão pequeno?
    Canto II
    Já neste tempo o lúcido Planeta
    Que as horas vai do dia distinguindo,
    Chegava à desejada
    e lenta meta,
    A luz celeste às gentes encobrindo;
    E da casa marítima secreta he estava o Deus
    Nocturno a porta abrindo,
    Quando as infidas gentes se chegaram
    Às naus, que pouco havia que ancoraram.
    Dantre eles um, que traz encomendado
    O mortífero engano,
    assi dizia:
    «Capitão valeroso, que cortado
    Tens de Neptuno o reino e salsa via,
    O Rei que manda esta Ilha, alvoraçado
    Da vinda tua, tem tanta alegria
    Que não deseja mais que agasalhar

    te,
    Ver

    te e do necessário reformar

    te.
    «E porque está
    em extremo desejoso
    De te ver, como cousa nomeada,
    Te roga que, de nada receoso,
    Entres a barra, tu com toda armada;
    E porque do caminho trabalhoso
    Trarás a gente débil e cansada,
    Diz que na terra podes reformá

    la,
    Que a natureza obriga a desejá

    la.
    «E
    se buscando vás mercadoria
    Que produze o aurífero levante,
    Canela, cravo, ardente especiaria
    Ou droga salutífera e prestante;
    Ou se queres luzente pedraria,
    O rubi fino, o rígido diamante,
    Daqui levarás tudo tão sobejo
    Com que faças o fim a teu desejo.»
    A
    o mensageiro o Capitão responde,
    As palavras do Rei agradecendo,
    E diz que, porque o Sol no mar se esconde,
    Não entra pera dentro, obedecendo;
    Porém que, como a luz mostrar por onde
    Vá sem perigo a frota, não temendo,
    Cumprirá sem receio seu mandado,
    Que a mais por tal senhor está obrigado.
    Pergunta

    lhe despois se estão na terra
    Cristãos, como o piloto lhe dizia;
    O mensageiro astuto, que não erra,
    Lhe diz que a mais da gente em Cristo cria.
    Desta sorte do peito lhe desterra
    Toda a suspeita e cauta fan
    tasia;
    Por onde o Capitão seguramente
    Se fia da infiel e falsa gente.
    E de alguns que trazia, condenados
    Por culpas e por feitos vergonhosos,
    Por que pudessem ser aventurados
    Em casos desta sorte duvidosos,
    Manda dous mais sagazes, ensaiados,
    Por que note
    m dos Mouros enganosos
    A cidade e poder, e por que vejam
    Os Cristãos, que só tanto ver desejam.
    E por estes ao Rei presentes manda,
    Por que a boa vontade que mostrava
    Tenha firme, segura, limpa e branda,
    A qual bem ao contrário em tudo estava.
    Já a compa
    nhia pérfida e nefanda
    Das naus se despedia e o mar cortava:
    Foram com gestos ledos e fingidos
    Os dous da frota em terra recebidos.
    E despois que ao Rei apresentaram
    Co recado os presentes que traziam,
    A cidade correram, e notaram
    Muito menos daquilo que queriam;
    Que os Mouros cautelosos se guardaram
    De lhe mostrarem tudo o que pediam;
    Que onde reina a malícia, está o receio
    Que a faz imaginar no peito alheio.
    Mas aquele que sempre a mocidade
    Tem no rosto perpétua, e foi nascido
    De
    duas mães, que urdia a falsidade
    Por ver o navegante destruído,
    Estava nüa casa da cidade,
    Com rosto humano e hábito fingido,
    Mostrando

    se Cristão, e fabricava
    Um altar sumptuoso que adorava.
    Ali tinha em retrato afigurada
    Do alto e Santo Espírito a pint
    ura,
    A cândida Pombinha, debuxada
    Sobre a única Fénix, virgem pura;
    A companhia santa está pintada,
    Dos doze, tão torvados na figura
    Como os que, só das línguas que caíram
    De fogo, várias línguas referiram.
    Aqui os dous companheiros, conduzidos
    Onde com este engano Baco estava,
    Põem em terra os giolhos, e os sentidos
    Naquele Deus que o Mundo governava.
    Os cheiros excelentes, produzidos
    Na Pancaia odorífera, queimava
    O Tioneu, e assi por derradeiro
    O falso Deus adora o verdadeiro.
    Aqui foram de n
    oite agasalhados,
    Com todo o bom e honesto tratamento
    Os dous Cristãos, não vendo que enganados
    Os tinha o falso e santo fingimento
    Mas, assi como os raios espalhados
    Do Sol foram no mundo, e num momento
    Apareceu no rúbido Horizonte
    Na moça de Titão a roxa
    fronte,
    Tornam da terra os Mouros co recado
    Do Rei pera que entrassem, e consigo
    Os dous que o Capitão tinha mandado,
    A quem se o Rei mostrou sincero amigo;
    E sendo o Português certificado
    De não haver receio de perigo
    E que gente de Cristo em terra havi
    a,
    Dentro no salso rio entrar queria.
    Dizem

    lhe os que mandou que em terra viram
    Sacras aras e sacerdote santo;
    Que ali se agasalharam e dormiram
    Enquanto a luz cobriu o escuro manto;
    E que no Rei e gentes não sentiram
    Senão contentamento e gosto tanto
    Que não podia certo haver suspeita
    Nüa mostra tão clara e tão perfeita.
    Co isto o nobre Gama recebia
    Alegremente os Mouros que subiam
    Que levemente um ânimo se fia
    De mostras que tão certas pareciam.
    A nau da gente pérfida se enchia,
    Deixando a bordo os
    barcos que traziam.
    Alegres vinham todos porque crêm
    Que a presa desejada certa têm.
    Na terra cautamente aparelhavam
    Armas e munições, que, como vissem
    Que no rio os navios ancoravam,
    Neles ousadamente se subissem;
    E nesta treïção determinavam
    Que os de L
    uso de todo destruíssem,
    E que, incautos, pagassem deste jeito
    O mal que em Moçambique tinham feito.
    As âncoras tenaces vão levando,
    Com a náutica grita costumada;
    Da proa as velas sós ao vento dando,
    Inclinam pera a barra abalizada.
    Mas a linda Ericina, que guardando
    Andava sempre a gente assinalada,
    Vendo a cilada grande e tão secreta,
    Voa do Céu ao mar como üa seta.
    Convoca as alvas filhas de Nereu,
    Com toda a mais cerúlea companhia,
    Que, porque no salgado mar nasceu,
    Das águas o p
    oder lhe obedecia;
    E, propondo

    lhe a causa a que deceu,
    Com todos juntamente se partia
    Pera estorvar que a armada não chegasse
    Aonde pera sempre se acabasse.
    Já na água erguendo vão, com grande pressa,
    Com as argênteas caudas branca escuma;
    Cloto co peit
    o corta e atravessa
    Com mais furor o mar do que costuma;
    Salta Nise, Nerine se arremessa
    Por cima da água crespa em força suma;
    Abrem caminho as ondas encurvadas,
    De temor das Nereidas apressadas.
    Nos ombros de um Tritão, com gesto aceso,
    Vai a linda Dione furiosa;
    Não sente quem a leva o doce peso,
    De soberbo com carga tão fermosa.
    Já chegam perto donde o vento teso
    Enche as velas da frota belicosa;
    Repartem

    se e rodeiam nesse instante
    As naus ligeiras, que iam por diante.
    Põe

    se a Deusa
    com outras em direito
    Da proa capitaina, e ali fechando
    O caminho da barra, estão de jeito
    Que em vão assopra o vento, a vela inchando:
    Põem no madeiro duro o brando peito
    Pera detrás a forte nau forçando;
    Outras em derredor levando

    a estavam
    E da barra i
    nimiga a desviavam.
    Quais pera a cova as próvidas formigas,
    Levando o peso grande acomodado
    As forças exercitam, de inimigas
    Do inimigo Inverno congelado;
    Ali são seus trabalhos e fadigas,
    Ali mostram vigor nunca esperado:
    Tais andavam as Ninfas estorvand
    o
    À gente Portuguesa o fim nefando.
    Torna pera detrás a nau, forçada,
    Apesar dos que leva, que, gritando,
    Mareiam velas; ferve a gente irada,
    O leme a um bordo e a outro atravessando;
    O mestre astuto em vão da popa brada,
    Vendo como diante ameaçando
    Os estava um marítimo penedo,
    Que de quebrar

    lhe a nau lhe mete medo.
    A celeuma medonha se alevanta
    No rudo marinheiro que trabalha;
    O grande estrondo a Maura gente espanta,
    Como se vissem hórrida batalha;
    Não sabem a razão de fúria tanta,
    Não sabem nesta
    pressa quem lhe valha:
    Cuidam que seus enganos são sabidos
    E que hão

    de ser por isso aqui punidos.
    Ei

    los subitamente se lançavam
    A seus batéis veloces que traziam;
    Outros em cima o mar alevantavam
    Saltando n’água, a nado se acolhiam;
    De um bordo e doutr
    o súbito saltavam,
    Que o medo os compelia do que viam;
    Que antes querem ao mar aventurar

    se
    Que nas mãos inimigas entregar

    se.
    Assi como em selvática alagoa
    As rãs, no tempo antigo Lícia gente,
    Se sentem porventura vir pessoa,
    Estando fora da água incauta
    mente,
    Daqui e dali saltando (o charco soa),
    Por fugir do perigo que se sente,
    E, acolhendo

    se ao couto que conhecem,
    Sós as cabeças na água lhe aparecem:
    Assi fogem os Mouros; e o piloto,
    Que ao perigo grande as naus guiara,
    Crendo que seu engano estava noto,
    Também foge, saltando na água amara

    (continua)

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