Se o mundo não for pelos ares graças aos fanáticos e suicidas fundamentalistas islâmicos, à raiva acumulada ou instigada nalguns povos, à ligeireza, arrogância ou provocação de algum governante do tipo António Borges, ou simplesmente a um acaso cósmico, a humanidade poderá viver para usufruir de um mundo semelhante ao gizado e pacientemente construído (tantas vezes involuntariamente) por inúmeros cientistas anónimos da área da biotecnologia, da medicina genética e da inteligência artificial, cujo trabalho é agora divulgado por Michio Kaku, um físico teórico norte-americano de ascendência japonesa, que se especializou na teoria das cordas, lecciona no City College de Nova Iorque e dedica ainda algum tempo a entrevistar para a rádio e a televisão dezenas de colegas cientistas visionários. O seu papel (e desejo) ao publicar livros que fazem o ponto da situação dos avanços tecnológicos é, de certo modo, o de Júlio Verne – prever o futuro. E como o francês acertou!
A vida eterna não viola as leis da física.
A revista Der Spiegel (versão inglesa) entrevistou-o a propósito do seu mais recente livro, de 2011, “Physics of the future. The inventions that will transform our lives”. Vale a pena ler, quer a entrevista, que aguça o apetite, quer o livro (já cá canta). Algo do que descreve virá a ser realidade um dia. Não sei se será um bom e tranquilizante futuro, se um mau e angustiante o que nos espera, mas o que está previsto é, por exemplo, que objetos como uma sanita nos possam dizer instantaneamente o nosso estado de saúde, nomeadamente se há algum tumor maligno em desenvolvimento, ou algum cancro declarado, para ir direta ao que mais nos assusta. Se o veredicto que resulta da mera satisfação de uma necessidade fisiológica for positivo, o mais provável é não termos de entrar em pânico e ficar perdidos; prevê o cientista a possibilidade de comunicarmos, ou melhor “confessarmos”, de imediato à parede do sanitário o nosso problema, parede essa que estará ligada a um médico-robô, que nos dirá o que fazer. A solução ideal poderá vir a ser uma correção genética. No limite, tantas quantas forem necessárias para a vida eterna. Mas já antes de darmos o primeiro berro de protesto por nos lançarem neste mundo, as nossas imperfeições, digamos, poderão ser corrigidas. O que fazemos com os robôs não impedirá, muito pelo contrário, que sejamos nós próprios objeto de aperfeiçoamentos. Podemos fundir-nos. E, sim, podemos trabalhar em nós. Já o fazemos, de resto.
Este e outros temas, como a necessidade de acrescentar a sensação de dor aos robôs para evitar a sua própria destruição em determinados contextos agressivos, ou a possibilidade futura de ligar as lentes de contacto à Internet, são tratados nesta entrevista, que, podendo levar-nos a duvidar e a sorrir, nos permite mesmo assim acreditar na nossa espécie e refletir sobre uma cadeia de questões.
Boas leituras.
Sem dúvida, óptima leitura.
cohorror , passar o dia no confessionário à procura de maleitas. prefiro então a religião e a imortalidade da alma , é menos cansativa e mais barata que o triunfo do corpo.
que texto interessante, Penélope. eu desejo muito, no entanto, que esse possível futuro não chegue – ou a chegar que eu já cá não esteja: gosto muito de cagar sem que me estejam a analisar. e se calhar a dor ser no peito nem sequer me estou a ver confessar, a essas paredes metediças, dequem eu gosto. :-)
Se nos tiram a morte, tiram-nos o mistério, que acho essencial para o desenvolvimento da espécie.
Olinda,Voçê me diverte.
olha que bom. mas isso será apenas porque, de facto, também eu me divirto muito. :-)
Teofilo M: Sim, a ausência de morte poria tudo em causa, sobretudo a vida.
a ciência está sobrevalorizada, esta, então…
Isso da imortalidade é tudo muito bonito mas só aceito que seja posto em prática depois estar claramente definida a idade para a reforma…
reforma? a reforma, tubarão, passará a ser constante mas com outro nome: recauchutagem. :-)
(fico muito contente que voltes à minha casa. sim, esta também é – sendo do povo – a minha casa. e o Val também fica, que eu sei, ele às vezes parece um cara d’aço mas, não, é portento.) :-)
Alguma coisa ele há de ter de aço para aguentar a pedalada de uma casa assim. Mas não arrisco palpites.
(e não sei se me estou a repetir mas a cena dos comentários deixou-me no limbo na primeira tentativa)
ah, aço inoxidável, isso é a inteligência em equilíbrio com a paciência. :-)
Olá, que excelente sugestão, essa. Como divertimento sério, sobre robots e coiso, sugiro, do John Sladek, Roderick, or The Education of a Young Machine, mais conhecido por cá como simplesmente Roderik (bolso, livros do brasil, acho eu, que já o perdi) (inclui como bónus um gozo com as treis leis da robótica do asimov)
Agora, essa do “podemos fundir-nos”… Acho que já estamos fundidos.