Falo com os meus alunos da cadeira de «Línguas Regionais Europeias» na crescente pressão do inglês. Conto-lhes que, tal como na Holanda, também na tv portuguesa a seguradora Zurich, como tantas outras firmas, publicita em inglês. Because change happenz.
Lembro-lhes que um meu sucessor, falando a futuros colegas deles, naquela mesma sala de aula, talvez o faça em inglês. Uma tragédia? Não necessariamente. O que a nós hoje parece inconcebível pode ser amanhã óbvio. E recordo-lhes que, nesta mesma universidade, há muito, muito tempo, eu estaria a dar-lhes esta aula (ou uma parecida) em latim. E que, tempos depois, era o francês a dominar, aqui e em muita parte, a ciência e o seu ensino.
E falei-lhes duma fachada, pertinho da faculdade, em que se lê ’T Makelaers Comptoir, «O Escritório de Imobiliário». Alguns, mais ágeis de espírito, ligaram «comptoir» ao actual neerlandês «kantoor» (escritório). Expliquei que «comptoir» era a mesa onde se contava dinheiro. Um aluno ou outro até sabia que o francês «comptoir» derivava do latim «computator».
E, assim, pude expor uma genealogia do latim computator para o francês comptoir, para o inglês counter. E, segunda genealogia, directamente do latim para o inglês computer, para o… neerlandês computer.
O inglês – lembrei-lho – não é senão o actual dominador, depois de o francês e o latim o terem também sido. Isto pode não tornar as coisas menos graves, ou sérias, mas torna-as menos dramáticas. Também o predomínio do inglês terá, um dia, o seu fim. Não é provável que eu venha a saber qual o novo amo. Estes processos são lentos, e o inglês ainda está para lavar e durar.
Mas, quem sabe, um dos meus juvenis estudantes pode, num longínquo dia, ter de dar ali uma aula em… Não, eu desisto de adivinhar.
Só sei, com um arrepio, que, quando, em começos do século XVIII, um reservado grémio votou, numa cidade dos futuros Estados Unidos da América, sobre qual – inglês ou alemão – seria o idioma da nação vindoura, e o inglês ganhou, foi por um voto de diferença.
“Isso sabemo-lo todos.”
Signore Venâncio, e porque diabo haveriamos de saber todos tal coisa?
Signorino Romualdo,
Tá adaptado à sua exigência. Mande sempre.
hehehe. fernando, engenheiro da língua.
Fernando Venâncio, é verdadeiramente delicioso acompanhar a sua linha de pensamento.
(o futuro? talvez o castelhano, talvez o mandarim…)
estas coisas são tão engraçadas Fernando, e eu ali na javardice, nem tenho dado atenção…
estou com um problemazito semiótico e linguístico entre mãos (e filosófico e político também) mas queria mastigá-lo mais um piu, antes de te perguntar uma coisa, se é que posso
(ofereceram-me um disco com mandarim, que tenho ali)