Ódio? Mas qual ódio?

Há comentadores de direita que, à falta de melhor, optaram agora por dizer que quem contesta e critica a nova função lectiva de Passos Coelho no ISCSP o faz por uma questão de ódio ao homem. Ora, isso é um exagero que o próprio, se virmos bem, nem merece.

 

Eu aqui mesmo gozei com o convite que o director do dito Instituto dirigiu ao ex-primeiro-ministro e com a sua aceitação. Mas não porque o odeio. Pobre diabo, não! O que acontece é que, do que observei do seu mandato à frente do executivo, muito pouco de relevante para substanciar uma matéria leccionável se pode dizer que tenha sido da sua autoria. Pode mesmo dizer-se que, da sua autoria (e resta saber se), foram principalmente os convites dirigidos a alguns ministros para que executassem o saque segundo uma linha de pensamento que Passos aprendera à pressa com crânios como António Borges ou Catroga e outros teóricos liberais do PSD e que ele sabia ser a do FMI e a dos comissários então envolvidos. Assim, as Finanças – a parte mais importante em período de resgate – foram entregues a Vítor Gaspar (que, pelo estilo e a alegada sabedoria, era a estrela do Governo) e, mais tarde, depois de a dita estrela ter sido pescada para outro posto por excelentes serviços à causa do ajustamento e a própria ter percebido o desastre das experiências científicas que levara a cabo, a Maria Luís, sendo mais do que claro que Passos não era tido nem achado nas principais decisões. Tomaria conhecimento e despachava porque nada na sua ignorância o faria jamais desconfiar/discordar deles. O responsável da pasta da Economia tratou basicamente de vender empresas ao desbarato, a ministra da Agricultura andou a divertir-se, o Pedro Mota Soares promoveu as instituições de caridade, o Crato quis trazer o salazarismo de volta à educação e por aí fora. Todos tinham carta branca para fazer o que lhes apetecesse. O grande ponto alto do governo de Passos do ponto de vista político foi mesmo a declaração de que iria além da Troica. Essa é que é a verdade. Iria, sim, e foi mesmo porque o Gaspar assim quis. Com as lindas consequências que se conhecem, mas, ainda assim, excelentes para o próprio Gaspar, agora com um belo cargo no FMI, de onde critica o que fez.

Enfim, tudo isto para dizer que Passos terá, objectivamente, muito pouco de positivo e substancial a ensinar a alunos doutorandos. Não me parece que a ciência da mentira (com que chegou ao governo, criticando a austeridade de Sócrates, faço lembrar), por exemplo, ou a ciência da colocação da voz (um dos seus atributos, mas longe de poder constituir uma disciplina universitária), ou pior ainda, o que aprendeu com Vítor Gaspar (que adorou sair daqui mal pôde), justifiquem a equiparação a professor catedrático. Muito menos a sua “difícil e dura experiência” com a execução de um programa de ajustamento exigido pelos credores (como alegou o Tavares do Governo Sombra), com o qual pudesse discordar por amor ao povo que o elegera. Nã. É que não só não travou discussão nenhuma com as instituições credoras, como também saudou a sua vinda e assumiu todas as políticas por elas defendidas, anunciando querer ir ainda mais longe (para mostrar ser o bom aluno que eventualmente não foi nos tempos de estudante). Repito: o Gaspar fugiu daqui. Se é isto que tem para ensinar, pobres audiências.  Mas talvez queira ouvir duas ou três coisas? Olha, pode ser. Mas ser pago para isso é que já me parece muito errado.

8 thoughts on “Ódio? Mas qual ódio?”

  1. Que exagero a demeritar o coiso, Penélope! O homem até escreveu um livro, um best-seller: “A Arte de Bem Aldrabar Toda a Malta”, Edições Quinta da Coelha, prefácio de Barroso Longman Sachs.

  2. Que fazem impressão estas prateleiras douradas para políticos , fazem muita. o Passos pode é mandar o domingos farinho preparar as aulas por ele , o homem já tem uma certa prática como escritor fantasma nos livros do zézito.

  3. Ó Penélope também é má vontade contra o homem. Quem melhor que o senhor Professor Catedrático Passos para ensinar ao senhor” Dr” Relvas?
    O senhor” Dr” Relvas que anda tão obstinado à “Procura do Conhecimento Permanente”.

  4. Até hoje, Passos não vigarizou, não roubou, não mentiu, não se abotoou, não se governou, não abusou, atropelou…apenas se candidatou, ganhou, perdeu, deu a cara, e não precisa de se envergonhar, nem vangloriar.

    Currículos destes, não são para todos.

  5. Após deixar funções políticas, Sócrates foi fazer um Mestrado numa Universidade estrangeira, Passos vai ensinar numa Universidade Pública Portuguesa, na condição de Professor Catedrático. Entre outros, vi Clara Ferreira Alves, no Eixo do Mal, exibir todo o seu carácter, considerando as críticas a este último um desrespeito pela função de Primeiro Ministro.

  6. Para mim a questão é muito simples: ele não tinha competência para ser primeiro-ministro (e foi um primeiro-ministro incompetente) e não tem competência para ser professor (e é duvidoso que venha a ser um professor competente. Só isso.

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