Mas está tudo bem

Vou falar de medicina, ou melhor, da prestação de serviços médicos em Lisboa. Por razões que não interessam, sou obrigada a pagar integralmente as minhas despesas médicas e só depois sou reembolsada. Tendo chegado a altura de fazer o check-up bienal, entendi ser mais fácil realizar os diversos exames e consultas num mesmo local. Dirigi-me, pois, a um hospital privado (que me foi recomendado, pois, apenas recentemente regressada do estrangeiro, desconheço quase o Bê-A-Ba da saúde em Portugal), onde teria garantia de não gastar mais de um ou dois dias com este processo. De facto, assim aconteceu. Melhor ainda, fui orientada e acompanhada nas diversas deslocações no interior do hospital por uma simpatiquíssima “relações públicas” e por um seu simpatiquíssimo colega no segundo dia. O que eu paguei custa a acreditar, tendo em conta o salário médio em Portugal. É verdade que este e os outros hospitais do género têm contratos com seguradoras e com o Estado que permitem que a esmagadora maioria dos clientes nem se aperceba dos preços praticados e considerem os cuidados de saúde baratos. Mas não foi o meu caso. Só um pormenor: uma das mutualistas que têm acordo com este hospital, por exemplo, é a ADSE. Mas vamos aos preços. Médicos: 90 euros; mamografia: 100 euros; ecografia dos seios: 80 euros; ecografia ginecológica: 90 euros, e por aí fora, sendo que as análises ao sangue e a citologia estão ao preço do ouro. E a qualidade? Varia. Se alguns dos serviços me pareceram convenientemente profissionais e competentes, outros suscitaram-se bastantes reservas e receios. Por exemplo, a consulta de clínica geral e a consulta de ginecologia não demoraram mais de 10 minutos, atos de despir e vestir incluídos e, no caso da ginecologia, ecografia interna incluída. De tal maneira que, à saída, tinha perdido a minha «guia», que, ingenuamente, me dera 20 minutos e fora beber um café. Terá sido do meu ar saudável?

Ora, depois disso, precisei de fazer uma radiografia a um pé. Por uma questão mais prática ainda, dirigi-me a um centro de imagiologia médica (também privado) situado mesmo em frente da minha casa. Enquanto falava com a menina da receção, reparei que também faziam mamografias, ecografias, densitometrias ósseas, etc. Perguntei os preços da mamografia e da ecografia: 50 euros a primeira, acrescidos de 25 euros pela  segunda. Uma diferença de mais de 100 euros em relação ao hospital. Sei também que, no centro médico mesmo ao lado (vários consultórios médicos) (também privado), uma consulta de clínica geral não custa mais de 50 euros.

Eu tinha ideia que as economias de escala permitidas por um grande complexo de saúde, como um hospital, permitiriam talvez preços mais em conta. Mas, pelos vistos, é ao contrário. Longe de mim querer proteger as seguradoras, mas considero estes preços claramente inflacionados, sobretudo tendo em conta o nível de vida do país. Sim, caros leitores, são os mesmíssimos preços sem o acompanhamento de um «relações públicas», ou seja, 97% dos casos.

17 thoughts on “Mas está tudo bem”

  1. no privado há bons, assim-assim, maus, caros, aceitáveis e baratos. no público é tudo mau, caro e acaba por ser resolvido no privado, se tiveres dinheiro, pelos mesmos médicos que não têm tempo para te atender no serviço público. excepção para a oncologia e outras cenas que ainda não são rentáveis nos privados. o serviço nacional de saúde é um mito, serve para os profissionais de saúde terem um ordenado fixo e angariarem clientes para o privado.

  2. mas estás bem de saúde, Penélope?

    bom, no público tb existem recursos humanos bons -já que os materiais nem me atrevo a questionar se não o são também. haja tempo e paciência. e haja dinheiro para poder escolher. :-)

  3. Ignatz:

    Trabalhei 36 anos no SNS, – até me reformar -, nunca fiz privada, foram 45 horas semanais de horário, dezenas e dezenas de fins de semana de prevenção, bom como todas as noites (era disponibilidade permanente,) mais horas de reuniões de formação dada a clínicos gerais-médicos de família, depois de jantar, sempre sem receber horas extras.
    Só nos últimos 10 anos de serviço foram pagos os fins de semana de prevenção e as noites. Doente seguido por mim, ou da minha área de responsabilidade, não ia à urgência hospitalar, sabia que tinha sempre consulta no meu Departamento. E o apoio aos clínicos gerais-médicos de família era permanente, um telefonema deles e, ou o problema se resolvia assim, ou o doente vinha à minha consulta no dia seguinte.

    Claro que alguns médicos “empurravam” os doentes para a privada, mas eram a minoria.

    No meu hospital, no meu tempo, havia muitos como eu, gostavam do que faziam e defendiam o SNS!

    E muito mais haveria para dizer. Por isso nada de generalizações precipitadas!

  4. penélope.é verdade, só que há um pequeno pormenor.nos hospitais do estado os pobres (e bem) nem a taxa moderadora pagam.

  5. Esses preços são os de tabela. Praticamente ninguém paga isso porque as pessoas tendem a ir às instituições com acordo com as suas seguradoras. E quase toda a gente que vai ao privado tem ou um subsistema ou um seguro de saúde. Eu no hospital CUF pago 15 euros por consulta de especialidade, mesmo de psiquiatria que dura 1 hora. E faço alguns exames anuais que antes de ter seguro custavam 200 euros e que agora me custam 15. A minha seguradora paga no máximo um outro tanto, mas em geral até paga menos.

  6. numa doença grave, eusei para onde vão 90% dos portugueses. público,público e público.tenho seguro de saúde mas não dá para tudo.

  7. penélope, desculpa a deriva.encontrei este discurso no baú das recordações! passos coelho a 6 de abril de 2011,no clube dos pensadores em v.n. de gaia:” é decisivo o crescimento de 3 a 3,5% nos próximos,2,3 anos. alertando que sem isso não há pacotes de austeridade que nos valham. agora digo eu: a narrativa é mesmo muito teimosa.deixou o pais com deficite. e agora até se dá ao luxo de criticar a austeridade do antonio costa que não penaliza todos da mesma forma. haja vergonha!

  8. o dr. outeiro ficou chateado com a generalização porque trabalhou em exclusividade e foi, na sua opinião um médico exemplar, mas eu como exemplar pagante de impostos e descontos para o público, tenho opinião diferente e dificuldade em encontrar alguém que esteja satisfeito com o sns, tirando os profissionais com interesses no mesmo.

    . consulta médico familia, custo: € 5,00 / prazo: 6 semanas após marcação, sujeita a desmarcação se não der jeito ao médico / utilidade: controlar os gastos do estado com o utente, gastar tempo para ver se desiste e vai ao privado.

    . consulta externa: custo: € 7,75 / prazo: 4 semanas após marcação pelo médico família / utilidade: informar o utente que já lá deveria ter ido há 2 meses quando se sentiu mal, receitar umas cenas para tirar dores e mais uns exames complementares de diagnóstico para sacar mais € 25,00 e recomendar uma clinica privada onde o podem tratar rápidamente, porque neste hospital a coisa pode demorar entre 4 a 12 semanas e nessa altura será tarde demais.

    . das urgências, nem falo.

    resumo: desde que se cumpram os prazos e os procedimentos burocráticos está tudo legal e os utentes podem morrer à vontade, portanto a medicina pública engonha e a privada é no mesmo dia, com a vantagem do estado aliviar os custos e receber impostos dos honorários dos privados, i.e. honorários equipe cirúrgia privada € 2.000,00 x 46% imposto = € 920,00 + os impostos que sacam ao estabelecimento hospitalar privado.

    se quiseres casos concretos documentados e fotografias de filas às 6 da matina para consulta do médico de família é só pedires.

  9. “Segundo o ignatz, os médicos são todos uns fassistas.”

    fascistas não direi, mas que são uns bons filhos de puta, não tenho dúvidas. lá haverá 1/2 dúzia de joões semana, mas um bando de andorinhas não faz a primavera.

  10. Ignatz
    És tão ignorante nesta matéria que até metes dó.
    Mas ainda bem que ignoras. É sinal que fazes parte do feliz grupo dos saudáveis.

  11. “És tão ignorante nesta matéria que até metes dó.”

    a ignorância cura-se com sabedoria e paciência, podes metes a compaixão no cu.

    “Mas ainda bem que ignoras. É sinal que fazes parte do feliz grupo dos saudáveis.”

    antes ignorante saudável que saudável ignorância, o que parece ser o teu caso.

    o serviço nacional de saúde foi criado para servir os utentes e não para servir os médicos, suas famílias e amigos ou negócios privados, situação actual que o adalberto pretende reverter com o aumento de produtividade. não é necessário ser sobredotado para perceber que quanto menos fizerem no público mais sobra para o privado, que é necessário ter um pé no público para ganhar a dois carrinhos e poupar em angariadores, outra das actividades extra dos tempo inteiro que canalizam para o privado e indicam laboratórios para compensar a falta de proveitos dos genéricos.

    http://www.dn.pt/portugal/interior/hospitais-penalizados-se-nao-reduzirem-tempos-de-espera-5041128.html

    se-te-pa-re-cer-con-fu-so-lê-vá-ri-as-ve-zes-de-va-ga-ri-nho-e-vais-ver-que-che-gas-lá.

  12. Ignatz, Médicos? esses inteligentes nota 20 ninguém os domina.
    Nem o meu ídolo de Santa Comba conseguia nada com essa gente.
    Força Ignatz, não deixes caír nenhuma no chão.
    Médicos, nem Costa nem a Liga nem a CTP lhe dá a volta.

  13. Ignatz
    Tu já não és apenas ignorante, és mesmo BURRO.
    Aquela parte do “se eu me quiser tratar de uma doença a sério só no privado porque no público morro” é uma barrigada de riso. O que te vale meu murcao, é que estás redondamente enganado. Se fosse assim estavas mesmo f….a valer.
    Repito, és muito ignorante nesta matéria, não venhas querer ensinar o padre nosso ao vigário.

  14. “O que te vale meu murcao, é que estás redondamente enganado.”

    frio… frio. o que me vale é ainda ter conta bancária que permite resolver no privado com urgência os problemas irreversíveis, morte incluída, que o público gera com demoras e negligência.

    os que morrem em casa à espera de ser chamados para cirurgia não contam nas estatísticas negras dos hospitais públicos, mas servem para aliviar as listas de espera e poupar dinheiro ao estado.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *