O PCP perdeu o “game” e o “set” e anda a habilitar-se a perder o “match”*. Mudem de estratégia, tá?

Para começar, não percebo a excitação toda que por aí vai por causa dos 10% da Marisa Matias. Não foi essa a percentagem de votos obtida pelo Bloco nas legislativas? Qual é o espanto? Se é por causa do contraponto com o PCP, parece-me que seria mais lógico dirigir a admiração e a comunicação social apontar os holofotes ao Jerónimo de Sousa ou ao Edgar Silva.

A disputa do PCP com o Bloco de Esquerda levou Jerónimo de Sousa a desenterrar, após as últimas eleições legislativas (onde não foi além dos 8,25%), com uma prontidão que nos deixou zonzos, uma disponibilidade para pactos que não suspeitávamos existir pelas bandas dos afirmadores de abril. É que a afirmação de abril tinha-os levado, precisamente, a entregar de bandeja o poder à direita mais financista e anti-social, e enfim incompetente, de que há memória em Portugal. Pois bem, após um período de paz e sã expectativa, começam a emergir aqui e ali os sindicatos do costume (função pública, metro, etc.), últimos bastiões do PCP, com as suas ameaças mais ou menos veladas e as pressões de que não abdicam.

É neste clima de pretendida afirmação de força que surge o desastroso resultado do PCP nas presidenciais (3,9%). Enquanto a candidata do Bloco manteve a mesma votação das legislativas, o candidato comunista perdeu mais de metade dos votos (acusou Jerónimo, invejoso e irónico, mantendo viva a disputa: “Podíamos arranjar uma candidata mais engraçadinha e com um discurso mais populista.” Como se populismo não fosse o apelido do PCP). Mas o Bloco não tem implantação em nenhum setor profissional. O PCP tem, por enquanto, essa cartada para jogar e para desafiar quem lhes lembrar quanto deixaram de valer. É isso que faz. Mas faz mal.

Eu penso que não torna os comunistas nada fofinhos a história das ameaças permanentes de greves, manisfestações e rompimentos, caso o Governo de Costa se mostre insuficientemente revolucionário. Pelo contrário. António Costa é bem visto pelos portugueses, pelo que as jogadas do PCP e o desgaste ou eventual destruição do acordo penalizarão, como penso que já estão a penalizar, os comunistas. Não me incomoda nada que os comunistas desapareçam em Portugal para a gama das percentagens insignificantes. Seria um bom sinal de maturidade da nossa democracia. Incomoda-me é ver pessoas que, perante o desmoronamento do comunismo em todo o mundo, não se reciclem, não se reconvertam e alimentem a quimera e o discurso de que hão de conquistar o poder com que sonharam há quarenta e um anos. Provocando com isso sérios atrasos de vida.

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*Está a decorrer o Open da Austrália

29 thoughts on “O PCP perdeu o “game” e o “set” e anda a habilitar-se a perder o “match”*. Mudem de estratégia, tá?”

  1. O Marcelo cata-vento ganhou mas, desta vez, a Marisa foi a presidenta do bloco.
    Um ganhou abanando a cabeça concordando com todos, a outra ganhou concordando com todos arreganhando a taxa.
    E o Tino é que é o palhaço?

  2. E incorreto ver este resultado como se fossem legislativas. O PC vale mais do que este resultado e e prematuro fazer- lhe o funeral. Não é um leão mas também não é um Dodô.
    Vai ser um longo tie-break como aquele entre o Andy Rodick (que saudades! o tipo com maior servico e piada do circuito) e o marroquino Younes El Aynaoui, na terceira rodada do AO de 2003. No final o americano que ganhou , disse ” I’m gonna be humble about this one”. Acho melhor fazerem o mesmo com o PC.

  3. “… começam a emergir aqui e ali os sindicatos do costume (função pública, metro, etc.), últimos bastiões do PCP, com as suas ameaças mais ou menos veladas e as pressões de que não abdicam.”
    Passos Coelho e Paulo Portas não diriam melhor.

  4. É mais ou menos como diz e que, ao fim e ao cabo, é o que está a acontecer em vários países europeus, mas ainda não dá para embandeirar em arco. Vamos ter calma e esperar durante este ano. Portugal precisa de estar suficientemente forte para se juntar aos outros países da Europa do Sul, mais a Irlanda e a Inglaterra, para pôr ordem na desordem de Bruxelas. Portanto, o PC, o PS e o BE têm de ter juízo e prudência. Partido que sabotar este empreendimento, é partido que vai pelo cano porque , lá diz a cantiga, “o povo é quem mais ordena”.

  5. Por falar nisso, fazendo um jogo cheio de erros, mas ainda assim um grande jogo, B. Tomic, perde para, A. Murray, por 3-0 (6-4, 6-4, 7-6). Mas não quer dizer que não venha a ganhar o torneio nos próximos anos, o que acredito…
    Depois de dois PM´s , vindos do comentário TV, (um deles, talvez o melhor da sua geração política) é chegada a vez, de um comentador, ser PR.
    Seguir (o anunciado na televisão) tornou-se o “Modo”, e (não pensar) o nosso “Fado”. Estamos entregues a … alguém sabe?

  6. O Jerónimo põe os comboios e os professores a puxar e lixa esta merda toda.

    A correia de transmissão entra em acção e o Costa que se cuide!

    O Costa é esperto mas lixa-se!

  7. Penso que o Jerónimo vai começar a boicotar as paneleirices das propostas exquisitas do Bloco.

  8. A autora do post, so para começar o ano, quer correr com os refugiados da Europa e acabar com os comunistas em Portugal. E obra. A atenção de Trump.

  9. O problema — para como indiquei logo em Outubro, ocorrerá aquando da próxima crise financeira; e há uma forte possibilidade de a mesma se declarar este ano, e de ser um evento catastrófico, para o Ocidente e para o nosso país. Creio que o motivo principal dos acordos foi mesmo evitar que a direita estivesse no poder nessa ocasião, caso em que o desastre social se declararia na sequência de políticas completamente inadequadas.

    Só que os sinais que vêm do PS não são inteiramente positivos. Será que o PS vai agora optar pelo segurismo, em detrimento da social-democracia? De facto, o segurismo é uma ideologia; uma ideologia de traição à social-democracia e ao esclarecimento, com raízes nas acções do SPD alemão, em 1914. O segurismo é uma ideologia oportunista que não está apenas ligada à personalidade de António José Seguro; este último apenas teve a má sorte de encarnar o odioso papel, em 2012.

    Tornou-se para mim óbvio que a direcção do PS — perante as divisões internas e as pressões exteriores, que já se multiplicam — preferiu Marcelo Rebelo de Sousa a qualquer um dos dois candidatos da sua área política. Caso os meus receios se confirmem nem o PCP nem o BE precisam de estar nervosos. Têm que cumprir o acordo que assinaram de boa fé e esperar, com alguma paciência, pelo incumprimento visível e evidente dos acordos, por parte do PS, aquando da próxima crise financeira; pois se o PS não teve coragem para apoiar Sampaio da Nóvoa, será difícil o PS vir a ter coragem para fazer um manguito a Bruxelas e ao euro — como fez a Islândia, em 2008 — quando se abrir a janela que tornará essa acção possível e necessária. Caso os meus receios não se confirmem, aí sim, o BE e o PCP terão razões para estar nervosos com o desfecho da próxima crise financeira.

  10. Joe Strummer: A vinda em massa para a Europa de pessoas com valores que há muito repudiámos, que consideramos desprestigiantes para as mulheres, contrários à evolução científica da humanidade e que engendram em si muitos desadaptados perigosos devia merecer-lhe, pelo menos, um desejo de debate, alguma apreensão e a aceitação de opiniões contrárias a um acolhimento sem condições.
    Quanto aos comunistas, as bases do que defendem há muito caíram. Não se percebe o apego a teorias totalmente desmascaradas. Sendo assim, não fazem falta e só prejudicam a defesa dos trabalhadores.

    joaopft: Não percebo a que propósito vem o segurismo em António Costa.

  11. estou a escrever sem ler o texto do valupi,e tambem os comentarios,para poder dizer de imediato que não me esqueço que foi o pcp,que avançou primeiro com o apoio ao governo do ps. por isso estou agradecido.o bloco veio a reboque,para não perder o pé.nestas eleições parece que os militantes do pcp s não gostaram desse apoio,mas na minha modesta opinião o que se passou agora, não foi mais do que um voto no candidato que podia derrotar o marcelo. tenho na familia comunistas e, vi como eles ficaram satisfeitos com a decisão do pcp.

  12. o morais anti-ferrugem apela a donativos para lhe pagarem a campanha, mas aldraba os números. agora diz ter gasto cerca de 60 mil euros, abaixo dos 93 mil orçamentados, recebeu 17 de donativos e que faltam 40 mil para liquidar as dívidas.
    https://www.facebook.com/paulo.teixeirademorais.9?fref=ts

    à cerca de um mês disse em entrevista no clube dos pescadores em matosinhos:
    “…Paulo Morais disse que a sua campanha está orçada em 170 mil euros que será financiada por donativos individuais módicos, de 5 a 100 euros, no máximo, pois considerou ser a única forma de ser livre e não ficar atrelado a interesses que capturam o político.”
    http://clubedospensadores.blogspot.pt/2015/12/paulo-morais-o-candidato-presidencia-da.html

    o campeão das acusações de corrupção pensava empochar cerca de 110 mil euricos com esta candidatura da transparência, mas as contas sairam-lhe furadas e agora anda na pedinchice.

  13. penélope, li agora o texto,julguei que era do valupi. faço-lhe uma pergunta,:depois do apoio ao governo ps,o pcp tomou alguma iniciativa que prejudicasse o governo de antonio costa? todos achamos que não. portanto quem tem de mudar a narrativa é a penélope,já que o pcp teve um gesto nunca visto ao longo de 40 anos de democracia.nota: não esqueço que a base social de apoio do pcp ainda é maioritariamente operaria,ao contrario do bloco onde é tudo gente com emprego certo. mais, o resultado da marisa disse-me que há muito gay neste pais,e por isso foram tirar do “armario” para por na montra, o gay antonio capelo (ator de teatro) para caçar o voto de gente dessa comunidade.

  14. Penélope, não se constroi debate nenhum, pelo menos neste tema, baseado em estereotipos, preconceitos e sem haver uma perspectiva histórica. E muito menos dizendo que algo é mau e agora vamos ver se toleramos.

    O mesmo quanto ao PC. Goste-se ou não este partido segura franjas sociais, que a não existir, iriam engrossar a extrema-direita. Mais uma vez a história.
    Depois conduziria a uma evolução para o bipartidarismo, a medio-longo prazo, e aqui a esquerda não ficaria com a maioria porque através da cisao do eleitorado PS e a radicalização do partido face ao BE, deixaria o centro a mercê da direita. Naturalmente.
    A diversidade em todas as situações favorece o cromossoma, seja politico ou genetico.

  15. valupi,li no jornal de negocios, que o tce (tribunal de contas europeu) que a comissaõ europeia estava impreparada para lidar com os resgates de portugal e da irlanda. foi inconsistente naaplicaçao das suas receitas e recorreu a metodos de previsão com qualidade limitada. deram um exp. dificil de explicar,: enquanto que a hungria foi obrigada a cumprir 60 condiçoes, a portugal foram impostas 400 medidas, isto apesar de os dois paises enfrentarem circunstâncias similares. só me apetece dizer fdp.

  16. É a primeira vez que o fifi fala correto, e alguma coisa de jeito.
    A Liga é a correia de transmissão do Bloco,
    Muito mais eficiente que a correia do PCP, a cgtp.
    Aquela Liga está no parlamento, na TV, nos jornais erádio e todos bem instalados.
    Nem o Cavaco, nem o Costa lhe escapam.

  17. “… a base social de apoio do pcp ainda é maioritariamente operaria, ao contrario do bloco onde é tudo gente com emprego certo. …”

    a força do PCP reside, essencialmente, na capacidade de mobilizar os sindicalizados na CGTP, quase todos funcionários públicos ou do sector empresarial do estado.
    já agora, a título pessoal, os dois dirigentes das centrais sindicais são confrangedores.
    o PCP está no meio de uma ponte: não a atravessará, mas o PS corre o risco de cair no penhasco…

  18. “Não me incomoda nada que os comunistas desapareçam em Portugal para a gama das percentagens insignificantes. Seria um bom sinal de maturidade da nossa democracia.”

    Isto é que revela falta de maturidade.
    De inteligência.
    De análise.
    De conhecimento.

    Etc.

    Enfim……

  19. Você consegue juntar no mesmo post “o PCP a desenterrar(?) uma disponibilidade para pactos que não suspeitávamos existir” e (blá blá blá blá) ” incomoda-me ver pessoas que, perante o desmoronamento do comunismo em todo o mundo, não se reciclem, não se reconvertam”; bravo! Quanto ao resto, pergunte ao Costa quão confortável é parecer “refém” dos comunistas, aos olhos do capital financeiro e dos idiotas úteis do costume.

  20. Penélope:

    Tens razão; de facto, fui muito pouco claro. O segurismo tem origem noutros sectores do PS, não no António Costa.

    No entanto, as pressões externas poderão ir limitando o espaço de manobra, já de si exíguo, do primeiro-ministro. Às pressões dos mesmos culpados de sempre (a finança internacional) e às manobras internas do segurismo (que pretende recuperar a direcção do PS) junta-se agora, muito estranhamente, o PCP. Sobre os comunistas (e mesmo correndo o risco de vir a ser criticado à bruta por eles!) vou elaborar um pouco.

    O PCP está num estranho estado de confusão, com acção política que compromete não só os seus próprios objectivos, como a sua filosofia de luta. Em primeiro lugar, era fácil de prever de antemão que a campanha eleitoral de Edgar Silva não ia resultar. Em segundo lugar, reivindicar o impossível, tendo em conta as condições materiais do presente, não é boa ideia. Passo a listar: 1º) o aumento imediato do salário mínimo para 600€ levaria a uma onda de deslocalizações que arruinaria o que resta da economia nacional; o aumento deve ser gradual para poder suscitar o aumento de produtividade que o tem que acompanhar; 2º) a reposição, no imediato, da semana de 35 horas na função pública não é possível pois há que organizar os serviços, de forma a comportar essa alteração; 3º) avançar com uma greve da função pública é um erro (apenas para o PCP!) se os trabalhadores da FP não estiverem convencidos das razões do PCP a ponto de estarem garantidas condições de mobilização.

    O PCP dos velhos tempos fazia questão de combater este tipo de radicalismo inconsequente que agora ocupa os dias à direcção política do PCP. Convém não apenas que os comunistas leiam, mas que leiam de forma não superficial, o que escreveu Álvaro Cunhal em “O Radicalismo Pequeno-Burguês de Fachada Socialista” (1970):

    «No papel é fácil escrever e ao microfone é fácil gritar: “chegou a hora do assalto final!” Para o assalto final, não basta escrever ou gritar. É preciso, além de condições objectivas, que exista uma força material, a força organizada, para se lançar ao assalto, ou seja, um exército político ligado às massas e as massas radicalizadas, dispostas e preparadas para a luta pelo poder, para a insurreição (…) Os radicais pequeno-burgueses são incapazes de compreender que os objectivos fundamentais da revolução não se alcançam reclamando-os, mas conquistando-os.»

    Ora não existem nem condições objectivas, nem muito menos as massas radicalizadas que possam seguir a direcção do PCP, naquilo que anda a tentar liderar. O radicalismo inconsequente do PCP actual não só cria dificuldades ao PCP e ao governo de António Costa como é, em si, uma provocação às elites financeiras internacionais, que lhes servirá de pretexto a um novo ataque à nação portuguesa, por via da subida das taxas de juro, tal como foi feito a Sócrates, em 2011, e a Tzipras, em 2015. Contra tal renovado assalto, Portugal não possui hoje armas que lhe possa opor. Pode ser que no futuro venha a ser possível; mas, NESTE MOMENTO, é IMPOSSÍVEL conseguirmos qualquer tipo de reestruturação da dívida que nos possa ser vantajosa.

    Talvez fosse até boa ideia o PCP não se envergonhar de comungar das vitórias do governo e emitir um apreciativo, sempre que há sucessos.

  21. fifi:
    está calado, pá, escrever-se sem pudor que «o resultado da marisa disse-me que há muito gay neste pais, e por isso foram tirar do “armario” para por na montra» uma pessoa é indigno de um blogue como o Aspirina B.

    Penélope:
    «A vinda em massa para a Europa de pessoas com valores que há muito repudiámos, que consideramos desprestigiantes para as mulheres, contrários à evolução científica da humanidade e que engendram em si muitos desadaptados perigosos» etc., …? Pode existir um momento de desinspiração mas isso corrige-se facilmente com um esclarecimento: isto quer dizer o quê, …? É que estava aqui a ler esta frase e pareciam-me estar de regresso as teses oitocentistas onde foram beber o Rodolfo Xavier da Silva, por exemplo, tão típicas das correntes positivistas sobre a criminalidade na viragem do século XX.

    Sobre o PCP valeria a pena estar atento ao que disse o Carvalho da Silva na noite eleitoral: que esperava «que um partido com a longa experiência do PCP conseguisse encontrar as respostas para o que aconteceu», cito de memória. Para os kremlinólogos dizer isto é o necessário, até porque faz mais ondas que as bicadas dos adversários. Ora, não sei se a pobreza do comunicado do último CC reflecte a discussão havida durante a sua reunião, imagino e sinceramente espero que não, porque os actuais dirigentes comunistas (os históricos, mesmo esses) são capazes de fazer muito melhor.

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