Olivença é território nacional? É, diz o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Pode ser mas não me interessa, faz perceber o Primeiro-Ministro, chamando ao tema «parte do folclore democrático».
Ora, nós sabemos – porque Sócrates dixit – que «não há uma política dos ministros, há uma política do Governo». O que, aqui, é lamentável.
Todos os 27 países da UE têm entre si Acordos de Fronteiras. Todos, menos um. O nosso, com a Espanha. Está bem feito. Mas, entretanto, um bocado, uma lasquinha, um bracito de Portugal continua em mãos estranhas.
‘Gatunos’ é um castelhanismo em português. Do adjectivo espanhol gatuno (relativo a gato) fizemos o que se sabe. É, talvez, o momento de devolver o vocábulo à procedência. Em voz alta e bem sonora.
*
Comunicado do Grupo dos Amigos de Olivença
Reagindo à iniciativa do Grupo dos Amigos de Olivença que, no decurso da XXIII Cimeira Luso-Espanhola, levantou publicamente a questão de Olivença, o Senhor Primeiro-ministro, em entrevista à RTP, em 19-01-2008, veio dizer que o assunto «não foi discutido» na Cimeira (1).
Tal afirmação, que em si mesma nada traz de novo e só surpreende pela franqueza com que se admite e confessa publicamente uma prática política nada louvável, embora adoptada por sucessivos governos, deve ser sublinhada pela exuberância com que o Senhor Primeiro-ministro assume publicamente a existência do litígio, a sua relevância e a profunda perturbação que provoca no relacionamento político dos dois Estados.
No mais, a referência – aparentemente desdenhosa – à intervenção de tantos portugueses que em elevada manifestação de cidadania têm lembrando as responsabilidades que cabem ao Governo na sustentação dos direitos de soberania sobre uma parcela do território nacional, como fazendo «parte do folclore democrático», só pode ser entendido como um momento de infelicidade, decerto resultante da tensão a que o Senhor Primeiro-ministro estivera sujeito, traduzindo também alguma desatenção ou inabilidade políticas.
Aliás, não poderia ser de outra forma pois que, conforme afiançou recentemente o Senhor Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, em carta dirigida a esta associação em 12 de Novembro, p. p.:
«O Estado português é rigoroso na prática de actos externos, quanto à delimitação constitucional do seu território, em observação do que estipula o artigo 5.º da Constituição: “1. Portugal abrange o território historicamente definido no Continente europeu […] 3. O Estado não aliena qualquer parte do território português ou dos direitos de soberania que sobre eles exerce […]”. A política que o Ministério dos Negócios Estrangeiros tem seguido, e as orientações que tem dado […] tem sido de que nenhum acto, acordo ou solução em torno desta questão deve implicar o reconhecimento por Portugal da soberania espanhola sobre Olivença» (2).
O Grupo dos Amigos de Olivença faz notar que a sua actuação reproduz a posição político-constitucional portuguesa e, lamentando as palavras menos felizes e inapropriadas do Senhor Primeiro-ministro, reafirma a sua determinação em prosseguir os esforços que vem desenvolvendo pelo reencontro de Olivença com Portugal.
OLIVENÇA É TERRA PORTUGUESA!
VIVA OLIVENÇA PORTUGUESA!
O Presidente da Direcção
Lisboa, 20 de Janeiro de 2008.
(1) Pode consultar-se em : mms://195.245.128.30/rtpfiles/videos/auto/telejornal/telej_2_19012008.wmv (aos 27 min e 48 seg do vídeo)
(2) Pode consultar-se a Carta do MNE em: <http://www.olivenca.org/imagens/MNE_7905.pdf>
Rua Portas S. Antão, 58 (Casa do Alentejo) -1150-268 Lisboa
www.olivenca.org – olivenca@olivenca.org – Tlm. 96 743 17 69 – Fax. 21 259 05 77
E Olivença dá-nos a password para entrarmos direitinhos no site da CIA, secção “Disputes – International” onde Portugal aparece entre Afeganistão e afins*, assim descrito “Portugal does not recognize Spanish sovereignty over the territory of Olivenza based on a difference of interpretation of the 1815 Congress of Vienna and the 1801 Treaty of Badajoz ”
* os “afins” são os outros países quase todos…
Portanto, o gato comeu-nos a língua. Quando se olha para o mapa não restam dúvidas.
muito bem visto, sininho.
a lingua?…
Não acho nada estético Portugal com a lingua de fora!
Para quem eventualmente tenha esquecido a história, aqui a deixo resumida para facilitar o julgamento da situação.
Quando os Franceses invadiram a Península, os espanhóis tremelicaram e puseram-se do seu lado. Ficaria para mais tarde corrê-los à pedrada quando já iam bem desancados de Portugal. Mas Napoleão obrigou a Espanha a entrar em guerra com Portugal. Como o exército deles estava que mal se aguentava em pé, e o nosso elas por elas, foi acordado um piquenique ou algo semelhante com armas e tudo em que se haveria de fingir uma batalha como se de sangueira fosse. Para constar que tinha sido a sério, houve a assinatura da paz de uma guerra que não existiu, e os Portugueses cederam ficticiamente Olivença. Os Espanhóis de Godoy aceitaram a então vila e a ficção, com a palavra dada de que a devolveriam quando a guerra acabasse. Veio o tratado de Viena, catorze anos depois (1815), que reconheceu o direito de Portugal a recuperar aquele pedacinho da Pátria. Mas os Espanhóis já tinham tomado o gosto ao gaspacho de Olivença e não a devolveram. E fizeram-no, ou não o fizeram, mudando apenas o “s” e o “ç” em “z”, para que se tornassem em gazpacho e Olivenza.
Por ter sido uma guerra a fingir, ficou conhecida por a Guerra das Laranjas. A sério, foi só a naturalização espanhola da antiga vila de Olivença. Até hoje.
A questão de Olivença insere-se na tradição lusitana da chamada “falta de tomates”. Quando não há espinha dorsal (leia-se “politica estrangeira”) é o que acontece. Como à nespera, de resto: estava deitada e foi comida…
Vale a pena ir chamando os bois pelos nomes. E Olivença, se existe Direito Internacional, é mesmo nossa.
… parece que a velha que a comeu estava em casa, mas não ouviu o telefone. se tivesse atendido tinha reparado que estava morta há quinze dias e a nêspera ia continuar na cama, deitada, muito calada e a ver o que acontecia…
velhas surdas e nêsperas deitadas e caladas sem serem comidas não trocam letras nem perdem cedilhas.
Recado para o Z,
Faz-te paladino desta luta e começa a assinar Ç……
Só pró Júlio:
Portugal de língua de fora? E não seria um belo gesto diante da Espanha?
Mas deixe-se de símiles físicos, amigo. Não tarda, e chamará ao Mar da Palha o recto…
E que dizem os Amigos de Olivença do facto de não haver um só habitante da localidade que preferisse o Estado português? Sei que a questão não é sociológica, é histórica, diplomática e jurídica. Mas, mesmo assim, estou curioso… Por mim, até apoiava uma Portugaliza, mas aí há quem nos queira. Não é o caso de Olivença, o qual a ser devolvido provocaria um levantamento dos espanhóis atingidos e achando-se espoliados.
O Valupi roubou-me a merda do comentário, caramba!
Se calhar vale mesmo a pena saber qual é a opinião daquela gente, não acham?
Qual gente, os castelhanos que entretanto colonizaram aquilo? Vai dar banho ao cão, pá. Se fosse esse o critério ninguém tinha que devolver território ocupado, pois ao fim de algumas gerações os que lá estão já não querem ondas…
Fosse ao contrário e eu queria ver se os espanhóis se ralavam com a opinião dos indígenas. E vai perguntar aos gajos de Gibraltar o que eles acham das pretensões castelhanas…
Federação Ibérica, já, e eu mudo-me para madrid. para olivença é que nunca…
Tuby: a tua argumentação (em que incluo a comparação gibraltariana) é brilhante.
E isto é resposta que se dê? Agora digo o quê? És mesmo ruim, meu amor…
Seria fascinante fazer um referendo onde a pergunta fosse:
Deve Portugal reclamar a soberania de Olivença?
Para que conste, nunca o fez nestes dois séculos de gatunagem.
Explicitação: nunca o fez, o acto de reclamar soberania.
Ernesta: devolvo-te a encomenda, fica só tua que eu desta não gosto. E acrescento as palavras-chave: Guerra das Laranjas – Carlota Joaquina era muito provavelmente filha do Godoy, um jeitoso guarda do palácio, o favorito, depois feito duque e primeiro-ministro, e da M. Luísa de Parma; G. levou um ramo de flor de laranjeira como emblema da vitória à cabra, e João VI veio mais tarde a morrer envenenado com cianeto nas laranjas. Agora é tua.
Valupi,
Mas isso é a sugestão do mês – que digo eu – já do ano inteiro. Possivelmente, só uma intervenção assim conseguiria vencer o impasse. E não tenho dúvidas de que venceria o sim.
A chatice é que um referendo exige ou um grande empenho partidário ou uma civil onda de fundo. Ou um extraordinário pretexto, caído do céu.
Mas o que não há pode fazer-se.
Z,
hummm….. cheirou-me aqui a qualquer coisa na encomenda devolvida e no pronome demonstrativo utilizado. Mas pronto, fico com esta.
hoje tou de luto
até manhã
AMIGO, AS FRONTEIRAS JÁ ACABARAM HÁ UNS ANITOS!! ANGOLA, GOA, MACAU, TIMOR, BRASIL, MOÇAMBIQUE TAMBÉM JÁ FORAM NOSSAS, MAS TUDO ISSO É HISTÓRIA ANTIGA, PARA OS MENINOS ESTUDAREM NA ESCOLA. HOJE O PAÍS ESTÁ ESTABILIZADO E ESSAS QUESTÕES JÁ NÃO SE PÕE, NÃO PASSAM DE FOLCLORE, COMO ACERTADAMENTE FOI DITO PELO NOSSO POLÍTICO FILÓSOFO. E NÃO SE PREOCUPE QUE A ESPANHA NÃO VAI TOMAR CONTA DA SUA TERRINHA E OBRIGÁ-LO A FALAR CASTELHANO.
AMIGO, NÃO ME OBRIGUE A LEMBRAR-LHE QUE ANTES DE PORTUGAL SER PORTUGAL COM A SUA CONFIGURAÇÃO ACTUAL, TAMBÉM TEVE QUE DESALOJAR OUTROS POVOS QUE POR CÁ ANDAVAM, E ESSES OUTROS OUTROS TAMBÉM, ATÉ QUE PROVAVELMENTE SÓ ENCONTRARÁ UMA TRIBOZITA DE SÍMIOS, COMO POVOADORES ORIGINAIS.
E FINALMENTE, SE O AMIGO QUISER IR MORAR PARA OLIVENÇA, OU ELES PARA CÁ, SÓ PRECISA DE UMA COISA: TER DINHEIRINHO NO BOLSO PARA CHEGAR LÁ E COMPRAR CASA… O RESTO SÃO CANTIGAS, OU FOLCLORE, COMO PREFERIR.
P.S. – APROVEITO TAMBÉM PARA LEMBRAR UMA COISA QUE É DO CONHECIMENTO GERAL: SE SABEMOS QUE ESPANHA TEM MELHOR NÍVEL DE VIDA E MELHORES SALÁRIOS, PORQUE RAZÃO QUER ARRASTAR OLIVENÇA PARA O LADO DE CÁ?! PARA PENAREM COM NÓS O NOSSO ATRASO?!! QUE MALDADE!
Intrigante a escolha de cidades representadas no mapa. É só litoral e uma via para Oliven?a. Pe?o perd?o pelas falhas ortográficas mas este teclado deve ser castelhano. Os malandros…
Deve ser a minha perspectiva diferente ( do outro lado da fronteira) que em vez de uma língua de fora , aquele bocadinho lá para baixo me fez lembrar outro orgão.Não o terão deixado lá de propósito? Sempre serve de motivo para …, vocês sabem , eh , eh.
Agora , fora brincadeira , o seu a seu dono , concordo.
Uma curiosidade , lá para cima , em Montalegre , existe uma localidade chanada Couto Mixto , que em tempos até dispunha de legislação especial .
Deixo-vos um link para o caso de o quererem conhecer.
http://www.culturagalega.org/temadia.php?id=5233
Olivença cheira a ranço de cabeças naxionalistas doentes. Olivença para quê? Nem dada! Os espanhóis não querem ficar com a Madeira também? Ofereço as Berlengas como brinde…
Sim, os naturais e os habitantes de Olivença estão-se a cagar para Portugal. E nós devemos fazer o mesmo para eles, dando graças a Deus por não termos que os aturar.
Eu além de gatunos cujo vocábulo pode ser como dizes derivado de gato, chamar-lhes ia antes ratos já que este vocábulo se associa na nossa lingua a ladrão ou ladrões. E já agora um reparo para o amigo “EU” que tão acerrimamente defende a situação actual, lembrando o litigio entre Espanha e Inglaterra, sobre o rochedo chamado “Gibraltar” bem que se diz na minha terra que, ” De espanha nem bom vento nem bom casamento” e mais uma achega, Portugal tem 900 anos de História e a espanha como hoje a conhecemos apenas data dos reinados de Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela os chamados reis católicos que uniram os seus reinos sobre a mesma coroa. Bons exeplos são ainda o facto da Galiza que se sente mais chegada a Portugal que a espanha e a luta independentista do povo Basco.
É, eu tb pensei o mesmo quando vi aquele apêndice ali no mapa. Parece mais uma piça que uma língua, embora piças e línguas tenham as suas afinidades electivas, que aliás pró-piçiam o broche. Era só uma achega para um debate que está a ficar murcho.
está aqui a formar-se uma tese interessante. esta de uma all men’s land que simboliza afinal a sobreposição pelo acasalamento entre dois povos irmãos. faz sentido, assim, que continue a pertencer a ambos, por assim dizer. é bonito, mas o enredo começa a ficar incestuoso.
(Para ti só tenho miminhos, Tubyzito.)
EU TAMBÉM SEI COMENTAR AOS GRITOS, mas já percebi que isso não me confere o destaque pela positiva de que me sinto merecedor quando estou cheio de razão.
Antes pelo contrário.
Até porque o discurso à Miguel de Vasconcellos ainda se torna mais repugnante em caixa alta.
E prezo mais os oliventinos que souberam abraçar uma bandeira como sua do que os apátridas não assumidos que se mostram dispostos a renegar a sua por terem sempre a vista concentrada nas riquezas e na qualidade de vida dos outros.
Bonito, E ATÉ JUSTIFICA SER DITO AOS GRITOS, É TER TOMATES E BRIO PARA FAZER ALGO DE CONCRETO PELO PRÓPRIO PAÍS, PARA O EQUIPARAR AO ESTRANGEIRO QUE SE INVEJA, EM VEZ DE GASTAR MAIÚSCULAS A INFERIORIZÁ-LO COM COMPARAÇÕES QUE, AFINAL, SÓ EXIBEM A MESQUINHEZ DE QUEM JÁ DEVIA ESTAR A FAZER AS MALAS.
EU não gosto de mercenários.
(Eu sei, meu querido.)
Senhores,
Quando se está em Olivença, está-se só em Olivença. Não se está em cima do mapa, muito menos em frente dele.
Em Olivença cheira a Alentejo.
Ah, e não se esqueça de falar SÓ português. Não é por nada, mas os passarinhos gostam.
os oliventinos assim até são mais ricos; têm melhores salários, melhor assistencia médica e social, etc etc, etc. Tornar Olivença novamente portuguesa era uma clara violação dos direitos humanos da população de olivença.
Eheheh!!!
Deve Portugal reclamar a soberania de Olivença?
Reclamar algo que já é nosso ? estranho.
Mas isto é o mesmo de sempre. Diabo, se nem sequer a bandeira republicana tem alguma coisa a ver com a nação portuguesa (huuuuu, vou ser etiquetado como nacionalista, hehhehehe). Sabemos o hino ? sim, nos estádios e no dia do militar, ou lá o que é (huuu, agora é que sou salazarista).
Venham os espanhóis… outra vez… é isso. Enfim…. venham eles, e venha a guerra….
Que é isto pá ? acordos ortográficos sem nexo, tlebs (ãh ???), Allgarve ( :s), queda no IDH inédita, entre 2000 e 2005, nunca visto desde o 25 de Abril, desemprego, crise económica, políticos da treta, portugueses da treta (epá, aquele vai a atravessar a estrada, mas eu sou como o Lamy, aqui na minha máquina…. força no pedal), justiça inenarrável, ensino estupidificante, jobs for the boys, girls and in between, beijinhos para aqui e para acolá, Fátimas da Silva e condes de Oeiras e Gondomar-Electrodomésticos, estou farto !!!!
Sinceramente. Venha a guerra. Venha. Oliventinos e “tugas” espanholados, ipodolados, colombizados e freeportiados, RUA !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Portugal para os portugueses ! E também para aqueles que querem ser portugueses nas nossas fronteiras legítimas ! O resto é conversa.
Olha , se vocês pensam que lá , aí ao lado , se vive esplendorosamente melhor , esqueçam. Para além de termos o poder central e autárquico a comer , temos também o autónomo. Políticos , meus queridos , são iguais em todo lado. Ou seja , vivemos melhor que aqui , de facto , mas também somos ( ainda) mais chulados. E bem. E é assim que pensamos.
Curioso! “Gatuno”, português será castelhanismo, mas no castelhano coloquial do reino bourbónico a palavra equivalente é “ratero”.
Luís Gomes (Jan 24th, 2008 at 19:25) diz: «os oliventinos assim até são mais ricos; têm melhores salários, melhor assistencia médica e social, etc etc, etc. Tornar Olivença novamente portuguesa era uma clara violação dos direitos humanos da população de olivença. Eheheh!!!»
COM.- E por que todo o Portugal não se torna oliventino? Teria melhor assistência médica e social, por exemplo, como os milhares de não espanhóis que residem na Costa del Sol. Ora, tenham cuidado, porque por menos de nada o juiz Garçon lhes suspenderia todos os direitos, como está a fazer com os bascos. Porque os portugueses (para as gentes “notables” do reino bourbónico) foram e são muito mais independentistas que os bascos hoje.
Jornal “ALTO ALENTEJO”(Distritos de Portalegre e Évora), 11 de Março de 2009
(Grande fotografia da Mesa da Jornada)
A JORNADA DO PORTUGUÊS DE OLIVENÇA
UM ESTRONDOSO ÊXITO
O dia amanheceu sem nuvens significativas. O Sol pareceu querer saudar o evento. E não
era para menos!
Neste dia 28 de Fevereiro de 2009, e pela primeira vez desde 1801, a Língua Portuguesa
manifestava-se livremente em Olivença. Mais do que isso, com a “cobertura” das
autoridades espanholas máximas a nível local e regional. E, talvez ainda (!) mais
importante do que tudo isso, graças à iniciativa, ao esforço, à coragem de uma associação
oliventina, a Além-Guadiana.
Não por acaso, jornais e televisões estavam representados. E talvez por acaso, pois
outra razão seria insustentável, não estavam órgãos de comunicação portugueses,
empenhados com outras realidades informativas. De facto, decorria o Congresso do Partido
do Governo em Lisboa.
A Jornada do Português Oliventino decorreu na Capela do vetusto Convento português de
São João de Deus. Num clima de alguma emoção. Estava-se a fazer História… e quase 200
pessoas foram testemunhas disso, entre as quais o arqueólogo Cláudio Torres, o “herói” do
mirandês Amadeu Ferreira, e… bem… fiquemos por aqui!
Falou primeiro o Presidente da Junta da Extremadura espanhola, Guillermo Fernández
Vara. Curiosamente, um oliventino. Foi comovente ouvi-lo confessar que, na sua casa
paterna, o Português era a língua dos afectos. Uma herança que ele ainda conserva, apesar
de já ser bem crescidinho… e Presidente duma região espanhola.
De certa forma, estava dado o mote. O Presidente da Câmara de Olivença, Manuel Cayado,
falou em seguida, realçando o amor pela língua portuguesa, e acentuando o papel de
Olivença como ponto de encontro entre as culturas de Portugal e Espanha.
Joaquín Fuentes Becerra, presidente da Associação, fez então uma breve intervenção, em
que se destacou a insistência no aspecto cultural da Jornada.
Juan Carrasco González, um conhecido catedrático, falou das localidades extremenhas,
quase todas fronteiriças, onde se fala português, com destaque para Olivença, e defendeu
que tal característica se deveria conservar.
Usou depois da palavra Eduardo Ruíz Viéytez, director do Instituto dos Direitos
Humanos e Consultor do Conselho da Europa, vindo de Navarra, embora nascido no País
Basco, que defendeu as línguas
minoritárias e explicitou a política do Conselho da Europa em relação às mesmas. Informou
a assistência sobre o ocorrido com o Português de Olivença. De facto, o Conselho da
Europa já havia pedido informações ao Estado Espanhol sobre este desde 2005, sem que
Madrid desse resposta. Em 2008, graças à Associação Além-Guadiana, fora possível conhecer
detalhes, com base nos quais o Conselho fizera recomendações críticas.
Seguiu-se Lígia Freire Borges, do Instituto Camões, que destacou o papel da Língua
Portuguesa no mundo, com assinalável ênfase e convicção. Tal discurso foi extremamente
importante, já que, tradicionalmente, em Olivença, se procurava (e ainda há quem procure)
menorizar o Português face ao “poderio planetário” do espanhol/castelhano.
Uma pequena mesa redonda antecedeu o Almoço. Foi a vez de ouvir a voz de alguns
oliventinos, em Português, bem alentejano no vocabulário e no sotaque, em intervenções
comoventes, em que não faltaram críticas e denúncias de situações de repressão
linguística não muito longe no tempo.
À tarde, falaram Domingo Frade Gaspar (pela fala galega, nascido na raia extremenha) e
José Gargallo Gil (de Valência, a leccionar em Barcelona), ambos
professores universitários, que continuaram a elogiar políticas de recuperação e
conservação de línguas minoritárias. O segundo fez mesmo o elogio da existência de
fronteiras e do de seu estatuto de lugar de encontro e de compreensão de culturas
diferentes, embora não como barreiras intransponíveis.
Seguiu-se Manuela Barros Ferreira, da Universidade de Lisboa, que relatou a
experiência significativa de recuperação, quase milagrosa, do Mirandês, a partir de uma
muito pequena comunidade de falantes, convencidos, afinal erradamente, de que aquela
língua tinha chegado ao
fim. O exemplo foi muito atentamente escutado pelos membros do Além-Guadiana.
Falou finalmente o Presidente da Câmara Municipal de Barrancos, a propósito dos
projectos de salvaguardar o dialecto barranquenho e de o levar à “oficialização”.
Queixou-se do estado de abandono em que se sentia o povo de Barrancos face a Lisboa.
No final, foi projectado um curto filme sobre o Português oliventino, realizado por
Mila Gritos. Nele surgiam
oliventinos a contar a história de cada um, sempre em Português, explicando os
preconceitos que rodeavam ainda o uso da Língua de Camões e contando histórias
pitorescas. A finalizar o “documentário”, uma turma de jovens alunos de uma escola numa
aula de Português
pretendia mostrar para a câmara os caminhos do futuro.
Deu por encerrada a sessão Manuel de Jesus Sanchez Fernandez, da Associação
Além-Guadiana, que ironizou um bocado com as características alentejanas do Português de
Olivença, comparando-o com o pseudo superior Português de Lisboa.
A noite já tinha caído quando, e não sem muitos cumprimentos e alegres trocas de
impressões finais, os assistentes e os promotores da Jornada abandonaram o local. Com a
convicção de que tinham assistido a algo notável.
Estremoz, 28 de Fevereiro de 2009
Carlos Eduardo da Cruz Luna
ALENTEJO POPULAR (jornal Progressista), 5-Março-2009
OLIVENÇA DEFENDE PORTUGUÊS
(grande fotografia do Convento de São João de Deus em Olivença, com carros e pessoas à
sua porta)
ANTÓNIO MARTINS QUARESMA/HISTORIADOR
Conforme o «Alentejo Popular» noticiou no último número, realizou-se no passado 28 de
Fevereiro, em Olivença, um encontro, que teve por tema central o português oliventino,
isto é, o português alentejano ainda falado naquela cidade pela franja mais idosa da
população.
A organização deste Encontro deve-se à recentemente fundada associação oliventina Além
Guadiana, que, estatutariamente, persegue a revitalização das raízes culturais
portuguesas, em particular da língua. Esta Associação, dirigida por jovens, representa em
Olivença uma nova maneira de encarar a cultura tradicional, valorizando-a e combatendo o
preconceito que normalmente atinge as formas de cultura popular.
O Encontro foi apoiado pelas instituições locais e regionais espanholas, como o
“Ayuntamiento” de Olivença e a Junta de Extremadura, que aliás estiveram presentes
através do Presidente da Junta, o também oliventino Guillermo Fernández Vara, e pelo
“Alcalde” de Olivença, Manuel Cayado Rodríguez.
Recorde-se que em Olivença, antiga vila portuguesa desde o século XIII, anexada à
Espanha no princípio do século XIX, o português se falou maioritariamente, até há bem
pouco tempo. Hoje em dia, é falado apenas por uma minoria, mas os vestígios materiais da
presença portuguesa são numerosos e muito visíveis. A influência portuguesa é sentida
também nos «pormenores». A doçaria, por exemplo, onde sobressai um saboroso doce, que dá
pelo peculiar nome de técula-mécula, é familiar ao nosso gosto alentejano.
Nesta jornada estiveram presentes alguns linguistas, portugueses e espanhóis, cujas
comunicações se revestiram de alto nível. Eduardo Ruíz Viéytez fez ressaltar a ideia de
que a defesa das línguas minoritárias, como o POrtuguês oliventino, é também uma questão
de Direitos Humanos e uma preocupação do Conselho da Europa. Juan Carrasco González
explicou as variedades linguísticas da fronteira. Lígia Freire Borges falou no papel do
Instituto Camões. José Gargallo Gil dissertou sobre fronteiras e enclaves na Península.
Manuela Barros Ferreira trouxe o MIrandês, a língua minortitária de trás-os-Montes.
Manuel Jesus Sánchez Fernández focou as dificuldades do Português oliventino. Servando
Rodríguez Franco mostrou exemplos de alterações toponímicas em Olivença, resultantes da
interpretação castelhana do POrtuguês. Domingo Frades Gaspar discorreu sobre a língua do
vale do Eljas. António Tereno, o único responsável político português presente, explicou,
por sua vez, as vicissitudes por que tem passado o processo de «classificação» do
«barranquenho».
Um momento especial foi a intervenção de José António Meia-Canada (querem apelido mais
alentejano?), natural de Olivença, que, na sua língua materna, deu genuíno testemunho do
Português oliventino.
Por fim, foi projectado um projectado um documentário sobre o Português de Olivença,
realizado a propósito. Após a projecção, com a noite já entrada, a Jornada terminou, no
meio de geral satisfação, pelo seu êxito e pela geral convicção de que se estão a
realizar acções profícuas no sentido da defesa do Português oliventino.
Uma palavra ainda sobre a Associação Além Guadiana. Ela tem o seu sítio na “net”, onde
se podem encontrar notícias sobre as actividades que desenvolvem, para além de diversas
informações com interesse. Basta procurar no Google, ou ir directamente aos endereços
“http://wwwq.alemguadiana.com” e “http://alemguadiana.blogs.sapo.pt/”. O Presidente da
Direcção é Joaquim Fuentes Becerra. Os restantes mebros são Raquel Sandes Antúnez,
conhecida de todos os que gostam de boa música e do grupo oliventino Acetre, Felipe
Fuentes Becerra, Fernando Píriz Almeida, Manuel Jesús Sanchez Fernández, Eduardo Naharro
Macías-Machado, Maria Rosa Álvarez Rebollo, José António González Carrillo, António
Cayado Rodríguez e Olga Gómez.
À laia de apelo, deixamos aqui uma nota final, dirigida especialmente às entidades
portuguesas responsáveis pela política cultural, para que, à semelhança do que fazem os
nossos amigos oliventinos, também em Portugal se preste atenção ao Português alentejano
de Olivença.