Na antiga marcenaria
Numa das sete colinas
Há um lugar de poesia
Numa casa sem esquinas
No gaveto de duas ruas
Sobreloja, boas vistas
Uma hora vale por duas
No roteiro dos turistas
Um piano e uma guitarra
Personagens num estrado
A música alcança a barra
Do Tejo que passa ao lado
Na passagem das figuras
As coisas mais importantes
São as rodas das viaturas
E os livros nestas estantes
Para quem já perdeu a fé
Ou apanhou grande susto
Senta-se e bebe um café
Ajuda o comércio justo
Nas janelas de Lisboa
Entre vozes de vizinhas
Na roupa a secar à toa
Há gatos e cuequinhas
Já passou um amarelo
A caminho dos Prazeres
Na direcção do Castelo
Ouvi risos de mulheres
Vozes puras, de cristal
Miradouro da alegria
São sonhos de Portugal
Na porta da Livraria
Bonito, José do Carmo Francisco. A música é óbvia nesta toada, é só saber tirá-la do piano ou da guitarra que aparecem ao fundo. As personagens, no estrado, estão à espera que lhes dês o tom. Puxa-o tu, com o teu saber de lisboeta que deixou o coração na terra, a maior parte dos dias.
Obrigado
Jnascimento
Ora ora. Obrigado sou eu que tive logo um bom leitor a começar. É só fazer as contas – nasci em 1951 vivo em Lisboa desde 1966. Já sou mais daqui do que de lá. Mas há lugar para tudo no pequeno coração.
URBIS FÁBULA OF BALADA
Na antiga mercearia
A sinhã belezocas
Fazia contas, escrevia
Espevitava as mamocas
No gaveto de duas ruas
A rapaziada espiante
Sonhava com gajas nuas
Em fricassé adoçante
Um piano e uma guitarra
Luxúria semi-burguesa
Duas formas de grande farra
Cozinhadas à portuguesa
Na passagem das figuras
Passerelle alcochetense
Brilhava sinhãs puras
Embeiçando toda a gente
Para quem já perdeu a fé
Só revistas sociais
croquetes e tv banzé
com saleros corporais
Nas janelas de Lisboa
Brancos lençóis remendados
Ah, grande sinhã leoa
Rima certa de certos fados
Já passou um amarelo
Ao longe vermelho vivo
Cor de rosa em desvelo
engenhocas purgativo
Vozes puras, de cristal
Sinhãzinha boa gente
Com ginástica abdominal
Aspirinas sempre em frente
E isto tudo só para dizer que gostei imenso das quadras inspiradas do José do Carmo Francisco. (Que me perdoe a Dona Sinhã por a ter metido neste enredo.)
:-) adorei:-) e amanhã será o meu post.
(hoje ainda não porque a claudinha está a precisar de amargar).:-)
a tua balada é bela. e eu vim bebê-la, JCF.:-)
Lindo!
Só mais uma alfinetada nas goradas previsões dos neo-ultra-hiper-mega liberais:
http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/04/espanha-e-as-fracassadas-previsoes-do.html
Abraço,
Carlos
Gostei da toada. A Fabula Urbis merece. Tembém vi janelas e estendais entre livros e coisas mais
eu também gosto destes poemas aos saltinhos, fica tudo com ar lavado e cheiro de Maio,
Muito pode a poesia apesar de não ter nenhum poder. Vejam lá que surgiu entre a malta toda uma unanimidade. O pessoal gostou daquela frescura, daquela simplicidade, daquele encontro. Porque um poema é um lugar para estarmos todos juntos. Porreiro pá, sem ironia…
Um encontro. É, sim. Os humanos acabam todos por se encontrarem à volta de alguma forma de contemplação – contemplável.
O poema é engraçado… Gatos e cuequinhas… LOL.
é mais um belo poema, e termina muito bem, à porta da Livraria…