Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão.
Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.

Dominguice

Quem tem 60 anos, não ganhou consciência política no salazarismo. Quem tem 50 anos, não ganhou consciência política no PREC, nem no 25 de Novembro, nem na eleição de Eanes, nem na morte de Sá Carneiro. Quem tem 40 anos, não ganhou consciência política no cavaquismo, nem na entrada de Portugal na CEE. Quem tem 30 anos, não ganhou consciência política quando Sócrates teve a maioria absoluta, nem quando Passos afundou Portugal na Troika. Quem tem 20 anos, não ganhou consciência política quando Passos foi buscar Ventura à CMTV para o lançar em Loures contra os ciganos, nem quando atravessou a pandemia ainda adolescente.

Toda esta gente, admitindo que ganhou consciência política algures no tempo, passa por ser o povo. O povo, então, é sempre uma amálgama de ignorâncias.

Salvar Portugal

«Procura de viagens para o verão bate novo recorde. "Mais oferta houvesse, mais se vendia", dizem agências
Portugueses nunca compraram tantas viagens para o estrangeiro como na primeira metade deste ano. Procura cresce 15% face a 2024, refere ANAV. Caraíbas rouba clientes ao Algarve com preços mais baixos.»


Fonte

Perguntas simples

Que tem estado a adiar a nova campanha da Ikea sobre casos giros com políticos? Será que a fartura de temas fornecidos por deputados e dirigentes do Chega, que vão desde a posse ilegal de armas, passando pela prostituição com menores, e chegando (lá está) ao roubo de malas no aeroporto (estes três exemplos sendo só uma amostra), levaram à paralisia criativa? Será que as cabeças da Hidra-Spinumviva estão a dificultar a escolha do produto Ikea mais adequado para ser promovido no boneco, com o natural receio de ficar rapidamente desactualizado?

Os critérios do Tavares

Como chegou João Miguel Tavares à conclusão de que o António José Seguro é um óptimo candidato socialista a PR?

Resposta: porque Augusto Santos Silva e (sobretudo) José Sócrates se manifestaram contra.

Reparem que estamos a falar de um A. J. Seguro que nada de notável fez enquanto secretário-geral do PS, muito pelo contrário, sempre inseguro, ficando célebre a sua expressão “abstenção violenta”, que o expôs ao ridículo, relativa ao orçamento de Estado em 2011, este sim violento, governava então Pedro Passos Coelho. O mesmo Seguro que estava posto em sossego desde que António Costa o varreu marimbando-se no “qual é a pressa”, mas que uma precipitação do Pedro Nuno veio ressuscitar.

Imagino a fúria com que o Tavares assistiu à entrevista do Sócrates de anteontem (CNN, 22h00). Um dia destes ainda lhe dá uma coisinha má. Mas o Seguro passou logo a ter direito a pedestal, não importa se ainda for enterrar mais/ dividir o PS. De qualquer modo, o Marques Mendes não se sairá melhor, porque o almirante, a avaliar pela entrevista que ontem deu, já ganhou. Esta é uma observação minha objectiva. Não sei em quem votarei.

Dominguice

Pode haver ignorantes e estúpidos, mas não há inocentes. Quem vota no Chega está-se a marimbar para o seu programa, ainda mais para a sua moral. Votam porque gostam do Ventura. E gostam do Ventura porque ele promete violência política. Sem a violência na retórica, Ventura perderia o apelo que congrega indivíduos com quem não queremos privar.

A violência fascina cérebros imaturos e cérebros disfuncionais. Não foi com este tipo de cérebros que se inventou e desenvolveu a civilização da lei e da liberdade.

Português de lei


Fernando Venâncio (1944-2025)

O Fernando deu-nos a honra, e o subido prazer, de fazer parte do Aspirina B. A história dessa história, começada antes do começo deste pardieiro, algures nos finais de 2004, está contada aqui: O Fernando, o Jorge e o blogodrama

Não sou amigo dele, não o conhecia. Mas vim a conhecê-lo, ficámos amigos. Não há neste testemunho contradição, houve felicidade.

Para além da língua portuguesa, a sua amada Galiza também está de luto.

Carneirada

«É muito importante ter a consciência de que a maioria dos portugueses escolheu o PS para segundo partido.»

José Luís Carneiro

Aviso prévio: sou simpatizante deste cidadão, caso venha a ser secretário-geral do PS deixa-me com expectativas positivas para o que possa dar à cidade, e estas declarações que agora comento não têm qualquer importância seja para o que for (excepção para o texto aqui do pilas). Dito isto, bute lá malhar enquanto o ferro está quente.

A ideia de que o PS possa ser considerado o líder da oposição por ter mais votos do que o Chega (mais 4 313, exactamente) não é apenas esdrúxula, nem apenas absurda, é também antidemocrática. Este critério só poderia ser invocado em caso de empate no número de deputados. Não sendo o caso, espanta que os neurónios de JLC tenham sido responsáveis pelas declarações que a notícia regista. De acordo com a sua lógica, ou falta dela, a Joana Amaral Dias montada em cima dos 81 594 votos do ADN poderia exigir ficar com o lugar dado a Filipe Sousa, eleito deputado com 20 911 cruzinhas. Se o disse para que sirva de antidepressivo no partido, o tiro saiu pela culatra.

Eis o que adoraria ter ouvido da sua boca. Que o PS foi escolhido pela maioria dos portugueses para ser a terceira força partidária nesta legislatura. Que o PS foi escolhido pela maioria dos portugueses para ter menos deputados do que o Chega. Que o PS foi escolhido pela maioria dos portugueses para deixar de poder defender a Constituição. Que o PS foi escolhido pela maioria dos portugueses para deixar de participar na escolha dos juízes do Tribunal Constitucional. E que a maioria dos portugueses talvez venha a dar ainda piores resultados eleitorais ao PS em futuras legislativas. Que a maioria dos portugueses talvez um dia deixe de querer que o PS tenha representação na Assembleia da República. E que a maioria dos portugueses confia mais no Ventura e sua gente para resolver os problemas do País do que nas pessoas ligadas ao PS — as quais andam desde Abril de 1974 a servir o Estado, o bem comum e a comunidade.

A democracia não precisa do PS, apesar do tanto que lhe deve. Ao contrário é que a coisa funciona, como tem sempre funcionado ao longo da sua história.

Ai chega Chega

Quem fez isto:

Anda agora a dizer isto:

É um singelo exemplo entre infindos. Escolho-o porque Mafalda Anjos não tem défices de cognição nem de literacias comunicacionais e políticas. A capa obtida com recurso à deturpação da mensagem — e da boa-fé — do então governante era comercialmente, corporativamente e narcisicamente irresistível. Teve profundo e extenso impacto, continua a ser citada no laranjal.

Só que, foda-se caralho, lá está: não passa de uma manipulação básica das emoções e dos ódios. Alimento do populismo que engordou por causa, principalmente, da estratégia de terra queimada seguida pela direita partidária e mediatizada desde 2004.

A saúde pública ainda existe? Como diabo se consegue uma consulta num centro de saúde?

Decidi experimentar marcar uma consulta no centro de saúde (UCSF) da Alta de Lisboa. Disseram-se que, se fosse de manhã cedo, poderia ser atendida no próprio dia. Atrasei-me e só lá cheguei às 8h20. Responderam-me que já tinham sido atribuídas todas as 10 vagas para aquele dia e que as pessoas contempladas tinham começado a formar fila bem antes das 7 da manhã. Desconhecendo como aquilo das marcações funcionava, fui embora e entretanto lembrei-me que, em Fevereiro do ano passado, obtive uma consulta bastante rapidamente no mesmo centro mandando uma mensagem com um pedido de consulta para um endereço de correio electrónico (extenso) que na altura me deram, e tentei a minha sorte repetindo o processo. A resposta nunca veio, ou por já não existir tal modalidade de marcação, por alteração do endereço ou por outra razão que me escapa.

Telefonei. Responde-me uma gravação standard, do tipo “para marcações, deixe o seu número de telefone que nós contactá-la-emos logo que possível”. 15 dias volvidos, nada. Desloquei-me novamente ao local. Deram-me uma senha para ser atendida num balcão, onde me pediram os mesmíssimos dados que dera no telefonema, me deram um  papelinho comprovativo e me disseram para aguardar que me contactassem. Cinco dias depois, nada também.

Confesso que, mais do que furiosa, estou intrigada. Se nem uma consulta para um centro de saúde se consegue, como se chega a consultas especializadas em hospitais? Mistério. As pessoas que lá se encontravam para consultas, há quantos meses (ou anos) as tinham conseguido marcar? Ainda estarão doentes? Será isto admissível?

Claro que pode haver outros centros de saúde que funcionem bem. Este parece-me uma desgraça total. Mas uma sobrinha que teve um bebé há três meses (Sacavém), disse-me que na semana passada a criança ainda não tinha levado qualquer vacina, razão pela qual até tinha receio de andar com ela em parques com miúdos, para já não falar da tentativa que fizera para ter acompanhamento da gravidez no público, que começaria ao sétimo mês!

Curiosidades da pulharia

Dentre as caudalosas explicações que o editorialismo e o comentariado produzem em frenesim para a votação espantosa do Chega (que já o era em 2024, agora intensificada em votos e deputados, e multiplicada pela desgraça onde o PS foi parar), eis o que nunca encontramos, nunca encontraremos:

Que não teríamos chegado aqui se Passos Coelho não tivesse ido buscar Ventura à CMTV em 2017.
Que não teríamos chegados aqui se Passos Coelho não tivesse decidido colocar Ventura em Loures para testar nessa demografia e eleitorado um discurso de extrema-direita com a chancela do PSD.
Que não teríamos chegado aqui se Passos Coelho tivesse retirado Ventura da campanha em Loures quando o CDS rompeu a coligação por causa das declarações sobre a comunidade cigana.
Que não teríamos chegado aqui se Cavaco Silva e Ferreira Leite, e outras figuras gradas do PSD, tivessem apelado a que o partido não aceitasse fazer um acordo com o Chega para os Açores em 2020 — ao contrário do que realmente fizeram.
Que não teríamos chegado aqui se Rui Rio tivesse recusado esse acordo com o Chega nos Açores — ao contrário do que fez, tendo até admitido repetir o acordo no Continente.
Que não teríamos chegado aqui se o sistema partidário, o editorialismo e o comentariado tivessem tido tolerância zero para a retórica de apelo à violência política que é a constante da propaganda do Chega, e logo desde a sua origem na campanha eleitoral autárquica do PSD em Loures no ano de 2017 — ao contrário do que realmente fizeram, por considerarem que Ventura poderia ser útil para desgastar e conspurcar um PS então no Governo através das calúnias sobre corrupção.
Que não teríamos chegado aqui se ouvíssemos, ou lêssemos, Passos Coelho declarar que o Chega é uma ameaça à democracia e à liberdade — ao contrário do que realmente tem dito, aberta e intencionalmente.

“Ai que medo!”, diz o Vladimir

Diz o Donald na sua rede Truth Social:

I’ve always had a very good relationship with Vladimir Putin of Russia, but something has happened to him. He has gone absolutely CRAZY! He is needlessly killing a lot of people, and I’m not just talking about soldiers. Missiles and drones are being shot into Cities in Ukraine, for no reason whatsoever. I’ve always said that he wants ALL of Ukraine, not just a piece of it, and maybe that’s proving to be right, but if he does, it will lead to the downfall of Russia! Likewise, President Zelenskyy is doing his Country no favors by talking the way he does. Everything out of his mouth causes problems, I don’t like it, and it better stop. This is a War that would never have started if I were President. This is Zelenskyy’s, Putin’s, and Biden’s War, not “Trump’s,” I am only helping to put out the big and ugly fires, that have been started through Gross Incompetence and Hatred.

Disgusting“. Se esta criatura claramente “deranged“, vergonhosa e asquerosa que preside aos Estados Unidos para ficar rico  sempre soube que o russo quer a Ucrânia toda, por que razão se mostra admirado por ele estar a bombardear em força as populações civis em todo o território? E, se nada fez até à data para prejudicar a Rússia, nem sanções, nem aumentos de tarifas, nada, e críticas só das fofinhas, por que motivo o facto de o Vladimir querer ficar com todo o país vizinho haverá de significar “a queda da Rússia”? Não afirmou ele próprio que queria ficar com o Canadá e com a Gronelândia, se necessário pela força? Tudo mau demais.

Se o homem não quer saber da Ucrânia para nada, pois que tenha a coragem de a abandonar e de a entregar ao amigo Vladimir, que se encarregará de chacinar os ucranianos a seu bel-prazer. De caminho, permita que se instale uma guerra na Europa com as tentativas seguintes de ocupação ou devido a intervenções directas e inevitáveis da Europa no conflito. Mas, se não quer que isso aconteça, pois lá se ia a sua reputação de “pacifista” (até me engasguei), e sobretudo os negócios, então que pressione devidamente os russos e ajude como deve ser os ucranianos.

Não bastando o facto de o Kremlin actual ser um autêntico cancro mundial, só fazem mal, espalhando armas, violência e desinformação, ter um agente patológico na Casa Branca que simpatiza com ele é quase paralisante.

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Dominguice

Embora impossível, imaginemos. Fazia-se um referendo com a seguinte questão: “Concorda que em Portugal as pessoas caucasianas devem ter mais direitos do que as não caucasianas?”. Tendo em conta o resultado eleitoral das últimas legislativas, qual seria uma previsão razoável, fundamentada, para a resposta a este referendo imaginado?

Ninguém se identifica como racista e xenófobo se interrogado na via pública. Mas pelo voto os conhecereis.

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