Expresso. Mas que fraude de jornal*

Ontem, no Expresso da Meia Noite, dizia Pedro Santos Guerreiro que, lá no jornal, podiam publicar estes e aqueles nomes (a propósito dos Documentos do Panamá), porque os tinham, e aumentar assim as vendas, mas que a sua opção era pelo rigor e não pelo lucro fácil. Pois bem, para cumprirem esse princípio de rigor, o que fazem? Ocupam mais de um terço da primeira página com uma fotografia sobre fundo vermelho-sangue de Ricardo Salgado, Helder Bataglia e José Sócrates. Um trio assim constituído, indissociável, mostrado atrás de linhas paralelas (grades? persianas semi-cerradas de escritório em paraíso fiscal?), que é não só todo um programa de insinuação, como também toda uma promessa para as páginas que se seguirão, pensa o leitor. Puro engano. Vira-se a página: empresas offshore ligadas ao BES, várias. Novidade, novidadíssima. Salgado tinha “muita massa”. Olha a surpresa. Só ele? Bataglia trabalhava no BES, também movimentava muita massa. A sério? Havia um Saco Azul, nada de novo. Houve uma transferência de uns milhões de euros de Bataglia para Joaquim Barroca, do Grupo Lena. Já se ouvira dizer, tendo mesmo sido aí que as teorias experimentais do Ministério Público assentaram arraiais, já exaustas, mal os investigadores, a caminho de nenhures, sentiram a epifania de que José Sócrates era o destinatário dos 12 milhões transferidos para a Suíça, para a conta de Santos Silva.

Ó Expresso, ó suas anedotas! O que acrescentam vocês de novo, que prova adiantam? Que facto novo descobriram sobre esta matéria que mereça o destaque da primeira página? Não consegui ver nada. E a fotografia gigante de Sócrates na terceira página? E o título «Todos querem mudar menos o PS»? O Correio da Manhã não faria pior. Talvez pusesse uma fotografia menos sofisticada, é tudo. Até o artigo sobre Ricardo Salgado é ridículo, pois o que acaba por dizer é que o senhor foi transferindo para Portugal, ao abrigo de sucessivos RERT, o património que tinha no estrangeiro.

E o resto do jornal? Vale a pena?  – perguntar-me-ão. Um logro. Passado este dossiê «escaldante» e o editorial pseudo-poético, prenhe de rodriguinhos, de Guerreiro, a tónica geral desta edição é a «crise da Geringonça», repetida ao enjoo, tipo dança da chuva, a grande tragédia e abalo que terão sido para António Costa e o seu governo a demissão de um secretário de Estado e de um ministro bizarro, a demissão do CEME e os assomos performativos de Catarina Martins para calar certas alas do Bloco. A sério, ó Pedro Guerreiro. Este jornal deve manter-se aberto e, apesar de fraudulento para com os seus leitores, continuar a «investigar» … fraudes? Só mesmo para tentar inverter as sondagens. Que ricos três euros e vinte que vou de novo poupar.

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*O belíssimo artigo do Valupi vai no mesmo sentido do meu, pelo que deve ser mesmo verdade o que dizemos…

15 thoughts on “Expresso. Mas que fraude de jornal*”

  1. este espesso não tem por onde se lhe pegue, nada, nem a revista, tudo uma porcaria. €3,20 deitado ao lixo, talvez a última.

    saude.

  2. A decadência do Nexpresso já vem de ha muito. O q ainda o aguenta e o apelo de uma certa imagem de centralidade ou rossio bimbo- intelectual, mas ali já não se passa nada, e puro tabloidismo A4. No soul. Já ninguém “compra” aquilo.

  3. Ops, ontem e hoje e amanhã por aqui no Aspirina B são dias de São José (obsessivamente, portanto).

    Nota, se possível ao lado. O Expresso é uma trampa (uma revista que abre com uma página da Clara Ferreira Alves a jogar na quinta divisão depois do artigo do António Guerreiro no P., que guarda três páginas para um artigo senil do Henrique Monteiro e que, quase-quase, termina com uma outra pueril do Luís Pedro Nunes não espera que aconteça nada de bom). O Pedro Santos Guerreiro não tem unhas para o jornal da Impresa, ainda hoje esteve na SIC N e não disse coisa com coisa (e o ponto é perceber quais os encantos que usa o MP na utilização do Expresso e eles e elas deixarem e… gostarem).

  4. Aliás não seria mau para o pipol em general que o que está a acontecer na banca acontecesse no jornalismo. A fra( e)nchizaçao de marcas europeias que apanhassem o território português por extensão sem darem o salto por cima para o Brasil, como o El Pais fez. Mas os juniores seriam formados lá e sem seniores infectados de ca, senão o projecto era sabotado. Ou a aposta dessas marcas internacionais em novos jornais como o tornado, ou qualquer outro projecto web. .. O mercado está mais que maduro, ha muito que ar nesta latrina se tornou irrespiravel.

  5. Obrigada pelo esclarecimento Valupi.
    (estava a achar estranho que esse murcão tivesse escrito um artigo como o que está no Público).

  6. Fui espreitar a abertura do pasquim da meia-noite.
    Realmente, um jornal da Impresa com um diretor com aquela pinta de jagunço que contorce a boca por falta de convicção deve ter muita sobra para embrulhar cabeças de peixe podre.

    Pobre Nicolau Santos que mal fica a ler aquela 1ª página que, para “agarrar”, é a abrir à la mãnhas .
    Só falta a locutora da especialidade.
    Que gente detém a maioria de capital da Impresa?

  7. Bom dia!
    Vim aqui parar de novo, por acaso.
    Era só para relembrar que a primeira vez que ouvi falar em offshores foi a propósito do BPN e da SLN em 2008.
    Depois soube-se que a maioria dos mirós estava distribuída por três ou quatro offshores, por isso a SLN não podia encontrar-lhes o paradeiro, que era um cofre na Caixa Geral de Depósitos. Podemos agora resgatar essas notícias no EXPRESSO, que nas altura ainda nada sabia do Panamá.
    E se fossem todos gozar com as tias deles?

  8. Porque será que não compro esse pasquim há mais de um ano???
    Mesmo a Visão, do mesmo patrão mas que até há cerca de meio ano era de alguma forma imparcial, já arranjaram maneira de meter uns artigozinhos pafiosos pelo meio.
    Não há remédio nem volta a dar, os manhosos estão a meter a mão a tudo o que é supostamente noticioso.
    Haverá algum jornalista com tomates que investigue para onde se está virando a Maçonaria?

  9. a comunicação social está toda falida e pressiona o governo para a receita habitual, subsídios & isenções. grande oportunidade do costa os mandar foder e reestruturar o sector, espero que tenha tomates para aguentar a pancada das manifes dos desgraçadinhos que vão para o desemprego e não aceite ficar com as empresas a troco das dívidas, conforme estratégia do manhólas, vendem o património, sacam o guito e depois dão a chave do prédio alugado ao estado para este pagar a renda e o ordenado dos trabalhadores.

  10. Enquanto o CM é um esgoto a céu aberto, o Expresso é um esgoto igual mas coberto, contudo, um esgoto também.

  11. o expresso,não é um clube de poetas mortos ,mas de escroques,com direito a padrinho (balsemão) e a “canalha” como henrique monteiro!

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