Uma pequena parábola sobre o aquecimento global

Eu cá recuso-me a usar cinto de segurança. Tenho aliás por certo que a torrente de palavreado — sempre oriunda dos sítios do costume — com que me desejam persuadir a prender-me à maldita engenhoca é apenas uma operação de propaganda esquerdista e estatista. Querem invadir a esfera sagrada das minhas opções íntimas e obrigar-me a afivelar o cinto. Mas eu continuo a duvidar que exista mesmo, no meu caso pessoal, uma correlação entre o uso da estalinista correia e uma possível degradação do meu estado de saúde. Parece-me mesmo que todo o investimento necessário à montagem desse sistema de segurança de duvidosa eficácia em milhões de veículos é um desperdício e um atentado à liberdade da indústria, que poderia, livre dessa canga, ter aumentado os seus lucros, melhorando assim a qualidade de vida de todos. Armado do meu saudável cepticismo, continuarei livre de cintos. Até ao improvável dia em que tiver mesmo um acidente grave e veja que a minha anatomia sofreu danos que até poderiam ter sido evitados com o funesto apresto. Então, e só então, pode ser que considere mudar de ideias. Se ainda andar por aí, claro.

9 thoughts on “Uma pequena parábola sobre o aquecimento global

  1. Mas se um dia bateres com os cornos no vidro da frente e ficares mais monga, vamos ter que pagar os teus tratamentos.

  2. Espantoso como as parábolas tocam até os simples de espírito. Claro, amiguinho: se o aquecimento global vier mesmo, quem pagará os custos materiais, humanos e civilizacionais?

  3. Era uma parábola, tipnãoseiquê, podes descansar que o gajo usa cinto até para chegar o carro à frente nas bombas depois de meter “gásoil”.

  4. Não é uma boa analogia. Há várias caracteristicas distintivas do problema do aquecimento global que não são considerados. Por exemplo, o aquecimento global é um problema de acção colectiva. Mesmo que alguns façam alguma coisa isso não quer dizer que o aquecimento possa ser evitado. Outro problema é o dos custos. Os custos de tentar evitar o aquecimento global são muito maiores do que os custos das consequências. O problema não é certamente tão simples como a analogia o quer fazer.

  5. “Os custos de tentar evitar o aquecimento global são muito maiores do que os custos das consequências.”

    Se nem os climatologistas (dignos desse nome), sabem avaliar as consequências climatéricas do aquecimento global como é que você pode saber “os custos de tentar evitar o aquecimento global”?

    Tem a certeza que o que disse não constitui uma petição de princípio?

    Note-se que eu de climatologia só sei aquilo que vou lendo nos jornais de grande tiragem, o que vem escrito na blogosfera é crivado com mais cuidado …

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